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Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

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uma época não o é necessariamente para outro meio e outra época” (DURAND,1998, p.114).<br />

A própria história da arte revela esse caráter flutuante <strong>do</strong> juízo estético no decorrer <strong>do</strong>s<br />

últimos séculos, fato que “acabou colocan<strong>do</strong> sério embaraço para escolhas e decisões que<br />

precisam ser feitas pela gestão <strong>cultural</strong> pública” (DURAND, 2002, p.5).<br />

Esses são ape<strong>na</strong>s alguns aspectos que povoam e envolvem a complexa tarefa de<br />

estabelecer critérios “objetivos” sobre mérito e qualidade de projetos culturais num momento<br />

em que a dissolução das certezas, pelo menos no terreno da estética, parece ser a regra mais<br />

válida. Como se pode perceber, essa é uma questão no mínimo delicada e um tanto arriscada.<br />

O risco subjaz <strong>na</strong> tentativa de racio<strong>na</strong>lizar, em normas e regras especificas, o julgamento de<br />

uma produção artística que tem <strong>na</strong> subjetividade o seu próprio cerne, o elemento mesmo que<br />

lhe institui e a tor<strong>na</strong> possível. Essa situação, pelas suas especificidades, faz suscitar<br />

indagações sobre os limites da intervenção estatal no processo de criação e produção <strong>cultural</strong><br />

mas que, vista por outro ângulo, evidencia a posição preponderante <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no seio <strong>do</strong><br />

campo <strong>do</strong> poder, quan<strong>do</strong> esse agente lança mão <strong>do</strong>s meios que dispõe para exercer o seu<br />

poder simbólico.<br />

Exemplo ilustrativo desse poder simbólico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no encadeamento funcio<strong>na</strong>l que<br />

configura o processo das leis de incentivo fiscal pode ser encontra<strong>do</strong> numa declaração<br />

proferida pelo primeiro secretário executivo <strong>do</strong> Fazcultra, Cláudio Taboada – hoje presidente<br />

da <strong>Bahia</strong>tursa. Em entrevista concedida ao jor<strong>na</strong>l Correio da <strong>Bahia</strong>, em 1999, ele assi<strong>na</strong>la que:<br />

“O papel <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> é avalizar o projeto e garantir ao empresário que este é de qualidade(...)<br />

De certa forma regulamos o merca<strong>do</strong>”(TABOADA, 1999). A<strong>na</strong>lisan<strong>do</strong> essas afirmações<br />

pode-se concluir que o crivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, concedi<strong>do</strong> através <strong>do</strong> “Certifica<strong>do</strong> de<br />

Enquadramento”, constitui-se no elemento precípuo que assegura a “qualidade” da proposta a<br />

ser beneficiada (o que nos remete ao conceito de metacapital 4 proposto por Bourdieu),<br />

ocasio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> uma configuração em que a competência <strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>r, comprovada pela sua<br />

trajetória profissio<strong>na</strong>l, e a relevância <strong>do</strong> projeto <strong>cultural</strong> ocupam um lugar secundário no<br />

processo.<br />

No entanto, o que vem sen<strong>do</strong> reivindica<strong>do</strong> com maior renitência por artistas e<br />

profissio<strong>na</strong>is implica<strong>do</strong>s nesse sistema é uma atuação política <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no papel de agente<br />

capaz de assegurar a democratização de acesso da produção, fi<strong>na</strong>nciada com recursos <strong>do</strong><br />

4 No conceito formula<strong>do</strong> por Bourdieu (1996b, p.99) metacapital é uma espécie de capital próprio ao Esta<strong>do</strong> que<br />

lhe permite “exercer um poder sobre os diversos campos e sobre os diferentes tipos de capital (e,<br />

concomitantemente, sobre as relações de força entre seus detentores)”.<br />

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