Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
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Bahia (24/02/2000), segundo o trecho que segue: “o Carnaval é a maior festa popular do mundo, e consegue agregar forte valor comercial” (TABOADA, 2000). Uma interessante fonte de dados sobre as motivações que levam as empresas a investir em cultura pode ser encontrada na pesquisa encomendada pelo Ministério da Cultura à Fundação João Pinheiro, intitulada “Diagnóstico dos Investimentos em Cultura no Brasil, Volume 2” (1998a). Segundo a referida pesquisa, a maioria das empresas entrevistadas concorda que o interesse em patrocinar eventos culturais reside no fato de obter ganho de imagem junto a atividades valorizadas socialmente. Ao patrocinar cultura, conclui a pesquisa, a empresa “agrega ao produto vendido a carga simbólica das atividades culturais, oferecendo ao consumidor mais do que o valor de uso do próprio produto” (BRASIL,1998a, p.71). Dentre os aspectos mais citados pelas empresas sobre os fatores que motivam o investimento cultural destacam-se: a consolidação da imagem institucional (65,04%), a agregação de valor à marca da empresa (27,64%), o reforço do papel social da empresa (23,58%), os benefícios fiscais (21,14%), o retorno de mídia (6,50%) e a aproximação do público alvo (5,69%). Se tomarmos ainda como parâmetro a pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro para analisarmos a tendência do perfil de investimento em cultura por área de atuação, obtida através dos números do Fazcultura (mesmo considerando as diferenças metodológicas para a obtenção desses dados) é possível verificar a hipótese de que o perfil da produção cultural viabilizada pela política baiana de incentivo fiscal diz muito da dinâmica do campo cultural local. Segundo a referida pesquisa, no plano nacional, as cinco áreas mais incentivadas em número de projetos pelas empresas pesquisadas (públicas e privadas) foram: Música (16,44%), Cinema/Vídeo (15,74%), Patrimônio Histórico e Cultural (13,12%), Teatro/Circo/Ópera/Mímica (12,24%) e Produção Editorial (9,90%) (BRASIL,1998a, p.60- 62). Traçando, grosso modo, paralelos entre as duas tendências configura-se como ponto comum a preferência das empresas por patrocinar o segmento musical. Como assinalado anteriormente, talvez resida nessa preferência por parte dos patrocinadores motivações correlacionadas a aspectos como abrangência de público e retorno promocional de imagem e de marca para o seu investidor – uma escolha, evidencie-se aqui, quase sempre orientada pelas agências de propaganda e publicidade das empresas. 197 A dessemelhança entre o perfil dos projetos incentivados, comparativamente analisados
entre os números do Fazcultura e a pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro, reside, mais enfaticamente, no patrocínio na área de Cinema e Vídeo. Enquanto no plano nacional essa é uma das linguagens mais incentivadas – o que deve ser motivado pelos generosos benefícios da Lei do Audiovisual –, na Bahia essa é a área que apresenta um menor número de projetos patrocinados através do Fazcultura. O que é natural, tendo em vista que a produção cinematográfica baiana tem se mostrado tímida nos últimos anos – não por falta de talentos, mas sobretudo pela falta de recursos por ser esta uma linguagem complexa em sua realização e que envolve, em geral, um alto custo. Uma outra diferença é percebida na área classificada pelo Fazcultura como “Tradições populares”. Na pesquisa realizada pela Fundação João Pinheiro a área que mais se aproxima da natureza do segmento classificado pela lei baiana como “Tradições populares” é denominada de “Folclore/Artesanato”, ocupando o oitavo lugar no ranking, em número de projetos, das áreas mais patrocinadas pela iniciativa privada, beneficiando-se apenas com 5,46% do total de projetos incentivados. Na Bahia, por sua vez, “Tradições populares” é a área que obteve a maior quantidade de projetos contemplados, em virtude principalmente da abertura que havia no programa, nos anos iniciais de seu funcionamento, que permitia o incentivo a projetos ligados à realização de atividades relacionadas ao carnaval (como apoio a blocos de trio bem como a atividades voltadas para a organização da infraestrutura da festa). A expressividade de projetos patrocinados nessa área denota a especificidade da cultura baiana, mais fortemente ancorada em manifestações artístico-culturais identificadas às tradições e festas populares como o carnaval, as festas juninas e os tradicionais folguedos. Uma tendência imediatamente correlacionada à consolidação do mercado de bens simbólicos que a Bahia vem experimentando desde a década de 90, mercado esse impulsionado sobretudo pela eclosão de movimentos culturais, como é o exemplo do advento de fenômenos como a axé music e o pagode, bem como a industrialização da sua maior festa popular, o carnaval. Some-se ainda a esse contexto a institucionalização de políticas culturais implementadas pelo Estado que, como já assinalado nesse trabalho, vem incentivando, prioritariamente, o desenvolvimento de ações voltadas à produção cultural identificada com as matrizes e tradições da cultura afro-descendente, produção essa que é apropriada pela política oficial de cultura como elemento de distinção simbólica, em meio à acirrada concorrência entre os variados destinos turísticos do país. 198
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mais enfaticamente, no patrocínio <strong>na</strong> área de Cinema e Vídeo. Enquanto no plano <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l<br />
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benefícios da Lei <strong>do</strong> Audiovisual –, <strong>na</strong> <strong>Bahia</strong> essa é a área que apresenta um menor número<br />
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produção cinematográfica baia<strong>na</strong> tem se mostra<strong>do</strong> tímida nos últimos anos – não por falta de<br />
talentos, mas sobretu<strong>do</strong> pela falta de recursos por ser esta uma linguagem complexa em sua<br />
realização e que envolve, em geral, um alto custo.<br />
Uma outra diferença é percebida <strong>na</strong> área classificada pelo <strong>Fazcultura</strong> como “Tradições<br />
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área que obteve a maior quantidade de projetos contempla<strong>do</strong>s, em virtude principalmente da<br />
abertura que havia no programa, nos anos iniciais de seu funcio<strong>na</strong>mento, que permitia o<br />
incentivo a projetos liga<strong>do</strong>s à realização de atividades relacio<strong>na</strong>das ao car<strong>na</strong>val (como apoio a<br />
blocos de trio bem como a atividades voltadas para a organização da infraestrutura da festa).<br />
A expressividade de projetos patroci<strong>na</strong><strong>do</strong>s nessa área denota a especificidade da cultura<br />
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tradições e festas populares como o car<strong>na</strong>val, as festas juni<strong>na</strong>s e os tradicio<strong>na</strong>is folgue<strong>do</strong>s.<br />
Uma tendência imediatamente correlacio<strong>na</strong>da à consolidação <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> de bens simbólicos<br />
que a <strong>Bahia</strong> vem experimentan<strong>do</strong> desde a década de 90, merca<strong>do</strong> esse impulsio<strong>na</strong><strong>do</strong><br />
sobretu<strong>do</strong> pela eclosão de movimentos culturais, como é o exemplo <strong>do</strong> advento de fenômenos<br />
como a axé music e o pagode, bem como a industrialização da sua maior festa popular, o<br />
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implementadas pelo Esta<strong>do</strong> que, como já assi<strong>na</strong>la<strong>do</strong> nesse trabalho, vem incentivan<strong>do</strong>,<br />
prioritariamente, o desenvolvimento de ações voltadas à produção <strong>cultural</strong> identificada com as<br />
matrizes e tradições da cultura afro-descendente, produção essa que é apropriada pela política<br />
oficial de cultura como elemento de distinção simbólica, em meio à acirrada concorrência<br />
entre os varia<strong>do</strong>s destinos turísticos <strong>do</strong> país.<br />
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