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Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

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Muitos se foram quase que definitivamente. E cantaram de longe suas<br />

saudades. Cantaram tanto que fizeram sentir saudades em outros que ainda<br />

nem tinham chega<strong>do</strong>.<br />

Não era só a paisagem. Não era só a arquitetura. Não era só nem o mar nem<br />

as terras. Era a gente e o viver da <strong>Bahia</strong>.<br />

O povo e suas coisas. O povo e seus cantares. O ritmo lento que invade<br />

corações agita<strong>do</strong>s e acalma. A <strong>do</strong>çura que ocupa os espaços vagos da<br />

conturbação geral. A sensualidade livre não inteiramente atingida pela<br />

cultura <strong>do</strong> ocidente. Herança, entre outras, <strong>do</strong> negro viver africano. A<br />

democracia mulata de grandes corações tolerantes.<br />

A religião colorida e musical. A malandragem sábia e discreta, como a<br />

capoeira que não agride. Mas resolve. ‘Capoeira, meu filho, é ginga, é<br />

malícia, é tu<strong>do</strong> que a boca come’ (Pastinha, mestre de vida e capoeira). E a<br />

comida feita com o ouro líqui<strong>do</strong> <strong>do</strong> dendê. Dividida delicadamente em<br />

pequenos pedaços de civilização: acarajé, abará e <strong>do</strong>ces sem dendê mas<br />

com muito côco e açúcar.<br />

Salva<strong>do</strong>r a cidade-festa. Cachoeira. Santo Amaro.<br />

A <strong>na</strong>ção baia<strong>na</strong> de religião e linguagem próprias. O país das ladeiras e <strong>do</strong><br />

car<strong>na</strong>val. É isso que faz o visgo mágico da <strong>Bahia</strong>. O viver acresci<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

velhos casarões, das praias, da história brasileira escrita nos monumentos. O<br />

primeiro passo em qualquer planejamento turístico, teria que partir de uma<br />

consciência preserva<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> cotidiano tanto quanto <strong>do</strong>s velhos prédios<br />

seiscentistas (BAHIA, 1974, p.9).<br />

Imbuída desse espírito, foram muitas as ações promovidas pela <strong>Bahia</strong>tursa que tinham<br />

por objetivo a preservação e a valorização <strong>do</strong> patrimônio artístico-<strong>cultural</strong> como elemento de<br />

di<strong>na</strong>mização e diferenciação <strong>do</strong> produto turístico a ser ofereci<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong>. Arriscamos a<br />

dizer que talvez tenha si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s principais órgãos que formulou e promoveu<br />

sistematicamente políticas voltadas para a área <strong>cultural</strong> até o advento da criação da Secretaria<br />

da Cultura e Turismo em 1995.<br />

A atenção voltada à preservação <strong>do</strong> patrimônio histórico e <strong>cultural</strong> não acontece num<br />

vazio político. Como já foi mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>, essa estratégia de atuação era, de certa forma<br />

correlata, em nível federal, às políticas de preservação promovidas pelo SPHAN à época, que<br />

tinha por objetivo conciliar os interesses da preservação à ideologia desenvolvimentista que<br />

vicejava então. O objetivo desse novo modelo de atuação <strong>do</strong> SPHAN, como descreve Fonseca<br />

(1997) era evidenciar a relação entre valor <strong>cultural</strong> e valor econômico como valores não<br />

conflitantes, e sim compatíveis. Nesses termos, os bens culturais passaram a ser entendi<strong>do</strong>s<br />

como merca<strong>do</strong>rias de alto potencial turístico. No bojo desse contexto político <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, as<br />

políticas implementadas pela <strong>Bahia</strong>tursa para o setor turístico valeram-se <strong>do</strong> capital <strong>cultural</strong> e

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