Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

keynesiano ou marxista – na planificação da economia daqueles países considerados
periféricos. A adoção desses roteiros de desenvolvimento e de modernização –
descontextualizados da realidade local desses países, pois se embasava nos modelos
industriais dos grandes centros de poder ocidentais –, como sabemos, não foram capazes de
solucionar os graves problemas socioeconômicos que se abatiam nessas regiões mais pobres
do mundo, responsáveis pela degradação das condições de vida de uma imensa horda da
população periférica do globo.
“No mundo rico, a noção de progresso sem limites tornou-se uma ilusão. Os sistemas de
valores e as redes de solidariedade pareciam romper-se. O hiato entre ‘os- que-têm e ‘os-que-
não-têm’ ampliava-se, e o flagelo da exclusão econômica e social perturbava a suave
superfície do contentamento e a da satisfação”, nos diz Javier Pérez de Cuéllar (1997, p.13),
no Relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento da Unesco, como que a
confirmar tal diagnóstico.
Frente a esse contexto, somado ao expressivo movimento de diversidade cultural que
pululava aqui e ali, pelos quatro cantos do mundo, fruto principalmente da emancipação
política (destaque-se aqui as experiências do continente africano), percebeu-se que “os
indicadores macroeconômicos não revelavam grande coisa sobre o progresso efetivo das
sociedades” (HERMET, 2002, p.11), levando políticos e cientistas a se perguntarem sobre as
bases culturais do desenvolvimento. Desse modo, a própria noção de desenvolvimento se
alargou, abarcando, além da economia, aqueles aspectos de caráter mais imaterial ou menos
mensurável voltados à melhoria das condições de vida das populações, incluindo-se aí
critérios mais diversos tais como criatividade, liberdade política, econômica e social,
educação, respeito aos direitos humanos (CUÉLLAR, 1997).
Como bem observa Guy Hermet, a mudança de tal mirada se expressa simbolicamente
na linguagem. Revela-se na substituição de indicadores meramente econômicos pelo
indicador de desenvolvimento humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD) – “o novo indicador já nem se remete à economia: refere-se
ao humano” (HERMET, 2002, p.80). Na esteira da transformação da tônica do
desenvolvimento, agora voltada para aspectos mais humanos e menos economicistas, a cultura
também passa a ser vista como um critério a ser considerado por esses novos indicadores.
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