Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura - Universidade ...

111
industriais, passou a atender às demandas urbanas provenientes das
indústrias nascentes, inclusive aquelas vinculadas ao setor do turismo
(QUEIROZ, 1997, p.51).
Essa nova lógica de acumulação flexível sobre a qual nos fala David Harvey vai apontar
também para uma outra dimensão que tem ressonâncias no contexto de Salvador. Diz respeito
à nova “sensibilidade” do capital que agora volta seus investimentos e atenções para a
exploração das peculiaridades geográficas das diferentes espacialidades que compõem a teia
urbana global. O autor vai problematizar aí o que ele chama de “papel mutante da
espacialidade na sociedade contemporânea” (HARVEY, 1993, p.266). Ou seja, ele situa a
tendência de valorização da especificidade e da qualidade do lugar, como trunfo frente ao
aumento da competição entre países, regiões e cidades que começava a vigorar desde a década
de 70 – tendência essa que era reforçada tanto pelos capitalistas quanto pelos governos locais.
Desse modo, a cidade de Salvador passa a experimentar, ainda que embrionariamente,
uma crescente e contínua reformulação na sua paisagem urbana de modo a configurá-la e
torná-la atraente às novas exigências do capital que, como mencionado anteriormente,
começava a deslocar seus interesses para o setor terciário da economia. Remonta a essa época
o fortalecimento institucional do setor turístico promovido pelo governo e pelos investimentos
privados na área. Como conseqüência, a cidade começa a ganhar novos contornos de modo a
configurar-se como um lugar de entretenimento e turismo, tendo na nova ocupação do solo
uma chave interessante para a compreensão do reordenamento do espaço urbano pelo qual
passava. Farias aponta com precisão ta fenômeno:
A territorialidade do lugar de entretenimento e turismo resulta e manifesta
os novos alinhamentos. O tema do imobiliário é heurístico. Verifica-se,
nesse mesmo período, o crescente deslocamento dos investimentos para o
setor de empreendimentos imobiliários, sintonizado com a intensificação da
primazia financeira nas atividades terciárias e da ampliação do consumo de
serviços e mercadorias, viabilizando uma série de construções ligadas a essa
rotação socioeconômica. Desse modo são erguidos shopping-centers,
avolumam-se as construções destinadas à moradia e diversão das novas
classes médias e das burguesias incorporadas ao novo perfil da estrutura
social da cidade (e no restante do país). A questão da mercantilização do
solo ganha, assim, componente financeiro sem precedentes; beleza natural e
conjuntos monumentais (condomínios) passam a compor um dueto que
aproxima poder público, iniciativa privada empresarial e rentabilidade,