Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...
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135 produto é a formatação das políticas de cultura nesses moldes (FERREIRA, 2001, p.3). Não nos cabe aqui tecer críticas nem análises mais acuradas sobre o fenômeno da crescente espetacularização e mercantilização do carnaval baiano contemporâneo, nem sobre os rumos que essa festa tomou ou tomará a partir dessas novas configurações. Muitos já o fizeram de forma competente. No entanto, cumpre aqui realçar que esse evento festivo assumiu um importante espaço de legitimação política nos últimos anos. Tornou-se o principal produto de exportação da cultura baiana e o principal diferencial atrativo utilizado pelo marketing governamental para multiplicar o número de visitantes ao Estado, associando na sua estratégia de venda, como não poderia deixar de ser, uma imagem hegemônica da Bahia como espaço mítico, identificado ao lazer e ao entretenimento. Isso porque, como vimos, é um evento que tem a capacidade de acionar o texto “identitário da baianidade” em sua máxima potência. Assim, o carnaval pela sua complexidade organizativa, pelo gigantesco aparato acionado para sua realização, além dos sedutores números que envolvem suas estatísticas e índices (alguns deles questionáveis, não se pode negar), tornou-se como que a concretização de uma saída econômica “pós-industrial” para o Estado, como aventado nos planos elaborados pela elite tecnocrática do executivo estadual. Aproveitando-se, então, de todo esse cenário propício ao desenvolvimento da economia voltada para os segmentos da cultura e do entretenimento, o governo passou a encampar, através da Bahiatursa, um sem número de atividades de promoção e fomento a diversos artistas locais identificados à produção musical relacionada à axé music e ao pagode. A título de ilustração, vinculando cultura ao turismo, ação tradicional desse órgão, no ano de 2001 a Bahiatursa investiu somente em publicidade na promoção do chamado “Produto Bahia” cerca de R$ 14 milhões, superando inclusive o orçamento do próprio governo do estado para tal fim (cerca de R$ 11 milhões) e até mesmo de ministérios do governo federal (Estado de São Paulo, apud Dias, 2002, p.53). São estratégias de atuação que podem ser constatadas através de falas e textos oficiais. Senão vejamos: O Governo do Estado (...) também promove e divulga a cultura baiana. Criou alternativas de lazer e diversão para turistas e habitantes, promovendo a convivência na alegria musical que o trabalho dos artistas regionais proporciona e que tanto tem contribuído para consolidar a imagem da Bahia
136 no Brasil e no exterior (...) A Bahiatursa soube perceber a importância da música também para a promoção do turismo. Criou oportunidades, incentivou e patrocinou a participação dos artistas em eventos nacionais e internacionais, levando a Bahia e sua música para o Brasil e o exterior. (BAHIATURSA, 1998, p.55-56) Ou ainda, nas palavras do secretário Paulo Gaudenzi: Tratamos o carnaval apoiando manifestações carnavalescas fora da Bahia, no Brasil e no exterior, durante o ano inteiro. Existe um apoio quase sistemático a bandas, blocos, blocos afro, etc., como Olodum, Araketu, Gandhi, Ylê Aiê e outros. Com isso, vende-se uma imagem do Carnaval. Existe um trabalho feito com os agentes de viagem, específico para o Carnaval. Para se ter uma idéia, desde agosto de 91 que, durante congressos da Abav, a Bahiatursa reserva um espaço no stand da Bahia, a que chamamos Casa do Carnaval, sendo ocupado esse espaço também por blocos Carnavalescos. Com isso, propicia-se e aumenta-se o contato permanente dos blocos, para a venda específica do seu produto, com os agentes de viagens, incentivando-se os pacotes turísticos. Assim, existe uma estratégia montada em cima disso. Nós ajudamos porque temos interesse em divulgar a vida do baiano, porque faz parte do nosso produto de venda o patrimônio, a culinária, as diversas manifestações culturais, o lazer, a praia. E acima de tudo existe um grande invólucro que a forma de viver do baiano. ‘Bahia, viva essa festa!’ está lá assinado pela gente. (GAUDENZI, 1996, p.16). Há ainda um outro elemento a ser analisado no tocante às estratégias de promoção turística e cultural. Refere-se ao indiscutível papel que a Rede Bahia – uma das mais importantes afiliadas da Rede Globo e, não por acaso, de propriedade da família do ex- senador Antônio Carlos Magalhães – vem desempenhando para potencializar a articulação entre cultura e turismo como estratégia de inserção do Estado no fluxo nacional e internacional de turismo e entretenimento. Aproveitando-se, sobretudo, do fenômeno da reinvenção da Bahia ocorrido na última década, esse grupo de comunicação (que congrega televisões, rádios, jornal, gráfica, produtoras de vídeo e de eventos, entre outros), perfeitamente alinhado às políticas e propósitos do governo estadual de colocar ênfase no processo de modernização turística, encontra aqui um terreno fértil de possibilidades para que novos produtos culturais sejam explorados e, conseqüentemente, exportados para mercados locais e, até mesmo, para mercados globais.
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crescente espetacularização e mercantilização <strong>do</strong> car<strong>na</strong>val baiano contemporâneo, nem sobre<br />
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principal produto de exportação da cultura baia<strong>na</strong> e o principal diferencial atrativo utiliza<strong>do</strong><br />
pelo marketing gover<strong>na</strong>mental para multiplicar o número de visitantes ao Esta<strong>do</strong>, associan<strong>do</strong><br />
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<strong>Bahia</strong> como espaço mítico, identifica<strong>do</strong> ao lazer e ao entretenimento. Isso porque, como<br />
vimos, é um evento que tem a capacidade de acio<strong>na</strong>r o texto “identitário da baianidade” em<br />
sua máxima potência. Assim, o car<strong>na</strong>val pela sua complexidade organizativa, pelo gigantesco<br />
aparato acio<strong>na</strong><strong>do</strong> para sua realização, além <strong>do</strong>s sedutores números que envolvem suas<br />
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concretização de uma saída econômica “pós-industrial” para o Esta<strong>do</strong>, como aventa<strong>do</strong> nos<br />
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Aproveitan<strong>do</strong>-se, então, de to<strong>do</strong> esse cenário propício ao desenvolvimento da economia<br />
voltada para os segmentos da cultura e <strong>do</strong> entretenimento, o governo passou a encampar,<br />
através da <strong>Bahia</strong>tursa, um sem número de atividades de promoção e fomento a diversos<br />
artistas locais identifica<strong>do</strong>s à produção musical relacio<strong>na</strong>da à axé music e ao pagode. A título<br />
de ilustração, vinculan<strong>do</strong> cultura ao turismo, ação tradicio<strong>na</strong>l desse órgão, no ano de 2001 a<br />
<strong>Bahia</strong>tursa investiu somente em publicidade <strong>na</strong> promoção <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “Produto <strong>Bahia</strong>” cerca<br />
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Paulo, apud Dias, 2002, p.53). São estratégias de atuação que podem ser constatadas através<br />
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O Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (...) também promove e divulga a cultura baia<strong>na</strong>.<br />
Criou alter<strong>na</strong>tivas de lazer e diversão para turistas e habitantes, promoven<strong>do</strong><br />
a convivência <strong>na</strong> alegria musical que o trabalho <strong>do</strong>s artistas regio<strong>na</strong>is<br />
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