Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ... Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
produção cultural, um sinal do poder alcançado pelas instituições privadas em áreas de interesse público 25 . Tomo aqui a ilustração de Canclini para ilustrar tal assertiva: 169 Investiment in higher culture links up with investiment in the mass media and high technology industry. The industralization of much of production of cultural goods and messages, and the incorporation in the mass media of music, texts, festivals and folklore images, strengthen the control of powerful private sectors over areas of public interest (CANCLINI, 2003, p.4) Dessa forma, a iniciativa privada passa a ser um dos principais agentes que conformam a esfera da cultura na contemporaneidade. E sua atuação não exclui e nem conflita com a atuação estatal na promoção e fomento às atividades culturais. Pelo contrário. Hoje, as iniciativas pública e privada sintonizam seus interesses e, em parceria, dinamizam a produção, a circulação e o consumo de bens culturais. Como já contextualizado, no Brasil, talvez, o exemplo mais emblemático desse fenômeno seja o advento das leis de incentivo à cultura, que possibilitou a quebra da predominância da ingerência do Estado no apoio às atividades culturais, através do estímulo ao mecenato privado. Desenvolvendo essa problemática em torno do objeto de estudo que ora nos interessa a ser explorado, qual seja, o mecanismo de financiamento à cultura pelas leis de incentivos fiscais, poderemos vislumbrar como vêem se dando as mediações entre Estado e iniciativa privada na produção cultural brasileira. Para a análise desse fenômeno, tomaremos como célula de investigação o Programa Estadual de Incentivo à Cultura – Fazcultura implementado pela Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia. É o que veremos a seguir, na próxima seção. 25 O poderio das organizações privadas na área cultural pode ser medido pela tendência, cada vez mais corrente, dos conglomerados econômicos instituírem suas próprias organizações culturais e, conseqüentemente, se revestirem também do papel de formuladores de políticas culturais para o setor. Instituições financeiras também acompanham essa tendência, e talvez, seja hoje o setor econômico que mais ilustre esse fenômeno. O Banco do Brasil e o Banco Itaú, por exemplo, através de suas instituições culturais – o Centro Cultural Banco do Brasil e o Itaú Cultural, respectivamente – , atuam como importantes agentes na dinamização da atividade cultural no país, ao fomentarem e difundirem a cultura brasileira em suas mais diferentes linguagens. Sobre a atuação dessas instituições, ver interessante debate promovido pelo Caderno T(encarte da Revista Bravo, jan./2001) com os diretores dos referidos centros culturais.
5 ESTADO E MERCADO NA BAHIA: UMA ANÁLISE DO FAZCULTURA 170 - Qual é a matéria-prima da criação artística no cinema? De l’argent, monsieur, de l‘argent Instado a responder a um questionamento sobre as necessidades da criação no campo cinematográfico, o notável cineasta Orson Welles, de forma irreverente, responde à pergunta citada na epígrafe acima, apontando para uma questão complexa e essencial para a existência da criação artístico-cultural, a saber: o seu financiamento. De agora em diante, a presente pesquisa volta-se também para a análise desse aspecto que ganha cada vez mais destaque no debate sobre as políticas culturais e as condições da produção cultural brasileira, especialmente após a consolidação das leis de incentivo à cultura em meados da década passada, quando passam a se constituir numa das principais ferramentas da política cultural inaugurada pela era FHC. A premência da investigação de alguns aspectos implicados nessa complexa questão torna-se condição necessária para avaliarmos o modo como se inscreve o Programa Estadual de Incentivo à Cultura – Fazcultura – no interior das estratégias mais abrangentes da política cultural implementada pelo executivo baiano durante o período eleito por essa pesquisa (1995-2002). Pela sua natureza, o Fazcultura talvez seja um dos nichos mais notórios onde se dão os deslocamentos na balança de poder na correlação de forças entre Estado e mercado, que aqui se pretende analisar. Constitui-se, portanto, num encrave específico no qual se descortinam as estratégias de intervenção – de forte matiz liberalizante – encampada pelo governo na área cultural. Após a análise das principais das ações da Secretaria da Cultura e Turismo foi possível depreender que a dimensão econômica da cultura é um dos princípios norteadores da intervenção do poder público na dinamização do campo cultural baiano. Uma dimensão priorizada nos planos do governo estadual baiano, respaldada na importância que assume hoje o mercado cultural no ordenamento social contemporâneo e na suposta “vocação” da Bahia, e principalmente Salvador, para o desenvolvimento de sua atividade produtiva voltada para o
- Page 119 and 120: da idéia de nacional-popular, prob
- Page 121 and 122: fase de consolidação do seu progr
- Page 123 and 124: 122 Nos anos recentes, tem-se verif
- Page 125 and 126: No inicio do século XXI, a Bahia e
- Page 127 and 128: acumulação capitalista, específi
- Page 129 and 130: tornar o ponto culminante da inters
- Page 131 and 132: Do ponto de vista institucional, a
- Page 133 and 134: do projeto, transformavam-no no epi
- Page 135 and 136: uma Bahia colonial a uma “novíss
- Page 137 and 138: 136 no Brasil e no exterior (...) A
- Page 139 and 140: do Turismo e do lazer” (BAHIA, 20
- Page 141 and 142: que o autor denomina de “disjunç
- Page 143 and 144: populares. Essa tendência se confi
- Page 145 and 146: na seara cultural - é bem verdade,
- Page 147 and 148: Como saída para esse dilema, por a
- Page 149 and 150: Secretaria da Cultura e Turismo - u
- Page 151 and 152: Saindo do seu longo ostracismo, poi
- Page 153 and 154: influência que hoje alguns mecanis
- Page 155 and 156: de um mercado de bens culturais, e
- Page 157 and 158: incentivo à iniciativa privada, de
- Page 159 and 160: através de financiamento à produ
- Page 161 and 162: linguagens artísticas mais restrit
- Page 163 and 164: uma certa radicalidade política, e
- Page 165 and 166: compreensão mais abrangente do pap
- Page 167 and 168: gestão pública para a área da cu
- Page 169: precisamente o seu modo de atuaçã
- Page 173 and 174: circuito da produção cultural bra
- Page 175 and 176: Em 1996, na gestão do então gover
- Page 177 and 178: local. Pode-se inferir através des
- Page 179 and 180: federais ainda lucra com a promoç
- Page 181 and 182: Enquadrando-se nessa modalidade, ó
- Page 183 and 184: A bem da verdade, nem sempre foi as
- Page 185 and 186: percentual de recursos para a cada
- Page 187 and 188: 5.1.4 Seleção, avaliação e o ac
- Page 189 and 190: comunidade cultural. Essa dinâmica
- Page 191 and 192: dos projetos em detrimento de outro
- Page 193 and 194: Tesouro, a um público maior. Esse
- Page 195 and 196: atuação classificadas pelo progra
- Page 197 and 198: 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 3
- Page 199 and 200: entre os números do Fazcultura e a
- Page 201 and 202: Música 25% Artesanato, Folclore e
- Page 203 and 204: Tabela 3 - Dez maiores patrocinador
- Page 205 and 206: uma obra cinematográfica. A Cadern
- Page 207 and 208: A estabilidade econômica alcançad
- Page 209 and 210: Inventaram um arsenal de leis para
- Page 211 and 212: Canclini ao tecer uma análise sobr
- Page 213 and 214: consistente, por outro lado, o anel
- Page 215 and 216: 214 meu produto. Eu não vou mercan
- Page 217 and 218: importância desses diferentes mana
- Page 219 and 220: 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Depois de
5 ESTADO E MERCADO NA BAHIA: UMA ANÁLISE DO<br />
FAZCULTURA<br />
170<br />
- Qual é a matéria-prima da criação artística no cinema?<br />
De l’argent, monsieur, de l‘argent<br />
Insta<strong>do</strong> a responder a um questio<strong>na</strong>mento sobre as necessidades da criação no campo<br />
cinematográfico, o notável cineasta Orson Welles, de forma irreverente, responde à pergunta<br />
citada <strong>na</strong> epígrafe acima, apontan<strong>do</strong> para uma questão complexa e essencial para a existência<br />
da criação artístico-<strong>cultural</strong>, a saber: o seu fi<strong>na</strong>nciamento. De agora em diante, a presente<br />
pesquisa volta-se também para a análise desse aspecto que ganha cada vez mais destaque no<br />
debate sobre as políticas culturais e as condições da produção <strong>cultural</strong> brasileira,<br />
especialmente após a consolidação das leis de incentivo à cultura em mea<strong>do</strong>s da década<br />
passada, quan<strong>do</strong> passam a se constituir numa das principais ferramentas da política <strong>cultural</strong><br />
i<strong>na</strong>ugurada pela era FHC.<br />
A premência da investigação de alguns aspectos implica<strong>do</strong>s nessa complexa questão<br />
tor<strong>na</strong>-se condição necessária para avaliarmos o mo<strong>do</strong> como se inscreve o Programa Estadual<br />
de Incentivo à Cultura – <strong>Fazcultura</strong> – no interior das estratégias mais abrangentes da política<br />
<strong>cultural</strong> implementada pelo executivo baiano durante o perío<strong>do</strong> eleito por essa pesquisa<br />
(1995-2002). Pela sua <strong>na</strong>tureza, o <strong>Fazcultura</strong> talvez seja um <strong>do</strong>s nichos mais notórios onde se<br />
dão os deslocamentos <strong>na</strong> balança de poder <strong>na</strong> correlação de forças entre Esta<strong>do</strong> e merca<strong>do</strong>,<br />
que aqui se pretende a<strong>na</strong>lisar. Constitui-se, portanto, num encrave específico no qual se<br />
descorti<strong>na</strong>m as estratégias de intervenção – de forte matiz liberalizante – encampada pelo<br />
governo <strong>na</strong> área <strong>cultural</strong>.<br />
Após a análise das principais das ações da Secretaria da Cultura e Turismo foi possível<br />
depreender que a dimensão econômica da cultura é um <strong>do</strong>s princípios nortea<strong>do</strong>res da<br />
intervenção <strong>do</strong> poder público <strong>na</strong> di<strong>na</strong>mização <strong>do</strong> campo <strong>cultural</strong> baiano. Uma dimensão<br />
priorizada nos planos <strong>do</strong> governo estadual baiano, respaldada <strong>na</strong> importância que assume hoje<br />
o merca<strong>do</strong> <strong>cultural</strong> no orde<strong>na</strong>mento social contemporâneo e <strong>na</strong> suposta “vocação” da <strong>Bahia</strong>, e<br />
principalmente Salva<strong>do</strong>r, para o desenvolvimento de sua atividade produtiva voltada para o