Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

uma Bahia colonial a uma “novíssima poesia bahiana” 14 , tendo no carnaval o locus por
excelência para sua máxima expressão. São mensagens, em sua grande maioria, que convidam
as pessoas a se lançarem na atmosfera lúdica e festiva da cidade, realçando ao mesmo tempo
as heranças de uma “tradição” africana e a imagem de “alegria” e festividade que compõem o
cenário mítico dessa moderna Bahia (re)inventada. Mensagens essas que escapam aos
circuitos exclusivos da festa e penetram nos mais diversos meios de comunicação,
contribuindo para a reelaboração e atualização do “texto identitário” da baianidade, que por
sua vez, mais do que em qualquer outra época, liga-se ao fenômeno da institucionalização do
turismo e à identificação de Salvador como uma mercadoria para o consumo do espetáculo e
do lazer (FARIAS, 2001).
O carnaval, então, torna-se o evento capaz de galvanizar esse feixe de fenômenos no seu
largo espectro prenhe de simbologias: aliar prazer à complexidade organizativa do evento, ser
palco de variadas expressões musicais e da “espetacularização da baianidade” (MOURA,
2001) e, além de tudo, ser capaz de integrar os mais diversos grupos sociais em torno de um
só acontecimento – mesmo que de forma antitética, posto que subjaz a essa suposta
“comunhão” relações sociais assimétricas que reproduzem uma intensa exclusão social,
desigualdade e conflitos –, fenômeno maquiado sob um discurso consensual que se alenta nas
cifras econômicas e nos efeitos midiáticos motivados pela festa (DIAS, 2002).Em entrevista
concedida a Flávia Pinto(2001), Juca Ferreira, político da oposição e atualmente secretário-
executivo do Ministério da Cultura, analisa a especificidade das políticas culturais
implementadas pelas administrações da frente carlista, apontando o carnaval como uma
espécie de mito fundador do modelo de intervenção do governo na cultura. Diz ele:
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Por se constituir o principal foco de interesse dessa política [o carnaval]
condensa algumas de suas importantes características. É como se o
Carnaval reproduzisse, em escala diminuída, a sociedade soteropolitana:
todos a compõem,alguns protagonizam, outros somente figuram. A
‘burguesia’ está ali representada nos blocos mais exclusivos e nos
camarotes, o ‘proletariado’, o outro pólo, são os barraqueiros, cordeiros e
demais trabalhadores temporários. As relações de poder são mantidas e o
14 Essa expressão é tomada aqui de empréstimo do título de uma peça teatral baiana, encenada pelo grupo “Los
Catedrásticos”, na década de 90. A Novíssima Poesia Bahiana foi um dos espetáculos de grande sucesso de
público da época e tinha como tema a sátira às letras dos maiores sucessos da axé music e do pagode.