Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

consolidação de um mercado de bens culturais subsumidos à lógica de indústria cultural,
tendo no carnaval o seu principal eixo. A irrupção de movimentos culturais ligados a
manifestações artístico-culturais de matrizes afro-descendentes (axé Music e o pagode são os
exemplos mais emblemáticos) ou ainda a consolidação do fenômeno do surgimento do
empresariamento do carnaval são sintomas reveladores do modo de organização do campo
cultural vigente à época.
Nesse cenário aparentemente favorável para o florescimento da produção cultural local, o
executivo baiano, representado pela Secretaria da Cultura e Turismo, compareceu como
agente fundamental na dinamização e organização do campo cultural na última década.
Potencializando suas ações e tornando mais complexa a sua atuação através do
entrelaçamento com conglomerados financeiros privados e elites ligadas a atividades
imobiliárias, financeiras e de comunicação, o governo estadual promoveu na Bahia, na última
década, um ousado plano de modernização turística e cultural, fato que lhe concedeu uma
moldura contemporânea, identificada a uma imagem consensual de um lugar vocacionado
para o consumo cultural, o turismo e o entretenimento, revelando assim o alinhamento dessas
ações aos requisitos do exigente mercado global de bens simbólicos.
Em busca da legitimidade e da garantia do seu poder hegemônico, o governo baiano
desenvolveu ações significativas na dinamização da esfera cultural do Estado, valendo-se,
sobretudo, da apropriação e produção de um discurso que potencializa e celebra a
idiossincrasia da identidade baiana. Uma estratégia que acaba por revelar a tendência
contemporânea hoje em voga e que se materializa na Bahia de forma notável, qual seja: uma
demanda cada vez maior por bens imateriais, associada à busca pela afirmação da identidade
cultural. No entanto, como assinalamos na quarta seção, a questão da identidade assume aqui
um caráter diferenciado. Mais do que uma reação defensiva aos processos homogeneizantes
da globalização, o tema da identidade é acionado ciosamente pelo governo como moeda de
negociação simbólica, na medida em que se torna uma espécie de chave que permite o acesso
e o trânsito dos agentes na rede funcional que conforma o sistema da produção cultural na
Bahia. Potencializando esse dispositivo a uma performance de elevado teor midiático e de
marketing, o grupo político hegemônico imprime assim a peculiaridade de sua atuação ao
implementar suas políticas culturais e turísticas para o Estado.
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