15.04.2013 Views

espaço pais–bebês: uma articulação com a teoria de ... - pgpsa/uerj

espaço pais–bebês: uma articulação com a teoria de ... - pgpsa/uerj

espaço pais–bebês: uma articulação com a teoria de ... - pgpsa/uerj

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO<br />

I<br />

INSTITUTO DE PSICOLOGIA<br />

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICANÁLISE<br />

MARIA ANTUNES TAVARES<br />

ESPAÇO PAIS–BEBÊS: UMA ARTICULAÇÃO COM A TEORIA<br />

DE JACQUES LACAN – ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO<br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />

RIO DE JANEIRO, FEVEREIRO DE 2008


II<br />

MARIA ANTUNES TAVARES<br />

Dissertação apresentada ao Programa<br />

<strong>de</strong> Pós-Graduação em Psicanálise<br />

da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>com</strong>o requisito parcial para obtenção do<br />

Título <strong>de</strong> Mestre em Psicanálise.<br />

Orientador: Marco Antonio Coutinho Jorge<br />

Excluído: <br />

Excluído: <br />

<br />

<br />

<br />

POR <br />

MARIA ANTUNES TAVARES<br />

<br />

<br />

ESPAÇO PAIS<br />

Excluído: -<br />

Excluído: –BEBÊS: UMA<br />

ARTICULAÇÃO COM A<br />

TEORIA<br />

DE JACQUES LACAN –<br />

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

TRABALHO APRESENTADO<br />

AO EXAME DE<br />

QUALIFICAÇÃO DO<br />

PROGRAMA DE PÓS<br />

Inserido: -<br />

Excluído: TÍTULO<br />

Excluído: TÍTULO DE<br />

MESTRE EM PSICANÁLISE.<br />

<br />

ORIENTADOR: MARCO<br />

ANTONIO COUTINHO JORGE<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

RIO DE JANEIRO, AGOSTO DE<br />

2007<br />

<br />

<br />

UNIVERSIDADE DO ESTADO<br />

DO RIO DE JANEIRO<br />

<br />

PROGRAMA DE PÓS-<br />

GRADUAÇÃO EM<br />

PSICANÁLISE<br />

Inserido: –<br />

Excluído: –<br />

Excluído: -GRADUAÇÃO EM<br />

PSICANÁLISE DA<br />

UNIVERSIDADE DO ESTADO<br />

DO RIO DE JANEIRO COMO<br />

REQUISITO PARCIAL PARA<br />

OBTENÇÃO DO<br />

Inserido: TÍTULO<br />

... [1]


III<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Quase concluindo esse trabalho <strong>de</strong> dissertação, venho a escrever os agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

Me <strong>de</strong>paro <strong>com</strong> longo percurso e, nele, várias pessoas e acontecimentos que fazem<br />

parte <strong>de</strong>sse trabalho. Por isso, agra<strong>de</strong>ço a vida, a vida que é feita <strong>de</strong> encontros e <strong>de</strong>sencontros.<br />

Agra<strong>de</strong>ço:<br />

- As crianças e pais por tudo que eu pu<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r <strong>com</strong> eles.`<br />

- A meus caros amigos e <strong>com</strong>panheiros <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> CERSAMI que me ensinaram<br />

muito e pela aposta <strong>de</strong>les nesse trabalho.<br />

- Ao CAPSI Monteiro Lobato pelo acolhimento.<br />

- A prefeitura municipal <strong>de</strong> Betim, a Ana Maria Ragazzi, a Alexandre, coordonador<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental <strong>de</strong> Betim, a Maternida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> Betim, pelo apoio.<br />

- A Ana Selra por sua apreciada contribuição<br />

- A Eliane Pirard e a La Lice pela inventivida<strong>de</strong>.<br />

- A Tánia Ferreira pela escrita e a clínica<br />

- A meu orientador pela sua transmissão e <strong>de</strong>dicação.<br />

- A Luciano Elia pelos <strong>com</strong>entários que muito me ajudaram na pesquisa.<br />

- A Maria Anita Carneiro Ribeiro pela <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e pela perspicácia <strong>de</strong> sua leitura.<br />

- A CAPES pela bolsa.<br />

- A meus amigos <strong>de</strong> mestrado pela amiza<strong>de</strong> e o trabalho que realizamos.<br />

- A Marcus André Vieira por sua escuta, transmissão da <strong>articulação</strong> clínica e<br />

teórica.do material <strong>de</strong> dissertação.<br />

- A meus queridos pais e a minha família.<br />

- A Marcos e Arthur pelo carinho e a paciência que eles tiveram.<br />

Formatados: Marcadores e<br />

numeração


IV<br />

RIO DE JANEIRO – FEVEREIRO DE 2008<br />

SUMÁRIO<br />

RESUMO _______________________________________________________________ VII<br />

RÉSUMÉ________________________________________________________________ VII<br />

I. INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 1<br />

ASSUNTO E ROTEIRO DE TRABALHO ____________________________________ 2<br />

Campo <strong>de</strong> trabalho, percurso e mo<strong>de</strong>lo: saú<strong>de</strong> mental e pequena infância__________ 6<br />

Saú<strong>de</strong> mental e pequena infância: nosso campo <strong>de</strong> trabalho __________________ 6<br />

Histórico e mo<strong>de</strong>lo __________________________________________________ 6<br />

II. DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURA_____________________________________ 10<br />

Situando os dois campos teóricos_______________________________________ 11<br />

Estrutura e sujeito___________________________________________________ 20<br />

Conseqüências das perspectivas teóricas do <strong>de</strong>senvolvimento e da estrutura para a<br />

<strong>de</strong>terminação do que sinaliza e constitui no campo clínico __________________________ 29<br />

Saú<strong>de</strong> mental: intervenção a tempo x intervenção precoce_________________ 29<br />

Intervenção precoce_______________________________________________ 29<br />

Intervenção a tempo e a clínica <strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> quatro anos na saú<strong>de</strong><br />

mental infanto-juvenil <strong>de</strong> Betim _______________________________________________ 29<br />

Intervenção a tempo: indicações para um atendimento no Cersami __________ 31<br />

III. ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO ___________________________________________ 43<br />

Excluído: <br />

<br />

<br />

<br />

Excluído: ESPAÇO<br />

Excluído: PAIS-BEBÊS<br />

Excluído: PAIS–BEBÊS: UMA<br />

ARTICULAÇÃO COM A<br />

TEORIA<br />

DE JACQUES LACAN –<br />

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

AUTORA: MARIA ANTUNES<br />

TAVARES<br />

ORIENTADOR: MARCO<br />

ANTONIO COUTINHO JORGE<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

RIO DE JANEIRO – AGOSTO<br />

2007<br />

Inserido: PAIS–BEBÊS


V<br />

A alienação________________________________________________________ 45<br />

A separação ________________________________________________________ 47<br />

Alienação e separação: <strong>articulação</strong> da <strong>teoria</strong> <strong>com</strong> a clínica ___________________ 51<br />

Caso I (S E.) ____________________________________________________ 54<br />

Histórico e <strong>de</strong>scrição do atendimento _________________________________ 54<br />

Consi<strong>de</strong>rações e articulações do fragmento <strong>de</strong> caso clínico <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> ______ 55<br />

Consi<strong>de</strong>rações e articulações da clínica <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> _____________________ 56<br />

Alienação / separação e o objeto a ________________________________________ 60<br />

Fragmento do caso II (E. e L.) _______________________________________ 62<br />

Histórico e <strong>de</strong>scrição dos atendimentos ________________________________ 63<br />

Articulações do fragmento do caso clínico <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> ___________________ 66<br />

Fragmento do caso III (R.) __________________________________________ 69<br />

Histórico e <strong>de</strong>scrição dos atendimentos ________________________________ 70<br />

Articulação do fragmento do caso clínico <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> ____________________ 74<br />

IV. ESPAÇO PAIS-BEBÊS __________________________________________________ 78<br />

Alg<strong>uma</strong>s consi<strong>de</strong>rações sobre os fragmentos clínicos e o <strong>espaço</strong> pais-bebês______ 79<br />

Articulação da operação <strong>de</strong> alienação e separação <strong>com</strong> o <strong>espaço</strong> potencial e o objeto<br />

transicional _______________________________________________________________ 82<br />

Alienação/separação e o objeto a _____________________________________ 82<br />

Aporte <strong>de</strong> D. W. Winnicott sobre o conceito objetos transicionais e <strong>espaço</strong> potencial<br />

_________________________________________________________________________ 84<br />

Articulações do conceito <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> e objeto transicional <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> Lacan<br />

alienação/separação e o objeto a e o objeto e <strong>espaço</strong> transicional _____________________ 87<br />

O objeto________________________________________________________ 87<br />

Alienação e separação _____________________________________________ 87<br />

Alg<strong>uma</strong>s aproximações entre a <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> alienação e separação <strong>de</strong> Lacan _______ 88<br />

Espaço <strong>pais–bebês</strong>__________________________________________________________ 90<br />

Tentativa <strong>de</strong> formalização do <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>___________________________ 92


V. CONCLUSÃO _________________________________________________________ 100<br />

BIBLIOGRAFIA__________________________________________________________ 111<br />

VI


VII<br />

RESUMO<br />

A presente dissertação preten<strong>de</strong> formalizar, a partir da <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> alienação e separação,<br />

<strong>de</strong> Jacques Lacan, a prática que especifica o trabalho clínico que realizamos <strong>com</strong> bebês e<br />

crianças bem pequenas e seu Outro primordial, no <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>. Em primeiro lugar,<br />

trabalhamos a diferença entre a noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e estrutura e apresenta a<br />

constituição do sujeito n<strong>uma</strong> concepção estruturalista: O sujeito nasce do furo da estrutura.<br />

Em seguida, trabalhando a operação <strong>de</strong> alienação e separação, mostramos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o<br />

sujeito se alienar ao outro da linguagem e assim tentar correspon<strong>de</strong>r ao furo <strong>de</strong>sse outro, ou<br />

seja, ser o objeto do <strong>de</strong>sejo do Outro que, ao barrar-lo, o torna um sujeito <strong>de</strong>sejante. O resto, o<br />

que não po<strong>de</strong> ser simbolizado <strong>de</strong>ssa operação, é o objeto a. Trabalhamos então três casos<br />

clínicos em que articulamos as questões em jogo <strong>com</strong> esses conceitos. Finalmente,<br />

articulamos os conceitos <strong>de</strong> objeto e <strong>espaço</strong> transicional (Winnicott) e a <strong>teoria</strong> da alienação–<br />

separação e do objeto a (Lacan). Em conclusão, transmitimos em que consiste o <strong>espaço</strong> pais–<br />

bebês e articulamos os conceitos vistos <strong>com</strong> o dispositivo apresentado.<br />

RÉSUMÉ<br />

Cette dissertation prétend formaliser, à partir <strong>de</strong> la théorie <strong>de</strong> l'aliénation et <strong>de</strong> la<br />

séparation <strong>de</strong> Jacques Lacan, la pratique qui spécifie le travail clinique que nous avons réalisé<br />

avec <strong>de</strong>s bébés et <strong>de</strong> petits enfants ainsi que leur Autre primordial dans l'espace parents-bébés.<br />

Nous travaillons d'abord la différence entre les notions <strong>de</strong> développement et <strong>de</strong> structure et<br />

présente la constitution du sujet dans une conception strucutraliste : le sujet naît du trou <strong>de</strong> la<br />

structure. Ensuite, travaillant l'opération d'aliénation et <strong>de</strong> séparation, nous montrons la<br />

nécessité qu'a le sujet <strong>de</strong> s'aliéner à l'autre du langage et <strong>de</strong> tenter ainsi <strong>de</strong> correspondre au<br />

trou <strong>de</strong> cet autre, ou encore, d'être l'objet du désir <strong>de</strong> l'Autre qui, en le barrant, en fait un sujet<br />

désirant. Le reste, ce qui ne peut être symbolisé <strong>de</strong> cette opération, c'est l'objet a. Nous avons<br />

alors, à l'ai<strong>de</strong> <strong>de</strong> ces concepts, travaillé trois cas cliniques. Finalement, en relation les concepts<br />

d'objet et espace transitionnel (Winnicott) et la théorie <strong>de</strong> l'aliénation-sépartion et <strong>de</strong> l'objet a<br />

(Lacan). En conclusion, nous transmettons ce en quoi consiste l'espace parents-bebés et nous<br />

articulons les concepts analysés avec ce dispositif.<br />

Excluído: <br />

<br />

Quebra <strong>de</strong> seção (próxima página)<br />

Sumário<br />

Introdução 5<br />

1. Assunto e roteiro <strong>de</strong><br />

trabalho 5<br />

1.2. campo <strong>de</strong> trabalho, percurso e<br />

mo<strong>de</strong>lo: saú<strong>de</strong> mental e pequena<br />

infância 8<br />

1.2.1. Saú<strong>de</strong> mental e pequena<br />

infância: nosso campo <strong>de</strong><br />

trabalho 8<br />

... [2]<br />

Excluído: <br />

Excluído: pais-bebês<br />

Excluído: Para isso, trabalhamos ... [4]<br />

Excluído: capítulo<br />

Excluído: escolhemos formalizar<br />

Excluído: .<br />

Excluído: Destacamos assim ... que [5]<br />

Excluído: No<br />

Excluído: segundo capítulo<br />

Excluído: trabalhamos<br />

Excluído: . Vemos<br />

Excluído: que é necessário ... que [6] o<br />

Excluído: , Lacan nos diz que ... [7] se<br />

Inserido: ,<br />

Excluído: ele tenta<br />

Excluído: o objeto que vai ... [8]<br />

Excluído: outro<br />

Excluído: . Mas<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: o Outro <strong>de</strong>seja para ... [9]<br />

Inserido:<br />

Inserido:<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: on<strong>de</strong><br />

Excluído: ,<br />

Excluído: No<br />

Excluído: terceiro capítulo,<br />

Excluído: mos<br />

Excluído: <strong>de</strong> Jacques Lacan,<br />

Excluído:<br />

Excluído: –<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: e,<br />

Excluído: por fim<br />

Excluído: pais-bebês<br />

Excluído: no curso da<br />

... [3]<br />

... [10]


1<br />

I . INTRODUÇÃO<br />

Excluído:


Assunto e roteiro <strong>de</strong> trabalho<br />

2<br />

A presente dissertação preten<strong>de</strong> formalizar teoricamente a prática que especifica o<br />

trabalho clínico que realizamos <strong>com</strong> bebês e crianças bem pequenas e seu Outro primordial 1 ,<br />

também nomeado <strong>com</strong>o Outro da linguagem ou Outro materno, muitas vezes a mãe, mas nem<br />

sempre.<br />

Nossa proposta clínica foi elaborada em um serviço integrante da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

mental do Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – SUS, o Centro <strong>de</strong> Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil<br />

(Capsi) <strong>de</strong> Betim, em Minas Gerais, chamado Centro <strong>de</strong> Referência em Saú<strong>de</strong> Mental Infanto-<br />

Juvenil (Cersami).<br />

Nosso trabalho vem sendo construído a partir da própria experiência clínica e a<br />

dissertação testemunha o esforço <strong>de</strong> formalização teórica que tem a<strong>com</strong>panhado nossa prática.<br />

O contato <strong>com</strong> a gravida<strong>de</strong> dos casos nos instigou a <strong>de</strong>senhar um mo<strong>de</strong>lo assistencial, que<br />

permanece aberto a mudanças e ampliações. Em nosso percurso, iniciado em 1998, <strong>uma</strong><br />

observação teve especial importância: “Os meninos psicóticos, autistas, neuróticos graves que<br />

chegavam até nós, chegavam já gran<strong>de</strong>s, num momento em que a estruturação do sujeito<br />

estava amarrada <strong>de</strong>mais!” 2 .<br />

O que nos sensibilizou, <strong>de</strong> imediato, foi o momento em que as crianças eram trazidas ao<br />

serviço e, sobretudo, a queixa presente na fala das mães ou avós: “eu perguntei para o<br />

pediatra, ele disse que quando crescesse ia passar!”, ou “procurei ajuda, mas não tinha!”.<br />

Começamos, então, a nos perguntar <strong>com</strong>o fazer para que essas crianças chegassem ao serviço<br />

mais cedo.<br />

A partir <strong>de</strong> tal questionamento, iniciamos <strong>uma</strong> interlocução <strong>com</strong> Eliane Pirard,<br />

psiquiatra infantil e psicanalista, coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> <strong>uma</strong> instituição belga chamada La Lice, que<br />

aten<strong>de</strong> crianças em sofrimento psíquico, <strong>de</strong> zero a três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, apresentando<br />

dificulda<strong>de</strong>s no laço <strong>com</strong> seu Outro primordial, geralmente os pais, assim <strong>com</strong>o também no<br />

<strong>espaço</strong> social mais amplo. Esse projeto tem a psicanálise <strong>com</strong>o referência e é pioneiro na<br />

1 Outro primordial: termo que Claudia Mascarenhas Rohenkohl utiliza para <strong>de</strong>finir tanto aquele que está<br />

ao lado, que é prestativo, que cuida, enfim (no sentido freudiano, que aparece em Freud, 1895, Projeto para <strong>uma</strong><br />

psicologia científica), quanto no sentido lacaniano, <strong>de</strong> um Outro primordial, aquele que servirá <strong>de</strong> suporte na<br />

constituição do sujeito. (ROHENKOHL, Claudia Mascarenha Fernan<strong>de</strong>s (org.), A clínica <strong>com</strong> o bebê. São Paulo,<br />

Casa do Psicólogo, 2000, p. 131)<br />

2 TAVARES, Maria Antunes. “Novos dispositivos <strong>de</strong> atendimento na pequena infância”. In: Transfinitos,<br />

psicanálise: transmissão e causa, Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p.161.<br />

Excluído: é o<br />

Excluído: no<br />

Excluído: MASCARENHAS<br />

FERNANDES<br />

Excluído: 1.<br />

Excluído: Outro primordial,<br />

Excluído: juvenil<br />

Excluído: CAPSI<br />

Excluído: CERSAMI<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: o


Bélgica (Bruxelas) em sua proposta <strong>de</strong> oferecer um atendimento à la carte, isto é, <strong>com</strong> vários<br />

módulos, pensados <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada caso e que permitem montar um<br />

dispositivo <strong>de</strong> a<strong>com</strong>panhamento, mesmo em momentos <strong>de</strong> crise.<br />

3<br />

O contato <strong>com</strong> o trabalho <strong>de</strong> La Lice resultou em <strong>uma</strong> experiência, inicialmente à<br />

distância, <strong>de</strong> trabalho que durou dois anos. Em 2001, retomamos, então, a elaboração <strong>de</strong> um<br />

trabalho clínico junto aos bebês e seus pais no Cersami. Além da nova orientação em nosso<br />

trabalho clínico, três significantes balizaram o caminho que nos levou a <strong>de</strong>finir a questão<br />

central do presente estudo. O primeiro foi “notícia", <strong>de</strong>pois “laço <strong>pais–bebês</strong> ou clínica do<br />

laço” e, finalmente, “intervenção a tempo”.<br />

Destacamos o significante “notícia” justamente a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> hipótese <strong>de</strong> que os bebês<br />

nos mostram que algo vai mal no laço <strong>pais–bebês</strong>, por meio do seu adoecimento que se<br />

apresenta sob forma <strong>de</strong> graves distúrbios psicossomáticos e funcionais (distúrbios do sono,<br />

alimentares, respiratórios e/ou <strong>de</strong> pele), graves distúrbios <strong>de</strong> humor (medo, fobias), graves<br />

distúrbios do <strong>de</strong>senvolvimento sem causa orgânica (intelectual, psi<strong>com</strong>otor, <strong>de</strong> tônus e/ou do<br />

contato) e dificulda<strong>de</strong>s no controle da agressivida<strong>de</strong>.<br />

Ou seja, passamos a ler <strong>com</strong>o “notícia” bebês que estavam muito adoecidos,<br />

apresentando-se <strong>com</strong> infecções repetidamente e sem justificativa clínica, <strong>com</strong> insônia,<br />

anorexia, bebês muito colados à mãe, bebês <strong>com</strong> <strong>de</strong>pressão, apresentando um quadro <strong>de</strong><br />

“hospitalismo domiciliar”, muito parecido <strong>com</strong> a <strong>de</strong>pressão anaclítica 3 <strong>de</strong>scrita por Spitz<br />

(1979), mas que não foi institucionalizada, bebês cm características do autismo (que não<br />

olham, não balbuciam).<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que não se trata <strong>de</strong> <strong>uma</strong> notícia relacionada apenas à jovem criança ou ao<br />

infans. Remetendo a um sujeito em fase <strong>de</strong> constituição, segundo a psicanálise, aponta para<br />

algo que se passa no laço <strong>com</strong> o Outro primordial. O significante “clínica do laço” passou a<br />

indicar, justamente, a direção <strong>de</strong>ssa clínica, que leva em conta a constituição do sujeito a<br />

partir do campo do Outro. Finalmente, o significante "intervenção a tempo" sinaliza <strong>uma</strong><br />

operação lógica, que remete a um tempo que não é cronológico, que não se me<strong>de</strong> pela ida<strong>de</strong>,<br />

que não é avaliado por um teste <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> "intervenção a tempo",<br />

a tempo do que é possível ler da notícia <strong>de</strong> um sofrimento psíquico, que está lá. No entanto<br />

sabemos que, para a psicanálise, não é possível prevenir ou prever esse sofrimento, porque ele<br />

3 Depressão anaclítica: quadro psicopatológico no qual o bebê entra em <strong>de</strong>pressão grave e, em casos<br />

extremos, até morre, quando é separado <strong>de</strong> modo temporário ou <strong>de</strong>finitivo da mãe no primeiro ano <strong>de</strong> vida.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: pais-bebês<br />

Excluído: pais-bebês


vem <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> produção individual subjetiva, no que é justamente inapreensível porque é<br />

<strong>uma</strong> resposta do sujeito do inconsciente, <strong>uma</strong> resposta do sujeito, que é <strong>uma</strong> produção do<br />

sujeito diante <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> coisa que ele toma do Outro, o discurso inconsciente do Outro e que<br />

ele respon<strong>de</strong> <strong>com</strong> o que lhe é possível. Isso tem por conseqüência que o tempo é atrelado à<br />

resposta do sujeito à sua constituição e que só é possível ler, isto é, <strong>de</strong>cifrá-lo no <strong>de</strong>pois,<br />

quando ele se faz, se constitui, <strong>com</strong>o resposta ao que vem do campo do Outro. "Intervenção a<br />

tempo" sinaliza <strong>uma</strong> operação lógica que remete a um tempo do sujeito, que só é possível ler<br />

no <strong>de</strong>pois, quando houve resposta do sujeito, e que, nela, o sujeito não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> apontar para a<br />

intensida<strong>de</strong> do sofrimento psíquico presente nesse momento.<br />

4<br />

Assim, <strong>com</strong>eçamos a formular a questão <strong>de</strong> trabalho, que extraímos <strong>de</strong> nossa<br />

experiência: da atenção a um tempo constitutivo da subjetivida<strong>de</strong>, passamos a consi<strong>de</strong>rar a<br />

operação lógica, tecida entre o infans e o Outro e que permite que se faça laço entre eles, no<br />

que a mesma indica que algo vai mal. De um tempo constitutivo, caminhamos no sentido <strong>de</strong><br />

atentar para algo da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> um <strong>espaço</strong> lógico <strong>de</strong> constituição do sujeito e suas vicissitu<strong>de</strong>s.<br />

Devemos frisar que a noção <strong>de</strong> tempo, que recebe <strong>uma</strong> certa ênfase na presente<br />

dissertação, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> colocar <strong>uma</strong> questão sobre as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho<br />

psicanalítico <strong>com</strong> crianças tão jovens. Mais importante, entretanto, é consi<strong>de</strong>rar que a<br />

psicanálise também permite interrogar a noção <strong>de</strong> um tempo cronológico, razão pela qual<br />

escolhemos tratar a questão do tempo em sua dimensão constitutiva do sujeito. Trata-se, <strong>com</strong>o<br />

indicamos, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> operação que po<strong>de</strong>ria ser dita mais “espacial”, no sentido <strong>de</strong> um <strong>espaço</strong><br />

subjetivo, <strong>de</strong> um <strong>espaço</strong> que enlaça o sujeito e o Outro a partir da linguagem.<br />

Assim, chegamos a um ponto <strong>de</strong> <strong>articulação</strong> e enlace entre os três significantes que<br />

<strong>de</strong>stacamos <strong>de</strong> nossa experiência clínica, a saber, as operações <strong>de</strong> alienação e separação,<br />

conforme formuladas por Lacan 4 . Eis o elemento teórico que consi<strong>de</strong>ramos fundamental para<br />

formalizar o <strong>espaço</strong>, que está na origem da constituição do sujeito e que funda a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> laço <strong>com</strong> o Outro a partir da linguagem. Através <strong>de</strong> seu sofrimento, a criança daria notícia,<br />

indicaria que algo não vai bem em um <strong>espaço</strong> que é da or<strong>de</strong>m do laço, <strong>de</strong>vendo a intervenção<br />

clínica, portanto, ter essa direção.<br />

4 LACAN, Jacques, O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1964. p. 207<br />

Excluído:<br />

Excluído: a<br />

Excluído: ti<br />

Excluído: vém<br />

Excluído: também


5<br />

Nossa dissertação preten<strong>de</strong> contribuir <strong>com</strong> subsídios para pensar e formalizar o trabalho<br />

clínico realizado, tendo <strong>com</strong>o eixo teórico <strong>de</strong> <strong>articulação</strong> as operações <strong>de</strong> alienação e<br />

separação, conforme formuladas por Lacan.<br />

Nessa introdução situaremos nosso campo <strong>de</strong> trabalho, percurso e mo<strong>de</strong>lo.<br />

Na primeira parte, “Desenvolvimento e estrutura”, <strong>de</strong>dicamo-nos a diferenciar a lógica<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento da lógica da estrutura do sujeito, buscando <strong>de</strong>marcar a especificida<strong>de</strong> e a<br />

originalida<strong>de</strong> da contribuição da psicanálise nessa área. Verificamos, a partir do trabalho <strong>de</strong><br />

Luciano Elia, que quando Freud coloca a questão da genitalida<strong>de</strong> na infância, <strong>com</strong> seu texto<br />

"A organização genital infantil” (1923), ele corta qualquer pensamento maturacionista<br />

quanto à questão da sexualida<strong>de</strong><br />

Em seguida, em “Estrutura e sujeito”, nossa proposta é estudar, mais <strong>de</strong>talhadamente, o<br />

conceito <strong>de</strong> estrutura no ensino lacaniano. Nossa discussão a<strong>com</strong>panha um percurso que vai<br />

do simbólico ao real, mostrando a importância do furo na estrutura, na medida em que este<br />

aponta para o sujeito. Também discorremos sobre a concepção <strong>de</strong> sujeito a partir da<br />

psicanálise, especialmente a partir da elaboração <strong>de</strong> Lacan.<br />

“Alienação e separação” está dividida em duas partes: A – “Alienação e separação”; B<br />

– “Alienação, separação e o objeto a”. Apresentamos dois fragmentos <strong>de</strong> caso clínico, em<br />

torno dos quais propomos circunscrever o que consi<strong>de</strong>ramos <strong>com</strong>o o coração do trabalho<br />

<strong>de</strong>sta dissertação, que é a busca da formalização do <strong>espaço</strong> lógico na origem da constituição<br />

do sujeito. Procuramos tratar esse <strong>espaço</strong> subjetivo em constituição – que não é nem só do<br />

infans, nem só do Outro primordial – <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> formulação que legitima nossa intervenção,<br />

por meio da operação <strong>de</strong> alienação e separação.<br />

Confirmamos <strong>com</strong>o é imprescindível que o Outro materno se en<strong>de</strong>rece ao infans <strong>com</strong><br />

seus significantes, em <strong>uma</strong> posição <strong>de</strong>sejante, isto é, faltante, por sua própria alienação à<br />

linguagem. Observamos também que, para o infans, a operação <strong>de</strong> ser barrado, no seu <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> ser objeto do Outro, terá um efeito <strong>de</strong> separação. Produzindo <strong>uma</strong> mudança <strong>de</strong> posição,<br />

torna o sujeito capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar, restando, da operação <strong>de</strong> alienação e separação, o objeto a.<br />

Na parte “Alienação, separação e o objeto a”, mais <strong>uma</strong> vez partindo <strong>de</strong> um fragmento<br />

<strong>de</strong> caso clínico, damos continuida<strong>de</strong> à discussão relativa ao objeto, não mais na dimensão da<br />

Excluído: o…o…capítulo…nos ... [11]<br />

Excluído: por freud<br />

Excluído: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter escrito ... [12] os<br />

Excluído: dizer que a questão ... [13] da<br />

Excluído: ão<br />

Inserido: ão<br />

Excluído: nele a questão da ... [14]<br />

Inserido: nele a questão da ... [15]<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído: d<br />

Inserido: d<br />

Excluído: e<br />

Inserido: e<br />

Excluído: iz<br />

Inserido: iz<br />

Excluído: s<br />

Inserido: s<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído: respeita<br />

Inserido: respeita<br />

Excluído: respeito ao âmbito ... [16] da<br />

Inserido: respeito ao âmbito ... [17] da<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído: . É justamente por ... [18] ter<br />

Inserido: . É justamente por ... [19] ter<br />

Excluído: freud<br />

Inserido: freud<br />

Excluído: Freud corta a<br />

Inserido: Freud corta a<br />

Excluído: .<br />

Inserido: .<br />

Excluído: " (<br />

Inserido: " (<br />

Excluído: P<br />

Inserido: P<br />

Excluído: p.<br />

Inserido: p.<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído: 91).<br />

Inserido: 91).<br />

Excluído: colocar ref corpo ... e [22]<br />

Inserido: colocar ref corpo ... e [23]<br />

Excluído: <br />

Inserido: <br />

Excluído:<br />

Excluído: a…...<br />

Excluído:<br />

Excluído: O segundo<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído:<br />

... [20]<br />

... [21]<br />

... [24]<br />

... [25]<br />

Excluído: o subcapítulo…objeto ... [26]


alienação, que constitui o furo, mas na sua face <strong>de</strong> separação, <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> que<br />

surge no próprio trabalho clínico.<br />

6<br />

Finalmente, tentamos avançar um pouco mais em relação ao objeto a, notando que o<br />

objeto da psicose não é o objeto a, porque o objeto a implica <strong>uma</strong> certa separação. Veremos<br />

que a principal conseqüência clínica disso é que o objeto a é esse <strong>espaço</strong> entre alienação e<br />

separação, que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> subjetivo. Sugerimos então <strong>uma</strong> breve<br />

aproximação do objeto a <strong>de</strong> Jacques Lacan <strong>com</strong> o <strong>espaço</strong> e o objeto transicional <strong>de</strong> D. W.<br />

Winnicott e as possibilida<strong>de</strong>s do novo dispositivo "<strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>" — que ainda estão<br />

sendo avaliadas.<br />

Campo <strong>de</strong> trabalho, percurso e mo<strong>de</strong>lo: saú<strong>de</strong> mental e pequena infância<br />

Saú<strong>de</strong> mental e pequena infância: nosso campo <strong>de</strong> trabalho<br />

Histórico e mo<strong>de</strong>lo<br />

Comecemos por situar a história do Cersami, <strong>de</strong> Betim (Minas Gerais), no contexto da<br />

assistência à saú<strong>de</strong> mental infanto-juvenil, para, em seguida, relatar <strong>com</strong>o nosso percurso nos<br />

levou a um trabalho clínico <strong>com</strong> bebês e seu outro primordial.<br />

A proposta <strong>de</strong> assistência pública em saú<strong>de</strong> mental infanto-juvenil <strong>de</strong> Betim nasceu em<br />

1994, tendo <strong>com</strong>o objetivo aten<strong>de</strong>r crianças e adolescentes menores <strong>de</strong> 18 anos, <strong>com</strong><br />

sofrimento mental grave, a saber, autistas, neuróticos e psicóticos.<br />

Nos mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>alização, ficou claro que era impróprio sustentar a<br />

idéia <strong>de</strong> que o mo<strong>de</strong>lo institucional do trabalho clínico <strong>com</strong> crianças e adolescentes seria um<br />

<strong>de</strong>calque do mo<strong>de</strong>lo institucional do trabalho clínico do adulto 6 .<br />

Apoiados na superação da lógica mani<strong>com</strong>ial, nosso <strong>de</strong>safio foi criar novas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tratamento para crianças e adolescentes em grave sofrimento psíquico. Era<br />

patente o movimento <strong>de</strong> exclusão, da parte <strong>de</strong> encaminhadores, que <strong>de</strong>mandavam <strong>uma</strong> tarefa<br />

reparadora, cuja lógica tivemos que <strong>de</strong>sconstruir, a partir <strong>de</strong> cada caso. Como não tínhamos<br />

6 MORAIS, Rosângela. A clínica da saú<strong>de</strong> mental infanto-juvenil. Artigo inédito.<br />

Excluído:<br />

Excluído: No terceiro capítulo<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: o trabalho possível que<br />

constitui o dispositivo<br />

Excluído: pais-bebês<br />

Excluído: .<br />

Excluído: 1.2.<br />

Excluído: c<br />

Excluído: <br />

<br />

Excluído: 1.2.1.<br />

Excluído: <br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”


um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>finido a priori, foi a construção dos casos clínicos 7 que foi<br />

constituindo o mo<strong>de</strong>lo assistencial. No caso <strong>de</strong> crianças e adolescentes, a constatação da força<br />

da exclusão era evi<strong>de</strong>nte também na lógica dominante em propostas <strong>com</strong>o escolas especiais,<br />

casas <strong>de</strong> apoio, orfanatos, Febem 8 , entre outras. Estava presente ainda nas famílias, que<br />

segregavam o diferente do meio social, restringindo a circulação <strong>de</strong>sses sujeitos aos estreitos<br />

<strong>espaço</strong>s institucionais.<br />

7<br />

Pensamos que romper <strong>com</strong> a lógica da exclusão não é, certamente, fazer o diferente se<br />

enquadrar no pedido social do normal, mas é permitir que a diferença circule pelo social e que<br />

este possa suportá-la, e até modificar-se, para não excluir.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que a psicanálise, em particular, oferece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada sujeito<br />

buscar respostas a partir <strong>de</strong> sua singularida<strong>de</strong>. No caso do Cersami, a proposta é a <strong>de</strong><br />

construção <strong>de</strong> um projeto terapêutico pelo técnico <strong>de</strong> referência (responsável pela condução<br />

do caso) a partir <strong>de</strong> questões colocadas por cada criança e adolescente. Há, então, a oferta <strong>de</strong><br />

diferentes dispositivos, que são propostas <strong>de</strong> intervenção, na maioria das vezes em grupo.<br />

Estes são sempre <strong>com</strong>plementares ao atendimento individual e permitem <strong>uma</strong> atenção mais<br />

intensiva a casos graves. Assim, cada paciente po<strong>de</strong> freqüentar o serviço mais <strong>de</strong> <strong>uma</strong> vez na<br />

semana sem ser incluído na permanência-dia 9 . A condução dos dispositivos não está <strong>de</strong>finida<br />

por especialida<strong>de</strong> profissional, mas sim pelo <strong>de</strong>sejo e implicação <strong>com</strong> a proposta do mesmo.<br />

Atualmente, a equipe do Cersami é <strong>com</strong>posta por três psiquiatras, cinco psicólogos, dois<br />

assistentes sociais, um enfermeiro, quatro auxiliares <strong>de</strong> enfermagem, um gerente, dois<br />

auxiliares <strong>de</strong> limpeza e dois auxiliares administrativos. Os dispositivos oferecidos são:<br />

módulo terapêutico, <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, permanência-dia (e suas ativida<strong>de</strong>s), visita domiciliar,<br />

grupo <strong>de</strong> adolescentes, projeto <strong>de</strong> a<strong>com</strong>panhamento terapêutico, projeto eventos.<br />

O Cersami é referência em urgência psiquiátrica infanto-juvenil no município <strong>de</strong> Betim<br />

(300 mil habitantes) e municípios consorciados (600 mil habitantes). Representa <strong>uma</strong><br />

proposta alternativa e <strong>de</strong> ampliação do tratamento individual.<br />

Em relação aos diversos saberes que sustentam as instituições que trabalham <strong>com</strong><br />

crianças e adolescentes, adotamos <strong>uma</strong> postura <strong>de</strong> interface, em que há <strong>uma</strong> interseção <strong>de</strong><br />

7 VIGANO, Carlos, “A construção do caso clínico em saú<strong>de</strong> mental”. Conferência proferida no seminário<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, psiquiatria e psicanálise na AMMG, em 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1997.<br />

8 Fundação Estadual do Bem Estar e do Menor - FEBEM<br />

9 Permanência-dia: a permanência-dia do CERSAMI é um dispositivo utilizado <strong>com</strong>o recurso <strong>de</strong><br />

tratamento para os usuários em crise e após da crise até que seja possível <strong>uma</strong> reinserção social e familiar do<br />

mesmo.<br />

Excluído: sau<strong>de</strong><br />

Excluído: FEBEM<br />

Excluído:<br />

Excluído: pais-bebês


saberes <strong>de</strong> campos diferentes: um lugar da implicação, e não da aplicação <strong>de</strong> um saber sobre o<br />

outro. Certamente, muitas vezes, o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental é buscado <strong>com</strong> a expectativa <strong>de</strong><br />

retorno do diferente “ao curso natural da normalida<strong>de</strong>”. A equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental <strong>de</strong>ve,<br />

portanto, ter clareza sobre sua proposta clínica. Por princípio, um serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental,<br />

<strong>de</strong>ntro do contexto da reforma psiquiátrica, não po<strong>de</strong> incorporar a lógica reparadora e<br />

normatizadora que opera na maioria das instituições que trabalham <strong>com</strong> crianças e<br />

adolescentes. Não nos propomos tampouco a enquadrá-los para fazer <strong>com</strong> que eles caibam<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> idéias. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> clínica <strong>de</strong> um a um, orientada por um saber que está do lado<br />

do sujeito do inconsciente. Enten<strong>de</strong>mos que a condução clínica <strong>de</strong>ve implicar que cada<br />

criança possa dizer <strong>de</strong> si, formular <strong>uma</strong> <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> tratamento e, finalmente, construir outras<br />

saídas, talvez menos sofridas. Trabalhamos, então, a partir <strong>de</strong> um tensionamento constante<br />

entre o político e a clínica 10 .<br />

8<br />

Des<strong>de</strong> 1998, viemos buscando incessantemente a construção <strong>de</strong> um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento clínico que pu<strong>de</strong>sse servir a um trabalho <strong>de</strong> subjetivação para cada sujeito. O que<br />

nos mobilizou foi o fato <strong>de</strong> nos darmos conta <strong>de</strong> que as crianças psicóticas, autistas e<br />

neuróticas graves que vinham até nós chegavam já gran<strong>de</strong>s e, diante disto, nos perguntávamos<br />

se não era num momento em que a estruturação do sujeito estava por <strong>de</strong>mais estabelecida.<br />

O <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> é um dispositivo que foi criado por mim e pela equipe do Cersami,<br />

em 2001, inspirados no trabalho <strong>de</strong> Françoise Dolto, La Maison Verte 11 , e nos estudos <strong>de</strong><br />

experiências e teorizações que vieram <strong>de</strong>pois, <strong>com</strong>o: Le Jardin Couvert (Lyon), La Maison<br />

Ouverte (Bruxelas) e outras. Mas nos apoiamos fundamentalmente na experiência clínica da<br />

instituição <strong>de</strong> La Lice (Bruxelas) e na unida<strong>de</strong> psiquiátrica <strong>de</strong> internação mãe–bebê <strong>de</strong> Ramée<br />

(Bruxelas) e nas experiências clínicas do Capsi/Cersami (Betim, MG). Embora tenhamos lido<br />

e estudado várias referências teóricas, tanto o nosso texto <strong>com</strong>o o trabalho clínico se orientam<br />

a partir da <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> Lacan.<br />

10 TAVARES Maria Antunes, “A clínica e a inserção social no atendimento em saú<strong>de</strong> mental <strong>com</strong><br />

crianças e adolescentes: mo<strong>de</strong>los, possibilida<strong>de</strong>s e o trabalho em equipe"; p. 258, in CAMPOS GUERRA,<br />

Andréia Máris e LAGUARDIA DE LIMA, Nádia (orgs.), A clínica <strong>de</strong> crianças <strong>com</strong> transtorno no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, <strong>uma</strong> contribuição no campo da psicanálise e da saú<strong>de</strong> mental, Belo Horizonte: Autêntica-<br />

FUMEC, 2003.<br />

11 "Ce que fait la “maison verte” (maison ouverte)", in BENOÎT Pierre, Le corps et la peine <strong>de</strong>s hommes,<br />

Paris, L'Harmattan, pp. 281-291.<br />

Excluído:<br />

Excluído: .<br />

Excluído: à<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: Na verda<strong>de</strong>,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>ssa questão<br />

<strong>de</strong>,estar por <strong>de</strong>mais estabelecida<br />

ficou evi<strong>de</strong>nte que já havia<br />

sofrimento muito antes; e naquilo<br />

que a mãe e, às vezes, os avós nos<br />

contavam quase sempre havia um<br />

tom <strong>de</strong> queixa, <strong>com</strong> frases <strong>com</strong>o:<br />

“Eu perguntei para o pediatra, ele<br />

disse que quando crescesse ia<br />

passar”; ou os avós falavam muitas<br />

vezes <strong>de</strong> quando um autista era<br />

bebê: “procurei ajuda, mas não<br />

tinha”.<br />

Excluído:<br />

Excluído: Com a idéia <strong>de</strong><br />

“intervir a tempo” <strong>com</strong>eçamos<br />

<strong>uma</strong> interlocução <strong>com</strong> Eliane<br />

Pirard, psiquiatra infantil e<br />

psicanalista, coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

instituição chamada La Lice, que<br />

se propõe a aten<strong>de</strong>r criança <strong>de</strong> zero<br />

a três anos que estão em<br />

sofrimento psíquico e apresentam<br />

dificulda<strong>de</strong>s no laço <strong>com</strong> seus pais<br />

e no laço social. Esse projeto tem<br />

<strong>com</strong>o referência a psicanálise e é<br />

pioneiro na Bélgica (em Bruxellas)<br />

em oferecer um atendimento à la<br />

carte, <strong>com</strong> vários módulos<br />

possíveis, que são pensados <strong>de</strong><br />

acordo <strong>com</strong> as questões que estão<br />

em jogo, <strong>de</strong> maneira a po<strong>de</strong>r<br />

montar um dispositivo <strong>de</strong><br />

a<strong>com</strong>panhamento em momentos <strong>de</strong><br />

crise.<br />

Essa interlocução culminou na<br />

minha ida até La Lice em (1999),<br />

on<strong>de</strong> trabalhei por dois anos. Na<br />

volta, em 2001, <strong>com</strong>eçamos, mo<br />

CERSAMI, em Betim, a<br />

elaboração <strong>de</strong> um trabalho clínico<br />

junto aos bebês e a seus pais, que<br />

nos davam noticia <strong>de</strong> algum<br />

sofrimento psíquico grave.<br />

Criamos também o dispositivo<br />

“<strong>espaço</strong> pais-bebês” que iremos<br />

discutir no terceiro capítulo.<br />

Excluído: pais-bebês<br />

Inserido:<br />

Excluído:<br />

Excluído: -no<br />

Excluído: Mãe<br />

Excluído: -<br />

Excluído: B<br />

Excluído: da


9<br />

Parece-nos ser necessário especificar o que nós enten<strong>de</strong>mos por intervenção a tempo e<br />

para isso vamos marcar a diferença <strong>com</strong> a expressão intervenção precoce no final do 1º<br />

capítulo.<br />

Excluído: Capítulo


10<br />

II. DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURA<br />

Excluído: <br />

Excluído: Quebra <strong>de</strong> página<br />

Excluído: <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Excluído: CAPÍTULO<br />

Excluído: 1<br />

Excluído:<br />

Excluído:


Situando os dois campos teóricos<br />

11<br />

Falar <strong>de</strong> sujeito, a partir da psicanálise, particularmente <strong>com</strong> a contribuição <strong>de</strong> Lacan, é<br />

remeter à noção <strong>de</strong> estrutura, e não à idéia <strong>de</strong> crescimento ou evolução 12 . Esta perspectiva é<br />

fundamental para a presente discussão, pois a proposta é a <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>termos em um <strong>espaço</strong> que<br />

nem é do infans nem da mãe. Abordaremos a in<strong>com</strong>patibilida<strong>de</strong> entre a lógica da estrutura e a<br />

lógica do <strong>de</strong>senvolvimento. Preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>monstrar que o sujeito concebido pela psicanálise<br />

é fruto da estrutura pela linguagem, e não <strong>com</strong>o um ser que vai crescendo e evoluindo<br />

segundo <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m biológica prévia e <strong>de</strong> sua internação <strong>com</strong>o meio. Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o<br />

ponto <strong>de</strong> vista da psicanálise, buscaremos consi<strong>de</strong>rar brevemente <strong>com</strong>o a questão da<br />

constituição do sujeito é tratada no contexto da lógica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento presente na<br />

psicologia genética. Exemplificaremos <strong>de</strong> maneira resumida a proposta <strong>de</strong> autores importantes<br />

<strong>com</strong>o Jean Piaget (1996–1980) e Henri Wallon (1879–1962), representantes da psicologia do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Discutiremos também o modo pelo qual a psicanálise foi assimilada à psicologia<br />

evolutiva e genética, tratando <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar o equívoco que aí se instala. É Lacan que<br />

evi<strong>de</strong>nciará que Freud concebe que a psicanálise opera a partir <strong>de</strong> um corte que <strong>de</strong>sloca a<br />

questão da evolução genética para o campo da or<strong>de</strong>nação lógica. Assim, veremos <strong>com</strong>o a<br />

<strong>teoria</strong> do estádio do espelho <strong>de</strong> Lacan ajuda a <strong>de</strong>limitar o campo do sujeito no interior <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

lógica do simbólico, da estrutura, e não do <strong>de</strong>senvolvimento. Para finalizar esse capítulo, nos<br />

reportaremos ao nosso campo <strong>de</strong> pesquisa e mostraremos <strong>com</strong>o a lógica do <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

a lógica da estrutura têm <strong>uma</strong> concepção diferente <strong>de</strong> sinais <strong>de</strong> sofrimento psíquico e,<br />

conseqüentemente, <strong>uma</strong> concepção diferente do que é o campo <strong>de</strong> intervenção sobre a<br />

maneira <strong>de</strong> intervir.<br />

Jean Piaget (1896–1980) e Henri Wallon (1879–1962), autores da <strong>teoria</strong> dos "estádios<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento”, são os principais representantes da psicologia genética. Para eles, os<br />

estádios são operacionais, <strong>de</strong>finindo níveis funcionais, e, portanto, obe<strong>de</strong>cendo a <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> sucessão das aquisições. Segundo esses autores, o <strong>de</strong>senvolvimento psíquico ocorre ao<br />

12 Seguiremos nesse capítulo I, o precioso trabalho <strong>de</strong> Oscar CIRINO, no seu livro: Psicanálise e<br />

psiquiatria <strong>com</strong> crianças. Desenvolvimento ou estrutura, Belo Horizonte, Autêntica, 2001. Ver pp. 95-120 (o<br />

título <strong>de</strong>sse capítulo é precisamente "Desenvolvimento e estrutura").<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: <br />

<br />

1.1.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: -<br />

Excluído: wallon<br />

Excluído: -<br />

Excluído: <strong>de</strong><br />

Excluído: tem<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -


modo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> construção progressiva, produzida pela interação entre o indivíduo e seu meio.<br />

Assim, muitas vezes, supõe-se a evolução psíquica a partir da relação entre o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo e o <strong>de</strong>senvolvimento psi<strong>com</strong>otor e emocional ou afetivo.<br />

12<br />

Os "estádios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento" diferenciam-se das "escalas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento",<br />

formuladas, por exemplo, por Charlotte Bühler (1893-1974) e Arnold Gesell (1880–1961),<br />

<strong>uma</strong> vez que estas são <strong>de</strong>scritivas e estabelecem <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m cronológica para medir o nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento alcançado. Já os "estádios" são, <strong>com</strong>o foi dito, operacionais e relacionados a<br />

"níveis funcionais", não obe<strong>de</strong>cendo a <strong>uma</strong> "cronologia", mas sim a <strong>uma</strong> "or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sucessão<br />

das aquisições".<br />

Uma vez estabelecido o campo da psicologia evolutiva e genética, parece-nos<br />

importante mostrar que, se a psicanálise foi a esta assimilada em alguns momentos, foi em<br />

função <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>terminada leitura dos textos <strong>de</strong> Freud, sobretudo aquela dos analistas da Ego<br />

psychology — <strong>com</strong>o Anna Freud (1895-1982), Bruno Bettelheim (1903-1990) e René Spitz<br />

(1887-1974). O enfoque <strong>de</strong>sses autores, bem <strong>com</strong>o dos teóricos da relação <strong>de</strong> objeto — Karl<br />

Abraham (1877-1925), Michael Balint (1896-1970) e Fairbairn (1889-1964) —, formaliza a<br />

idéia <strong>de</strong> que haveria um momento no qual o sujeito alcançaria <strong>uma</strong> relação "madura" <strong>com</strong> o<br />

objeto, o "estádio genital" ou "amor objetal", ponto final do <strong>de</strong>senvolvimento psicossexual.<br />

Tal perspectiva dá crédito ao “encontro” entre o sujeito e o objeto, e entre eu e o objeto,<br />

achando <strong>de</strong> maneira equivocada que tendo o encontro haveria satisfação.<br />

Notamos que esse estudo nos levou a verificar que, tanto Melanie Klein <strong>com</strong>o<br />

Winnicott, autores importantes que teorizaram a relação <strong>de</strong> objeto, não acreditam no encontro<br />

entre o sujeito e o objeto; Melanie Klein, no final <strong>de</strong> sua vida, consi<strong>de</strong>ra que o sujeito se<br />

constitui no <strong>de</strong>sencontro <strong>com</strong> o objeto, e Winnicott consi<strong>de</strong>ra a mãe suficientemente boa<br />

aquela que dá a ilusão <strong>de</strong> objeto ao filho, porque ele já possui a noção <strong>de</strong> perda.<br />

Devemos, portanto, sublinhar que o empenho <strong>de</strong> Lacan em um "retorno a Freud" foi<br />

imprescindível para tornar possível a crítica contun<strong>de</strong>nte à assimilação da psicanálise a <strong>uma</strong><br />

psicologia evolutiva genética. Nesse sentido, achamos interessante para a nossa pesquisa o<br />

que pu<strong>de</strong>mos ler no Projeto para <strong>uma</strong> psicologia científica (1985) sobre o não-encontro <strong>com</strong> o<br />

objeto.<br />

Neste texto, Freud afirma que não há coincidência entre o objeto procurado e o<br />

encontrado e que, na verda<strong>de</strong>, nunca haverá: pois é, justamente, a falta do objeto que constitui<br />

o que levará o aparelho psíquico a trabalhar. Ele supõe que o bebê se encontra em um<br />

Excluído: -<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído: (<br />

Excluído: (<br />

Excluído: Ferber<br />

Excluído: )<br />

Excluído: que são<br />

Excluído: teorizarao<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: e<br />

Excluído: da<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: tem<br />

Excluído: .<br />

Excluído: Notamos que esse<br />

estudo nos levou a verificar que<br />

tanto Melanie Klein <strong>com</strong>o<br />

Winnicott que são autores<br />

importantes que tecnizam a relação<br />

<strong>de</strong> objeto, não acreditam no<br />

encontro entre o sujeito e o objeto,<br />

Melanie Klein, no final <strong>de</strong> sua vida<br />

consi<strong>de</strong>ra que o sujeito se constitui<br />

no <strong>de</strong>sencontro <strong>com</strong>o objeto, e<br />

Winnicott, consi<strong>de</strong>ra a mãe<br />

suficientemente boa e aquela que<br />

da a ilusão <strong>de</strong> objeto ao filho<br />

porque ele já tem a noção <strong>de</strong> perda. <br />

Excluído: não<br />

Excluído: (1895)


<strong>de</strong>samparo primordial e é a partir <strong>de</strong>le que analisa a experiência <strong>de</strong> satisfação. A constituição<br />

do sujeito obe<strong>de</strong>ce à lógica da falta estruturante, que é o que põe em ativida<strong>de</strong> o aparelho<br />

psíquico. Eis aí um corte fundamental <strong>com</strong> a lógica <strong>de</strong>senvolvimentista, que acredita que o<br />

encontro <strong>com</strong> o objeto, <strong>uma</strong> vez alcançado, é a marca <strong>de</strong> <strong>uma</strong> fase madura.<br />

13<br />

Freud vai formalizar a experiência <strong>de</strong> satisfação partindo da suposição <strong>de</strong> que, por estar<br />

em <strong>uma</strong> situação <strong>de</strong> urgência, <strong>com</strong>o a fome, por exemplo, situação que configura um excesso<br />

<strong>de</strong> tensão, o recém-nascido reage por meio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>scarga, <strong>com</strong>o o grito ou o choro. Destaca<br />

que isso, no entanto, não é suficiente para cessar a excitação, não havendo, assim, alívio. Será<br />

preciso <strong>uma</strong> modificação no mundo externo, "<strong>uma</strong> ação específica" 13 , que só po<strong>de</strong> ser<br />

efetuada por ajuda externa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> "pessoa experiente" 14 , que leva em conta o estado da<br />

criança.<br />

Vemos <strong>com</strong>o a intervenção <strong>de</strong> um Outro, que interprete o grito do infans, é<br />

fundamental. Não se trata apenas <strong>de</strong> cuidados alimentares: é necessária a presença <strong>de</strong> um<br />

Outro que, <strong>com</strong> suas próprias palavras, interprete o grito e, assim, o transforme em apelo. O<br />

que esse Outro oferece são significantes, ou seja, ele abre o campo do simbólico para o infans.<br />

É importante sublinhar que, aqui, Freud também rompe <strong>com</strong> a lógica <strong>de</strong>senvolvimentista, <strong>uma</strong><br />

vez que não bastam os cuidados básicos para que a gênese do sujeito siga seu curso. O infans<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, na verda<strong>de</strong>, para constituir-se das marcas <strong>de</strong>ixadas pelas primeiras experiências <strong>de</strong><br />

satisfação na relação <strong>com</strong> o Outro. Trata-se, portanto, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> lógica <strong>de</strong> estrutura da<br />

linguagem.<br />

O que Freud quer mostrar é que a primeira experiência <strong>de</strong> satisfação acontece a partir <strong>de</strong><br />

um Outro, que inaugura o campo do simbólico, <strong>de</strong>ixando marcas no aparelho psíquico. Tais<br />

marcas, em <strong>uma</strong> nova situação <strong>de</strong> tensão, <strong>com</strong>o, por exemplo, a fome, serão investidas por um<br />

impulso psíquico e, assim, reativadas. Freud <strong>de</strong>nomina esse investimento <strong>de</strong> impulso <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejo e é este que produz algo próximo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> percepção, a saber, <strong>uma</strong> alucinação. Nesse<br />

sentido, o objeto procurado não será encontrado, <strong>uma</strong> vez que não há coincidência possível<br />

entre o objeto procurado e o encontrado.<br />

Freud postula que é a falta <strong>de</strong> objeto, isto é, o <strong>de</strong>sejo que leva o aparelho psíquico a<br />

trabalhar. Estruturalmente, a procura do objeto dá-se a partir das marcas <strong>de</strong>rivadas da<br />

369.<br />

13 FREUD, Sigmund, “Projeto para <strong>uma</strong> psicologia científica” (1895), AE, vol. I, p. 362; ESB, vol. I, p.<br />

14 O.c., AE, vol. I, p. 363; ESB, vol. I, p. 369.<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: Esb<br />

Excluído:<br />

Excluído: Esb<br />

Excluído: t


experiência <strong>de</strong> satisfação. Estas constituem caminhos "facilitados" 15 para <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> tensão,<br />

caminhos que serão nova e incessantemente percorridos diante da ausência do objeto. A<br />

respeito <strong>de</strong>ssa permanente busca pelo reencontro do objeto, Lacan nos dirá: "não é ele que<br />

reencontramos, mas apenas suas coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> prazer, é nesse estado <strong>de</strong> ansiar por ele e <strong>de</strong><br />

esperá-lo que será buscada, em nome do princípio <strong>de</strong> prazer, a tensão ótima abaixo da qual<br />

não há mais nem percepção nem esforço" 16 . E é essa dimensão do objeto enquanto faltoso,<br />

enquanto impossível, que será salientada por Lacan (1964) em O Seminário 20: mais ainda,<br />

14<br />

<strong>com</strong> a afirmação, por exemplo, da inexistência da relação sexual.<br />

Lacan não encontra em Freud a afirmação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> relação madura <strong>com</strong> o objeto. No<br />

texto <strong>de</strong> Freud, o "objeto genital" só po<strong>de</strong> ser um objeto "reencontrado":<br />

É surpreen<strong>de</strong>nte ver que, no momento em que faz a <strong>teoria</strong> da evolução instintual tal<br />

<strong>com</strong>o esta se origina das primeiras experiências psicanalíticas, Freud nos indica que o objeto é<br />

apreendido pela via <strong>de</strong> <strong>uma</strong> busca do objeto perdido. Este objeto, que correspon<strong>de</strong> a um<br />

estágio avançado da maturação dos instintos, é um objeto reencontrado do primeiro <strong>de</strong>smame,<br />

o objeto que foi inicialmente o ponto <strong>de</strong> ligação das primeiras satisfações da criança 17 .<br />

Lacan tampouco encontra <strong>uma</strong> cronologia evolutiva na <strong>teoria</strong> da libido, ainda que a<br />

partir <strong>de</strong>sta se elabore a proposta <strong>de</strong> "um <strong>de</strong>senvolvimento da organização sexual" ou <strong>de</strong> um<br />

"<strong>de</strong>senvolvimento psicossexual". Pensamos que essa confusão po<strong>de</strong> ter se originado, a partir<br />

do trabalho <strong>de</strong> Abraham, que pega a ultima reformulação <strong>de</strong> Freud (1923) 18 e publica o<br />

clássico trabalho Teoria psicanalítica da libido (1924) 19 , em que faz sua leitura e organiza o<br />

trabalho <strong>de</strong> Freud <strong>de</strong> maneira equivocada, <strong>com</strong>o se ele tivesse feito <strong>uma</strong> organização<br />

cronológica.<br />

Freud <strong>de</strong>screve a libido <strong>com</strong>o a manifestação da pulsão sexual no psiquismo e a<br />

consi<strong>de</strong>ra <strong>com</strong>o sua dimensão fundamental. A libido tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ligar-se aos objetos,<br />

15 FREUD, Op.cit., AE, vol. I, p. 364; ESB, vol. I, p. 369.<br />

16 LACAN, Jacques, O Seminário. Livro 7: A ética da psicanálise (1959-1960), Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<br />

Zahar, 1988, p. 69.<br />

17 LACAN, Jacques, O Seminário, Livro 4, A relação <strong>de</strong> objeto (1956-1957), Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar,<br />

1995, p. 13 (apud CIRINO, op.cit., p. 105)<br />

18 FREUD, Sigmund (1923), "A organização genital infantil: <strong>uma</strong> interpolação na <strong>teoria</strong> da sexualida<strong>de</strong><br />

infantil", in: ESB, vol. XIX; AE, vol. XIX<br />

19 ABRAHAM, Karl, Teoria psicanalítica da libido: sobre o caráter e o <strong>de</strong>senvolvimento da libido<br />

(1924), Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago Editora, 1970<br />

Excluído:<br />

Excluído: Esb<br />

Excluído: (1959-1960)<br />

Excluído: .<br />

Excluído: a<br />

Excluído: .<br />

Excluído: IV<br />

Excluído:<br />

Excluído: o.c.<br />

Excluído: e<br />

Excluído: o<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: (__________)<br />

Excluído: r<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: __________________<br />

_____________________<br />

Excluído: publicou<br />

Excluído: “t<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: que é clássico on<strong>de</strong> ele


po<strong>de</strong>ndo ter seus investimentos modificados, ao trocar <strong>de</strong> objeto (auto-erótico, narcísico,<br />

homossexual, heterossexual) e <strong>de</strong> objetivo (sexual ou não sexual, <strong>com</strong>o a sublimação).<br />

A libido também tem várias fontes <strong>de</strong> excitação em todo processo funcional do corpo e<br />

intensifica-se em certas zonas erógenas: oral, anal, uretro-genital. Muito pelo contrário, Freud<br />

não formula nenhum pensamento maturacionista; po<strong>de</strong>mos verificar que Freud operou um<br />

corte, quando ele liga a sua <strong>teoria</strong> da sexualida<strong>de</strong> infantil a <strong>uma</strong> organização genital. Ao<br />

escrever os Três ensaios sobre a <strong>teoria</strong> da sexualida<strong>de</strong> (1905), Freud afirma que a questão da<br />

sexualida<strong>de</strong> no seu conjunto está colocada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início no campo da sexualida<strong>de</strong> infantil 20 .<br />

Assim, quando escreve A organização genital infantil (1923) 21 , muito <strong>de</strong>pois ter escrito os<br />

Três ensaios, ele coloca também no campo da sexualida<strong>de</strong> infantil a questão da genitalida<strong>de</strong> e<br />

das escolhas amorosas baseadas no registro genital. Fazendo isso, ele corta, <strong>com</strong>o diz Luciano<br />

Elia, qualquer possibilida<strong>de</strong> “<strong>de</strong> <strong>uma</strong> posterior genitalização adulta, isto é, não-infantil, não<br />

baseada na <strong>teoria</strong> e na ética da psicanálise, que se diferencia <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>teoria</strong> e <strong>de</strong> <strong>uma</strong> moral<br />

sexual vigentes, na qual haveria <strong>com</strong>plementarida<strong>de</strong> genital (relação sexual) no plano do<br />

inconsciente” 22 . O que Freud diz é que a sexualida<strong>de</strong> infantil tal que ela é entendida pela<br />

psicanálise não é <strong>uma</strong> etapa infantil que precisa se <strong>de</strong>senvolver até a fase adulta. Para Freud, a<br />

sexualida<strong>de</strong> infantil é <strong>de</strong>terminada pelo primado do falo <strong>com</strong>o significante da organização<br />

inconsciente que, por sua própria estrutura significante, registra, marca a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> dupla inscrição dos dois orgãos <strong>de</strong>finindo assim a impossibilida<strong>de</strong> da relação sexual.<br />

Desse modo o primado do falo na sexualida<strong>de</strong> infantil <strong>de</strong>termina a condição simbólica <strong>de</strong> toda<br />

inscrição através do recalcamento no inconsciente. Dessa forma o falo ancora o início do<br />

percurso do sujeito. Mas <strong>com</strong>o o primado do falo não dará lugar a nenhum outro lugar, o<br />

sujeito <strong>de</strong>verá ir além do falo.<br />

15<br />

É importante frisar que é só no modo imaginário que o falo faz consistir o simbólico.<br />

Porque o que o primado do falo é que o simbólico é inconsistente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início. A posição<br />

fálica é o lugar da castração e a posição genital tem que fazer um a menos, <strong>uma</strong> subjetivação.<br />

Retomando a importância que Freud confere à estrutura, notamos que, em 1930, ele se<br />

interessa não mais ao transcorrer <strong>de</strong> cada fase, mas sim a sua formatação; sendo assim, vemos<br />

que seu interesse concerne àquilo que persiste e que constitui a estrutura, estrutura<br />

20<br />

FREUD, Sigmund (1905), Três ensaios sobre a <strong>teoria</strong> da sexualida<strong>de</strong>, in: ESB, vol. VII; AE, vol. VII.<br />

21<br />

FREUD, Sigmund (1923), "A organização genital infantil: <strong>uma</strong> interpolação na <strong>teoria</strong> da sexualida<strong>de</strong><br />

infantil", in: ESB, vol. XIX; AE, vol. XIX.<br />

22<br />

ELIA, Luciano. Corpo e sexualida<strong>de</strong> em Freud e Lacan, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Uapê, 1995, p. 91<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: , a partir da precisão<br />

Inserido: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: do trabalho do<br />

Luciano Elia,<br />

Inserido: ,<br />

Excluído: (interpolado)<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: .<br />

Excluído: Verificar que o<br />

Excluído: Freud,<br />

Inserido: ,<br />

Excluído: a<br />

Excluído: “<br />

Excluído: três<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: inicio<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: assim<br />

Excluído: a<br />

Excluído: 5<br />

Excluído: após<br />

Excluído: t<br />

Excluído: sobre a <strong>teoria</strong> da<br />

sexualida<strong>de</strong><br />

Excluído: ,<br />

Excluído: E<br />

Excluído: n<br />

Excluído: assim<br />

Excluído: Po<strong>de</strong>mos ler, em 1930,<br />

a impor<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: para nós<br />

Excluído: aquilo<br />

Excluído: – digamos


permanente que se mantém <strong>de</strong> <strong>uma</strong> fase para outra, ocupando um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong>finitivo na<br />

economia libidinal:<br />

16<br />

Nossa atitu<strong>de</strong> para <strong>com</strong> as fases da organização da libido modificou-se um pouco, <strong>de</strong><br />

modo geral. Ao passo que, anteriormente, enfatizávamos principalmente a forma <strong>com</strong>o cada<br />

fase transcorria antes da fase seguinte, nossa atenção, agora, dirige-se aos fatos que nos<br />

mostram quanto <strong>de</strong> cada fase anterior persiste junto a configurações subseqüentes, e <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong>las, se obtém <strong>uma</strong> representação permanente na economia libidinal e no caráter da pessoa 23 .<br />

Devemos <strong>de</strong>stacar, <strong>com</strong> a ajuda <strong>de</strong> Lacan, <strong>uma</strong> formulação teórica que Freud produz em<br />

torno da estrutura e do <strong>espaço</strong> na economia libidinal e que produz um corte em relação a <strong>uma</strong><br />

concepção evolucionista. Lacan sustenta que as "fases" ou "etapas", teorizadas por Freud, não<br />

são elementos observáveis e que teriam um <strong>de</strong>senrolar natural do ponto <strong>de</strong> vista biológico,<br />

mas que são estruturas atemporais, que "são or<strong>de</strong>nadas na retroação do Édipo" 24 ,<br />

confirmando, assim, que “as fases” ou “etapas” se <strong>de</strong>finem a partir do simbólico. Melhor<br />

dizendo, é porque somos sujeitos na linguagem que, na retroação <strong>de</strong> Édipo, passamos por <strong>uma</strong><br />

experiência que reor<strong>de</strong>na nosso lugar.<br />

Vê-se que Lacan introduz <strong>uma</strong> perspectiva que ajuda a <strong>de</strong>sfazer a leitura cronológica e<br />

evolutiva, que atrela os avanços teóricos <strong>de</strong> Freud a <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>nação lógica – auto-erotismo,<br />

constituição do eu, <strong>com</strong>plexo <strong>de</strong> Édipo e dissolução do <strong>com</strong>plexo. Tal or<strong>de</strong>nação lógica,<br />

constituída por estruturas atemporais, está inserida no simbólico, que se constitui a partir do<br />

campo do Outro. Na verda<strong>de</strong>, o Outro é o simbólico que opera um or<strong>de</strong>namento do corpo.<br />

O que Lacan quer enfatizar é que há estrutura <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, porque o simbólico já está<br />

lá. Em sua leitura do Projeto para <strong>uma</strong> psicologia científica <strong>de</strong> Freud (1895), a necessida<strong>de</strong> da<br />

ação específica <strong>de</strong> <strong>uma</strong> pessoa experiente para que o infans possa viver <strong>uma</strong> experiência <strong>de</strong><br />

satisfação, conforme a formulação <strong>de</strong> Freud, é a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Outro que garanta o<br />

simbólico. Para Freud, o <strong>de</strong>samparo primordial no qual se encontra o bebê “é a fonte<br />

originária <strong>de</strong> todos motivos morais" 25 . Ao falar da experiência <strong>de</strong> satisfação, Freud sublinha<br />

que ela é constituinte do aparelho psíquico. Lacan ressalta que é a partir do encontro da<br />

23<br />

FREUD, Sigmund, “Angústia e vida instintual"(1933),in: ESB, vol. XXII, p. 85, AE, vol.XXII, p. 92.<br />

24<br />

LACAN, Jacques, “Uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose” (1957-1958),<br />

Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, 1998, p. 561.<br />

25<br />

FREUD, Sigmund, “Projeto para <strong>uma</strong> psicologia científica” (1895), in: ESB, vol. I, p. 369; AE, vol. I,<br />

p. 363.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: .<br />

Excluído: ; ESB, vol. XXII, p. 85<br />

Excluído: ; Esb, vol. I, p. 369<br />

Excluído: .<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: faz a partir<br />

Excluído: sublinha<br />

Excluído: ,


elação <strong>com</strong> esse Outro que se inscrevem as primeiras marcas constituintes do aparelho<br />

psíquico. Esse Outro é o Outro da linguagem. Assim <strong>com</strong>o nos faz notar Jorge, <strong>de</strong>vemos a<br />

Lacan ter <strong>de</strong>stacado “um segmento nuclear na obra <strong>de</strong> Freud, indicando já no título do escrito<br />

que, segundo ele próprio afirma, inaugura seu ensino, Função e campo da fala e da linguagem<br />

em psicanálise (1953)” 26 . Será a partir disso que Lacan irá formalizar: “o inconsciente é<br />

estruturado <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> linguagem. Assim, <strong>de</strong>vemos, graças a essa fórmula, um retorno da<br />

psicanálise “para seu campo específico – o da linguagem –, do qual precisamente os analistas<br />

pós-freudianos haviam se afastado” 27 .<br />

17<br />

Por essa razão, Lacan afirma que a constituição do sujeito não é um processo evolutivo,<br />

mas sim estrutural, <strong>uma</strong> vez que não se trata <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento condicionado a <strong>uma</strong><br />

genética, mas sim ligado ao Outro, <strong>com</strong>o função que garante o simbólico e constitui a<br />

estrutura. Enfatizando o enfoque <strong>de</strong> Lacan, não há processo evolutivo para se chegar à<br />

condição adulta – já que a presença do simbólico prece<strong>de</strong> o sujeito, <strong>de</strong>finindo assim a<br />

estrutura <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre. Vejamos <strong>com</strong>o Lacan <strong>de</strong>screve o ‘‘estádio do espelho’’, <strong>uma</strong> vez que<br />

sua teorização aponta para a importância do simbólico e sua constituição a partir do campo do<br />

Outro.<br />

Propomos partir do estudo <strong>de</strong> Bertrand Ogilvie para situar historica e teoricamente<br />

<strong>com</strong>o Lacan elabora o “estádio do espelho” a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> experiência <strong>de</strong> psicologia<br />

realizada por Henri Wallon em 1931. Em tal experiência, <strong>uma</strong> criança <strong>de</strong> seis meses e um<br />

chimpanzé da mesma ida<strong>de</strong> são colocados diante <strong>de</strong> um espelho. A criança, diferentemente do<br />

macaco, ao reconhecer sua imagem no espelho, é tomada <strong>de</strong> júbilo. Henri Wallon escreve<br />

então um artigo que se intitula “Como se <strong>de</strong>senvolve na criança a noção <strong>de</strong> corpo próprio”.<br />

Henri Wallon aborda a experiência a partir da psicologia, e um dos principais pontos <strong>de</strong>ssa<br />

experiência é <strong>de</strong>scobrir, passo a passo, <strong>com</strong>o a criança vai dar conta <strong>de</strong> superar suas<br />

<strong>de</strong>ficiências e <strong>com</strong>o ela consegue realizar <strong>uma</strong> relação adulta normal <strong>com</strong> sua realida<strong>de</strong>. Ou<br />

seja, Wallon pesquisa <strong>de</strong> que maneira a criança consegue reconhecer, <strong>com</strong> seu aspecto<br />

exteroceptivo, o que lhe está sendo traduzido, <strong>de</strong> maneira mais evi<strong>de</strong>nte e mais <strong>com</strong>pleta, pelo<br />

espelho.<br />

No caso do espelho, trata-se para a criança <strong>de</strong> “conseguir unificar o seu eu no <strong>espaço</strong>”;<br />

“a noção <strong>de</strong> corpo próprio é um caso particular da psicogênese, mas à época <strong>de</strong> sua formação<br />

65.<br />

26 JORGE, Marco Antônio Coutinho (2002). Fundamentos da psicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, p.<br />

27 Op.cit., p. 65.<br />

Excluído: I<strong>de</strong>m<br />

Excluído: à<br />

Excluído: <strong>de</strong><br />

Excluído: por<br />

Inserido: por<br />

Excluído: Campo<br />

Excluído: h<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: mente<br />

Excluído: Henri


ela se adianta aos <strong>de</strong>mais, pois não há nenhum outro que seja, <strong>com</strong>o ela, mais indispensável<br />

aos progressos ulteriores da consciência. Ela ce<strong>de</strong> o primeiro plano <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter, por sua<br />

parte, tornado possíveis outras operações” 28 .<br />

18<br />

Lacan retoma essa experiência n<strong>uma</strong> perspectiva que é outra, que não é <strong>uma</strong><br />

apropriação positiva, ou <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tomada <strong>de</strong> consciência, através <strong>de</strong> um reflexo apropriado. A<br />

formulação <strong>de</strong> Lacan é radicalmente diferente, trata <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> coisa que se constitui no<br />

sujeito apesar <strong>de</strong>le, não se trata <strong>de</strong> aprendizagem. O que interessa para Lacan é o fato <strong>de</strong> que a<br />

criança, diferentemente do chimpanzé, se interessa pela sua imagem. Não é o que a criança<br />

faz, não lhe interessa classificar as atitu<strong>de</strong>s da criança diante <strong>de</strong> sua imagem no espelho, mas<br />

lhe importa muito, <strong>com</strong>o psicanalista, o fato <strong>de</strong> que ela o faça. Não é o <strong>com</strong>portamento da<br />

criança que lhe interesse, mas sim o próprio ato <strong>de</strong> fazer.<br />

Porque esta ativida<strong>de</strong> tem o sentido <strong>de</strong> <strong>uma</strong> busca <strong>de</strong> si, o que significa que há um<br />

<strong>de</strong>sconhecimento estrutural no próprio sujeito. O fascínio da criança pela sua própria imagem,<br />

ou melhor, a ativida<strong>de</strong> da criança <strong>de</strong> se interessar mostra, para Lacan, que o sujeito não é<br />

anterior a este mundo das formas que o fascinam, mas que ele se faz, se constitui antes <strong>de</strong><br />

mais nada por elas e nelas. Assim, Lacan <strong>de</strong>screve o estádio do espelho <strong>com</strong>o um momento<br />

entre seis e <strong>de</strong>zoito meses, no qual a criança vê a sua imagem no espelho e se vira para o<br />

adulto que o carrega para obter seu assentimento, o assentimento <strong>de</strong> que aquela é a sua<br />

imagem.<br />

Trata-se então <strong>de</strong> um momento em que o infans (aquele que ainda não fala) prefigura<br />

<strong>uma</strong> totalida<strong>de</strong> corporal, a partir do que ele vê da sua própria imagem no espelho, e do<br />

reconhecimento do Outro. Por isso, esse momento é inaugural da constituição do eu. Tudo se<br />

passa da seguinte maneira: o infans, ao reconhecer sua própria imagem <strong>com</strong>o um todo, <strong>com</strong><br />

um contorno nítido no espelho, obtém subitamente a vivência <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, marcando a<br />

passagem da sensação <strong>de</strong> um corpo espedaçado, no qual não havia diferenciação entre seu<br />

corpo e o da sua mãe, para a do corpo próprio. Trata-se <strong>de</strong> um processo no qual o infans se<br />

i<strong>de</strong>ntifica <strong>com</strong> sua imagem especular, mais especificamente <strong>com</strong> sua gestalt visual do corpo.<br />

Esse processo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia “um ciúme primordial” em relação a sua imagem, <strong>uma</strong> vez que a<br />

ameaça <strong>de</strong> fragmentação é redobrada diante da <strong>com</strong>pletu<strong>de</strong> da mesma. Será então para<br />

resolver essa tensão agressiva que o sujeito vai se i<strong>de</strong>ntificar, jubilosamente, <strong>com</strong> a imagem.<br />

28 . WALLON Henry, "Comment se développe la notion <strong>de</strong> corps propre chez l'enfant", Journal <strong>de</strong><br />

Psychologie, nov.-<strong>de</strong>z. 1931, t. XXVIII, p. 705-748, citado por Bertrand OGILVIE, Lacan , a formação do<br />

conceito <strong>de</strong> sujeito, 1932-1949, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar, 1988, p. 107.<br />

Excluído: Journal <strong>de</strong><br />

Psychologie, nov.-<strong>de</strong>z. 1931, t.<br />

XXVIII, p. 705-748<br />

Excluído: e<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: um momento


Essa i<strong>de</strong>ntificação primária <strong>com</strong> o semelhante é o que constitui a função do eu. Lacan marca<br />

que a prematuração fisiológica na qual se encontra o infans, sua <strong>de</strong>pendência ao campo do<br />

Outro, vai fazer <strong>com</strong> que ele seja precipitado da insuficiência para antecipação, originando o<br />

domínio imaginário do corpo. Em outras palavras:<br />

19<br />

O estádio do espelho é um drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência para<br />

a antecipação – e que fabrica para o sujeito, apanhado no engodo da i<strong>de</strong>ntificação especial as<br />

fantasias que se suce<strong>de</strong>m <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>uma</strong> imagem <strong>de</strong>spedaçada do corpo até <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> sua<br />

totalida<strong>de</strong> que chamaremos <strong>de</strong> ortopédica – e para a armadura enfim assumida <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> alienante, que marcará <strong>com</strong> sua estrutura rígida todo o seu <strong>de</strong>senvolvimento<br />

mental 29 .<br />

Lacan sublinha que, para que o infans se i<strong>de</strong>ntifique <strong>com</strong> a imagem, é preciso a<br />

confirmação do Outro, para o qual a criança se vira em busca <strong>de</strong> um olhar que testemunhe,<br />

confirmando o reconhecimento da imagem. Diz ele:<br />

É que o Outro em que o discurso se situa, sempre latente na triangulação que consagra<br />

essa distância, não o é a tal ponto que não se exponha até mesmo na relação especular em seu<br />

momento mais puro: no gesto pelo qual a criança,diante do espelho, voltando-se para aquele<br />

que a segura, apela <strong>com</strong> o olhar para o testemunho que <strong>de</strong>canta, por confirmá-lo, o<br />

reconhecimento da imagem, da assunção jubilatória em que, por certo, ela já estava 30 .<br />

Para Lacan, o estádio do espelho tem um sentido estrutural, e não evolutivo ou<br />

histórico. Diz respeito a <strong>uma</strong> construção lógica, que ilustra o caráter conflitivo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> relação<br />

dual, imaginária, que só po<strong>de</strong> ocorrer <strong>com</strong>o tal porque já havia a presença <strong>de</strong> um terceiro que,<br />

por sua vez, possibilita o reconhecimento da imagem. Vale ressaltar, mais <strong>uma</strong> vez, que há<br />

um or<strong>de</strong>namento simbólico do corpo, que se faz a partir do Outro.<br />

Observamos que, até mesmo no “estádio do espelho”, <strong>teoria</strong> que Lacan elabora sobre a<br />

formação do “eu” e que especifica o caráter imaginário da função do “eu”, ele insistirá na<br />

29<br />

LACAN, Jacques, "O estádio do espelho <strong>com</strong>o formador da função do eu", in: Escritos, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro:Jorge Zahar, 1998, p. 100.<br />

30<br />

LACAN, Jacques, "Observação sobre o relatório <strong>de</strong> Daniel Lagache: psicanálise e estrutura da<br />

personalida<strong>de</strong>", in: Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro:Jorge Zahar, 1998, p. 685.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: ,


presença do simbólico <strong>com</strong>o matriz subjetiva da día<strong>de</strong> infans e imagem. Trata-se <strong>de</strong> marcar a<br />

20<br />

primazia do simbólico <strong>com</strong>o condição <strong>de</strong> emergência do sujeito.<br />

Lacan recorre à metáfora do olhar para enfatizar a presença do Outro <strong>com</strong>o necessária<br />

para a emergência do sujeito, do je. De fato, não se trata apenas <strong>de</strong> que um adulto olha para o<br />

infans, mas que ele lhe dirige a palavra, o nomeia a partir da linguagem, confirmando por ela<br />

sua imagem.<br />

Constatamos <strong>com</strong>o é imprescindível que o Outro se dirija ao infans, inscrevendo-o em<br />

um lugar simbólico: “essa é sua imagem” é a metáfora para dizer que há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

Outro externo que se dirige a ele a partir da linguagem. É <strong>com</strong> seus significantes que ele<br />

recobre o infans e esse passa a existir na linguagem. O infans nasce então <strong>de</strong>sse lugar na<br />

linguagem, <strong>com</strong>o veremos no próximo capítulo.<br />

É a partir da casa vazia no Outro, do furo na linguagem, que ele emerge, ou seja, é se<br />

i<strong>de</strong>ntificando <strong>com</strong> o que a mãe não tem. E <strong>de</strong>sse ponto cego o sujeito po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>duzido da<br />

estrutura.<br />

Po<strong>de</strong>mos afirmar que a primazia do simbólico marca sua presença <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início,<br />

remetendo a <strong>uma</strong> lógica da estrutura, e não do <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Estrutura e sujeito<br />

Percorremos um caminho que procurou <strong>de</strong>stacar alg<strong>uma</strong>s contribuições <strong>de</strong> Lacan,<br />

importantes para nosso estudo, a saber: a presença do simbólico é imprescindível para que<br />

advenha um sujeito, marcando-se aí o papel da linguagem, bem <strong>com</strong>o sua condição <strong>de</strong> furo na<br />

linguagem. Vejamos agora, mais <strong>de</strong>talhadamente, em que consiste a estrutura, realizando um<br />

percurso do simbólico ao real para mostrar a constituição do furo e, portanto, também do<br />

sujeito.<br />

Assim, por isso, neste capítulo nos concentraremos mais no real <strong>com</strong>o furo excluído, e<br />

trataremos do real <strong>com</strong>o resíduo, objeto a, no capítulo 3.<br />

Seguiremos agora as valiosas indicações <strong>de</strong> G. Deleuze 31 , que relata que a lógica da<br />

estrutura, concebida por Lacan, tomou <strong>com</strong>o fonte os trabalhos <strong>de</strong> Saussure e seu Curso <strong>de</strong><br />

lingüística geral e <strong>de</strong> Jakobson, <strong>com</strong> seu binarismo, que se tornaram mais funcionais a partir<br />

31 DELEUZE, Gilles, “A quoi reconnaît-on le structuralisme”, in CHATELET François (dir.), Histoire <strong>de</strong><br />

la philosophie, vol. 8, Le XXème siècle. 1973, pp. 299-335.<br />

Excluído: <strong>de</strong><br />

Excluído: este<br />

Excluído:<br />

Excluído: o<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: 1.2.<br />

Excluído: objeto a


<strong>de</strong> Lévi-Strauss, o qual or<strong>de</strong>nou todo esse material. Lacan extrai <strong>de</strong> Saussure, Jakobson e<br />

Lévi-Strauss a sua própria concepção. É em um contexto <strong>de</strong> relações tensas entre o real e o<br />

imaginário que Lacan <strong>de</strong>scobre um terceiro termo, o simbólico, ou o pai simbólico, ou ainda,<br />

nome do pai, possibilitando, assim, a diferenciação entre o simbólico, o imaginário e o real.<br />

Para formular a noção <strong>de</strong> simbólico, parte da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações que se sustenta pela diferença, e<br />

não pela substância das coisas.<br />

Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que os elementos simbólicos não têm <strong>de</strong>signação intrínseca, nem<br />

significação intrínseca, se especificando somente pela sua posição. Ou seja, toda estrutura<br />

apresenta dois aspectos: por um lado, um sistema <strong>de</strong> relações diferencial a partir do qual os<br />

elementos simbólicos se <strong>de</strong>terminam reciprocamente; e, por outro, um sistema <strong>de</strong><br />

singularida<strong>de</strong>, correspon<strong>de</strong>ndo às relações que <strong>de</strong>senham o <strong>espaço</strong> da estrutura.<br />

21<br />

Na perspectiva estruturalista, são os elementos simbólicos e suas relações que<br />

<strong>de</strong>terminam a natureza dos seres e objetos, enquanto as singularida<strong>de</strong>s formam <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

lugares que <strong>de</strong>terminam, simultaneamente, os papéis e atitu<strong>de</strong>s dos seres enquanto eles os<br />

ocuparem. Assim, as singularida<strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>m aos elementos simbólicos e suas relações,<br />

mas sem se parecer <strong>com</strong> eles, simbolizando-os.<br />

As singularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>rivam das relações dos elementos simbólicos, <strong>uma</strong> vez que<br />

qualquer <strong>de</strong>terminação diferencial leva à repartição dos pontos singulares.<br />

Ainda segundo Deleuze, isso terá <strong>com</strong>o conseqüência os termos real e imaginário; suas<br />

relações e perturbações se constituem a partir do simbólico. Para Lacan e outros<br />

estruturalistas, o que está no <strong>com</strong>eço <strong>de</strong> <strong>uma</strong> gênese é o simbólico <strong>com</strong>o estrutura. A partir<br />

<strong>de</strong>ssa perspectiva, a or<strong>de</strong>m simbólicaprece<strong>de</strong> o real e o imaginário, e não po<strong>de</strong> ser reduzida a<br />

eles.<br />

O real se constitui por <strong>uma</strong> incessante tentativa <strong>de</strong> fazer um, enquanto o imaginário<br />

funciona em espelho, <strong>de</strong>sdobrando-se em um jogo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. Já o que parece<br />

fundamental no simbólico não é apenas o terceiro para além do real e do imaginário, mas há<br />

estruturalmente um simbólico a ser buscado no próprio simbólico.<br />

Segundo Deleuze, o real se constitui por <strong>uma</strong> incessante tentativa <strong>de</strong> fazer um;<br />

analisamos que se trata <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tentativa incessante justamente porque ele não consegue fazer<br />

um, é <strong>uma</strong> tentativa que não consiste, <strong>uma</strong> vez que o real não constitui borda. Em relação ao<br />

funcionamento do imaginário, diríamos que o jogo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação produz a ilusão <strong>de</strong> fazer<br />

unida<strong>de</strong>; quanto ao simbólico nos interessa a insistência <strong>de</strong> Deleuze em buscar um simbólico<br />

Excluído: Levi<br />

Excluído: que<br />

Excluído: Levi<br />

Excluído: .<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: não po<strong>de</strong> ser reduzida<br />

ao real, nem ao imaginário<br />

Excluído: sendo mais profunda<br />

que os dois<br />

Excluído: Gostaríamos <strong>de</strong><br />

<strong>com</strong>entar essa leitura que Deleuze<br />

faz a partir do que lemos <strong>de</strong> Lacan.<br />

Excluído: faz


no próprio simbólico, isso nos remete ao fato <strong>de</strong> que o simbólico não é <strong>uma</strong> entida<strong>de</strong> e, por<br />

estrutura, é <strong>uma</strong> <strong>com</strong>binatória.<br />

22<br />

Vamos agora nos remeter ao texto <strong>de</strong> J.-A. Miller, “S’truc dur” 32 , no qual estão postos<br />

aspectos que ele consi<strong>de</strong>ra fundamentais para enten<strong>de</strong>r a hipótese estruturalista <strong>de</strong> Lacan.<br />

Temos então <strong>com</strong>o ponto imprescindível o fato <strong>de</strong> que não sabemos em que consiste esse<br />

elemento simbólico, apenas conhecemos sua estrutura. Não conhecemos sua essência, porque<br />

não há substância. A estrutura não é constituída por elementos que têm forma, significação ou<br />

conteúdo, mas apenas por <strong>uma</strong> <strong>com</strong>binatória. O simbólico é, portanto, <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m sem<br />

substância, que consiste em <strong>uma</strong> Lei "que dispõe as relações entre seus elementos" 33 .<br />

Assim, ainda segundo Miller, se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir da hipótese estruturalista a diferenciação<br />

entre o simbólico, o imaginário e o real. Lacan vai chamar essa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações que se<br />

sustenta minimamente <strong>de</strong> simbólico; a or<strong>de</strong>m simbólica é <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m fundada no binarismo<br />

jacobsoniano não substancialista, que consiste em <strong>uma</strong> oposição simbólica mínima entre dois<br />

termos. Ao longo <strong>de</strong> seu percurso, trabalha <strong>com</strong> essa estrutura binária até formular, em seus<br />

últimos esquemas, S1 – S2, que mostra que um significante é, no mínimo, dois, <strong>uma</strong> vez que<br />

“um significante representa o sujeito para outro significante” 34 .<br />

“O registro do significante institui-se pelo fato <strong>de</strong> um significante representar um sujeito<br />

para outro significante” 35 . Isso tem por conseqüência que as representações ficam do lado <strong>de</strong><br />

fora. As representações que as pessoas fazem a partir <strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações são o imaginário.<br />

As representações ficam fora do simbólico e da lei simbólica, pois não é possível <strong>de</strong>fini-las ao<br />

nível do significado. A dimensão <strong>de</strong> representação que po<strong>de</strong>mos ter a partir <strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

relações é o imaginário.<br />

Para Miller, a escolha inicial do ensino <strong>de</strong> Lacan é a pergunta <strong>de</strong> que or<strong>de</strong>m é o<br />

inconsciente freudiano, se ele é da or<strong>de</strong>m imaginária ou da lei simbólica. A partir <strong>de</strong>ssa<br />

interrogação, constitui a noção <strong>de</strong> real, que não se reduz nem à lei simbólica nem à<br />

representação. A princípio, ele formula o real <strong>com</strong>o um termo excluído, mas mudará essa<br />

formulação, <strong>de</strong>pois irá entendê-lo, ao contrário, <strong>com</strong>o um termo residual, um elemento cuja<br />

natureza é <strong>com</strong>pletamente diferente dos elementos simbólicos. Assim, ele vai paradoxalmente<br />

32<br />

MILLER, Jacques Alain, "S'truc Dure", Matemas II, Buenos Aires, Manantial, 1989, p. 96 (original:<br />

“S'truc Dure”, Pas tant, 1985, pp. 4-11).<br />

33<br />

Op.cit., p. 94.<br />

34<br />

LACAN, Jacques (1960), "Posição do inconsciente (no congresso <strong>de</strong> Bonneval)", in: Escritos, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Jorge Zahar, 1988, p. 854.<br />

35 LACAN, ibid, p. 854.<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: O.c<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: Jacques(1960).<br />

Posição do inconsciente no<br />

congresso <strong>de</strong> Bonneval. In.<br />

Escritos. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge<br />

Zahar, 1998,<br />

Excluído: do<br />

Excluído: '<br />

Excluído: Dur<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ;<br />

Excluído:<br />

Excluído: é<br />

Excluído: ele<br />

Excluído: ele


i<strong>de</strong>ntificar o real <strong>com</strong>o um elemento <strong>de</strong> presença que falta estruturalmente na or<strong>de</strong>m<br />

simbólica.<br />

23<br />

Ele <strong>de</strong>fine o real <strong>com</strong>o resíduo, <strong>com</strong>o objeto a; objeto que dá notícia da essência do<br />

sujeito, mas que, ao mesmo tempo, faz furo <strong>com</strong>o resto, <strong>com</strong>o o que não se encaixa, o que não<br />

é simbolizável. Ou seja, trata-se, paradoxalmente, <strong>de</strong> um elemento <strong>de</strong> presença que falta<br />

estruturalmente, porque não é simbolizável, e assim faz <strong>com</strong> que haja, na estrutura, um furo.<br />

“Digamos que esse elemento <strong>de</strong> presença que falta estruturalmente na or<strong>de</strong>m simbólica é o<br />

que ele i<strong>de</strong>ntificará, será i<strong>de</strong>ntificado, precisamente, <strong>com</strong>o o real 36 .”<br />

Como já dissemos, neste capítulo trataremos do real <strong>com</strong>o excluído e trataremos do real<br />

<strong>com</strong>o resíduo no capítulo 3. Nos parece importante ressaltar que o que se constitui <strong>com</strong>o furo<br />

na estrutura possibilita a emergência do sujeito.<br />

Assim, para Miller, Lacan, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, ao <strong>de</strong>finir o real <strong>com</strong>o elemento <strong>de</strong> presença,<br />

faz um corte na hipótese estruturalista <strong>de</strong> Levi-Strauss, abrindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar a<br />

questão da emergência do sujeito na estrutura. Devemos frisar que, para haver sujeito, a noção<br />

<strong>de</strong> furo é fundamental. Partindo da noção saussureana <strong>de</strong> que, na linguagem, só há diferenças,<br />

Lacan toma a estrutura <strong>com</strong>o linguagem. Ou seja, a constituição estrutural implica leis que<br />

<strong>de</strong>terminam um vazio, um inconsciente não substancial. Escreve o sujeito <strong>com</strong>o $, apontando<br />

esse vazio.<br />

Lacan toma, da hipótese estruturalista, a idéia <strong>de</strong> que, na linguagem, não há mais que<br />

diferenças e enfatiza <strong>uma</strong> lógica <strong>de</strong> relação na qual um remete ao outro, portanto, inserido em<br />

<strong>uma</strong> ca<strong>de</strong>ia. É <strong>com</strong> o raciocínio calcado na noção <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia que Lacan estabelece <strong>uma</strong> ruptura<br />

<strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> estruturalista <strong>de</strong> Saussure, Jakobson e Levi-Strauss, quando formula: “um<br />

significante representa o sujeito para outro significante" 37 . De fato, do ponto <strong>de</strong> vista dos<br />

estruturalistas, a estrutura é in<strong>com</strong>patível <strong>com</strong> a noção <strong>de</strong> sujeito. Levi-Strauss, por exemplo,<br />

consi<strong>de</strong>ra que há <strong>uma</strong> in<strong>com</strong>patibilida<strong>de</strong> radical entre o estruturalismo e o sujeito, <strong>uma</strong> vez<br />

que este é i<strong>de</strong>ntificado à consciência.<br />

Seguiremos agora <strong>com</strong> o estudo muito precioso <strong>de</strong> Bruce Fink 38 para abordar a noção <strong>de</strong><br />

estrutura e sujeito. Na perspectiva do corte efetivado por Lacan no estruturalismo, po<strong>de</strong>mos<br />

afirmar que o sujeito lacaniano não é um indivíduo. Não é o sujeito pensante consciente a que<br />

36 MILLER, op.cit., p. 94.<br />

37 LACAN Jacques, "Posição do inconsciente", in: op.cit, p. 840<br />

38 FINK, Bruce, O sujeito lacaniano, Rio <strong>de</strong> janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 57.<br />

Excluído: Jacques Alain, “S’<br />

Excluído: Dure<br />

Excluído: (original: “<br />

Inserido: ’<br />

Excluído: '<br />

Excluído: truc<br />

Excluído:<br />

Excluído: dure, Matemas II”,<br />

Buenos Aires, Manantial, 1989,<br />

Inserido:<br />

Excluído: S'truc<br />

Excluído: S’truc<br />

Excluído: Dure<br />

Inserido: dure<br />

Inserido: S’truc<br />

Excluído: dure”, Pas tant,<br />

Inserido: dure<br />

Excluído:<br />

Excluído: 1985, p.96<br />

Excluído: )<br />

Inserido:<br />

Excluído: Position <strong>de</strong> l<br />

`Inconscien<br />

Excluído: t<br />

Excluído: :Ecrits,<br />

Excluído: oc.<br />

Excluído: 0…<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: noticia<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: prescisamente<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: Lacan realiza<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: Sujeito<br />

Excluído: , po<strong>de</strong>mos afirmar que<br />

o sujeito lacaniano


se refere a maioria da filosofia analítica, nem é o sujeito pensante, confundido <strong>com</strong> o eu,<br />

<strong>com</strong>o enten<strong>de</strong> a escola <strong>de</strong> psicologia do ego.<br />

24<br />

O eu para Lacan é a consolidação <strong>de</strong> imagem, idéias que equivalem a um objeto fixo e<br />

reificado <strong>com</strong> o qual a criança vai apren<strong>de</strong>r a i<strong>de</strong>ntificar-se. Como já vimos, essas imagens<br />

que a criança vê <strong>de</strong> si mesma no espelho são i<strong>de</strong>alizadas, porque naquele momento lógico<br />

subjetivo da criança, ela ainda não possui coor<strong>de</strong>nação motora e a imagem no espelho lhe dá a<br />

sensação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> imagem unificada.<br />

A imagem do espelho apresenta, nesse momento, <strong>uma</strong> aparência superficial unificada<br />

semelhante àquela imagem dos pais muito mais capazes, coor<strong>de</strong>nados e po<strong>de</strong>rosos 39 .<br />

Tal imagem é internalizada, porque os pais valorizam muito e dizem repetidamente para<br />

a criança que a imagem é ela mesma, ou seja, a internalização da imagem especular é feita a<br />

partir da or<strong>de</strong>m simbólica, <strong>uma</strong> vez que é pelo ato da fala, <strong>de</strong> um posicionamento libidinal por<br />

parte dos pais, que a imagem se torna carregada <strong>de</strong> interesse e forma o eu da criança..<br />

Segundo Jorge 40 , o eu é <strong>de</strong>scrito por Lacan <strong>com</strong>o essencialmente imaginário, mas sua<br />

constituição não po<strong>de</strong> prescindir do reconhecimento simbólico do Outro. A passagem da<br />

sensação <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong>spedaçado, no qual não há diferença para o bebê entre seu corpo e o<br />

da sua mãe, para a vivência do corpo próprio, fará <strong>com</strong> que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, o bebê tenha acesso à<br />

dimensão do recalque das pulsões parciais que não se integrarão a essa imagem totalizante do<br />

eu i<strong>de</strong>al. A partir disso, Jorge sugere que, se Freud situa o contra-investimento <strong>com</strong>o sendo o<br />

que opera no recalque originário, <strong>uma</strong> vez que ele está na origem mesma da constituição do<br />

inconsciente, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir que o eu embrionário do estádio do espelho po<strong>de</strong> ser situado<br />

<strong>com</strong>o a força que opera produzindo esse contra-investimento.<br />

Vê-se então que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo, o eu é a se<strong>de</strong> das resistências ao pulsional e ao<br />

<strong>de</strong>sejo e, por isso, a ilusão <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong> configurada por ele, estará sempre em confronto <strong>com</strong><br />

a parcialida<strong>de</strong> da pulsão. O eu na sua alienação fundadora se apóia então n<strong>uma</strong> imagem que<br />

não é propriamente sua, que não é ele, mas um outro.<br />

45.<br />

39 Ibid.<br />

40 JORGE, Marco Antônio Coutinho, Fundamentos da psicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2002, p.<br />

Excluído: (2002)<br />

Excluído: .<br />

Excluído: irá<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído:<br />

Excluído: o bebê cedo,


25<br />

Assim, ainda segundo Jorge 41 , Lacan, em A coisa freudiana ou sentido do retorno a<br />

Freud em psicanálise (1955) 43 , reconhece o eu <strong>com</strong>o a se<strong>de</strong> do “<strong>de</strong>sconhecimento crônico 44 ”,<br />

e isso vai levá-lo a realizar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do seu Seminário a distinção entre o eu e o sujeito.<br />

No entanto, para isso, será necessário que ele faça outra distinção, aquela entre o imaginário e<br />

o simbólico. Nessa distinção, o eu é da or<strong>de</strong>m do imaginário e do sentido, e o sujeito é partido<br />

entre os significantes do simbólico. Desse modo, “a unida<strong>de</strong> obtida no eu não é jamais no<br />

nível do sujeito, pois este é sempre dividido, conflitivo, impossível <strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar <strong>de</strong> modo<br />

absoluto” 45 .<br />

Devemos agora abordar a partir das indicações <strong>de</strong> Bruce Fink, mais <strong>de</strong>talhadamente a<br />

questão do sujeito: que sujeito é esse? O sujeito lacaniano não é o sujeito que aparece no lugar<br />

do que é dito; referindo-se o eu a <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntificação à imagem i<strong>de</strong>al específica, consi<strong>de</strong>ramos<br />

que: esse é o sujeito do enunciado, é o sujeito consciente, representado pelo pronome pessoal<br />

eu, mas há também o sujeito da enunciação inconsciente, o que significa dizer que o sujeito é<br />

dividido em dois.<br />

Nesse ponto nos interessou muito o estudo que Bruce Fink faz sobre o trabalho <strong>de</strong><br />

Lacan, a respeito <strong>de</strong> <strong>uma</strong> manifestação específica do sujeito no discurso. No início da década<br />

<strong>de</strong> 1960, Lacan teria tentado em vários momentos ligar o aparecimento do sujeito à palavra<br />

francesa “ne”, que significa não, po<strong>de</strong>ndo ser a meta<strong>de</strong> da expressão francesa “ne pas”, que é<br />

usada em muitas situações sozinha, não para funcionar <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> negação peremptória, mas<br />

para funcionar, <strong>com</strong>o <strong>de</strong>nominaram Damourette e Pichon, <strong>com</strong>o forma “<strong>de</strong> discordância” 46 .<br />

O “ne” encontrado em <strong>de</strong>terminadas expressões <strong>com</strong>o, por exemplo, “pourvu qu’il ne<br />

soit arrivé”, “craindre qu’il ne vienne”, introduz <strong>uma</strong> certa hesitação, ambigüida<strong>de</strong>, que dá a<br />

impressão <strong>de</strong> que quem está falando está negando o que ele está afirmando. Parece então que<br />

a pessoa que fala <strong>de</strong>seja e ao mesmo tempo não <strong>de</strong>seja o que está falando.<br />

Encontra-se na língua inglesa algo da mesma or<strong>de</strong>m <strong>com</strong> a palavra but, mas não<br />

<strong>de</strong>senvolveremos isso aqui. O que nos parece importante é que essas formas evi<strong>de</strong>nciam que<br />

parece haver um conflito em tais expressões entre um discurso consciente do eu, e um<br />

41 JORGE, op.cit.<br />

43 LACAN Jacques, "A coisa freudiana ou sentido do retorno a Freud em psicanálise", in: Escritos, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Jorge Zahar, 1988.<br />

44 JORGE, op.cit., p. 45.<br />

45 JORGE, op.cit., p. 46.<br />

46 Apud FINK, op.cit., pp. 55-70.<br />

Excluído: .<br />

Assim, ainda<br />

Inserido: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: segundo Jorge 42<br />

Excluído: à<br />

Excluído: Marco Antônio<br />

Coutinho (2002). Fundamentos da<br />

psicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<br />

Zahar<br />

Excluído: Marco Antônio<br />

Coutinho (2002). Fundamentos da<br />

psicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<br />

Zahar<br />

Excluído: <br />

Excluído: á<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: Esse<br />

Excluído:<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: "


discurso do não-eu, ou do inconsciente. Tanto ne <strong>com</strong>o but, nessas formas <strong>de</strong> expressões<br />

apontariam para um tipo <strong>de</strong> não-dizer, o termo usado por Lacan dit-que-non. Nesse sentido<br />

eles evi<strong>de</strong>nciam a divisão do sujeito, o sujeito do enunciado, o sujeito consciente,<br />

representado pelo pronome pessoal eu, e o sujeito da enunciação inconsciente que se beneficia<br />

<strong>de</strong>sse não-dizer. Assim o sujeito da enunciação inconsciente manifesta-se nos lapsos da língua<br />

e também por meio <strong>de</strong> palavras <strong>com</strong>o ne e but, que informam sobre sua divisão, po<strong>de</strong>ndo<br />

26<br />

remeter n<strong>uma</strong> mesma expressão a <strong>uma</strong> afirmação ou a <strong>uma</strong> negação.<br />

Lacan dirá que ne e but são significantes do sujeito do inconsciente, já que, ao fazer sua<br />

<strong>de</strong>claração, o significante substitui o sujeito e este <strong>de</strong>saparece. Dessa maneira, diremos que o<br />

significante ocupa o lugar do sujeito, agora <strong>de</strong>saparecido. “Pois o significante é unida<strong>de</strong> por<br />

ser único, não sendo, por natureza, senão símbolo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ausência 47 .” Ou seja, ao mesmo<br />

tempo em que o significante constitui sua condição <strong>de</strong> aparecimento do sujeito representando-<br />

o, ele o suprime no próprio ato <strong>de</strong> representação.<br />

Nesse sentido, segundo Bruce Fink, é possível dizer que ne e but são significantes do<br />

sujeito do inconsciente, já que, ao fazer sua <strong>de</strong>claração, o significante substitui o sujeito e este<br />

<strong>de</strong>saparece. Dessa maneira, diremos que o significante ocupa o lugar do sujeito, agora<br />

<strong>de</strong>saparecido. Por isso, afirmamos, a partir <strong>de</strong> Lacan, que o sujeito só existe <strong>com</strong>o furo no<br />

discurso, <strong>uma</strong> vez que ele aparece transitoriamente irrompendo e logo se <strong>de</strong>svanece,<br />

manifestando-se através <strong>de</strong> um significante.<br />

Ainda segundo Bruce Fink, para Lacan 48 , a divisão é exigência e torna possível a<br />

existência <strong>de</strong> um sujeito, <strong>uma</strong> vez que, <strong>com</strong>o já vimos, o sujeito só po<strong>de</strong> vir a ser na condição<br />

<strong>de</strong> ser representado por um significante, e assim ganhar um lugar no simbólico, mas ao ser<br />

representado ele <strong>de</strong>saparece por trás do significante, constituindo assim a divisão: o sujeito,<br />

representado pelo símbolo (o significante) $ (S para “sujeito”, “barrado”: sujeito enquanto<br />

barrado pela linguagem, ou seja, pelo significante, <strong>de</strong>saparece).<br />

Dessa forma, segundo Lacan, S1/$, esse significante S1 usurpa o lugar do sujeito, tendo<br />

por conseqüência que esse sujeito existe apenas <strong>com</strong>o furo no discurso. Verificamos tal<br />

divisão, <strong>com</strong>o já vimos, por exemplo, em um tipo <strong>de</strong> não-dizer que ocorre no <strong>de</strong>senrolar da<br />

fala, quando há <strong>uma</strong> negação do que foi afirmado: pourvu qu’il ne soit arrivé, j’espère qu’elle<br />

ne vienne. Essa frase evi<strong>de</strong>ncia um conflito entre o discurso do eu, ou seja, o discurso<br />

p. 27.<br />

47 LACAN, Jacques, "O seminário sobre a carta roubada", in: Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 1998,<br />

.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: “não<br />

Excluído: ”<br />

Excluído:<br />

Excluído: .<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: ,


consciente, e o discurso inconsciente, que se beneficia da gramática para irromper na frase.<br />

27<br />

Temos, então, um sujeito do enunciado e um sujeito da enunciação.<br />

Por isso, po<strong>de</strong>mos afirmar um sujeito dividido em dois. Lacan escreve o sujeito do<br />

inconsciente <strong>com</strong>o $: S para sujeito e barrado pela língua, o que significa que o sujeito do<br />

inconsciente <strong>de</strong>saparece, escondido pelo significante. No exemplo citado acima, ne <strong>de</strong>signado<br />

por S1, um primeiro significante. É nesse sentido que po<strong>de</strong>mos afirmar que o sujeito do<br />

inconsciente constitui-se <strong>com</strong>o furo no discurso, porque ele <strong>de</strong>saparece sob o significante. Por<br />

essa razão, po<strong>de</strong>mos dizer que o sujeito do inconsciente aparece e <strong>de</strong>saparece, porque o<br />

significante toma seu lugar, fazendo-o <strong>de</strong>saparecer.<br />

Vimos que o inconsciente é constituído por <strong>uma</strong> ca<strong>de</strong>ia significante contínua e que o<br />

sujeito do inconsciente, alienado à linguagem, barrado por esta, <strong>de</strong>saparece sob o significante.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um sujeito dividido entre o enunciado – o eu – e a enunciação – o inconsciente – e<br />

representado pelo significante, portanto, constituído <strong>com</strong>o furo no discurso, n<strong>uma</strong> ca<strong>de</strong>ia, na<br />

estrutura. Segundo Jorge, “a ironia é <strong>uma</strong> figura <strong>de</strong> retórica que, ao empregar <strong>uma</strong> palavra<br />

<strong>com</strong> o sentido <strong>de</strong> antônimo, ilustra <strong>de</strong> modo excelente o caráter antitético do significante” 49 .<br />

Utilizada <strong>de</strong> modo corriqueiro na linguagem cotidiana, ela interessa à psicanálise, por ser a<br />

única forma discursiva que revela a questão da enunciação e do sujeito em sua relação <strong>com</strong> a<br />

significação antitética das palavras. Desse modo, a ironia coloca perfeitamente em evidência o<br />

sujeito do inconsciente, <strong>uma</strong> vez que nela não haverá alteração no enunciado mas apenas na<br />

enunciação, “o sujeito fica reduzido ao seu verda<strong>de</strong>iro lugar – entre os significantes” 50 .<br />

Assim, vê-se em expressão cotidiana, <strong>com</strong>o no exemplo dado por Jorge, “existem poetas e<br />

poetas”, que a duplicação do mesmo significante po<strong>de</strong> servir à produção <strong>de</strong> significação<br />

oposta que faz parte <strong>de</strong> todo significante.<br />

Finalizamos este capítulo <strong>com</strong> a questão do sujeito da estrutura da linguagem e o ponto<br />

<strong>de</strong> interseção <strong>com</strong> o sujeito da palavra. Iremos nos apoiar em um texto <strong>de</strong> Miller 51 que<br />

explicita que há <strong>uma</strong> diferença entre o sujeito na estrutura e o sujeito que toma a palavra. Isso<br />

nos parece importante, porque se trata <strong>de</strong> marcar a diferença entre um furo na estrutura, ou<br />

seja, o sujeito localizado na estrutura, e o sujeito que toma a palavra e tenta preencher esse<br />

furo, que, digamos, é o que faz o sujeito pensar. Essa transição é fundamental para abordar, no<br />

capítulo III, a <strong>articulação</strong> entre alienação e separação e a questão do <strong>de</strong>sejo.<br />

49 MILLER, Jacques Alain, "S'truc Dure", Matemas II, Buenos Aires, Manantial, 1989.<br />

50 JORGE, op.cit., p. 110.<br />

51 MILLER, op.cit..<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído: (original: “S'truc<br />

Dure”, Pas tant,<br />

Inserido:<br />

Excluído:<br />

Excluído: 1985)<br />

Inserido:<br />

Excluído: Marco Antônio<br />

Coutinho (2002). Fundamentos da<br />

psicanálise. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<br />

Zahar<br />

Excluído: Jacques Alain, “S'truc<br />

Dure, Matemas II”, Buenos Aires,<br />

Manantial, 1989,<br />

Excluído:<br />

Excluído: (original: “S'truc<br />

Dure”, Pas tant,<br />

Inserido:<br />

Excluído:<br />

Excluído: 1985)<br />

Inserido:<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído: ,


28<br />

Lacan formula <strong>uma</strong> concepção <strong>de</strong> sujeito da estrutura da linguagem, mas que tem um<br />

ponto <strong>de</strong> interseção <strong>com</strong> o sujeito da palavra. Ou seja, não é a mesma coisa <strong>de</strong>finir um sujeito<br />

da estrutura da linguagem e um sujeito da palavra.<br />

Para Lacan, a estrutura da palavra não é simétrica, <strong>uma</strong> vez que se trata <strong>de</strong> <strong>uma</strong> relação<br />

na qual o auditor é quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> o sentido do que está sendo dito. Ou seja, a partir da estrutura<br />

da palavra, Lacan escreve Outro <strong>com</strong> maiúsculo, pois ele <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> o sentido do que é dito,<br />

sendo também <strong>de</strong>stinatário da mensagem, lugar do código que permite <strong>de</strong>cifrá-lo. Isso<br />

significa que o sujeito não <strong>de</strong>signa a si mesmo, mas a partir do outro que o escuta,<br />

encontrando seu estatuto próprio ao passar pelo outro.<br />

O que Miller quer marcar é que há <strong>uma</strong> diferença entre o sujeito na estrutura e o sujeito<br />

que toma a palavra, ou seja, guardando <strong>uma</strong> pessoa fala, não está a estrutura ali, eu não vou<br />

encontrar a estrutura nas palavras, no entanto não tem outro caminho, a não sem fazer alguém<br />

falar para se possa fazer na leitura. Trata-se <strong>de</strong> fazer <strong>uma</strong> leitura porque embora somos da<br />

linguagem, nós não somos o que dissemos. Nós não vamos encontrar n<strong>uma</strong> fala a estrutura da<br />

linguagem do sujeito, vamos encontrar elementos que vão possibilitar fazer <strong>uma</strong> leitura.<br />

Nesse sentido, Miller que dizer que é importante, é e só a partir da fala do sujeito, que o<br />

sujeito vai aparecer no intervalo da fala.<br />

Será então <strong>com</strong>o veremos no capítulo 2: passando pelo discurso do Outro, a estrutura da<br />

linguagem que em algum momento, um filho, por exemplo, vai po<strong>de</strong>r ter um ato <strong>de</strong> fala.<br />

E <strong>com</strong>o nos diz Miller, porque está implícito na estrutura um furo, um ponto cego, é que<br />

vai po<strong>de</strong>r em algum momento haver <strong>uma</strong> conjugação da estrutura da linguagem <strong>com</strong> a<br />

estrutura da palavra. Ou seja, é porque há na estrutura da linguagem <strong>uma</strong> falta, um vazio, um<br />

ponto cego, um gozo que a estrutura da fala vai tentar se produzir, dizer algo a partir <strong>de</strong>sse<br />

vazio, <strong>de</strong>sse gozo.<br />

Por exemplo, <strong>com</strong>o veremos no próximo capítulo, um filho i<strong>de</strong>ntifica-se <strong>com</strong> o que no<br />

discurso da mãe é esse ponto cego, resto que cai do seu discurso, o que não é possível para ela<br />

dizer, e é nesse vazio que ele po<strong>de</strong> ter um ato <strong>de</strong> fala; esse é o resto que sobra <strong>de</strong>ssa operação<br />

<strong>de</strong> alienação e separação do sujeito ao significante, o que não foi possível significantizar.<br />

Dessa forma, ao formalizar um ponto <strong>de</strong> conjunção entre as estruturas da linguagem e<br />

da palavra, Lacan inclui o sujeito na proposta estruturalista, diferentemente <strong>de</strong> Levi-Strauss.<br />

Não é um sujeito da consciência, mas um sujeito suposto pela ca<strong>de</strong>ia, quando essa ca<strong>de</strong>ia é<br />

tomada pela palavra. Trata-se <strong>de</strong> um sujeito que emerge no intervalo <strong>de</strong> dois significantes, é<br />

Excluído: ,


efeito <strong>de</strong>ssa ca<strong>de</strong>ia, da emergência do significante. Po<strong>de</strong>mos dizer que ele é <strong>de</strong>duzido da<br />

estrutura. Nessa perspectiva, a exigência da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sujeito é sua própria divisão<br />

e sua realização ocorre por meio (do <strong>de</strong>slocamento intermitente) <strong>de</strong> suas irrupções.<br />

29<br />

Conseqüências das perspectivas teóricas do <strong>de</strong>senvolvimento e da estrutura<br />

para a <strong>de</strong>terminação do que sinaliza e constitui no campo clínico<br />

Gostaríamos agora <strong>de</strong> abordar as <strong>teoria</strong>s que são subjacentes ao que <strong>de</strong>fine o que<br />

requisitaria intervenção para mostrar <strong>com</strong>o essa <strong>teoria</strong> <strong>de</strong>termina a formação <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> leitura do problema e, por conseqüência, todo um campo <strong>de</strong> intervenções<br />

<strong>com</strong>andado por essas <strong>teoria</strong>s.<br />

Para isso, <strong>com</strong>eçaremos pela <strong>de</strong>finição do nome que <strong>de</strong>mos à nossa intervenção <strong>com</strong><br />

bebês e seus pais e, <strong>de</strong>pois, vamos percorrer o que se <strong>de</strong>fine por sinais <strong>de</strong> sofrimento psíquico<br />

e as conseqüências <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição na concepção do problema na clínica.<br />

SAÚDE MENTAL: INTERVENÇÃO A TEMPO X INTERVENÇÃO PRECOCE<br />

Intervenção precoce<br />

Sabemos que o termo intervenção precoce remete a ações realizadas o mais cedo<br />

possível, a partir da <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> sinais e sintomas e <strong>de</strong> um diagnóstico, que po<strong>de</strong> ser feito por<br />

várias instâncias da assistência pública à saú<strong>de</strong>. Ao longo dos anos, o termo associou-se ao<br />

trabalho realizado por equipes <strong>de</strong> reabilitação física, nas quais os profissionais<br />

(fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e neuropediatras, entre outros)<br />

oferecem, a crianças <strong>com</strong> lesão neurológica <strong>de</strong> causas diversas, <strong>uma</strong> abordagem que visa<br />

melhorar as funções motoras e sensoriais, além <strong>de</strong> trazer benefícios em termos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida.<br />

Intervenção a tempo e a clínica <strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> quatro anos na saú<strong>de</strong> mental infanto-<br />

juvenil <strong>de</strong> Betim<br />

Excluído: 1.3.<br />

Excluído: iremos<br />

Excluído: -se<br />

Excluído: 1.3.1.<br />

Excluído: X<br />

Excluído: <br />

Excluído: <br />

1.3.1.1. Intervenção precoce<br />

Excluído: realizado<br />

Excluído: <br />

Excluído: 1.3.1.2.<br />

Excluído:


30<br />

Dizemos a tempo quando estão presentes sinais <strong>de</strong> sofrimento psíquico grave: são<br />

crianças pequenas, <strong>com</strong>o já foi dito, que sofrem, por exemplo, <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> repetição sem<br />

justificativa clínica, <strong>de</strong> insônia, <strong>de</strong> anorexia, bebês que não se aninham no colo da mãe, ou<br />

que estão <strong>com</strong> <strong>de</strong>pressão, que evitam o olhar.<br />

A direção <strong>de</strong> trabalho, que nomeamos <strong>com</strong>o intervir a tempo, só po<strong>de</strong> ocorrer em<br />

<strong>articulação</strong> <strong>com</strong> <strong>uma</strong> segunda direção, que chamamos <strong>de</strong> clínica do laço. Uma vez que o<br />

infans se constitui a partir do campo do Outro, ele nasce <strong>de</strong> um discurso, ou seja, ele é falado<br />

antes que possa falar. O sujeito nasce a partir do campo do Outro, "lugar em que se situa a<br />

ca<strong>de</strong>ia significante que <strong>com</strong>anda tudo o que vai po<strong>de</strong>r presentificar-se do ‘sujeito’" 52 .<br />

Nosso trabalho não consiste n<strong>uma</strong> lógica temporal <strong>de</strong> sucessão cronológica, não<br />

trabalhamos <strong>com</strong> intervenção precoce, não preten<strong>de</strong>mos intervir precocemente, antes <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

cronologia, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sucessivida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento o da manifestação <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

doença. Trabalhamos a partir da ética da psicanálise, <strong>com</strong> a noção <strong>de</strong> tempo que não é um<br />

tempo prévio, mas que se faz do encontro do outro e do sujeito, que também se constituem a<br />

partir <strong>de</strong>sse encontro, <strong>uma</strong> vez que será no tempo do só <strong>de</strong>pois que po<strong>de</strong>remos verificar a<br />

resposta do sujeito que se constitui em resposta ao significante que vem do Outro. Ou seja, o<br />

vir-a-ser diante do significante que vem do outro se constituir sujeito tentando significar algo,<br />

O outro também se constitui so nesse encontro. Assim o tempo será tempo só <strong>de</strong>pois, quando<br />

já houve resposta do sujeito, ou quando ele se fez resposta.<br />

Estamos diante <strong>de</strong> um paradoxo, temos a anteriorida<strong>de</strong> do campo da linguagem, mas o<br />

Outro, o sujeito e o tempo se constituem no encontro. E assim se faz um tempo do il aura été.<br />

Com a anteriorida<strong>de</strong> da linguagem, o tempo projeta <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> futura que só no <strong>de</strong>pois<br />

será possível ler, ler algo sobre o que se constitui no encontro do outro e do Sujeito.<br />

Sabemos que há crianças <strong>com</strong> diagnóstico <strong>de</strong> lesão neurológica nas quais se sobrepõe<br />

fenomenologia <strong>de</strong> autismo, e que, às vezes, é necessário um trabalho anterior à abordagem<br />

pela equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental para que um tratamento <strong>de</strong> reabilitação (intervenção precoce)<br />

possa acontecer. Ocorre também que muitos bebês não estão <strong>de</strong>ntro da categoria <strong>de</strong> “lesão<br />

neurológica”, mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros meses <strong>de</strong> vida, apresentam sinais <strong>de</strong> sofrimento<br />

psíquico.<br />

52 LACAN Jacques, O Seminário, Livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1964, p. 193-194.<br />

Excluído: XI<br />

Excluído: "<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ivida<strong>de</strong><br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: o<br />

Excluído: u<br />

Excluído:<br />

Inserido: -<br />

Excluído: a<br />

Excluído: 9<br />

Excluído: no entanto o<br />

Excluído: só<br />

Excluído: no que o sujeito se<br />

constitui a<br />

Excluído: e<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: e<br />

Excluído: até<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: c<br />

Excluído: n<br />

Excluído: ele<br />

Excluído: ,<br />

Inserido: ,<br />

Excluído: no passado<br />

Excluído: estejam<br />

Excluído: que<br />

Excluído: apresentem


31<br />

No serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental infanto-juvenil <strong>de</strong> Betim, não usamos o nome <strong>de</strong><br />

intervenção precoce, quando consi<strong>de</strong>ramos o atendimento <strong>de</strong> crianças menores <strong>de</strong> quatro anos<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Nossa escolha tem o respaldo da clínica psicanalítica, que é <strong>uma</strong> clínica do sujeito<br />

do inconsciente. Para nós, só faz sentido <strong>de</strong>senvolver um trabalho quando houver sofrimento<br />

psíquico do infans. Nomeamos nossa proposta <strong>de</strong> intervenção a tempo, marcando a direção <strong>de</strong><br />

nosso trabalho.<br />

É assim que participamos da construção <strong>de</strong> um novo projeto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, no caso<br />

<strong>de</strong> Betim (Minas Gerais), voltado para aten<strong>de</strong>r crianças <strong>de</strong> zero a quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, assim<br />

<strong>com</strong>o seus pais.<br />

O objetivo é acolher e trabalhar questões que dizem respeito a um sofrimento psíquico<br />

que remete ao próprio laço, e às possíveis dificulda<strong>de</strong>s que a parentalida<strong>de</strong> implique.<br />

Intervenção a tempo: indicações para um atendimento no Cersami<br />

Até o presente momento <strong>de</strong>sta dissertação, explicitamos o que reconhecemos <strong>de</strong>sse<br />

sofrimento psíquico a partir <strong>de</strong> um referencial <strong>de</strong>scritivo que se baseia na observação do que<br />

autores <strong>com</strong>o Martine Lamour e Marthe Barraco 53 <strong>de</strong>screvem <strong>com</strong>o “toda a sintomatologia<br />

que revela <strong>uma</strong> dificulda<strong>de</strong>, <strong>uma</strong> perturbação da interação mãe–criança pequena/bebê ou pai e<br />

mãe–criança pequena/bebê. Elas <strong>de</strong>screvem:<br />

Na jovem criança:<br />

1. distúrbios psicossomáticos e funcionais (distúrbios do sono, alimentares, respiratórios<br />

e/ou pele);<br />

2. distúrbios <strong>de</strong> humor: medos, fobias;<br />

3. distúrbios do <strong>de</strong>senvolvimento (que não têm <strong>uma</strong> causa orgânica: intelectual,<br />

psi<strong>com</strong>otor, do tônus e/ou contato;<br />

4. dificulda<strong>de</strong> no controle da agressivida<strong>de</strong>.<br />

Do lado dos pais:<br />

1. Toda a sintomatologia revelando:<br />

53 LAMOUR, Martine; BARACO, Marthe, Souffrances autour du berceau. Des émotions aux soins,<br />

Paris: Gaëtan Éditeur, 1998.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -<br />

Excluído: mãe<br />

Excluído: Distúrbios<br />

Excluído: Distúrbios<br />

Formatados: Marcadores e<br />

numeração<br />

Excluído: Distúrbios<br />

Excluído: Dificulda<strong>de</strong>


2. distúrbios psíquicos do pós-parto;<br />

3. estado psicótico;<br />

4. estados <strong>de</strong>pressivos ou <strong>de</strong>pressão;<br />

5. condutas aditivas;<br />

6. neuroses graves;<br />

7. distúrbios do <strong>com</strong>portamento;<br />

8. maus-tratos (negligência, espancamentos).<br />

32<br />

Seriam, então, não os sintomas por si só, mas sim a dificulda<strong>de</strong> ou perturbação no laço<br />

revelando-se por intermédio <strong>de</strong>sses sintomas ou a<strong>com</strong>panhada <strong>de</strong>sses sintomas. Esses autores<br />

<strong>de</strong>senvolveram, <strong>de</strong> 1990 a 1999, trabalhos <strong>com</strong> bebês <strong>com</strong> menos <strong>de</strong> 18 meses que tinham<br />

sido expostos a falhas graves <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong>. Eles <strong>de</strong>finem parentalida<strong>de</strong> <strong>com</strong>o:<br />

O conjunto das rea<strong>com</strong>odações psíquicas e afetivas que permitam a adultos<br />

tornarem-se pais, quer dizer, respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu(s) filhos(s) em três<br />

níveis: o corpo (os cuidados alimentares), a vida afetiva, a vida psíquica 54 .<br />

A pesquisa mostra <strong>com</strong>o os sinais <strong>de</strong> sofrimento psíquico do bebê po<strong>de</strong>m ser discretos e<br />

que esses sinais dizem respeito principalmente a toda a “esfera tônica-motor” e a “esfera<br />

relacional”. No âmbito da esfera tônica-motor, temos, por exemplo, bebês “hipotônicos”, <strong>com</strong><br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ajustamento entre ele e a mãe, porque são difíceis <strong>de</strong> se carregar no colo, o<br />

que faz <strong>com</strong> que os contatos entre mãe e bebê fiquem cada vez mais raros. Na esfera<br />

relacional, a ausência <strong>de</strong> interações lúdicas e vocais, por parte da mãe, fazem <strong>com</strong> que ela<br />

responda raramente às vocalizações <strong>de</strong> seu bebê, o que provoca <strong>uma</strong> hiperadaptação do bebê<br />

ao ritmo das impulsões maternais.<br />

Nessa perspectiva, portanto, os autores constroem o conceito <strong>de</strong> interação,<br />

<strong>de</strong>monstrando que a concepção da relação mãe–infans/recém-nascido modificou-se, enquanto<br />

passamos da <strong>teoria</strong> da mãe “todo-po<strong>de</strong>rosa”, organizadora da interação, ao reconhecimento do<br />

papel do bebê <strong>com</strong>o parceiro “ativo”. Eles <strong>de</strong>finem então, em geral, as interações, <strong>com</strong>o<br />

54 LAMOUR, Martine; BARACO, Marthe. op.cit., p. 23.<br />

Excluído: Souffrance autour du<br />

berceau. Des émotions aux soins.<br />

Paris: Gaëtan Éditeur, 1998,<br />

Excluído: Distúrbios<br />

Formatados: Marcadores e<br />

numeração<br />

Excluído: Estado<br />

Excluído: Estados<br />

Excluído: Condutas<br />

Excluído: Neuroses<br />

Excluído: Distúrbios<br />

Excluído: Maus<br />

Excluído: realizaram<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: e bebê<br />

Excluído: -


“conjunto <strong>de</strong> fenômenos dinâmicos que se <strong>de</strong>senvolvem no tempo entre o recém-nascido e<br />

seus diferentes parceiros” 55 .<br />

33<br />

N<strong>uma</strong> mesma perspectiva, Claudine e Pierre Geissman organizam os sinais precoces na<br />

criança recortando: distúrbios <strong>de</strong> alimentação; distúrbios do sono; distúrbios psi<strong>com</strong>otores;<br />

distúrbios do tônus; as anomalias do olhar; ausência <strong>de</strong> sorriso no terceiro mês diante do rosto<br />

materno; a ausência <strong>de</strong> choro entre seis e 12 meses por ocasião do afastamento da mãe ou<br />

diante do aparecimento <strong>de</strong> <strong>uma</strong> pessoa estranha; ausência <strong>de</strong> objeto transicional; os<br />

estereótipos; fobias maciças; incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> brincar.<br />

Eles insistem no fato <strong>de</strong> que esses sinais parecem banais e não são em si<br />

patognomânicos. Po<strong>de</strong>mos encontrá-los transitoriamente em crianças que apresentaram um<br />

<strong>de</strong>senvolvimento psicoafetivo normal. O que os torna indicativos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

afecção psicótica é sua persistência no tempo, e o fato <strong>de</strong> um certo número <strong>de</strong>les estarem<br />

associados.<br />

Num outro campo teórico temos o trabalho clínico e teórico da psicanalista Marie-<br />

Christine Laznik, radicada na França, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolve sua pesquisa no IMEPP (intervenção<br />

médico-psicossocial precoce) e coor<strong>de</strong>na <strong>uma</strong> pesquisa multicêntrica sobre o tema da<br />

intervenção precoce em bebês <strong>com</strong> risco <strong>de</strong> autismo na França e na Itália, em que preten<strong>de</strong><br />

estudar cerca <strong>de</strong> 25.000 bebês.<br />

Trata-se do campo teórico da psicanálise que se propõe a formalizar sinais <strong>de</strong> risco <strong>de</strong><br />

sofrimento psíquico grave, a partir da estruturação do sujeito do inconsciente, e não a partir <strong>de</strong><br />

um referencial <strong>de</strong>senvolvimentista.<br />

Assim, Marie-Christine Laznik relata que <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> sinais foram repertoriados por<br />

diversos autores 56 e que, no seu trabalho <strong>com</strong> médicos <strong>de</strong> P.M.I., ela privilegia a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong><br />

dois sinais “maiores” 57 : O não-olhar entre <strong>uma</strong> mãe e seu filho – ainda mais se a mãe não <strong>de</strong>r<br />

conta disto – e o fracasso do circuito pulsional <strong>com</strong>pleto.<br />

Para a autora, esses dois sinais não são difíceis <strong>de</strong> serem reconhecidos por médicos e<br />

são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse, porque são “a expressão clínica das instaurações estruturais que<br />

fundam o funcionamento mesmo do aparelho psíquico” 58 . Desse modo, mesmo se não houver<br />

55<br />

LAMOUR, Martine; BARACO, Marthe, op.cit., p. 14.<br />

56<br />

HOUZEL, D., "Peut-on endiguer les psychoses infantiles?" in: SOULE, M. (dir.), Des utopies aux<br />

réalisations, Paris: ESF, 1993.<br />

57<br />

LAZNIK, Marie-Christine, "O autismo e os impasses na constituição do sujeito", in: A voz da sereia,<br />

textos <strong>com</strong>pilados por Daniele Wan<strong>de</strong>rley, Ed. Agalma, Coleção <strong>de</strong> calças curtas, 2004, p. 24.<br />

58<br />

LAZNIK, op.cit., p. 24.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: Souffrance autour du<br />

berceau. Des émotions aux soins.<br />

Paris: Gaëtan Éditeur, 1998<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: (1993)<br />

Excluído: .<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: . O autismo e os<br />

impasses na constituição do<br />

sujeito. Marie-Christine Laznik.<br />

Excluído: T<br />

Excluído: .<br />

Excluído: :<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: In. A voz da sereia. O<br />

autismo e os impasses na<br />

constituição do sujeito. Marie-<br />

Christine Laznik. Textos<br />

<strong>com</strong>pilados por Daniele<br />

Wan<strong>de</strong>rley. Ed: Agalma. Coleção<br />

<strong>de</strong> calças curtas. 2004<br />

Excluído: Intervenção<br />

Excluído:


<strong>uma</strong> evolução para <strong>uma</strong> síndrome autista caracterizada, ela consi<strong>de</strong>ra que o não-olhar é sinal<br />

<strong>de</strong> “<strong>uma</strong> dificulda<strong>de</strong> maior no nível da relação especular <strong>com</strong> o outro” 59 .<br />

34<br />

Laznik insiste que, se nós não interviermos, o estádio do espelho (Jacques Lacan, 1936)<br />

não se constituirá, ou se constituirá <strong>de</strong> <strong>uma</strong> maneira não conveniente. Ela retoma a<br />

importância dada por Jacques Lacan a esse momento lógico, específico, em que o infans<br />

(aquele que não fala) se vira para o adulto que o carrega para pedir-lhe <strong>uma</strong> confirmação, pelo<br />

olhar, do que ele vê no espelho <strong>com</strong>o emergência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> imagem, o que forja <strong>uma</strong> unida<strong>de</strong><br />

corporal, <strong>com</strong> a gestalt <strong>de</strong> seu corpo, e faz <strong>com</strong> que a criança ou o infans “precipite-se da<br />

insuficiência para a antecipação” 60 , produzindo <strong>uma</strong> sensação imaginária <strong>de</strong> domínio do<br />

corpo.<br />

Ou seja, o sujeito se i<strong>de</strong>ntifica <strong>com</strong> júbilo à imagem, e é essa i<strong>de</strong>ntificação primária <strong>com</strong><br />

o semelhante que constitui a “função do eu”. Mas, para isso, é necessário que a criança<br />

encontre esse olhar que lhe confirme que aquela imagem é a <strong>de</strong>la. Aqui está toda a<br />

importância, porque será a partir <strong>de</strong>sse sentimento <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> sua imagem corporal, que o<br />

bebê vai constituir sua relação <strong>com</strong> os outros.<br />

O olhar dos pais, então, para M-C Laznik, é <strong>uma</strong> forma particular <strong>de</strong> investimento<br />

libidinal que vai lhes possibilitar “<strong>uma</strong> ilusão antecipadora on<strong>de</strong> eles percebem o real<br />

orgânico do bebê, aureolado pelo que aí se apresenta, aí po<strong>de</strong>rá advir” 61 . Trata-se <strong>de</strong> um olhar<br />

que possibilita aos pais antecipar, também, <strong>uma</strong> aposta num vir-a-ser, antecipar os balbucios<br />

do bebê, “mensagem significante que ele fará sua mais tar<strong>de</strong> 62 ”.<br />

Laznik consi<strong>de</strong>ra que, mesmo que o sinal do não-olhar possa alertar o clínico, ele só não<br />

é suficiente para dar a segurança <strong>de</strong> que é preciso intervir. Ela consi<strong>de</strong>ra que para prevenir um<br />

grave problema <strong>de</strong> funcionamento mental é necessário um segundo sinal, observável<br />

clinicamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros meses <strong>de</strong> vida e fácil <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectado. Ele possibilita fazer<br />

um prognóstico <strong>com</strong> mais segurança do risco <strong>de</strong> ocorrer um problema, ou permite acionar<br />

<strong>uma</strong> intervenção <strong>com</strong> emergência.<br />

O segundo sinal clínico: a não-instauração do circuito pulsional <strong>com</strong>pleto é um sinal<br />

banal e que po<strong>de</strong> ser um indicador do fracasso da instauração <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estrutura, que é central<br />

para o funcionamento do aparelho psíquico. Para explicar o que seria a não-instauração do<br />

59 Op.cit., p. 24.<br />

60 Lacan, Jacques (1949), "O estádio do espelho <strong>com</strong>o formador da função do eu", in: Escritos. op. cit. P.<br />

96-103.<br />

61 LAZNIK, op.cit., p. 25.<br />

62 Op.cit., p. 25.<br />

Excluído: In. A voz da sereia. O<br />

autismo e os impasses na<br />

constituição do sujeito. Marie-<br />

Christine Laznik. Textos<br />

<strong>com</strong>pilados por Daniele<br />

Wan<strong>de</strong>rley. Ed: Agalma. Coleção<br />

<strong>de</strong> calças curtas. 2004,<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: O<br />

Excluído: C<br />

Excluído: In. A voz da sereia. O<br />

autismo e os impasses na<br />

constituição do sujeito. Marie-<br />

Christine Laznik. Textos<br />

<strong>com</strong>pilados por Daniele<br />

Wan<strong>de</strong>rley. Ed: Agalma. Coleção<br />

<strong>de</strong> calças curtas. 2004,<br />

Excluído: In. A voz da sereia. O<br />

autismo e os impasses na<br />

constituição do sujeito. Marie-<br />

Christine Laznik. Textos<br />

<strong>com</strong>pilados por Daniele<br />

Wan<strong>de</strong>rley. Ed: Agalma. Coleção<br />

<strong>de</strong> calças curtas. 2004<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: aos pais


circuito pulsional <strong>com</strong>pleto, M-C Laznik apóia-se na leitura por Lacan do conceito <strong>de</strong> pulsão<br />

em Freud, no qual Freud separa a pulsão da necessida<strong>de</strong>. E retoma o caminho que Lacan<br />

percorreu para situar teoricamente o que é instauração do circuito pulsional <strong>com</strong>pleto, ou seja,<br />

o que constituiria a satisfação da pulsão. Ela retoma a idéia <strong>de</strong> que, para Freud, a pulsão é um<br />

conceito situado no limite entre o psíquico e o somático, <strong>uma</strong> vez que ela é o representante<br />

psíquico das excitações vindas do interior do corpo. Assim, a fome e a se<strong>de</strong> são exemplos <strong>de</strong><br />

pulsões.<br />

35<br />

Lendo Freud, Lacan vai enten<strong>de</strong>r que a fome e a se<strong>de</strong> reenviam à questão da<br />

necessida<strong>de</strong> e que, quando Freud se refere à Trieb (pulsão), ele não estava se referindo ao<br />

organismo <strong>com</strong>o um todo. Lacan utiliza o termo pulsão referindo-se às pulsões sexuais<br />

parciais. Assim, Lacan separa a noção <strong>de</strong> satisfação pulsional <strong>de</strong> qualquer satisfação da<br />

necessida<strong>de</strong> orgânica. A partir disto, Laznik coloca então a pergunta sobre o que constituiria<br />

então a satisfação da pulsão. Para isto, retoma Freud (1915) que <strong>de</strong>screve o circuito pulsional,<br />

tentando i<strong>de</strong>ntificar as condições gerais <strong>de</strong> todo remate da pulsão, quer dizer, as condições da<br />

satisfação pulsional. Assim, ela segue Freud a partir dos três tempos do circuito pulsional para<br />

mostrar <strong>com</strong>o, clinicamente, a satisfação da pulsão vai correspon<strong>de</strong>r ao acontecimento <strong>de</strong> um<br />

trajeto em forma <strong>de</strong> circuito que vai se fechar no seu ponto sobre a satisfação orgânica; a<br />

satisfação pulsional será <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m. Assim, a autora segue os três tempos do circuito<br />

pulsional <strong>de</strong>scritos por Freud (1915) e escolhe a pulsão oral, que é fácil <strong>de</strong> reconhecer nos<br />

primeiros meses <strong>de</strong> vida.<br />

Temos então um primeiro tempo, o tempo ativo, no qual o bebê procura ativamente o<br />

objeto oral (a mama<strong>de</strong>ira ou o seio) para torná-lo para ele. Esse tempo é facilmente<br />

i<strong>de</strong>ntificado pelos pediatras e é <strong>uma</strong> observação central no exame clínico da P.M.I. O segundo<br />

tempo do circuito pulsional é também observável por um médico já advertido. Trata-se <strong>de</strong><br />

observar se o bebê “tem <strong>uma</strong> boa capacida<strong>de</strong> auto-erótica” 63 , ou seja, <strong>de</strong> ver se ele é capaz <strong>de</strong><br />

chupar sua mão, seu <strong>de</strong>do ou então <strong>uma</strong> chupeta. E é o que na psicanálise chamamos <strong>de</strong><br />

experiência alucinatória <strong>de</strong> satisfação e que está relacionada <strong>com</strong> o auto-erotismo.<br />

Segundo Laznik, quase ninguém pensa, nem mesmo os analistas, que na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

Freud existe um terceiro tempo que é necessário para o remate do circuito pulsional. Freud<br />

afirma que a criança vai se fazer objeto <strong>de</strong> um novo sujeito. Isso significa que a criança se<br />

assujeita a um outro, e assim esse outro se torna sujeito da pulsão do bebê. Será então<br />

63 LAZNIK, Marie-Christine, "O autismo e os impasses na constituição do sujeito", op.cit., p. 27.<br />

Excluído: literatura<br />

Excluído: <strong>de</strong><br />

Excluído: ele<br />

Excluído: que diz d<br />

Excluído: Lacan,<br />

Excluído: l<br />

Excluído: a<br />

Excluído: (p. 27, voz sereia)<br />

Excluído: é<br />

Excluído: s


necessário alguém que na realida<strong>de</strong> da criança cui<strong>de</strong> <strong>de</strong>la, mas ao mesmo tempo ocupe para a<br />

criança um lugar <strong>de</strong> Gran<strong>de</strong> Outro Primordial, ou seja, que antecipa para o bebê, fale no seu<br />

lugar, ofertando-lhe significante.<br />

36<br />

Laznik <strong>de</strong>screve que o terceiro tempo é o momento em que o bebê coloca seu <strong>de</strong>do (do<br />

pé ou da mão) na boca da mãe, que vai fazer <strong>de</strong> conta que vai <strong>com</strong>ê-lo <strong>com</strong> muito prazer. É<br />

um momento marcado por muito prazer da mãe, que <strong>com</strong>enta <strong>com</strong> várias metáforas<br />

gastronômicas e toda essa cena <strong>de</strong>sperta quase sempre sorrisos da criança. Isso indica que a<br />

criança estava procurando fisgar o gozo do Outro materno. Ou seja, Laznik insiste “que o<br />

bebê vai à pesca do gozo <strong>de</strong> sua mãe, enquanto ela representa para ele o Gran<strong>de</strong> Outro<br />

Primordial, provedor <strong>de</strong> significantes” 64 .<br />

O importante é que a pulsão satisfaz se este circuito girar e se cada tempo tornar a<br />

passar infinitamente. Desse modo, só se po<strong>de</strong> estar certo <strong>de</strong> que os dois primeiros tempos são<br />

verda<strong>de</strong>iramente pulsionais se constatamos o terceiro tempo. Po<strong>de</strong>mos nos enganar, no<br />

segundo tempo, se levarmos em conta apenas o fato <strong>de</strong> o bebê sugar o <strong>de</strong>do ou a chupeta, sem<br />

estarmos atentos se o terceiro tempo do circuito pulsional está presente em outros momentos.<br />

Se não estiver significa que não há para esse bebê a dimensão da representação do Outro e<br />

que a ligação erótica ao Outro está ausente. O que significa que, se tiramos “Eros” <strong>de</strong> auto-<br />

erotismo, temos autismo, estaríamos diante <strong>de</strong> um autismo.<br />

Assim, para Laznik, o interesse <strong>de</strong>sses dois sinais é permitir um diagnóstico precoce e<br />

<strong>uma</strong> intervenção. Ela consi<strong>de</strong>ra que a falha constituída pela não-instauração <strong>de</strong>ste terceiro<br />

tempo do circuito pulsional po<strong>de</strong> tanto vir da mãe <strong>com</strong>o da criança. E que nos dois casos, em<br />

“<strong>uma</strong> certa contribuição libidinal da parte <strong>de</strong> um psicanalista que saiba trabalhar <strong>com</strong> a<br />

relação <strong>pais–bebês</strong>”, po<strong>de</strong> haver restabelecimento do circuito pulsional <strong>com</strong>pleto.<br />

Nessa mesma linha <strong>de</strong> pesquisa temos também um estudo multicêntrico realizado em<br />

<strong>de</strong>z capitais brasileiras e financiado pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>. O título da pesquisa é Sinais <strong>de</strong><br />

risco para o <strong>de</strong>senvolvimento infantil 65 . Essa pesquisa tem dois focos: o ato médico e a<br />

relação mãe–criança. O foco no ato médico preten<strong>de</strong> abrir para o pediatra, durante a pesquisa<br />

e na sua prática, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verificar, via observação direta, a implicação dos estados<br />

psíquicos do bebê e <strong>de</strong> sua mãe no <strong>de</strong>senvolvimento da criança; e outro foco é a relação mãe–<br />

bebê <strong>com</strong>o base da subjetivação para o bebê. Assim, eles formalizam quatro eixos que<br />

64 LAZNIK, op.cit., p. 28.<br />

65 Grupo Nacional <strong>de</strong> Pesquisa (GNP): Pesquisa multicêntrica <strong>de</strong> indicadores clínicos <strong>de</strong> risco para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento infantil. In Proceedings of the Colóquio franco-brasileiro sobre a clínica <strong>com</strong> bebês, 2005.<br />

Excluído: ver no verso <strong>de</strong>ssa<br />

página Alfredo N.<br />

Excluído: e<br />

Excluído: lhe<br />

Excluído:<br />

Excluído: (p. 28, a voz)<br />

Excluído: da<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: pais-bebês<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -<br />

Excluído: ra<br />

Excluído:


consi<strong>de</strong>ram fundamentais na relação mãe-filho, e que balizam a constituição da subjetivida<strong>de</strong>.<br />

A hipótese que eles fazem é que a ausência <strong>de</strong>stes aponta para problematizações na estrutura<br />

da subjetivida<strong>de</strong>. Esses eixos são a base dos indicadores. Seria então a ausência <strong>de</strong>sses<br />

indicadores que apontaria para um risco, para o <strong>de</strong>senvolvimento infantil.<br />

37<br />

Os quatro eixos fundamentais na relação mãe-filho são:<br />

1. Supor um sujeito: o bebê, quando nasce, está ainda inconsituido enquanto sujeito. Será<br />

necessário <strong>uma</strong> ação da mãe que vai supor nele um sujeito, vai antecipar um sujeito<br />

para que ele venha a se consitutir <strong>com</strong>o tal. Será então a partir <strong>de</strong>ssa suposição que,<br />

por exemplo, o grito do bebê po<strong>de</strong>rá ser interpretado <strong>com</strong>o apelo pela mãe, abrindo<br />

asim a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse apelo revestir-se <strong>de</strong> significação para ele e para a mãe.<br />

2. Estabelecer a <strong>de</strong>manda da criança: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as primeiras reações<br />

involuntárias apresentadas por um bebê ao nascer, tais <strong>com</strong>o choro, sejam<br />

reconhecidas pela mãe <strong>com</strong>o um pedido que a criança lhe faz e diante do qual a mãe se<br />

coloca em posição <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r. Isso implica que inicialmente a mãe faça <strong>uma</strong><br />

interpretação na qual usa linguagem, “traduz” em palavras as ações da criança e traduz<br />

em ações suas próprias palavras.<br />

3. Alternar presença e ausência: significa que a mãe no lugar do Outro materno não<br />

responda ao bebê apenas <strong>com</strong> presença ou apenas <strong>com</strong> ausência, mas que faça <strong>uma</strong><br />

alternância, não só física, mas simbólica. Assim, entre a <strong>de</strong>manda da criança e a<br />

experiência <strong>de</strong> satisfação, proporcionada pela mãe, espera-se que haja um intervalo,<br />

para que possa surgir a resposta da criança. Para que um bebê possa advir <strong>com</strong>o ser<br />

<strong>de</strong>sejante é imprescindível que ele possa ter essa experiência <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>.<br />

4. 4. Função paterna (alterização): Para que a função paterna se efetive é necessário que<br />

a mãe se dirija à criança em referência a um terceiro, não colocando-o <strong>com</strong>o um objeto<br />

do seu capricho. Será a função paterna que vai possibilitar à criança se distanciar do<br />

outro e utilizar a linguagem em sua função simbólica, <strong>com</strong>o propensa a procurar novas<br />

formas <strong>de</strong> satisfação.<br />

Para os autores da pesquisa, esses quatro diferentes eixos não ocorrem separadamente,<br />

mas se recortam nos cuidados que a mãe dirige à criança e também nas produções da criança,<br />

testemunhando os efeitos <strong>de</strong> tais marcas. O grupo nacional <strong>de</strong> pesquisa vai então propor esses<br />

quatro eixos <strong>com</strong>o base para os indicadores, para diferenciar-se da maioria dos indicadores <strong>de</strong><br />

Excluído: e a<br />

Excluído: ess<br />

Excluído: Ou seja,<br />

Excluído: .<br />

Os eixos supõem um sujeito<br />

Excluído: Diz respeito à n<br />

Excluído: ecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

antecipação do agente materno em<br />

relação ao bebê que está em via <strong>de</strong><br />

se constituir. Sua constituição<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa antecipação. É a<br />

partir <strong>de</strong>ssa suposição que o grito<br />

do bebê, por exemplo, po<strong>de</strong>rá ser<br />

tomado <strong>com</strong>o apelo pela mãe e,<br />

assim, interpretado por ela. Isso<br />

abre a possibilida<strong>de</strong> que esse<br />

objeto seja revertido <strong>de</strong><br />

significação para ele e para a mãe.<br />

Formatados: Marcadores e<br />

numeração<br />

Excluído: -<br />

Excluído: e<br />

Excluído: realize<br />

Excluído: <br />

Formatados: Marcadores e<br />

numeração<br />

Excluído: o<br />

Excluído: d<br />

Excluído: s pesquisadores vão<br />

Excluído:


iscos que são propostos, e que são realizados a partir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado conceito <strong>de</strong><br />

38<br />

<strong>de</strong>senvolvimento que não leva em conta o conceito <strong>de</strong> sujeito.<br />

Esses indicadores, propostos a partir <strong>de</strong> um conceito <strong>de</strong>terminado <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

são propostos a partir <strong>de</strong> escalas <strong>de</strong> avaliação do <strong>de</strong>senvolvimento, e são separados por área<br />

funcional: psi<strong>com</strong>otora, perceptiva, psicológica, cognitiva, social... e o grupo nacional <strong>de</strong><br />

pesquisa consi<strong>de</strong>ra que se trata <strong>de</strong> <strong>uma</strong> concepção equivocada, porque é parte <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

fragmentação da criança e que <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra a interligação das funções nesses momentos<br />

precoces da vida.<br />

Por isso, eles vão propor outros indicadores que foram concebidos a partir <strong>de</strong> dados<br />

colhidos por psicanalistas nos últimos 50 anos, em experiências <strong>de</strong> atendimento clínico <strong>de</strong><br />

crianças <strong>com</strong> patologias graves já instaladas. Baseando-se no histórico <strong>de</strong>ssas crianças, foi<br />

possível reconstruir os primeiros sinais, na primeira infância, do que mais tar<strong>de</strong> viria a se<br />

constituir <strong>com</strong>o psicopatologia.<br />

Assim, esses indicadores possibilitam <strong>uma</strong> leitura das incidências psíquicas das<br />

manifestações da criança “no sistema <strong>de</strong> relação que se estabelece entre ela e sua mãe”. Esses<br />

indicadores se apóiam n<strong>uma</strong> concepção da criança <strong>com</strong>o fazendo parte <strong>de</strong> um mundo<br />

essencialmente simbólico. O que implica que, para que a criança participe <strong>de</strong>sse mundo, ela<br />

precisa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estrutura psíquica que possa organizar as funções e os sistemas <strong>de</strong> relações.<br />

Essa estrutura se constitui a partir da mãe ou <strong>de</strong> quem está no lugar <strong>de</strong> Outro primordial, por<br />

isso, será necessário investigar se encontramos as condições necessárias ao estabelecimento<br />

<strong>de</strong>sse laço, para que se constitua a estrutura.<br />

Indicadores associados à fundamentação teórica:<br />

Indicadores<br />

Eixos:<br />

SS – supor um sujeito<br />

ED – estabelecimento da <strong>de</strong>manda<br />

PA – alternância presença–ausência<br />

FP – função paterna<br />

Investigação: observação/interrogatório<br />

Indicadores Eixos Investigação<br />

Observação/Interrogatório<br />

(0 a 4 meses in<strong>com</strong>pletos)<br />

Excluído: O<br />

Excluído: propostos<br />

Excluído: o<br />

Excluído: eles<br />

Excluído: m<br />

Excluído: fragmentada<br />

Excluído: o<br />

Excluído: n<br />

Excluído: constitui<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -


1. Quando a criança chora<br />

ou grita, a mãe sabe o que ela<br />

quer<br />

2. A mãe fala <strong>com</strong> a<br />

criança num estilo<br />

particularmente dirigido a ela<br />

(mamanhês)<br />

3. A criança reage ao<br />

mamanhês<br />

4. A mãe propõe algo à<br />

criança e aguarda a sua reação<br />

5. Há troca <strong>de</strong> olhares entre<br />

a criança e a mãe<br />

39<br />

SS/ED Dar preferência à observação direta,<br />

interrogatório somente se necessário<br />

SS Observação direta/Se necessário solicite<br />

que a mãe fale <strong>com</strong> a criança <strong>com</strong>o faz<br />

habitualmente<br />

ED Privilegiar observação direta<br />

PA Observação direta<br />

SS/PA Observação direta<br />

Indicadores Eixos Investigação<br />

Observação/ Interrogatório<br />

(4 a 8 meses<br />

in<strong>com</strong>pletos)<br />

6. A criança <strong>com</strong>eça a ED/PA Interrogatório<br />

diferenciar o dia da noite<br />

7. A criança utiliza<br />

sinais diferentes para<br />

expressar suas diferentes<br />

necessida<strong>de</strong>s<br />

8. A criança solicita à<br />

mãe e faz um intervalo para<br />

aguardar sua resposta<br />

9. A mãe fala <strong>com</strong> a<br />

criança dirigindo-lhe<br />

pequenas frases<br />

10. A criança reage<br />

(sorri, vocaliza) quando a<br />

mãe ou outra pessoa está se<br />

dirigindo a ela<br />

11. A criança procura<br />

ativamente o olhar da mãe<br />

12. A mãe dá suporte<br />

às iniciativas da criança sem<br />

poupar-lhe esforços<br />

13. A criança pe<strong>de</strong><br />

ajuda <strong>de</strong> outra pessoa sem<br />

ficar passiva<br />

ED Observação e interrogatório<br />

ED/PA Observação<br />

SS/PA Observação<br />

ED Observação/ solicitar à mãe<br />

que se dirija à criança/ dirigir-se à<br />

criança<br />

ED/PA Somente observação<br />

SS/ED/PA Observação direta/ solicitar à<br />

mãe que aju<strong>de</strong> a criança em alg<strong>uma</strong><br />

ativida<strong>de</strong> e observar<br />

ED/FP Observação<br />

Indicadores Eixos Investigação<br />

Observação/ Interrogatório<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .


(8 a 12 meses)<br />

14. A mãe percebe que<br />

alguns pedidos da criança<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong><br />

chamar a sua atenção<br />

15. Durante os<br />

cuidados corporais, a criança<br />

busca ativamente jogos e<br />

brinca<strong>de</strong>iras amorosas <strong>com</strong> a<br />

mãe<br />

16. A criança<br />

<strong>de</strong>monstra gostar ou não<br />

gostar <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> coisa<br />

17. Mãe e criança<br />

<strong>com</strong>partilham <strong>uma</strong><br />

linguagem particular<br />

18. A criança estranha<br />

pessoas <strong>de</strong>sconhecidas para<br />

ela<br />

19. A criança possui<br />

objetos prediletos<br />

20. A criança faz<br />

gracinhas<br />

21. A criança busca o<br />

olhar <strong>de</strong> aprovação do adulto<br />

22. A criança aceita<br />

alimentação semi-sólida,<br />

sólida e variada<br />

40<br />

ED/SS Interrogatório/ a criança pe<strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> coisa, mas tem outras<br />

intenções<br />

ED Observar, sobretudo, no<br />

vestir e <strong>de</strong>svestir a criança<br />

ED Observar e, se necessário,<br />

interrogar<br />

SS/PA Observar<br />

FP Observar e, se necessário,<br />

interrogar<br />

ED Interrogar<br />

ED Observar e interrogar<br />

ED Observar<br />

ED Interrogar<br />

Indicadores Eixos Investigação<br />

Observação/Interrogatório<br />

(12 a 18 meses)<br />

23. A mãe alterna<br />

momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação à<br />

criança <strong>com</strong> outros<br />

interesses<br />

24. A criança reage<br />

bem às breves ausências da<br />

mãe e reage a ausências<br />

prolongadas<br />

ED/FP Interrogatório, se possível<br />

observar na consulta<br />

ED/FP Interrogatório<br />

Excluído:


25. A mãe oferece<br />

brinquedos <strong>com</strong>o<br />

alternativas para o interesse<br />

da criança pelo corpo<br />

materno<br />

26. A mãe já não se<br />

sente mais obrigada a<br />

satisfazer tudo que a criança<br />

pe<strong>de</strong><br />

27. A criança olha <strong>com</strong><br />

curiosida<strong>de</strong> para o que<br />

interessa à mãe<br />

28. A criança gosta <strong>de</strong><br />

brincar <strong>com</strong> objetos usados<br />

pela mãe e pelo pai<br />

29. A mãe <strong>com</strong>eça a<br />

pedir à criança que nomeie o<br />

que <strong>de</strong>seja, não se<br />

contentando apenas <strong>com</strong><br />

gestos<br />

30. Os pais colocam<br />

pequenas regras <strong>de</strong><br />

<strong>com</strong>portamento à criança<br />

31. A criança<br />

diferencia objetos maternos,<br />

paternos e próprios<br />

41<br />

ED/FP Observação ou interrogatório<br />

FP Observação ou interrogatório<br />

SS/FP Privilegiar a observação<br />

FP Interrogatório<br />

FP Observação ou interrogatório<br />

FP Observação ou interrogatório<br />

FP Observação ou interrogatório<br />

Parece-nos importante apresentar essa pesquisa <strong>uma</strong> vez que ela é proposta por um<br />

grupo nacional <strong>de</strong> pesquisa que tem por foco o ato médico e a relação mãe-bebê. O objetivo<br />

do grupe é forjar um instrumento que dê subsídios aos pediatras para que eles possam <strong>de</strong>tectar<br />

o mais cedo possível crianças em situação <strong>de</strong>licada, que po<strong>de</strong>m ser autistas ou psicóticas mas<br />

que, por serem muito pequenas, é muito difícil nos darmos conta disso. Parece-nos pertinente<br />

<strong>uma</strong> vez que sabemos, através da clínica, que a estrutura se faz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo.<br />

Nesse sentido, essa gra<strong>de</strong> nos dá subsídios para a observação <strong>de</strong> elementos que são<br />

pertinentes para nos ajudar a pensar o que estaria em jogo tão cedo para essa criança e <strong>com</strong>o<br />

termos acesso a elas. Parece-nos importante também esse trabalho <strong>de</strong> sensibilização e<br />

formação dos pediatras <strong>uma</strong> vez que eles estão na linha <strong>de</strong> frente em contato <strong>com</strong> as mães e os<br />

bebês <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento e que o olhar <strong>de</strong>les para essa questão é fundamental: eles são os<br />

principais possíveis encaminhadores para um tratamento psicanalítico.<br />

Excluído: <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Excluído: Nos p<br />

Excluído: arece mais


42<br />

No entanto, na nossa opinião, esse tipo <strong>de</strong> gra<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ser aplicada <strong>de</strong> maneira não<br />

advertida, <strong>uma</strong> vez que é <strong>uma</strong> gra<strong>de</strong> psicológica fundamentada na observação do<br />

<strong>com</strong>portamento. Nesse sentido, ela não é um instrumento que leva a <strong>uma</strong> escuta ou a <strong>uma</strong><br />

leitura psicanalítica por si só. Ela nos parece interessante para ser utilizada <strong>com</strong>o algo que, no<br />

um a um <strong>de</strong> cada criança, vai colocar em tensionamento essa observação, vai dialetizar esses<br />

elementos observados, submetendo-os um a um à escuta <strong>de</strong> um analista<br />

Avançamos isso, apoiano-nos no que o método analítico nos ensina, no que a partir <strong>de</strong>le<br />

po<strong>de</strong>mos ler, apostando num tensionamento entre nossa leitura e o saber dos pediatras, da<br />

puericultura, das enfermeiras, das pessoas que trabalham no programa médico da família, ou<br />

seja, apostar num trabalho que não sobrepõe os saberes, mas os enlaça <strong>de</strong> tal forma que eles<br />

possam operar num mesmo campo <strong>com</strong> <strong>uma</strong> exteriorida<strong>de</strong> entre si.<br />

Po<strong>de</strong>mos então verificar que os indicadores têm <strong>com</strong>o base os quatros eixos, que são noções<br />

fundamentais na psicanálise. Assim, propõe-se que o sinal <strong>de</strong> risco estaria na ausência dos<br />

indicadores. Trata-se então <strong>de</strong> um método que passa pela observação e que se diz<br />

psicanalítico.<br />

Do nosso ponto <strong>de</strong> vista encontramos aí um equivoco. Porque nos parece que a partir<br />

da ética da psicanálise não é possível transformar presença, ausência, <strong>de</strong>manda, suposição <strong>de</strong><br />

saber, em coisas observáveis , mensuráveis, apreensíveis, or<strong>de</strong>náveis.<br />

O método analítico é outro, não existe <strong>uma</strong> or<strong>de</strong>nação do normal ou do patológico.<br />

Para Freud, o patológico é a via <strong>de</strong> acesso à verda<strong>de</strong> possível do sujeito, o “aberrante” é que<br />

revela o normal, é aquilo que o normal escon<strong>de</strong>. Dessa forma o método analítico constitui-se<br />

em um princípio que é <strong>de</strong>terminante na maneira <strong>com</strong>o vamos abordar os indícios <strong>de</strong> que há<br />

sofrimento psíquico, não po<strong>de</strong> ser então pela via do que <strong>de</strong>ve ser, ou seja, pela via da<br />

normalida<strong>de</strong>, <strong>com</strong>o nos parece estar proposto no caso <strong>de</strong>ssa pesquisa do GNP, a partir dos<br />

indicadores <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>. Para a gente, partir do método analítico seria, pelo contrário, nos<br />

<strong>de</strong>ixar guiar pelo o adoecimento do infans para analisar o que está em jogo para ele.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos que só é possível saber caso a caso, na via <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> cada um.<br />

E <strong>com</strong>o vimos até agora, a partir do discurso, do encontro do outro e do Sujeito, só<br />

<strong>de</strong>pois po<strong>de</strong>remos fazer <strong>uma</strong> leitura <strong>com</strong> o que se transmite nos intervalos do discurso, não no<br />

que é falado ao pé da letra.<br />

Excluído: nos apoiarmos<br />

Excluído: no<br />

Excluído: trabalhão<br />

Excluído: medico<br />

Excluído: m<br />

Excluído: m<br />

Excluído:<br />

Excluído: trabalhar<br />

Excluído: ele<br />

Excluído: se<br />

Inserido: se<br />

Excluído: o.<br />

Excluído: E<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: medível<br />

Excluído: dí<br />

Inserido: dínsurá<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído: <br />

Excluído: a<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: ´´<br />

Excluído: ´´<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: (colocar ref,. Em ... pé [27]<br />

<strong>de</strong><br />

Excluído: ,<br />

Excluído: pricipio<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: contrario<br />

Excluído: esta<br />

Excluído: o infans<br />

Excluído:<br />

Excluído: no<br />

Excluído: que no


43<br />

III. Alienação e separação<br />

Excluído: Nesse sentido nos<br />

parece muito <strong>de</strong>licado propor esses<br />

instrumentos.<br />

Quebra <strong>de</strong> página<br />

Excluído: CAPÍTULO II<br />

ALIENAÇÃO E SE


44<br />

Abordaremos os conceitos <strong>de</strong> alienação e separação articulados <strong>com</strong> questões do sujeito<br />

e do <strong>de</strong>sejo do Outro, a partir do ensino <strong>de</strong> Lacan e do estudo feito sobre o assunto por Bruce<br />

Fink. Lacan dirá que se trata <strong>de</strong> duas operações na relação do Sujeito ao Outro. O conceito <strong>de</strong><br />

alienação trata do assujeitamento do Sujeito ao Outro da linguagem, enquanto o conceito <strong>de</strong><br />

separação trata da relação do sujeito alienado <strong>com</strong> o Outro <strong>com</strong>o <strong>de</strong>sejo.<br />

Se tomarmos o conceito lacaniano <strong>de</strong> alienação, po<strong>de</strong>mos dizer que a criança constitui-<br />

se a partir da linguagem do Outro, ao qual <strong>de</strong>ve assujeitar-se para alcançar a condição <strong>de</strong><br />

sujeito. Só quando a criança é assujeitada ao Outro é que o significante po<strong>de</strong> substituí-la.<br />

Lacan escreve Outro/criança. Na alienação, segundo Lacan, há <strong>uma</strong> “escolha forçada” por<br />

parte da criança em alienar-se ao Outro da linguagem. Freud 66 já havia falado em escolha ou<br />

eleição da neurose. Para Lacan, há sempre um tipo <strong>de</strong> escolha em jogo na aceitação da criança<br />

à sujeição a esse Outro. Há, precisamente, <strong>uma</strong> “escolha forçada” por parte da criança em<br />

alienar-se ao Outro da linguagem. “A psicanálise, então, nos lembra que os fatos da psicologia<br />

h<strong>uma</strong>na não po<strong>de</strong>riam conceber na ausência da função do sujeito <strong>de</strong>finido <strong>com</strong>o efeito do<br />

significante” 67 .<br />

Parece-nos importante <strong>de</strong>stacar aqui a radicalida<strong>de</strong> que Lacan traz nesse paradoxo, <strong>uma</strong><br />

vez que, se é “forçada”, é para dizer que não há <strong>com</strong>o não se tornar sujeito da linguagem,<br />

senão é a morte. É nesse sentido que Freud já havia falado <strong>de</strong> Bejahung 68 , que é o sim para a<br />

linguagem. De fato, esse que faz a escolha forçada antes não é ninguém. Nessa perspectiva<br />

estrutural, constatamos, então, que o termo “escolha” se refere ao fato <strong>de</strong> que tem que ser<br />

possível haver um não, mas que ela é forçada porque tem que se dizer sim para a linguagem,<br />

um sim forçado, senão o ser morre, ele não advém <strong>com</strong>o sujeito.<br />

Po<strong>de</strong>ríamos metaforizar a sujeição do sujeito à linguagem da seguinte forma: trata-se <strong>de</strong><br />

um movimento pelo qual o Outro chega e tenta recobrir o ser <strong>de</strong> sentido, tenta lhe atribuir<br />

sentido. Uma vez que, ao recobrir o sujeito <strong>com</strong> o seu significante, ele reduz o sujeito a um<br />

66<br />

FREUD, Sigmund (1911), Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental, in ESB,<br />

Vol XII; AE, vol. XII.<br />

67<br />

LACAN, Jacques (1964), O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 196.<br />

68<br />

Freud introduziu esse termo em 1925, no artigo "A negativa" (AE, vol. XXI; ESB, vol. XIX).<br />

Excluído: .<br />

Excluído: .<br />

Excluído: XII<br />

Excluído: .<br />

Excluído:<br />

Excluído: Esb<br />

Excluído: PARAÇÃO<br />

Excluído: -se<br />

Excluído: d<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: <br />

“<br />

Excluído: ”<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído:


significante, “petrificando-o pelo mesmo movimento <strong>com</strong> que o chama a funcionar, a falar<br />

<strong>com</strong>o sujeito” 69 .<br />

45<br />

Produz-se então um movimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecimento do sujeito, a afânise. Para Lacan,<br />

linguagem e <strong>de</strong>sejo integram a estrutura, <strong>uma</strong> vez que o significante, ao representar, substituir<br />

o sujeito, constitui um vazio, um furo, relançando e causando o <strong>de</strong>sejo.<br />

O <strong>de</strong>sejo nasce, portanto, do furo da estrutura. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> operação estrutural, não<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> operação <strong>de</strong>senvolvimentista na qual algo, no infans, estaria previamente,<br />

geneticamente nele e que o Outro viria apenas estimular para que o infans se <strong>de</strong>senvolva bem.<br />

A alienação<br />

Na alienação, temos então o assujeitamento que parte do <strong>de</strong>sejo do Outro que estava lá<br />

antes do seu nascimento, e que consiste na constituição do sujeito a partir do Outro <strong>com</strong>o<br />

linguagem; isso significa que, a partir do <strong>de</strong>sejo do Outro, ou seja, dos significantes que ele<br />

oferece ao sujeito, a partir do seu <strong>de</strong>sejo, o sujeito se constitui. Este <strong>de</strong>sejo consiste na falta,<br />

no furo estrutural, constituído pela linguagem, que, ao representar o sujeito <strong>com</strong> os<br />

significantes, num mesmo movimento representa o sujeito, o assujeita, escon<strong>de</strong>ndo-o por trás<br />

do significante, constituindo assim o furo, a falta e a divisão do sujeito.<br />

Parece-nos interessante marcar aqui que Lacan articula esse processo entre o sujeito e o<br />

Outro <strong>com</strong>o circular, sem reciprocida<strong>de</strong>, “do sujeito chamado ao Outro, ao sujeito pelo que<br />

ele viu a si mesmo aparecer no campo do Outro, do Outro que lá retorna” 70 .<br />

Assim o significante, produzindo-se no campo do Outro, engendra o sujeito <strong>de</strong> sua<br />

significação. No entanto, ao funcionar <strong>com</strong>o significante, ele reduz o sujeito a apenas ser um<br />

significante, petrificando-o pelo mesmo movimento a ser sujeito e fazendo <strong>com</strong> que ele<br />

<strong>de</strong>sapareça, se <strong>de</strong>svaneça, produzindo a afânise do sujeito. Vemos aqui <strong>com</strong>o é importante<br />

esta afânise do sujeito, <strong>com</strong>o ela é estruturalmente necessária para que possa haver esse ponto<br />

<strong>de</strong> falta estrutural que possibilita que o sujeito surja.<br />

Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> operação na qual o sujeito, que <strong>de</strong> início é nada, passa a ser alg<strong>uma</strong><br />

coisa a partir do outro, que lhe dirige a palavra, recobrindo-o <strong>com</strong> significantes. Nesse<br />

69 LACAN, Jacques (1964), O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 197.<br />

70 LACAN, Jacques, op.cit., p. 196.<br />

Excluído: (197)<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: Nos parece muito<br />

importante constatar que se t<br />

Excluído: e não <strong>de</strong> algo prévio,<br />

genético, que o Outro viria apenas<br />

estimular <strong>uma</strong> lógica<br />

<strong>de</strong>senvolvimentista.<br />

Excluído: 2.1.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: traz<br />

Excluído:<br />

Excluído: o sujeito dividido entre<br />

o sujeito do enunciado e o sujeito<br />

da enunciação<br />

Excluído: (isso está correto?)<br />

Excluído: Nos p<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: o<br />

Excluído: o<br />

Excluído: (ref)sem 11 os<br />

conceitos...<br />

Excluído: ele,<br />

Inserido: ,<br />

Excluído: que<br />

Excluído: ar


momento, o sujeito, que é nada, é representado por um significante, S1. Há, então, S1,<br />

significante petrificado, porque não remete a nada, o que Lacan chama petrificação do sujeito,<br />

eclipsado pelo S1 e que, portanto, é sem sentido.<br />

46<br />

Devemos <strong>de</strong>stacar que essa falta é <strong>uma</strong> metáfora para falar <strong>de</strong> algo que não está em seu<br />

lugar. O que Lacan quer mostrar é que, para algo faltar, é imprescindível que tenha estado em<br />

um lugar referenciado a algum tipo <strong>de</strong> estrutura simbólica. A alienação confere um lugar, na<br />

or<strong>de</strong>m simbólica, ao sujeito – este passa a ser representado por um significante e, assim, é<br />

“eclipsado pela linguagem”. O sujeito está, então, ligado a <strong>uma</strong> condição <strong>de</strong> falta-a-ser. Lacan<br />

<strong>de</strong>fine a alienação <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> operação que se constitui na relação <strong>com</strong> o Outro, em <strong>uma</strong><br />

lógica <strong>de</strong> união do sujeito ao Outro, que, no entanto, leva em conta a falta-a-ser.<br />

Será necessário um outro significante, S2, que retroativamente fará surgir um efeito <strong>de</strong><br />

sentido. Lacan <strong>de</strong>monstra que há, na operação <strong>de</strong> alienação, um passo lógico, necessário para<br />

que o sujeito possa advir a partir do Outro, do significante do Outro, na condição <strong>de</strong> fazer <strong>uma</strong><br />

escolha forçada que o leve do não ser ao ser, do não-sentido à escolha do sentido. O que é<br />

muito importante é que essa escolha do sentido consiste n<strong>uma</strong> escolha forçada e, na sua<br />

própria estrutura, essa lógica evi<strong>de</strong>ncia a escolha pelo sentido e faz surgir a parte <strong>de</strong> não-<br />

sentido sempre presente e incluída no sentido.<br />

Assim a alienação é constituída por um tipo <strong>de</strong> vel, ou seja, <strong>de</strong> escolha, que tem <strong>com</strong>o<br />

conseqüência que o sujeito aparece na divisão, se ele aparecer <strong>de</strong> um lado <strong>com</strong>o sentido, <strong>com</strong>o<br />

efeito do significante, do outro ele aparecerá <strong>com</strong>o afânise. O vel da alienação se <strong>de</strong>fine pela<br />

forma lógica da reunião – Lacan explica <strong>com</strong> conjuntos e nos mostra que <strong>uma</strong> coisa é<br />

adicionar coleções e outra é reuni-las.<br />

Dessa forma, quando estamos na lógica da reunião, há elementos que po<strong>de</strong>m pertencer<br />

aos dois conjuntos. Ele exemplifica <strong>com</strong> dois círculos contendo cinco elementos em cada um;<br />

um círculo <strong>de</strong>monstra que na lógica da adição teremos <strong>de</strong>z elementos, enquanto na lógica da<br />

reunião há os elementos que po<strong>de</strong>m pertencer aos dois círculos, e reuni-los não consiste em<br />

reduplicá-los, mas em ter na reunião oito elementos 71 .<br />

71 LACAN, Jacques (1964), O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 200.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: irá<br />

Excluído: zer<br />

Excluído: –<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: –<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: aparecera<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: 5<br />

Excluído: i<br />

Excluído: a e<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: (ref)sem 11 p.200<br />

Inserido: (ref)sem 11 p.200


47<br />

Por conseqüência, temos na reunião um elemento que se sustenta pelo fato <strong>de</strong> que,<br />

qualquer que seja a escola que se opera, temos por conseqüência um nem um, nem outro.<br />

Temos aí um tipo <strong>de</strong> escolha em que se a gente preten<strong>de</strong>r guardar <strong>uma</strong> das partes, a outra<br />

<strong>de</strong>saparece em cada caso.<br />

A partir disso, se escolhemos o ser, o sujeito <strong>de</strong>saparece, ele se esquiva, cai no não-<br />

senso; se escolhemos o sentido (o significante), ele subsiste <strong>de</strong>cepado <strong>de</strong>ssa parte <strong>de</strong> não-<br />

senso que constitui a realização do sujeito, e que é o inconsciente. Assim o sentido surge no<br />

campo do Outro, e é em boa parte eclipsado pelo <strong>de</strong>saparecimento do ser, em conseqüência da<br />

função do significante.<br />

Embora não estejamos aqui tratando do conceito <strong>de</strong> interpretação, nos parece<br />

importante, em função da tentativa <strong>de</strong> formalização da clínica que abordaremos no próximo<br />

capítulo, observar que, a partir do que acabamos <strong>de</strong> ver, Lacan dirá que a interpretação não<br />

visa tanto o sentido, mas visa sobretudo reduzir os significantes a seu não-senso, para que se<br />

possa reencontrar “os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> toda a conduta do sujeito” 72 . A interpretação não visa<br />

o que diz o significante ao pé da letra, não é o que está sendo falado, mas sim o que po<strong>de</strong>mos<br />

ler no intervalo entre eles, ou seja, não é tanto o que ele afirma, mas o que ele aponta.<br />

Trata-se então, <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> vel alienante, que traz um paradoxo. Lacan vai ilustrá-lo<br />

<strong>com</strong> a expressão a bolsa ou a vida, ou seja, “é <strong>uma</strong> vida <strong>de</strong>cepada”. Parece-nos que aqui<br />

Lacan quer ilustrar que, no confronto do sujeito <strong>com</strong> o Outro, o primeiro sai <strong>de</strong> cena <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início – <strong>uma</strong> vez que, na operação <strong>de</strong> alienação, o Outro, ao recobrir o ser <strong>com</strong> o sentido,<br />

produz um furo, <strong>uma</strong> falta, já que o significante que vem do Outro se sobrepõe a esse ser que<br />

agora não é mais ser, mas sujeito.<br />

A separação<br />

A segunda operação é a separação. Segundo Lacan, ela é fundada na subestrutura da<br />

interseção ou produto. Sabemos que a interseção <strong>de</strong> dois conjuntos é constituída pelos<br />

elementos que fazem parte dos dois conjuntos. É na lógica da interseção que a operação da<br />

separação vai se constituir.<br />

72 LACAN, Jacques (1964), O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 201.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: teremos que<br />

Excluído: Se<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: n<br />

Excluído: clinica<br />

Excluído: capitulo<br />

Excluído: trazer<br />

Excluído: (<strong>uma</strong> frase para<br />

explicar?)<br />

Excluído: intrpretaçao<br />

Excluído:<br />

Excluído: ’’<br />

Excluído: ‘’<br />

Excluído: pè<br />

Excluído:<br />

Excluído: è<br />

Excluído:<br />

Excluído: esta<br />

Excluído:<br />

Excluído: eles<br />

Excluído: è<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: A<br />

Excluído: Nos p<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: inicio<br />

Excluído: . U<br />

Excluído: <br />

Excluído: 2.2.<br />

Excluído: , s


48<br />

Segundo Lacan, essa operação vai se situar precisamente na lúnula, num <strong>espaço</strong> vazio<br />

entre dois, on<strong>de</strong> encontramos a forma da hiância, da borda. Uma vez que o Outro, ao <strong>de</strong>sejar<br />

para mais além do sujeito, constitui-se <strong>com</strong>o um outro a quem falta, que <strong>de</strong>seja e que, ao<br />

<strong>de</strong>sejar para mais além do sujeito, o barra, produz a castração no sujeito, produzindo-se <strong>uma</strong><br />

falta no sujeito, que é o que na operação <strong>de</strong> castração marca o sujeito <strong>com</strong> o que não é<br />

alienável no Outro ou não simbolizável, é o resto da operação, o que Lacan chama <strong>de</strong> objeto<br />

a; temos então o recobrimento <strong>de</strong> duas faltas, a do sujeito e a do Outro.<br />

Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> operação na qual a noção <strong>de</strong> interseção surge do recobrimento <strong>de</strong> duas<br />

faltas, a do sujeito e a do Outro.<br />

O sujeito encontra nos intervalos do discurso do Outro <strong>uma</strong> falta ou <strong>de</strong>sejo. Assim, o<br />

<strong>de</strong>sejo do Outro é apreendido pelo sujeito, no que no discurso do Outro falta <strong>uma</strong> cola. Lacan<br />

enten<strong>de</strong> então os “por que” da criança não simplesmente <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> avi<strong>de</strong>z da razão, mas<br />

<strong>com</strong>o <strong>uma</strong> questão acerca do enigma do <strong>de</strong>sejo do adulto. E nos esclarece que o primeiro<br />

objeto que o sujeito vai propor <strong>com</strong>o resposta para o enigma do objeto <strong>de</strong>sconhecido do<br />

<strong>de</strong>sejo parental é sua própria perda, ou seja, o primeiro objeto que o sujeito coloca em jogo<br />

nessa dialética é a fantasia <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>saparecimento,“po<strong>de</strong> ele me per<strong>de</strong>r?” 73<br />

Por isso Lacan afirma que <strong>uma</strong> falta recobre a outra: “Daí, a dialética dos objetos do<br />

<strong>de</strong>sejo, no que ela faz junção do <strong>de</strong>sejo do sujeito <strong>com</strong> o <strong>de</strong>sejo do Outro – há muito tempo<br />

que lhes disse que era a mesma coisa – essa dialética passa pelo seguinte: que aí ele não é<br />

respondido diretamente. É <strong>uma</strong> falta engendrada pelo tempo prece<strong>de</strong>nte que serve para<br />

respon<strong>de</strong>r à falta suscitada pelo tempo seguinte.” 74<br />

A separação constitui-se, então, na maneira pela qual o sujeito alienado procura<br />

posicionar-se em relação ao <strong>de</strong>sejo do Outro, ou seja, a criança está sempre tentando <strong>de</strong>scobrir<br />

qual seu lugar no <strong>de</strong>sejo do outro.<br />

Nesse sentido, a separação consiste na confrontação do sujeito <strong>com</strong> a falta, <strong>com</strong> o<br />

Outro, e é a tentativa do sujeito <strong>de</strong> fazer um laço não mais <strong>com</strong> o Outro do saber, <strong>com</strong>o na<br />

alienação, mas <strong>com</strong> o Outro do <strong>de</strong>sejo, a quem falta. Devemos esclarecer que para Lacan falta<br />

e <strong>de</strong>sejo são co-extensivos.<br />

Constatamos que, <strong>uma</strong> vez que a separação remete ao momento em que surge o não-<br />

sentido, a tomada <strong>de</strong> posição do sujeito é na direção <strong>de</strong> sua escolha forçada pelo sentido, ou<br />

73 LACAN, Jacques (1964), O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 203.<br />

74 LACAN, op.cit., p. 203.<br />

Excluído: … …alem … …i –…<br />

alem … …barra …castraçao<br />

sujeito … –…è ... [28]<br />

Excluído: o<br />

Excluído: È … …<br />

simbolisavel …è…operação ... [29]<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: , …recubrimento ... [30]<br />

Excluído: ,…,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ês<br />

Excluído: ,…,<br />

Excluído: do objeto<br />

<strong>de</strong>sconhecido<br />

Excluído: ,…<strong>de</strong>saparecimento ... [33]<br />

Excluído: .<br />

Excluído: 203<br />

Excluído: .…<br />

o<br />

Excluído: .<br />

Excluído:<br />

Excluído: (ref)p.203<br />

Excluído: através d<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,…Saber<br />

Excluído: não<br />

... [31]<br />

... [32]<br />

... [34]<br />

... [35]


seja, a partir da sua própria falta-a-ser o sujeito tenta preencher a falta-a-ser do Outro. A partir<br />

da tentativa <strong>de</strong> ser o objeto do <strong>de</strong>sejo da mãe, o <strong>de</strong>sejo da criança é constituído. Por isso, para<br />

Lacan 75 , o <strong>de</strong>sejo do homem é o <strong>de</strong>sejo do Outro. “Daí, a dialética dos objetos do <strong>de</strong>sejo (…)<br />

49<br />

faz a junção do <strong>de</strong>sejo do sujeito e do <strong>de</strong>sejo do Outro” 76<br />

O que nos parece fundamental na operação <strong>de</strong> separação é que Lacan <strong>de</strong>monstra que o<br />

<strong>de</strong>sejo da criança se torna possível pelo fato <strong>de</strong> o <strong>de</strong>sejo da mãe não se satisfazer <strong>com</strong> esta<br />

<strong>com</strong>o objeto que preenche sua falta. É esse corte que faz surgir o objeto a, <strong>com</strong>o resto, ou seja<br />

<strong>de</strong>sse verda<strong>de</strong>iro laço entre a falta do sujeito e a falta do Outro.<br />

A operação da separação implica <strong>uma</strong> lógica <strong>de</strong> “um ou outro no laço entre sujeito e<br />

outro. Nela constitui-se um corte no laço sujeito–outro, fazendo <strong>com</strong> que o <strong>de</strong>sejo do Outro se<br />

separe do sujeito. De fato, o <strong>de</strong>sejo do Outro escapa sempre ao sujeito, por estar se dirigindo a<br />

algo mais: é no intervalo entre esses dois significantes que vije o <strong>de</strong>sejo oferecido ao<br />

balisamento do sujeito na experiência do discurso do Outro, do primeiro Outro <strong>com</strong> o qual ele<br />

tem que lidar, digamos, para ilustrar, a mãe, no caso. É no que seu <strong>de</strong>sejo está para além ou<br />

aquém do que ela diz, do que ela intima, do que ela faz surgir <strong>com</strong> sentido, é no que o seu<br />

<strong>de</strong>sejo é <strong>de</strong>sconhecido, é nesse ponto <strong>de</strong> falta que se constitui o <strong>de</strong>sejo do sujeito.” 77 .<br />

Tal separação produz um resto, o objeto a, através do qual o sujeito se constitui <strong>com</strong>o<br />

<strong>de</strong>sejante. Lacan diz que o objeto a possibilita a constituição da fantasia, que sustenta a ilusão<br />

da totalida<strong>de</strong> na tentativa do sujeito <strong>de</strong> se livrar da divisão. Dessa operação surge a divisão do<br />

sujeito em eu e inconsciente, e a divisão do Outro em Outro falante e objeto a.<br />

Assim, segundo Bruce Fink, o corte no laço sujeito–outro produz, do lado do sujeito,<br />

<strong>uma</strong> divisão entre eu e inconsciente. O inconsciente consiste na fantasia $◊a. O <strong>de</strong>sejo do<br />

Outro é conservado na fantasia, enquanto o objeto a torna-se parceiro fantasístico. Ao entrar<br />

na fantasia, o objeto a torna-se um meio, um instrumento para o sujeito arranjar as coisas na<br />

cena da fantasia, na tentativa <strong>de</strong> obter prazer e emoção, “essa emoção, esteja ela relacionada a<br />

um sentimento consciente <strong>de</strong> prazer ou <strong>de</strong> dor, é o que os franceses <strong>de</strong>nominam jouissance<br />

[gozo]” 78 . Já do lado do Outro, o <strong>de</strong>sejo se livra do sujeito resultando na divisão do Outro em<br />

Outro Falante e objeto a. Destacamos, <strong>com</strong>o elemento da operação <strong>de</strong> separação, a produção<br />

75<br />

LACAN, op.cit.,Vea-se FINK, Bruce, O sujeito lacaniano entre a linguagem e o gozo, op.cit., p. 82<br />

76<br />

LACAN, Jacques (1964), O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 203.<br />

77<br />

LACAN, Jacques (1964), Op. Cit., p. 207.<br />

78<br />

FINK, Bruce, O sujeito lacaniano entre a linguagem e o gozo, op.cit., p. 82<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído: diz<br />

Excluído: : “Le désir <strong>de</strong><br />

Excluído: L’homme<br />

Excluído: l’homme, c’est le désir<br />

<strong>de</strong> l’Autre”<br />

Inserido: l’homme<br />

Excluído: .<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: -<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: irá<br />

Excluído: r<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: -<br />

Excluído: ( )<br />

Excluído:<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: fantasmático<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a


<strong>de</strong> um gozo, que resulta do movimento do sujeito em tentar <strong>de</strong>cifrar o <strong>de</strong>sejo do Outro. O<br />

gozo visa substituir essa perda.<br />

50<br />

Preten<strong>de</strong>mos agora <strong>de</strong>screver <strong>com</strong>o se daria a constituição do <strong>espaço</strong> subjetivo na<br />

operação <strong>de</strong> alienação e separação, em <strong>uma</strong> referência ao <strong>espaço</strong> criança e mãe ou infans e<br />

Outro materno 60 .<br />

Como vimos, a alienação é a operação na qual o sujeito está diante do Outro da<br />

linguagem, que é, geralmente, a mãe e que lhe en<strong>de</strong>reça a palavra, convidando-o a assujeitar-<br />

se. Trata-se da chamada “escolha forçada” ou o assujeitamento a um significante, o “eclipse”,<br />

e que tem, <strong>com</strong>o conseqüência, a marcação <strong>de</strong> um lugar subjetivo <strong>de</strong>ntro da or<strong>de</strong>m simbólica.<br />

Se retomarmos o <strong>espaço</strong> criança e Outro materno, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar <strong>com</strong>o é<br />

imprescindível que este se en<strong>de</strong>rece à criança, se interesse por ela, lhe oferecendo<br />

significantes, ou seja, é importante que o Outro materno transmita, em vez <strong>de</strong> mostrar para a<br />

criança, que é um sujeito <strong>de</strong>sejante, ou seja, que é faltante por ter se alienado à linguagem e<br />

ser, portanto, um sujeito dividido. A mãe investe na criança libinalmente, en<strong>de</strong>reçando-se a<br />

ela supondo um sujeito, antecipando o que ela acha que ela está querendo, precisando,<br />

conversando <strong>com</strong> ela, mas não sabendo <strong>de</strong> tudo, ou seja, barrada no seu saber, na sua posição<br />

subjetiva e, assim, não toda.<br />

É a partir do <strong>de</strong>sejo da mãe que a criança busca se situar, tentando fazer coincidir sua<br />

própria falta <strong>com</strong> a do Outro materno. Procura ser o objeto que satisfaz o <strong>de</strong>sejo da mãe: “o<br />

sujeito traz a resposta da falta antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seu próprio <strong>de</strong>saparecimento, que ele vem aqui<br />

situar no ponto <strong>de</strong> falta percebida do Outro” 79 . A criança quer ocupar o <strong>espaço</strong> vazio do<br />

Outro, quer saber que lugar ocupa no <strong>de</strong>sejo do Outro, quer ser amada. Segundo Lacan: “nos<br />

intervalos do discurso do Outro surge na experiência da criança o seguinte, que é radicalmente<br />

<strong>de</strong>stacável – ele me diz isso, mas o que é que ele quer” 80 .<br />

Assim, <strong>uma</strong> falta recobre a outra, “daí a dialética dos objetos do <strong>de</strong>sejo, no que ela faz a<br />

junção do <strong>de</strong>sejo do sujeito <strong>com</strong> o <strong>de</strong>sejo do Outro” 81 .<br />

Na maioria das vezes, o sujeito será barrado pelo Outro materno, que não o autoriza a<br />

ocupar todo o <strong>espaço</strong> do seu <strong>de</strong>sejo e mantém outros interesses. Lacan vai chamar esse<br />

79 LACAN, Jacques (1964), O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p. 203.<br />

80 Ibid.<br />

81 Ibid.<br />

Excluído: a<br />

Excluído: .<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: en<strong>de</strong>rensando<br />

Excluído: ele<br />

Excluído: esta<br />

Excluído:<br />

Excluído: presisando<br />

Excluído: s<br />

Excluído: ele<br />

Excluído: ,<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: .<br />

Excluído:<br />

Excluído: .<br />

Excluído: 61<br />

Excluído: . A criança<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: .<br />

Excluído: 62<br />

Excluído: .<br />

Excluído: 63


interesse <strong>de</strong> terceiro termo ou nome do pai, <strong>uma</strong> vez que age <strong>com</strong>o função paterna ou<br />

metáfora paterna. Trata-se da função <strong>de</strong> barrar ou interditar o sujeito para o Outro materno.<br />

Ou seja, não é necessário que seja <strong>uma</strong> pessoa, ou po<strong>de</strong> até ser <strong>uma</strong> pessoa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja um<br />

significante.<br />

51<br />

Assim, <strong>com</strong>o postula Bruce Fink, po<strong>de</strong>mos dizer que a linguagem tem <strong>uma</strong> função <strong>de</strong><br />

proteção em relação ao laço dual criança e mãe ou Outro materno. Protege, substituindo o<br />

<strong>de</strong>sejo da mãe por um nome. Isso já tem um efeito <strong>de</strong> separação, <strong>de</strong> diferenciação entre o<br />

sujeito e o <strong>de</strong>sejo do Outro. Temos, então, Nome do Pai/Desejo da Mãe. Ou seja, essa<br />

substituição, que se dá somente por meio da linguagem, ocorre pela instalação <strong>de</strong> um segundo<br />

significante, S2, que, retroativamente, transforma o primeiro significante em S1.<br />

O S2 é um significante que tem por função simbolizar o <strong>de</strong>sejo do Outro materno, ao<br />

transformá-lo em significante e, <strong>de</strong>ssa forma, cria <strong>uma</strong> separação necessária entre criança e o<br />

Outro materno. Essa separação tem <strong>com</strong>o efeito a saída do sujeito do campo do Outro e,<br />

portanto, <strong>uma</strong> mudança <strong>de</strong> posição na qual o primeiro passa a ocupar o lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejante.<br />

Com a separação, o corte no laço criança–Outro que mantinha a ilusão <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>,<br />

ocorre <strong>uma</strong> expulsão do sujeito do <strong>de</strong>sejo do Outro materno, que está mobilizado por algo<br />

além <strong>de</strong>le. Essa operação produz um ser que agora é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar.<br />

Alienação e separação: <strong>articulação</strong> da <strong>teoria</strong> <strong>com</strong> a clínica<br />

Preten<strong>de</strong>mos brevemente retomar os conceitos <strong>de</strong>senvolvidos nos capítulos prece<strong>de</strong>nte<br />

para, em seguida, articulá-los <strong>com</strong> a clínica. Começaremos <strong>com</strong> a contribuição <strong>de</strong> Eric<br />

Laurent, em seu artigo “Alienação e separação II” 82 , em que <strong>com</strong>enta o capítulo 16, “O sujeito<br />

e o Outro II, a afânise”, do Seminário 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise.<br />

Gostaríamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar primeiro que, segundo o autor, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> alienação que<br />

Lacan elabora coloca o Outro <strong>com</strong>o “lugar em que se situa a ca<strong>de</strong>ia significante que <strong>com</strong>anda<br />

tudo que vai po<strong>de</strong>r presentificar-se do sujeito” 83 . Há um laço entre o sujeito e o Outro que se<br />

constitui por alienação, <strong>uma</strong> vez que o sujeito só po<strong>de</strong>rá ser conhecido no lugar do Outro.<br />

82 LAURENT, Eric, “Alienação e separação", in FELDSTEIN, Richard, FINK Bruce e JAANUS Maire<br />

(orgs), Para ler o Seminário 11 <strong>de</strong> Lacan, Os quatro conceitos da psicanálise, Jorge Zahar Editor 1997, pp. 42-<br />

51.<br />

83 LACAN, Jacques, op.cit., pp. 193-194.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: -<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: 2.3.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: Afânise


52<br />

Na operação <strong>de</strong> alienação, o infans <strong>com</strong>eça a ser a partir do assujeitamento a um<br />

significante que vem do campo do Outro da linguagem. Ele é recoberto por um significante,<br />

ganhando um lugar no simbólico, que tem a função <strong>de</strong> possibilitar seu advento <strong>com</strong>o sujeito.<br />

O ser é representado por um significante, portanto eclipsado por trás <strong>de</strong>ste ou “petrificado”<br />

por um significante.<br />

Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> operação paradoxal: por um lado, o sujeito ganha, ao passar do nada<br />

para um ser representado por um significante – ganha um lugar na or<strong>de</strong>m simbólica e, a partir<br />

daí, po<strong>de</strong> <strong>com</strong>eçar a viver e a ser; por outro lado, a ação do significante sobre ele,<br />

arranhando 84 <strong>uma</strong> parte do seu ser, que não po<strong>de</strong> ser totalmente representada pelo significante<br />

e que o eclipsa ou o faz <strong>de</strong>saparecer por trás do significante.<br />

Na alienação, há um tipo <strong>de</strong> escolha forçada por parte do sujeito, do tipo ou/ou, “ou a<br />

bolsa ou a vida”. Ao fazê-la, po<strong>de</strong> ganhar a vida, a condição <strong>de</strong> ser, mas fica eclipsado pelo<br />

significante, tornando-se assim furo. Temos um sujeito na condição <strong>de</strong> furo, <strong>de</strong> marcador<br />

simbólico.<br />

Na segunda operação, a separação, temos o recobrimento <strong>de</strong> duas faltas. Lacan dirá que<br />

a falta do sujeito recobre a falta do Outro, instaurando a dialética do <strong>de</strong>sejo que é “o sujeito<br />

traz a resposta da falta antece<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> seu próprio <strong>de</strong>saparecimento, que ele vem aqui situar<br />

no ponto <strong>de</strong> falta percebida no Outro" 85 . Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> dialética, porque, a partir <strong>de</strong> sua<br />

falta, o sujeito busca <strong>uma</strong> resposta no Outro, produzindo <strong>uma</strong> falta entre o sujeito e o Outro.<br />

Aí temos o sujeito procurando saber sobre sua falta por meio da falta do Outro. Este percebe a<br />

falta no discurso do Outro e procura se alojar no ponto <strong>de</strong> falta percebido no Outro: “O<br />

primeiro objeto que ele propõe a esse <strong>de</strong>sejo parental cujo objeto é <strong>de</strong>sconhecido, é sua<br />

própria perda – po<strong>de</strong> ele me per<strong>de</strong>r?" 86<br />

O sujeito vai tentar correspon<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>sejo do Outro materno que, ao en<strong>de</strong>reçar seu<br />

próprio <strong>de</strong>sejo para além do sujeito, produz <strong>uma</strong> separação ao interditar que o sujeito seja o<br />

objeto do seu <strong>de</strong>sejo. Produz-se <strong>uma</strong> operação <strong>de</strong> castração na qual o sujeito é barrado,<br />

interditado nesse lugar, excluído do lugar <strong>de</strong> objeto. O <strong>de</strong>sejo do Outro passa a ser tomado<br />

<strong>com</strong>o causa, o sujeito i<strong>de</strong>ntificando-se à ação <strong>de</strong>sejante do Outro e po<strong>de</strong>ndo tornar-se<br />

<strong>de</strong>sejante. Nessa operação <strong>de</strong> separação, haverá um resto que cai, que é isso que falta no<br />

84 MILLER Jacques-Alain, Cours du 14 novembre 1984/ 1,2,3,4.<br />

85 LACAN, op.cit., p. 213.<br />

86 Ibid.<br />

Excluído: Jacques<br />

Excluído: o.c<br />

Excluído: ,


Outro, esse <strong>de</strong>sejo do Outro que é interditado ao sujeito e, por isso, diremos não simbolizável,<br />

que vamos chamar <strong>de</strong> objeto a.<br />

53<br />

Importa extrair <strong>de</strong>ssa teorização para nossa clínica o papel fundamental do Outro<br />

materno, ou quem está em seu lugar, no en<strong>de</strong>reçamento ao sujeito, ao infans, <strong>com</strong>o Outro<br />

<strong>de</strong>sejante. O que queremos <strong>de</strong>stacar, para pensar esse fragmento <strong>de</strong> caso clínico, é que é<br />

imprescindível que o sujeito encontre <strong>uma</strong> falta no Outro, falta essa que é efeito da operação<br />

da castração. É necessário, para que a operação da separação possa ocorrer, que o sujeito<br />

encontre <strong>uma</strong> falta no Outro, e, portanto, que venha a se <strong>de</strong>parar <strong>com</strong> o feito <strong>de</strong> que nem tudo<br />

po<strong>de</strong> ser dito, já que a estrutura do significante é in<strong>com</strong>pleta.<br />

Lacan:<br />

Nesse intervalo cortando os significantes, que faz parte da estrutura mesma do<br />

significante, está a morada do que, em outros registros do meu <strong>de</strong>senvolvimento, chamei <strong>de</strong><br />

metonímia. É lá que se inclina, e é lá que <strong>de</strong>sliza, é lá que foge <strong>com</strong>o o furão, o que chamamos<br />

<strong>de</strong>sejo 87 .<br />

É importante que, a partir do discurso do Outro, ou seja, do que está inscrito <strong>com</strong>o falta<br />

nesse discurso, essa experiência possa ser transmitida à criança, a qual po<strong>de</strong>rá, então,<br />

perguntar: po<strong>de</strong> o Outro me per<strong>de</strong>r?<br />

Na mesma perspectiva, ainda segundo Bruce Fink, Lacan propõe que, na estrutura<br />

edipiana, pai, mãe, filho, há que se levar em conta um elemento que, estruturalmente, falta em<br />

cada um, o falo. O falo é <strong>de</strong>finitivamente faltoso, cada um tendo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir sua<br />

posição <strong>com</strong> referência ao falo.<br />

Pois um falo é um significante, um significante cuja função, na economia intra-subjetiva<br />

da análise, levanta, quem sabe, o véu daquela que ele mantinha envolta em mistérios 88 .<br />

Nos parece importante marcar aqui que, embora tragamos a importância <strong>de</strong> o Outro<br />

primordial, que geralmente é a mãe, en<strong>de</strong>reçar-se ao infans, <strong>com</strong>o Outro <strong>de</strong>sejante, a quem<br />

falta, não queremos dizer <strong>com</strong> isso que se trata <strong>de</strong> <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> causa e efeito do discurso<br />

do Outro sobre o aparecimento do sujeito, ou do <strong>de</strong>sejo do Outro sobre o surgimento do<br />

87 Ibid.<br />

88 LACAN, Jacques. A significação do falo. In. Escritos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p.697.<br />

Excluído:<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: trazemos<br />

Excluído: -se<br />

Excluído: a


sujeito. Em outros termos: o assujeitamento do sujeito não é diretamente causado pelo <strong>de</strong>sejo<br />

do Outro.<br />

54<br />

Sabemos também, a partir do ensino <strong>de</strong> Lacan, que diante do real, <strong>de</strong>sse ponto<br />

intransmissível, <strong>de</strong> falta que aparece quando o sujeito é <strong>de</strong>terminado pela primazia do<br />

significante, o sujeito tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir um ato que implica a sua assunção<br />

subjetiva. tanto a mãe <strong>com</strong>o a criança são <strong>de</strong>terminados pelo que estruturalmente não se<br />

inscreve, não e simbolizável e é diante <strong>de</strong>sse ponto cego, esse furo que se produz quando o<br />

sujeito se aliena à linguagem, que o sujeito vai ter a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta <strong>de</strong> se constituir<br />

<strong>com</strong>o sujeito.<br />

A hiância própria ao real, mais que <strong>uma</strong> armadilha para o sujeito, abre para ele o<br />

<strong>espaço</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> escolha possível, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> resposta em suas dimensões particulares, além<br />

<strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>terminismo 89 .<br />

Temos então que o que é transmitido pela mãe é <strong>uma</strong> estrutura significante e<br />

inconsciente, isso é importante para enten<strong>de</strong>r que o Outro materno não transmite significados<br />

a serem tomados pelo bebê e que produziriam a formação do sujeito. O que o Outro materno,<br />

o Outro primordial, transmite para o infans são significantes que, por sua estrutura, <strong>de</strong>ixam<br />

marcas materiais e simbólicas no corpo do bebê, “que suscitarão, no corpo do bebê, um ato <strong>de</strong><br />

resposta que se chama <strong>de</strong> sujeito”. Por isso o sujeito é <strong>uma</strong> resposta em ato.<br />

Caso I (S e E)<br />

Histórico e <strong>de</strong>scrição do atendimento<br />

S. é <strong>uma</strong> menina autista, que tem dois anos na ocasião em que se inicia o atendimento<br />

individual. Seu pai relata que ela <strong>com</strong>eçou a falar <strong>com</strong> um ano, sendo sua primeira palavra<br />

"vovó", mas <strong>de</strong>pois parou, mantendo-se assim até então. Não respon<strong>de</strong> ao pedido <strong>de</strong> um beijo,<br />

ignorando a solicitação, tendo sido sempre <strong>uma</strong> menina quieta, que gostava <strong>de</strong> brincar<br />

89 ANSERMET, François, Clínica da origem, a criança entre a medicina e a psicanálise, Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Contra Capa Livraria, 2003, p.30.<br />

Excluído: <strong>de</strong><br />

Excluído: n<br />

Excluído: mais <strong>uma</strong> frase<br />

Excluído: mãe<br />

Excluído: or<br />

Excluído: enscreve<br />

Excluído: simbolisavel<br />

Excluído: è<br />

Excluído: a<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: .<br />

Excluído: “<br />

Excluído: ”<br />

Excluído: (ansermet livro, p.30)<br />

Excluído:<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: que é<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: 2.3.1.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: 2.3.1.1.<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Inserido:<br />

Excluído: que


sozinha. Quando chamada, raramente se aproxima, mas, caso aceite, o faz <strong>de</strong> costas.<br />

Apresenta movimentos repetitivos e bate a cabeça.<br />

55<br />

Em um primeiro momento, a presença da analista parece não contar, ela não se dirige a<br />

esta, não há troca <strong>de</strong> olhares. S. mostra-se agitada, jogando todos os brinquedos da sala no<br />

chão.<br />

Consi<strong>de</strong>rações e articulações do fragmento <strong>de</strong> caso clínico <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong><br />

No início do a<strong>com</strong>panhamento <strong>de</strong> S., há dois elementos que merecem <strong>de</strong>staque.<br />

O primeiro é <strong>uma</strong> pergunta da mãe, assim colocada: nervosismo e tristeza na gravi<strong>de</strong>z<br />

po<strong>de</strong>riam ter passado para S.? São relatados, então, dois lutos não elaborados, um por ela e<br />

outro pelo marido. Ambos aparecem em <strong>uma</strong> posição infantil diante da morte <strong>de</strong> seus pais,<br />

avós paterno e materno <strong>de</strong> S. O segundo gran<strong>de</strong> elemento é a crença dos pais <strong>de</strong> que os<br />

médicos teriam mentido a respeito do nascimento <strong>de</strong> S., quando disseram que ela estava bem.<br />

O pai acredita que S. já nasceu <strong>com</strong> problemas.<br />

A analista aceita receber S., inicialmente a<strong>com</strong>panhada <strong>de</strong> seus pais, apostando na<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar o lugar da criança no laço parental. Sobre o luto não concluído, a<br />

analista convida a mãe a falar mais sobre a pergunta formulada em relação às conseqüências<br />

para S.<br />

A mãe <strong>de</strong> S. diz que ela própria nunca contou no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> seu pai e que este sempre<br />

preferira sua irmã. O nascimento <strong>de</strong> S. viria a confirmar isso, <strong>uma</strong> vez que seu pai não foi<br />

visitá-la na maternida<strong>de</strong>. Ao relatar, a mãe <strong>de</strong> S. chora muito e, após alguns atendimentos,<br />

sonha <strong>com</strong> o pai e diz: “ele estava triste”. Aí pensa: “ele não po<strong>de</strong> estar triste, porque está <strong>com</strong><br />

a mãe”. Mas ela mesma não acredita e sabe que ele está triste.<br />

No <strong>de</strong>correr dos atendimentos, fica mais claro o lugar que S. tem no <strong>de</strong>sejo da mãe. Esta<br />

se mostra “preocupada” <strong>com</strong> o outro filho, irmão <strong>de</strong> S. Pensa que este po<strong>de</strong> se sentir <strong>com</strong>o ela<br />

se sentia diante <strong>de</strong> seu pai, <strong>com</strong> ciúmes da irmã. Eis o lugar que a mãe oferece a S. no seu<br />

<strong>de</strong>sejo: está pré-ocupada <strong>com</strong> o filho mais velho. Procura não <strong>com</strong>eter <strong>com</strong> ele a mesma<br />

injustiça que seu pai <strong>com</strong>eteu <strong>com</strong> ela, que era a filha mais velha. O lugar que S. tomou no<br />

<strong>de</strong>sejo da mãe é também “<strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediente”, que é <strong>com</strong>o a mãe se consi<strong>de</strong>rava vista pelo pai.<br />

A mãe relata que, <strong>com</strong> a chegada <strong>de</strong> S., ficou preocupada <strong>com</strong> seu filho e, <strong>com</strong>o ela não pedia<br />

nada, ficava quieta no berço, dava mais atenção para o irmão <strong>de</strong> S., que estava <strong>com</strong> ciúmes.<br />

Excluído: <br />

<br />

Excluído: 2.3.1.2.<br />

Excluído: .<br />

Excluído:<br />

Excluído: .


56<br />

Po<strong>de</strong>mos fazer a suposição <strong>de</strong> que não havia um lugar vazio para S. na estrutura <strong>de</strong>ssa<br />

mãe. Não havia, em seu discurso, um intervalo, pois ela estava pré-ocupada <strong>com</strong> outra<br />

criança, que remete ao objeto que ela imaginava ser para seu pai. O pai, aqui, não funciona<br />

<strong>com</strong>o furo. Ou seja, é porque a mãe supõe um sujeito que este po<strong>de</strong> advir. Assim <strong>com</strong>o a<br />

estrutura <strong>com</strong>porta um furo, a mãe teria que <strong>com</strong>portar um lugar vazio, isto é, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, para<br />

acolher S. em seu nascimento.<br />

Consi<strong>de</strong>rações e articulações da clínica <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong><br />

Destacaremos alguns pontos que nos pareceram cruciais para situar essa clínica em sua<br />

<strong>articulação</strong> <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong>. Em primeiro lugar, <strong>de</strong>vemos esclarecer que nomeamos esse trabalho<br />

clínico <strong>de</strong> “clínica do laço", entendida <strong>com</strong>o o que se tece a partir do campo do Outro e que<br />

possibilita que o infans se torne sujeito <strong>de</strong>sejante. Ou seja, para tornar-se <strong>de</strong>sejante o sujeito<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> totalmente dos cuidados <strong>de</strong>sse Outro, dos significantes do <strong>de</strong>sejo do Outro. Em<br />

segundo lugar, observamos que é imprescindível estar atento ao que vem da parte do infans, e<br />

ao fato <strong>de</strong> que o mesmo nos dá notícia <strong>de</strong> que algo vai mal, ele respon<strong>de</strong> em ato.<br />

Em terceiro lugar, ressaltamos que, a partir da escuta do discurso parental sobre o<br />

infans, é possível refletir sobre o lugar que ele ocupa no <strong>de</strong>sejo do Outro. Em quarto lugar,<br />

<strong>de</strong>vemos sublinhar que, na clínica <strong>com</strong> a criança pequena, a presença do Outro materno é<br />

fundamental, <strong>uma</strong> vez que é importante que este se en<strong>de</strong>rece ao infans. O que opera no<br />

en<strong>de</strong>reçamento ao laço remete ao lugar que o infans ocupa no <strong>de</strong>sejo do Outro. Há a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> operar um dizer que leva em conta a marca da estrutura da falta. Ou seja, não<br />

se trata <strong>de</strong> um dizer que é pedagógico, que visa a harmonizar, obter <strong>com</strong>plemntarida<strong>de</strong>, mas<br />

ao contrário, trata-se <strong>de</strong> um dizer que se enuncia à partir da falta.<br />

Nesse caso, supomos, a partir do dizer da mãe, que ela continua alienada no que ela<br />

supõe ser o <strong>de</strong>sejo do pai <strong>de</strong>la: proteger a filha mais velha da mais nova. A mãe não se<br />

separou <strong>de</strong>sse lugar <strong>de</strong> tentar correspon<strong>de</strong>r. Assim, ela continua, na geração seguinte,<br />

protegendo seu filho mais velho <strong>de</strong> sua filha. Desse modo, a mãe ocupa o lugar do pai e não<br />

se i<strong>de</strong>ntificou <strong>com</strong>o objeto caído, o objeto a da mãe, que é esse resto que não interessa ao<br />

<strong>de</strong>sejo do pai e que, por isso, possibilitaria a essa mãe se separar do seu pai (o <strong>de</strong>la). De fato,<br />

Lacan nos diz que, para <strong>uma</strong> criança se separar do <strong>de</strong>sejo do pai, é preciso que ela se<br />

Excluído: pensar<br />

Excluído: 2.3.1.3.<br />

Excluído: <br />

Excluído: e<br />

Excluído: este<br />

Excluído: o<br />

Excluído: lógico que traz<br />

Excluído: -se<br />

Excluído: do lugar da<br />

Excluído: para que a operação da<br />

alienação e separação possa<br />

ocorrer.<br />

Excluído: No que diz respeito a<br />

um <strong>de</strong>bate sobre a clínica <strong>com</strong><br />

crianças bem pequenas, importa<br />

consi<strong>de</strong>rar que os conceitos <strong>de</strong><br />

alienação e separação, elaborados<br />

por Lacan, são operações que se<br />

dão em um único movimento. Por<br />

um lado, a alienação mostra um<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong> ou/ou, no qual fica<br />

evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> do sujeito<br />

se assujeitar ao Outro da<br />

linguagem, se eclipsar, aceitando<br />

um tipo <strong>de</strong> “escolha forçada” –<br />

acatar que um significante vindo<br />

do Outro o represente. Por outro, é<br />

necessário que esse Outro seja<br />

<strong>de</strong>sejante, que <strong>de</strong>seje para além do<br />

sujeito e que promova a operação<br />

<strong>de</strong> separação. A lógica passa a ser<br />

nem/nem, nem sem o sujeito, nem<br />

sem o Outro estariam incluídos<br />

nesse tipo <strong>de</strong> laço. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

lógica na qual o sujeito e o Outro<br />

estão excluídos, o ser do sujeito<br />

<strong>de</strong>verá então vir <strong>de</strong> fora.<br />

Excluído: O que nos parece<br />

primordial para pensar essa clínica<br />

é que o ser do sujeito <strong>de</strong>verá advir<br />

<strong>de</strong> algo que não é nem do sujeito<br />

nem do Outro. No <strong>de</strong>correr dos<br />

atendimentos, surge o lugar que a<br />

mãe oferece a S. no seu <strong>de</strong>sejo:<br />

está pré-ocupada <strong>com</strong> o filho mais<br />

velho. Procura não <strong>com</strong>eter <strong>com</strong><br />

ele a mesma injustiça que seu pai<br />

<strong>com</strong>eteu <strong>com</strong> ela, que era a filha<br />

mais velha.<br />

O lugar que S. tomou no <strong>de</strong>sejo da<br />

mãe é também “<strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediente”,<br />

que é <strong>com</strong>o a mãe se consi<strong>de</strong>rava<br />

vista pelo pai. Como observamos,<br />

a mãe relata que, <strong>com</strong> a chegada <strong>de</strong><br />

S., ficou preocupada <strong>com</strong> seu filho<br />

e, <strong>com</strong>o ela não pedia nada, ficava<br />

quieta no berço, dava mais atenção<br />

para o irmão <strong>de</strong> S., que estava <strong>com</strong><br />

ciúmes. <br />

Excluído: , que é<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: e


i<strong>de</strong>ntifique <strong>com</strong> o objeto caído da mãe, que é aquilo pelo que o pai não se interessa, rechaça<br />

nessa mãe.<br />

57<br />

Chama-nos atenção o fato <strong>de</strong> a mãe <strong>de</strong> S. se sentir abandonada pelo pai, e <strong>com</strong> medo <strong>de</strong><br />

fazer um outro sofrer o abandono que ela viveu; ela visa proteger o irmão <strong>de</strong> S., e acaba<br />

abandonando S. Até agora, nos <strong>de</strong>tivemos sobre a posição subjetiva da mãe <strong>de</strong> S a partir da<br />

leitura que fizemos do material que ela trouxe. A partir do que vimos <strong>de</strong> <strong>teoria</strong>, po<strong>de</strong>ríamos<br />

nos arriscar a ler que, nesse primeiro momento, a mãe diz estar pré-ocupada <strong>com</strong> o irmão <strong>de</strong><br />

S. (ou seja, seu filho) e, por isso, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> se ocupar <strong>de</strong> S. por muito tempo. Tomamos, a<br />

partir disso, pré-ocupada <strong>com</strong>o o significante que prepara o lugar <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sobediente”, o qual<br />

enten<strong>de</strong>mos <strong>com</strong>o um lugar <strong>de</strong> “<strong>de</strong>sobediência forçada”, porque é um lugar que não pe<strong>de</strong><br />

mais, não há questão no que diz respeito a S., ela é <strong>de</strong>sobediente e ponto.<br />

Enten<strong>de</strong>mos então <strong>de</strong>sobediente <strong>com</strong>o um significante que tem efeito <strong>de</strong> petrificação.<br />

Notamos aqui <strong>com</strong>o o significante pré-ocupada transmite algo que estruturalmente suscita<br />

<strong>uma</strong> resposta do sujeito que a mãe vai ler <strong>com</strong>o <strong>de</strong>sobediente, mas que, <strong>com</strong>o veremos, não<br />

cola à fantasia materna.<br />

Para isso, vamos agora nos <strong>de</strong>ter ao movimento subjetivo <strong>de</strong> S., a suas respostas que a<br />

constituem <strong>com</strong>o sujeito.<br />

Dizemos que não havia, em seu discurso, um intervalo (pois ela estava pré-ocupada <strong>com</strong><br />

outra criança, o que remete ao objeto que ela imaginava ser para seu pai), e enten<strong>de</strong>mos que o<br />

pai, aqui, não funciona <strong>com</strong>o furo. Ou seja, é porque a mãe supõe um sujeito que este po<strong>de</strong><br />

advir. Assim <strong>com</strong>o a estrutura <strong>com</strong>porta um furo, a mãe teria que <strong>com</strong>portar um lugar vazio.<br />

No entanto, não queremos dizer <strong>com</strong> isso que o sujeito é diretamente <strong>de</strong>terminado pela<br />

fantasia prévia da mãe. O que é transmitido pela mãe tem a estrutura do significante e,<br />

portanto, <strong>com</strong>porta um furo, da or<strong>de</strong>m do inconsciente. Não temos <strong>com</strong>o saber <strong>de</strong> antemão<br />

<strong>com</strong>o o sujeito vai ser afetado por isso, só teremos notícia no après-coup, a partir da resposta<br />

que o sujeito vai dar no ato.<br />

Propomos agora <strong>de</strong> seguir o trabalho <strong>de</strong> S. no seus atendimentos. Constatamos, num<br />

primeiro momento, que S. está muito agitada, jogando todos os brinquedos da sala no chão.<br />

Nesse tempo, minha presença parece não contar. S. entra, abre o armário e passa a mão para<br />

<strong>de</strong>rrubar os brinquedos no chão, pega os brinquedos sem se <strong>de</strong>ter, <strong>com</strong>e se tivesse muito<br />

agitada, indo para um lado, paro o outro, sem parar.<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído: Nos p<br />

Excluído: arece que a<br />

Excluído: .<br />

Excluído: "pre<br />

Excluído: "<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído: constitui<br />

Excluído: Quando d<br />

Excluído: ).<br />

Excluído: Enten<strong>de</strong>mos<br />

Excluído: [54?]<br />

Excluído: diante mãe<br />

Excluído: o<br />

Excluído: <br />

Segundo momento: “queremos<br />

saber mais <strong>de</strong> S.” é um significante<br />

que abre, que já está aí enquanto<br />

S2, mas que a mãe não fazia valer.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> fazer<br />

valer o S2, fazendo, enquanto<br />

analista, par <strong>com</strong> S., sustentando<br />

<strong>com</strong> minha presença, do lado <strong>de</strong><br />

S., que “queremos saber mais”,<br />

temos algo a saber.


58<br />

Nesse <strong>com</strong>eço, ela faz cocô na fralda, e a mãe sente o cheiro, pega-a e a <strong>de</strong>ita n<strong>uma</strong><br />

mesa e troca a fralda.<br />

Teremos um segundo momento em que S. entra e pega minha mão para abrir o armário,<br />

segura a minha mão sem olhar para mim e, segurando-a, coloca na maçaneta do armário para<br />

abri-lo, pega um objeto no armário, senta-se no chão e se interessa por ele. E quando precisa<br />

ir ao banheiro, puxa sua mãe em direção ao banheiro.<br />

Destacamos alg<strong>uma</strong>s articulações possíveis.<br />

- Constatamos <strong>uma</strong> fantasia materna que <strong>de</strong>ixa S. no lugar amalgamado à morte.<br />

- Diante disso, constatamos um movimento <strong>de</strong> S. <strong>de</strong> extrema vivacida<strong>de</strong>.<br />

- O analista toma nota do movimento <strong>de</strong> S., se <strong>de</strong>ixa levar, <strong>de</strong>ixando um <strong>espaço</strong> vazio,<br />

<strong>espaço</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> para o sujeito.<br />

- S. reage querendo saber dos objetos, "se <strong>de</strong>ixando levar ao banheiro", puxando sua<br />

mãe.<br />

- A mãe <strong>de</strong> S. po<strong>de</strong> fazer o luto, e acolher S., querendo saber mais sobre o que quer S., o<br />

que ela quis dizer; é diferente do saber sempre antecipado que era <strong>de</strong>sobediente, o <strong>de</strong><br />

trocar suas fraldas automaticamente quando fazia cocô.<br />

Nesse segundo momento, <strong>de</strong>stacamos que “queremos saber mais <strong>de</strong> S.” é um<br />

significante que abre, que já está aí enquanto S2, mas que a mãe não fazia valer. Trata-se <strong>de</strong><br />

um trabalho <strong>de</strong> fazer valer o S2, fazendo, enquanto analista, par <strong>com</strong> S, sustentando <strong>com</strong><br />

minha presença, do lado <strong>de</strong> S., o seu trabalho, que queremos saber mais, temos algo a saber,<br />

marcando um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> para o trabalho <strong>de</strong> S., para sua produção, para seu<br />

movimento, sua resposta diante do discurso do Outro.<br />

Parece-nos que, nesse caso, não foi possível localizar o momento <strong>de</strong> separação do lado<br />

da criança. Sabemos que, para Lacan, para que houvesse separação seria necessário à criança<br />

querer parar <strong>de</strong> ser objeto do <strong>de</strong>sejo do pai, e se i<strong>de</strong>ntificar <strong>com</strong> o objeto caído da mãe <strong>com</strong>o<br />

resto, que não é o <strong>de</strong>sejo do pai. Parece que a mãe <strong>de</strong> S. ainda está muito i<strong>de</strong>ntificada <strong>com</strong> o<br />

que ela acredita ser o objeto do <strong>de</strong>sejo do pai, e não quer saber do objeto caído da mãe, que é<br />

o que lhe possibilitaria se separar <strong>de</strong>sse pai.<br />

No entanto, po<strong>de</strong>mos verificar um trabalho que mobilizou a mãe <strong>de</strong> S., pois o analista,<br />

fazendo par <strong>com</strong> S., sustenta o S2 : “queremos saber mais”, e a mãe <strong>de</strong> S. muda <strong>de</strong> posição,<br />

sua certeza está abalada, e pergunta sobre S.: “quer saber mais”. S., que se encontrava<br />

petrificada pelo significante “<strong>de</strong>sobediente”, passa a ganhar vida.<br />

Excluído: pega<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: <br />

Excluído: (?)<br />

Excluído: :<br />

Excluído: <br />

Excluído: se<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído: "<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído: S2<br />

Excluído: S2<br />

Excluído: .<br />

Excluído: <br />

Excluído: M<br />

Excluído: a<br />

Excluído: Nesse caso, p


59<br />

O trabalho junto a S. e a seus pais caminhou na direção <strong>de</strong> possibilitar a estes a<br />

elaboração do luto que os capturava e impossibilitava o acolhimento <strong>de</strong> S. Ela tinha sido<br />

amalgamada ao lugar da morte. Torna-se possível, então, inaugurar outro momento e S.<br />

<strong>com</strong>eça a ser investida libidinalmente, <strong>com</strong>o objeto <strong>de</strong> amor. Cai o lugar <strong>de</strong> criança<br />

<strong>de</strong>sobediente, que precisa apanhar, dando a vez ao lugar <strong>de</strong> criança que interessa – "queremos<br />

saber mais <strong>de</strong> S", dizem os pais. É nesse momento que S. é indicada para o “<strong>espaço</strong> pais–<br />

bebês”, um <strong>espaço</strong> para além do atendimento individual. Trataremos <strong>de</strong>sse dispositivo no<br />

próximo capítulo, analisando sua proposta <strong>de</strong> trabalho.<br />

Constatamos que no <strong>de</strong>correr do trabalho do Cersami, nomeamos esse trabalho <strong>de</strong><br />

"clínica do laço". Talvez possamos, a partir do caso clínico e do que foi trabalhado até agora<br />

na dissertação, enten<strong>de</strong>r essa nomeação <strong>com</strong>o algo que tenta formalizar essa experiência<br />

clínica que se produz no campo do Outro e do infans.<br />

Essa clínica do laço <strong>de</strong>ve ser entendida <strong>com</strong>o o que se tece a partir do campo do Outro e<br />

que suscita no infans <strong>uma</strong> resposta que o constitui <strong>com</strong>o sujeito. Ou seja, para tornar-se<br />

<strong>de</strong>sejante, o sujeito <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> totalmente dos cuidados <strong>de</strong>sse Outro, dos significantes do <strong>de</strong>sejo<br />

do Outro.<br />

De fato, vimos que, para Freud, o infans nasce totalmente <strong>de</strong>samparado, sendo<br />

necessária a ação específica, ou seja, a intervenção <strong>de</strong> um adulto próximo, Nebenmensch,<br />

para que ele possa viver. Com Lacan, vimos que essa ação específica consiste na função que é<br />

da or<strong>de</strong>m do simbólico, que é a ação do gran<strong>de</strong> Outro primordial. Teremos então o Outro<br />

primordial que vai transmitir para o infans significantes que vão suscitar nele <strong>uma</strong> resposta,<br />

um ato que o constitui sujeito.<br />

O que nos parece fundamental é que, embora o significante seja transmitido a partir do<br />

Outro, será necessário um trabalho <strong>de</strong> significação feito pelo sujeito. É por isso que <strong>de</strong>vemos<br />

aqui fazer mais <strong>uma</strong> torção. Embora o simbólico seja pre<strong>de</strong>terminado na h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>, embora<br />

ele preexista ao sujeito, será só a partir do encontro que Outro e sujeito passam a se constituir.<br />

Assim nos <strong>de</strong>paramos <strong>com</strong> a noção <strong>de</strong> tempo, <strong>uma</strong> vez que temos um paradoxo: se po<strong>de</strong>mos<br />

afirmar <strong>com</strong> Lacan que é necessário que o simbólico, o Outro, antecedam o sujeito para que<br />

ele possa advir, e se sabemos que, a partir da linguagem, vários elementos encontram-se<br />

presentes antes do bebê nascer, então, o que se constitui nesse encontro vai produzir um<br />

passado que já existia antes, mas que só po<strong>de</strong> existir <strong>com</strong>o passado a partir do encontro.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um encontro que marca um tempo em que esses elementos presentes hoje serão<br />

Excluído: os<br />

Excluído: e<br />

Excluído: pais-bebês<br />

Excluído: CERSAMI<br />

Excluído: <strong>de</strong><br />

Excluído: <strong>de</strong>semparado<br />

Excluído: e que será<br />

Excluído: u<br />

Excluído: no infans<br />

Excluído: é<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: que e<br />

Excluído: -<br />

Excluído: -<br />

Excluído: e<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: si<br />

Excluído: . E<br />

Excluído: -se


passados quando esse momento futuro <strong>de</strong> encontro chegar: é o futuro anterior. "Assim, é só a<br />

partir do encontro momentâneo do bebê <strong>com</strong> o Outro materno que a incidência dos <strong>de</strong>sígnios<br />

que este Outro marcará, o bebê se projetará no passado <strong>com</strong>o pré-história do bebê. Tais<br />

<strong>de</strong>sígnios terão sido prévios ao bebê" 90 .<br />

60<br />

Voltamos para nossa clínica do laço, no que diz respeito a um <strong>de</strong>bate sobre a clínica<br />

<strong>com</strong> crianças bem pequenas. Importa consi<strong>de</strong>rar que os conceitos <strong>de</strong> alienação e separação,<br />

elaborados por Lacan, são operações que se dão em um único movimento. Por um lado, a<br />

alienação mostra um tipo <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong> ou/ou (ou a bolsa ou a vida), na qual fica evi<strong>de</strong>nte a<br />

necessida<strong>de</strong> do sujeito se assujeitar ao Outro da linguagem, se eclipsar, aceitando um tipo <strong>de</strong><br />

“escolha forçada” – aceitar que um significante vindo do Outro o represente. Por outro, é<br />

necessário que esse Outro seja <strong>de</strong>sejante, que <strong>de</strong>seje para além do sujeito e que promova a<br />

operação <strong>de</strong> separação. Estamos diante <strong>de</strong> <strong>uma</strong> lógica da intercessão, na qual surge o<br />

recobrimento <strong>de</strong> duas faltas, a do Outro e a do sujeito. A lógica em jogo nesse tipo <strong>de</strong> laço é<br />

nem sem o sujeito, nem sem o Outro. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> lógica na qual o sujeito e o Outro estão<br />

excluídos, o ser do sujeito <strong>de</strong>verá então vir <strong>de</strong> fora.<br />

O que nos parece primordial para pensar essa clínica é que o ser do sujeito <strong>de</strong>verá advir<br />

<strong>de</strong> algo que não é nem do sujeito nem do Outro. Ou seja, do recobrimento da falta do Outro e<br />

do sujeito, não é da adição <strong>de</strong> duas entita<strong>de</strong>s prévias que se enlaçam e produzem o sujeito: há<br />

um encontro <strong>de</strong> duas faltas, e é <strong>de</strong>sse encontro que Outro e sujeito se constituem, e o ser do<br />

sujeito <strong>de</strong>verá vir <strong>de</strong> fora, num a posteriori <strong>com</strong>o ato, <strong>com</strong>o resposta possível do sujeito.<br />

Alienação / separação e o objeto a<br />

Até agora trabalhamos as operações <strong>de</strong> alienação e separação, e o objeto a na sua face<br />

<strong>de</strong> alienação, <strong>com</strong>o furo. Agora pretendo <strong>de</strong>senvolver o objeto a na sua face <strong>de</strong> separação,<br />

<strong>com</strong>o algo que surge na clínica e que tem consistência lógica, consistência do que <strong>de</strong>limita o<br />

furo. Vimos, a partir do estudo <strong>de</strong> Bruce Fink, que da operação <strong>de</strong> alienação e separação<br />

resulta um sujeito <strong>de</strong>sejante; vimos que, nessa operação, o objeto a consiste num resto, num<br />

gozo, num instrumento que o sujeito tomava <strong>com</strong>o apoio para construir sua fantasia e, assim,<br />

tentar manter a ilusão da unida<strong>de</strong> mãe–criança. O objeto a consistia então num resto, na ilusão<br />

90 ELIA, Luciano, O conceito <strong>de</strong> sujeito, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2004, p. 44.<br />

Excluído: <br />

Excluído: momentoso<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído: <strong>de</strong>signios<br />

Excluído: -se-<br />

Excluído: pre<br />

Excluído: <strong>de</strong>signios<br />

Excluído: , (p. 44 Luciano, livro<br />

sujeito).<br />

Excluído: sa<br />

Excluído: no<br />

Excluído: "<br />

Excluído: "<br />

Excluído: —<br />

Excluído: (?)<br />

Inserido: (?)<br />

Excluído: 2.4.<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído:<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a


<strong>de</strong> um pedaço do Outro materno que o sujeito, a criança, leva <strong>com</strong> ele na separação e que vai<br />

funcionar <strong>com</strong>o objeto causa do <strong>de</strong>sejo. O que nos parece interessante é que, enquanto resto,<br />

eles são resultados da operação da castração do que o Outro materno barrou. Retomando<br />

Bruce Fink, ou seja, enquanto resto da operação da castração, os objetos a eles se acordam ao<br />

sujeito significante <strong>com</strong> a condição <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r toda substancialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> serem centrados por<br />

um vazio, que é o vazio da castração.<br />

61<br />

Retomaremos agora mais <strong>uma</strong> vez o objeto a, na sua face <strong>de</strong> alienação <strong>com</strong>o furo, para<br />

<strong>de</strong>pois situar, o melhor possível, o que enten<strong>de</strong>mos por objeto a na sua face <strong>de</strong> separação.<br />

Vamos para isso nos remeter ao rigoroso estudo <strong>de</strong> Marco Antonio Coutinho Jorge, que nos<br />

<strong>de</strong>monstra <strong>com</strong> muita precisão a <strong>articulação</strong> do que viemos estudando ao longo <strong>de</strong>sta<br />

dissertação. Segundo ele, a lógica do significante evi<strong>de</strong>ncia que o objeto a é o que dá ao real<br />

seu verda<strong>de</strong>iro estatuto: o objeto a é o objeto faltoso por excelência e, por conseguinte, na<br />

medida em que o <strong>de</strong>sejo mantém <strong>uma</strong> relação estrita <strong>com</strong> a falta, o objeto a é o objeto causa<br />

do <strong>de</strong>sejo.<br />

Assim, Jorge <strong>de</strong>staca que Lacan, no seu ensino, caminhou no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar <strong>com</strong><br />

muita precisão a categoria <strong>de</strong> real, nos <strong>de</strong>monstrando que o inconsciente é o real, ou melhor,<br />

ele se situa “n<strong>uma</strong> região intersticial entre o simbólico e o real, articulado tanto por um quanto<br />

por outro" 91 . Isso nos parece fundamental para esse ponto em que chegamos, <strong>uma</strong> vez que o<br />

objeto a nos dá notícia na sua face <strong>de</strong> alienação <strong>de</strong>sse real <strong>com</strong>o furo, e na sua face <strong>de</strong><br />

separação nos mostra esse real, mas enquanto se separando do Outro, ele se apresenta na<br />

clínica sob a forma <strong>de</strong> <strong>uma</strong> certa consistência, que faz contorno a esse vazio, e que não<br />

pertence nem só ao real nem só ao simbólico. E que não é nem só do sujeito alienado ao<br />

Outro, nem só do sujeito separado do Outro, é um real que se <strong>de</strong>staca por haver um certo<br />

contorno simbólico, consistência que faz consistir esse furo. São restos que não são nem só do<br />

sujeito, nem só do Outro, que parecem estar ali jogados num <strong>espaço</strong> intersticial entre o sujeito<br />

e o Outro, sob apresentação.<br />

Como nos diz Lacan, restos que se apresentam, por exemplo, sob a forma <strong>de</strong> seio/fezes,<br />

<strong>com</strong>o <strong>de</strong>manda do Outro, ou sob a forma <strong>de</strong> voz /olhar <strong>com</strong>o <strong>de</strong>sejo do Outro 92 .<br />

91 JORGE, Marco Antonio Coutinho, Fundamentos da psicanálise <strong>de</strong> Freud a Lacan, vol. I, As bases<br />

conceituais, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar editor, 2000, p. 96.<br />

92 Acrescentamos a isso as secreções, a meleca, ….<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído:<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: dá<br />

Excluído: noticia<br />

Excluído: notícia d<br />

Inserido: notícia<br />

Excluído: dá<br />

Excluído: noticia<br />

Excluído: notícia<br />

Inserido: notíciase apresenta<br />

Excluído: se apresentando<br />

Excluído:<br />

Excluído: cocô<br />

Excluído: meleca,<br />

Excluído: <strong>de</strong><br />

Excluído: e, por fim, <strong>de</strong> voz


Fragmento do caso II (E. e L.)<br />

62<br />

Propomos, agora, relatar um fragmento clínico e extrair <strong>de</strong>le alg<strong>uma</strong>s consi<strong>de</strong>rações<br />

teóricas. Trata-se <strong>de</strong> um atendimento feito a um bebê <strong>de</strong> três meses e sua mãe. O que motivou<br />

a proposta <strong>de</strong> trabalho é que a menina não estava nada bem, estava sem dormir há várias<br />

noites, não estava se alimentando e chorava sem parar. Configurou-se para mim que havia no<br />

laço <strong>de</strong>sse infans, <strong>de</strong>ssa menina <strong>com</strong> o gran<strong>de</strong> Outro materno, algo que estava em gran<strong>de</strong><br />

sofrimento. Havia um bebê chorando sem parar, não dormindo, sem <strong>com</strong>er e <strong>uma</strong> mãe no<br />

lugar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> Outro. O Outro materno estava em pleno surto psicótico quando da chegada<br />

<strong>de</strong>ssa menina.<br />

Decidimos atendê-las na presença <strong>uma</strong> da Outra, no <strong>com</strong>eço <strong>com</strong> a presença da tia da<br />

menina, <strong>uma</strong> vez que era ela quem estava próxima da mãe e tinha procurado ajuda <strong>com</strong> a<br />

aceitação da mãe.<br />

Essa <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> atendê-las na presença <strong>uma</strong> da Outra consiste na tentativa <strong>de</strong> trazer um<br />

dizer lógico, que dá notícia para o infans <strong>de</strong> que nos fazemos os supporters 93 do que ele<br />

produz, no sentido que o francês dá a essa palavra, a saber, que torcemos, apostamos <strong>com</strong>o<br />

torcedor <strong>de</strong> futebol, além do sentido <strong>de</strong> dar suporte, fazer-se <strong>de</strong> suporte. Ou seja, que<br />

apostamos que aí tem um suposto sujeito, e nosso trabalho consiste em <strong>uma</strong> operação lógica:<br />

fazer-se suporte <strong>de</strong> suas construções, construções que ele produz, para dizer do mal-estar<br />

diante do qual ele é falado, ou melhor, do lugar que ele ocupa no <strong>de</strong>sejo ou na fantasia <strong>de</strong> sua<br />

mãe ou <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> Outro primordial.<br />

Assim, trata-se do trabalho no qual o analista e a equipe po<strong>de</strong>riam fazer operar, <strong>com</strong> sua<br />

escuta e seu dizer, um <strong>espaço</strong> terceiro em que a palavra possa circular n<strong>uma</strong> direção <strong>de</strong><br />

trabalho <strong>de</strong> fazer-se suporte do que o sujeito traz. Nos en<strong>de</strong>reçamos ao sujeito e<br />

reen<strong>de</strong>reçamos a seu Outro as manifestações do sujeito.<br />

Tentamos criar um <strong>espaço</strong> no qual possa ser cavado um lugar <strong>de</strong> sujeito e um trabalho<br />

<strong>de</strong> aposta <strong>de</strong> que o infans possa diferenciar-se <strong>de</strong>sse discurso louco que vigora sobre ele e<br />

operar aí um trabalho <strong>de</strong> diferenciação <strong>de</strong>le <strong>com</strong> esse Outro, tentando construir um outro<br />

sentido, que se abra para as possíveis produções do sujeito.<br />

Nesse sentido, aten<strong>de</strong>r na presença da Outra é tratar do laço mãe–bebê.<br />

93<br />

Expressão criada por Virgínio Baio e citada por Pirard e Giourgas, op.cit., p. 107. ("supporter" ou<br />

"supporteur", igualmente admitidos em françês)<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: 2.4.1.<br />

Excluído: a<br />

Excluído: jovem menina<br />

Excluído: e<br />

Excluído: jovem<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: -no<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído:<br />

Excluído: mal<br />

Excluído: o<br />

Excluído: fantasma<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: -


Histórico e <strong>de</strong>scrição dos atendimentos<br />

Fragmento clínico<br />

63<br />

E. tem quatro meses quando chega ao Cersami, em julho <strong>de</strong> 2002; o encaminhamento é<br />

feito pela equipe <strong>de</strong> acolhimento <strong>de</strong> urgência do Betim Central, a qual, diante da recusa da<br />

mãe em tratar-se, está preocupada por ela estar <strong>de</strong>lirante, dormindo pouco e ouvindo vozes.<br />

Avaliam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicação específica (Haldol e Diazepam); estão também<br />

preocupados porque a mãe está amamentando. Naquela ocasião ainda era recente o nosso<br />

trabalho <strong>de</strong> atendimento do laço <strong>pais–bebês</strong> e consi<strong>de</strong>ramos esse caso <strong>com</strong>o a marca inaugural<br />

nos novos dispositivos <strong>de</strong> atendimento clínico dos bebês e seus pais.<br />

Nesse primeiro momento, trata-se <strong>de</strong> ouvir quem acolheu L., mãe <strong>de</strong> E., e analisar o que<br />

essa mãe está dizendo para ele, para sugerir o que po<strong>de</strong>ria ser dito a ela para que ela venha até<br />

o nosso serviço. É um trabalho <strong>de</strong>licado, <strong>de</strong> <strong>com</strong>o se po<strong>de</strong> lidar <strong>com</strong> <strong>uma</strong> mãe a fim <strong>de</strong> que se<br />

possa abrir <strong>uma</strong> <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> atendimento. Escuto que a mãe diz estar preocupada <strong>com</strong> sua<br />

filha, ela não quer <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> amamentá-la e, embora esteja resistente, se estiver a<strong>com</strong>panhada<br />

<strong>de</strong> sua irmã aceita ir até um atendimento. Sugiro, então, que a equipe <strong>de</strong> urgência do Betim<br />

Central nomeie alguém para a mãe, enten<strong>de</strong>ndo que ela está preocupada <strong>com</strong> a questão da<br />

amamentação e que po<strong>de</strong> ir conversar sobre isso <strong>com</strong> a equipe do Cersami num lugar que<br />

aten<strong>de</strong> o bebê <strong>com</strong> seus pais. E que seja a<strong>com</strong>panhada pela irmã.<br />

L. chega então a nosso serviço a<strong>com</strong>panhada <strong>de</strong> E. e <strong>de</strong> sua irmã. Ficamos sabendo que<br />

ela tem 31 anos, que está casada há oito, tem <strong>uma</strong> filha <strong>de</strong> sete anos e <strong>uma</strong> <strong>de</strong> seis anos, e<br />

estava na sua terceira gravi<strong>de</strong>z quando surtou pela primeira vez: conta que estava no banco e<br />

teve a visão <strong>de</strong> um menino e teve certeza <strong>de</strong> que o bebê que iria nascer seria menino.<br />

Quando do nascimento <strong>de</strong> E., <strong>uma</strong> terceira menina, L. se precipita num <strong>de</strong>lírio<br />

persecutório sistematizado, que a faz retomar sua primeira gravi<strong>de</strong>z e falar do seu lugar <strong>de</strong><br />

mulher, <strong>de</strong> mãe e do lugar do seu parceiro (marido) e da filiação. Diz então:<br />

“— Agora está tudo esclarecido!"<br />

Pergunto: “— O que está esclarecido?”<br />

Respon<strong>de</strong> que se casou “enganada", porque “na família do seu marido não se po<strong>de</strong> ter<br />

família", e que ela, L., está n<strong>uma</strong> igreja que prega prosperida<strong>de</strong>.<br />

Excluído: 2.4.1.1.<br />

Excluído: :<br />

Excluído:<br />

Excluído: pais-bebês<br />

Excluído: s;<br />

Excluído: tratar a resistência<br />

<strong>de</strong>ssa<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:


64<br />

Conta que orou <strong>com</strong> o pastor e que ele teria dito que o irmão <strong>de</strong>la colocou o seu marido<br />

na sua frente e que agora, por isso, o seu irmão lhe <strong>de</strong>ve <strong>uma</strong> ajuda financeira, caso contrário<br />

ela vai processá-lo. Diz que o marido é “<strong>uma</strong> navalhada na sua vida” e que ela é <strong>uma</strong> pessoa<br />

que estudou, e ele não, que ele é nada, e ela quer separar-se <strong>de</strong>le. Nesse primeiro momento, a<br />

mãe traz esse conteúdo em massa e o traz legitimado na palavra do pastor. Trata-se, então, <strong>de</strong><br />

um trabalho <strong>de</strong> acolher, possibilitar que a mãe nomeie, e <strong>de</strong> tentar colocar <strong>uma</strong> barra, cada vez<br />

que for possível, nesse pastor tão imperativo.<br />

O que me parece fundamental é que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, nos colocamos <strong>com</strong>o um lugar para<br />

aten<strong>de</strong>r E., um lugar que aten<strong>de</strong> as crianças que apresentam algum sofrimento psíquico. Exijo,<br />

então, que E. esteja presente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras consultas. Faço isso porque escutei que L.<br />

está resistente a um atendimento para ela sozinha e porque ela diz não querer parar <strong>de</strong><br />

amamentar E. no peito, quando isso foi cogitado pela equipe <strong>de</strong> emergência do Betim Central.<br />

Ela traz, então, <strong>uma</strong> questão do laço mãe–bebê. Peço também que a irmã <strong>de</strong> L. esteja presente<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras consultas, porque ficou evi<strong>de</strong>nte (em <strong>uma</strong> conversa telefônica) que é ela<br />

quem está atenta a esse bebê e preocupada <strong>com</strong> ele.<br />

Meu trabalho consiste em convidar a irmã <strong>de</strong> L. a falar do que a preocupa em E. (isso na<br />

presença <strong>de</strong> L. e <strong>de</strong> E.) e a cada vez perguntar para L. o que pensa do que sua irmã está<br />

dizendo sobre E. Enten<strong>de</strong>mos logo, a partir do discurso da mãe (L.) e da manifestação (<strong>de</strong> E.)<br />

<strong>de</strong> sono inconstante, choro <strong>de</strong>masiado e má alimentação, que L. está tomada por seu <strong>de</strong>lírio e<br />

que não há lugar para E.<br />

Quando pergunto para L., a mãe <strong>de</strong> E. o que pensa, eu a instauro <strong>com</strong>o sujeito quando<br />

peço que me diga o que sabe a respeito <strong>de</strong> sua filha, porque é você que sabe. Para instaurar L.<br />

<strong>com</strong>o sujeito é necessário que me coloque <strong>com</strong>o sujeito barrado para não ser tornada sujeito<br />

suposto saber. Assim esse lugar dado à mãe <strong>com</strong>o sujeito, a sua enunciação, orienta e limita o<br />

meu trabalho, assegura <strong>uma</strong> falta que me possibilita trabalhar.<br />

A tia nos diz que E. está <strong>com</strong>endo pouco, apenas mamando <strong>de</strong> manhã e à noite:<br />

pergunto sobre as consultas <strong>de</strong> puericultura pediátrica, mas falta um mês para a próxima<br />

consulta. Diante <strong>de</strong>sse quadro, sugiro à mãe que converse, fale sobre a alimentação e o sono<br />

<strong>de</strong> E. Também <strong>com</strong> eles, e porque a mãe não está conseguindo se organizar para marcar <strong>uma</strong><br />

consulta, sugiro eu mesma ligar para a pediatra e agendar <strong>uma</strong> consulta. Isto é feito. Trata-se,<br />

então, <strong>de</strong> um trabalho em re<strong>de</strong>, em que se tecem laços do Cersami <strong>com</strong> a pediatra a partir da<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: -<br />

Excluído: , a partir do discurso<br />

da mãe (L.) e da manifestação (<strong>de</strong><br />

E.) <strong>de</strong> sono inconstante, choro<br />

<strong>de</strong>masiado e má alimentação.<br />

Excluído: Ao perguntar por<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: traz


singularida<strong>de</strong> da questão <strong>de</strong> L. e <strong>de</strong> E. É sempre atenta às manifestações <strong>de</strong> E. diante da fala<br />

<strong>de</strong> sua mãe que conduzo a consulta.<br />

65<br />

A primeira intervenção importante que faço é logo no início, quando E. está chorando<br />

muito e a mãe lhe dá o seio; é aí que E. olha para mãe e que ela não olha para a filha; E. fica<br />

então extremamente irritada e recusa, em seguida, o seio, chorando muito. Intervenho<br />

dizendo: olha só, mamãe, <strong>com</strong>o ela está olhando para você; e para E. digo: acho que ficou<br />

muito irritada porque você está procurando o olhar da mamãe e não está encontrando. Aí a<br />

mãe olha para E. e seu olhar se fixa; E. acaba se acalmando. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> intervenção que<br />

só é possível naquele momento, na presença da criança e da mãe e que tem um efeito <strong>de</strong> ato.<br />

Essa intervenção opera um efeito <strong>de</strong> sujeito, <strong>uma</strong> vez que reconheço e assim dou um<br />

lugar à resposta que E. dá ao gran<strong>de</strong> Outro.<br />

Uma segunda intervenção que me parece importante é quando a irmã <strong>de</strong> L. tenta<br />

convencer-lhe <strong>de</strong> que o pastor da igreja po<strong>de</strong> estar enganado, porque se enganou quando disse<br />

que ela iria ter um menino, e que L. não <strong>de</strong>ve cobrar esse dinheiro do seu irmão. L. se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

dizendo que está tudo bem <strong>com</strong> ela e que seu encontro é <strong>com</strong> Deus. Um pouco antes <strong>de</strong> L.<br />

dizer que estava tudo bem <strong>com</strong> ela, tinha contado sobre <strong>uma</strong> situação real para ela, <strong>uma</strong><br />

vivência auditiva alucinatória que consistia em sua cunhada se <strong>com</strong>unicar <strong>com</strong> ela por<br />

telepatia e que tinha ouvido dizer, quando estava lavando roupas no tanque, “filho estressa,<br />

né?". Nesse momento, E. estava chorando muito, e digo: “eu acredito em você quando você<br />

diz que está tudo bem agora, mas puxa!, <strong>de</strong>ve ter sido muito difícil esperar tanto por um<br />

menino e vir <strong>uma</strong> menina, e ainda mais que filho estressa muito, né?”<br />

E me virei para E. e disse: “será que você não está chorando toda essa tristeza que<br />

mamãe vive e passa para você, quando ela fica em casa <strong>de</strong>sanimada e estressada?"<br />

“L., talvez seja isso que você tenha passado para E."<br />

A terceira intervenção foi a <strong>de</strong> chamar o pai para escutar o que ele tinha a dizer sobre<br />

suas preocupações. Possibilitar que ele falasse sobre seu lugar <strong>de</strong> marido e <strong>de</strong> pai, e escutá-lo<br />

<strong>com</strong>o sujeito. O que escutamos é que se trata <strong>de</strong> um pai que não tem um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>cidido pela<br />

mãe enquanto mulher.<br />

Foi um trabalho <strong>de</strong> valorizar seu lugar <strong>com</strong>o pai <strong>de</strong> E.; para ele (pai) e para ela (mãe).<br />

Isso teve um efeito apaziguador. Algum tempo <strong>de</strong>pois que L. foi medicada seu <strong>de</strong>lírio sumiu.<br />

Foi então o <strong>com</strong>eço <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> convidar L. a falar da sua <strong>de</strong>cepção <strong>de</strong> não ter tido um<br />

Excluído:<br />

Excluído: No sentido que e<br />

Excluído: primordial<br />

Excluído:<br />

Excluído: tanto<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: escuta<br />

Excluído:


filho homem. De trabalhar <strong>com</strong> ela por que queria um menino; respon<strong>de</strong>u-me que queria<br />

“para ajudar a cuidar, a criar suas duas filhas”.<br />

66<br />

Mais <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong>pois E. continua vindo; é um bebê que se assusta <strong>de</strong> maneira<br />

exagerada, <strong>com</strong> pouco barulho ou movimento em torno <strong>de</strong>la; que se refugia perto da mãe e<br />

que não sai <strong>de</strong> perto <strong>de</strong>la. Mas que não procura o olhar da mãe, e sim das pessoas que estão ao<br />

seu redor. E. tem sido escutada no consultório <strong>com</strong> a mãe e no <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> pais e bebês.<br />

Articulações do fragmento do caso clínico <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong><br />

O primeiro elemento que me parece importante <strong>de</strong>stacar é que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>ssa mãe<br />

parece estar ocupado por <strong>uma</strong> certeza, um <strong>de</strong>lírio. Diante da questão que essa gravi<strong>de</strong>z lhe<br />

colocou, e que é passível <strong>de</strong> ser lida a partir do seu <strong>de</strong>lírio. A mãe <strong>de</strong> E., quando soube que<br />

estava grávida, ouviu <strong>uma</strong> voz que lhe disse que era um menino que ela estava esperando.<br />

Bem mais adiante, a mãe po<strong>de</strong>rá dizer que queria que fosse menino para ajudar a tomar conta<br />

das meninas. Po<strong>de</strong>mos ler aí que, por não saber lidar <strong>com</strong> o que remete a ser menina ou ser<br />

mulher, a mãe precisa contar <strong>com</strong> o menino. Digamos que diante da falta mais fundamental, a<br />

qual remete ao ser mulher, o ser que falta, ela produz um <strong>de</strong>lírio, ela vai tentar dar<br />

consistência e preencher essa falta <strong>com</strong> o objeto menino.<br />

Nesse sentido, esse bebê não tem lugar no seu <strong>de</strong>sejo, ele não existe e representa, na sua<br />

condição <strong>de</strong> menina, <strong>uma</strong> ameaça, porque a falta que constitui a menina remete à sua própria<br />

falta <strong>com</strong>o mulher e ela parece não ter outro recurso senão a atuação, a construção <strong>de</strong> um<br />

objeto voz para sustentá-la minimamente. Parece, então, haver alg<strong>uma</strong> coisa da sua divisão,<br />

da sua condição <strong>de</strong> mulher que é marcada por <strong>uma</strong> falta fundamental, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o campo do<br />

Outro, que passa para seu campo revestido <strong>de</strong> <strong>uma</strong> voz <strong>de</strong> certeza, ou seja, na qual a falta<br />

some. Ela parece não suportar a marca da falta que o campo do Outro produz, transformando<br />

assim o objeto voz em <strong>uma</strong> certeza que vem preencher sua falta. Po<strong>de</strong>mos aqui localizar o<br />

Outro da mãe <strong>com</strong>o um Outro que se apresenta para ela <strong>com</strong>o voz e certeza.<br />

O <strong>de</strong>lírio <strong>com</strong> seu irmão parece ser da mesma or<strong>de</strong>m, é <strong>uma</strong> certeza que apaga a<br />

castração, a sua divisão, a sua falta. Uma vez que essa certeza – <strong>de</strong> que seu irmão colocou seu<br />

marido na sua frente e que agora, por isso, o seu irmão lhe <strong>de</strong>ve <strong>uma</strong> ajuda financeira, caso<br />

contrário vai processá-lo – coloca seu irmão num lugar incestuoso, por lhe cobrar <strong>uma</strong> dívida<br />

por ele trazer algo <strong>de</strong> fora e a dívida em si e a certeza em si apagam a castração. Temos então,<br />

Excluído:<br />

Excluído: 2.4.1.2.<br />

Excluído:<br />

Excluído: diante <strong>de</strong><br />

Excluído: .<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: que é<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: [saber explicar<br />

porque]


diante <strong>de</strong> um sujeito, a mãe que, diante da sua condição <strong>de</strong> sujeito dividido, tenta preencher<br />

sua falta recorrendo ao objeto voz. Em primeiro lugar, não há um en<strong>de</strong>reçamento no discurso<br />

que seja marcado por <strong>uma</strong> falta, um <strong>de</strong>sejo en<strong>de</strong>reçado a essa menina. Muito pelo contrário.<br />

Parece-me que é preciso fazer um trabalho muito <strong>de</strong>licado, que é, por um lado, que o analista<br />

possa servir para essa mãe, <strong>de</strong> função <strong>de</strong> tabelião, que toma nota do que po<strong>de</strong>ria estar entre ela<br />

(mãe) e essa menina, e que isso seja suportável. Ou seja, que ele possa servir tomando nota <strong>de</strong><br />

seu dizer que remete a essa falta, para que essa falta possa ter um contorno, que <strong>de</strong>limite um<br />

vazio e lhe dê <strong>uma</strong> outra consistência além da voz, já que essa voz está <strong>de</strong>ixando a mãe <strong>de</strong> E.<br />

muito ameaçada. Enten<strong>de</strong>mos que a voz é <strong>uma</strong> produção possível para essa mãe diante do<br />

insuportável do real, por isso não se trata <strong>de</strong> eliminar, mas talvez <strong>de</strong> trabalhar <strong>com</strong> essa mãe<br />

na direção <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixar passar e, sobretudo, marcar qualquer produção <strong>de</strong>la que seja para<br />

67<br />

tentar modular essa voz, aprivoiser (algo <strong>com</strong>o domesticar).<br />

Assim, quando essa mãe diz: “quando estava lavando roupa, ouvi a voz da minha<br />

cunhada que dizia: filho estressa, né?”, nos parece que nesse dizer tem algo que não é nem<br />

totalmente <strong>de</strong>ssa mãe <strong>de</strong> E. nem totalmente <strong>de</strong> E., é um dizer que tem função <strong>de</strong> um <strong>espaço</strong><br />

entre a mãe <strong>de</strong> E. e E., e por isso tem função <strong>de</strong> terceiro termo. É um dizer que também separa<br />

a mãe do lugar do incesto, seja quando seu objeto <strong>de</strong> gozo é o menino que E., sua filha, não é,<br />

seja quando ela se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong> gozar do irmão, quando esse tem que pagar<br />

porque lhe roubou.<br />

Parece-nos que, diante disso, <strong>de</strong>sse dizer que abre um <strong>espaço</strong>, temos que trabalhar<br />

marcando esse <strong>espaço</strong>. Tem um trabalho “<strong>de</strong> tomar nota” no sentido da expressão usada por<br />

Virginio Baio, executando um trabalho <strong>de</strong> tabelião. Parece que aí tem um trabalho <strong>de</strong> tomar<br />

nota <strong>de</strong> <strong>uma</strong> voz <strong>com</strong>o objeto a, que diz algo possível, <strong>uma</strong> vez que a voz não é ameaçada, ela<br />

vem <strong>de</strong> um lugar exterior à mãe <strong>de</strong> E. e não tão colado a E., por ser <strong>uma</strong> frase meio geral, do<br />

tipo “em geral filho estressa, né?”. Por isso enten<strong>de</strong>mos essa voz <strong>com</strong>o algo que não é nem da<br />

mãe, nem <strong>de</strong> E. Parece que assim se abre <strong>uma</strong> via <strong>de</strong> trabalho que <strong>com</strong>eça a abrir um <strong>espaço</strong><br />

para que E. possa advir <strong>com</strong>o sujeito.<br />

Penso que posso sustentar isso me referindo ao fato <strong>de</strong> ela não querer <strong>de</strong>ixar pra lá esse<br />

bebê, querer amamentá-lo e acolher a preocupação da sua irmã <strong>com</strong> sua filha – apontando<br />

assim um lugar em que gostaria <strong>de</strong> estar <strong>com</strong>o mãe <strong>com</strong> sua menina. Parece-me que é<br />

fundamental fazer esse trabalho <strong>de</strong> tabelião a partir do lugar <strong>de</strong> um Outro a quem falta.<br />

Excluído: menina dá trabalho<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: meninas dão trabalho


68<br />

Ao se dirigir <strong>de</strong>sse lugar <strong>de</strong> um outro a quem falta, tanto em direção à mãe quanto à<br />

filha, ou seja, tomando nota tanto para mãe <strong>com</strong>o para filha, abre-se um <strong>espaço</strong>, um vazio<br />

para que algo possa surgir aí <strong>com</strong>o algo que não seja nem da mãe, nem da filha, mas que as<br />

enlace a partir <strong>de</strong>sse contorno.<br />

Talvez seja isso que chamamos <strong>de</strong> clínica do laço.<br />

Parece-nos importante aqui, a partir <strong>de</strong>sse caso clínico, recorrer à <strong>teoria</strong> sobre o objeto a<br />

<strong>com</strong>o voz. Para isso seguiremos o estudo <strong>de</strong> Jacques-Alain Miller sobre o objeto a enquanto<br />

voz 94 .<br />

Segundo Miller, Lacan dirá que os objetos a têm <strong>uma</strong> função lógica, <strong>de</strong> contornar o<br />

vazio, e por isso encarnam <strong>de</strong> maneiras diversas esses restos. Enquanto objeto a, trata-se “<strong>de</strong><br />

pequenas coisas separáveis do corpo” 95 . É nessa perspectiva, nessa lógica <strong>de</strong> coisas separadas<br />

do corpo, <strong>de</strong> exteriorida<strong>de</strong> em relação ao sujeito, que Lacan acrescentou à lista dos objetos<br />

oral e anal, os objeto olhar e voz.<br />

Desenvolveremos aqui o objeto voz, a fim <strong>de</strong> articular a <strong>teoria</strong> <strong>com</strong> o caso clínico. A<br />

<strong>teoria</strong> da voz e do olhar <strong>com</strong>o objeto a vem da <strong>articulação</strong> que Lacan fez da sua experiência<br />

psiquiátrica <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> dos estágios <strong>de</strong> Freud e <strong>com</strong> o estruturalismo <strong>de</strong> F. <strong>de</strong> Saussure.<br />

Lacan vai formalizar o objeto escópico a partir do <strong>de</strong>lírio <strong>de</strong> vigia, no qual fica evi<strong>de</strong>nte<br />

a presença separada e <strong>de</strong> fora <strong>de</strong> um olhar sobre o qual o sujeito cai. Na mesma perspectiva,<br />

ele vai <strong>de</strong>stacar o objeto voz dos fenômenos do automatismo mental, elaborados por<br />

Clérambault. Lacan dirá que o objeto voz é a voz <strong>de</strong> que o sujeito não po<strong>de</strong> duvidar. E<br />

também, <strong>com</strong>o já vimos, que a função da palavra vai dar um sentido às funções do indivíduo.<br />

Essa palavra vai enodar o significado, o que precisa ser significado e o significante,<br />

produzindo assim um terceiro termo, que é a voz. Temos então a voz na condição <strong>de</strong> resto. O<br />

que me parece muito importante é que a voz, enquanto terceiro termo, faz parte da dimensão<br />

da ca<strong>de</strong>ia significante, enquanto ela dá um lugar ao sujeito.<br />

Segundo Miller, Lacan consi<strong>de</strong>ra que toda ca<strong>de</strong>ia significante 96 é <strong>de</strong> várias vozes, que<br />

ela não tem sentido unívoco. Ou seja, a instância da voz vai estar presente a cada vez que eu<br />

tiver que <strong>de</strong>limitar a minha posição em relação à ca<strong>de</strong>ia significante, já que essa ca<strong>de</strong>ia<br />

significante se situa em relação ao objeto indizível, a voz. Embora a gente fale, se sirva do<br />

94 MILLER, Jacques Alain, "Jacques Lacan et la voix. Concepts et mathèmes", Quarto, Revue <strong>de</strong> la<br />

Cause freudienne — ACF— en Belgique, "De la voix", juin 1994. Pp. 47-52.<br />

95 MILLER, a.c. p.48.<br />

96 MILLER, a.c.p.50.<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: . Ele dirá que, e<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: Lacan dirá


significante para interpelar o Outro, pedir resposta, esperamos do Outro que ele nos diga o<br />

que será do seu ser <strong>com</strong>o indivisível, e é isso que me enoda no Outro, é a voz no campo do<br />

Outro. Por isso, Lacan afirma que no automatismo mental a voz do Outro já está <strong>com</strong> o<br />

sujeito. Ele já lhe respon<strong>de</strong>u, trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> imposição. Vamos agora tentar tratar da voz<br />

<strong>com</strong>o imposição num fragmento <strong>de</strong> caso clínico.<br />

Fragmento do caso III (R. e F.)<br />

69<br />

Relato um último fragmento clínico para extrair <strong>de</strong>le alg<strong>uma</strong>s consi<strong>de</strong>rações em<br />

discussão <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> vista até agora. Trata-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> mãe, R., <strong>de</strong> 16 anos, e seu bebê <strong>de</strong> três<br />

meses. Esse caso clínico teve muitos <strong>de</strong>sdobramentos e nos convidou a trabalhar a questão do<br />

laço infans e gran<strong>de</strong> Outro sob todas suas costuras. Trabalhamos <strong>com</strong> R., seu lugar <strong>com</strong>o mãe,<br />

mas também seu lugar <strong>com</strong>o filha, ao qual ela era remetida pela presença <strong>de</strong> seu bebê; o laço<br />

<strong>de</strong> R. <strong>com</strong> a sua mãe, o laço <strong>de</strong> R. <strong>com</strong> sua filha que mobilizava questões muito sofridas para<br />

R. e para a filha. O trabalho consistiu em possibilitar a construção <strong>de</strong> um lugar para R. e sua<br />

filha n<strong>uma</strong> or<strong>de</strong>m simbólica que lhe <strong>de</strong>sse um lugar a qual elas podiam estar referenciadas.<br />

A invasão do real ao qual R. era submetida, alucinação (quando ouviu xinga-la <strong>de</strong> mãe),<br />

<strong>de</strong>lírios <strong>de</strong> perseguição, estranheza, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>avam <strong>uma</strong> <strong>de</strong>sorganização total na sua vida.<br />

Daí se trabalhar no laço entre R. e sua filha <strong>uma</strong> distância possível entre as duas, do ponto <strong>de</strong><br />

vista da subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> R. Em alguns momentos isso se traduziu para R., na vida real, em<br />

possibilitar dispositivos <strong>de</strong> abrigo, <strong>de</strong> a<strong>com</strong>panhamento por <strong>uma</strong> vizinha, <strong>de</strong> minha ida <strong>com</strong><br />

ela ao Juizado <strong>de</strong> Menores, em busca diária para permanência-dia, em articulações <strong>de</strong><br />

a<strong>com</strong>panhamento a programas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para jovens, em criar um dispositivo,<br />

a<strong>com</strong>panhamento pela equipe do Cersami nas suas visitas a sua filha, <strong>de</strong> criar um dispositivo<br />

<strong>de</strong> encontro <strong>com</strong> sua filha e a família <strong>de</strong> acolhimento no Cersami.<br />

Embora trataremos mais aqui do trabalho feito <strong>com</strong> o mãe, consi<strong>de</strong>ramos que houve um<br />

trabalho muito particular no sentido <strong>de</strong> que ela chegou trazendo <strong>de</strong> saída o insuportável para<br />

ela <strong>de</strong> ser mãe e ao mesmo tempo o insuportável <strong>de</strong> ficar longe <strong>de</strong> seu bebê. Por isso<br />

<strong>de</strong>cidimos trabalhar a questão do laço <strong>de</strong>ssa mãe <strong>com</strong> seu bebê, <strong>uma</strong> vez que foi <strong>uma</strong> questão<br />

que a mobilizou muito subjetivamente e que ela trouxe <strong>de</strong> entrada. Iremos <strong>de</strong>senvolver nesse<br />

fragmento o trabalho que <strong>de</strong>senvolvemos <strong>com</strong> seu bebê, atentos a suas manifestações<br />

Excluído: 2.4.2.<br />

Excluído: ,<br />

Excluído: na qual elas pu<strong>de</strong>ssem<br />

viver em algum<br />

Excluído: que <strong>de</strong>sse um<br />

contorno.<br />

Excluído: [Por isso nos<br />

propomos ]<br />

Excluído: vamos tratar<br />

Excluído:<br />

Excluído: bebe<br />

Excluído:<br />

Excluído: a<br />

Excluído: trosse<br />

Excluído:<br />

Excluído: n<br />

Excluído: ue<br />

Excluído:<br />

Excluído: n<br />

Excluído:<br />

Excluído: bebe<br />

Excluído:<br />

Excluído:


subjetivas, <strong>uma</strong> vez que ele nos dava notícia do seu adoecimento diante das rupturas radicais<br />

<strong>de</strong> sua mãe.<br />

Histórico e <strong>de</strong>scrição dos atendimentos<br />

Caso R e F<br />

70<br />

R. chega num plantão <strong>de</strong> urgência trazida pelo conselho tutelar. R. foi até eles pedir<br />

ajuda, porque estava muito angustiada por se sentir estranha, ela se <strong>de</strong>u conta <strong>de</strong> que algo<br />

estranho estava acontecendo. No plantão <strong>de</strong> urgência, diz que está se sentindo muito estranha<br />

e que, na rua, as pessoas estão “xingando ela <strong>de</strong> mãe”.<br />

Nesse primeiro momento, está muito confusa e preocupada, porque mentiu para o<br />

conselho tutelar a respeito <strong>de</strong> sua ida<strong>de</strong>, disse que tinha 16 anos e, na realida<strong>de</strong>, tem 15 anos;<br />

fez isso para po<strong>de</strong>r registrar a filha, que está <strong>com</strong> dois meses e precisa da certidão <strong>de</strong><br />

nascimento, estando hospitalizada na pediatria, entre a vida e a morte.<br />

História <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> R.<br />

R. vive em Betim (MG). Ela foi criada pela mãe, que tem história <strong>de</strong> alcoolismo e teve<br />

vários <strong>com</strong>panheiros. Segundo R., todos foram muito maus <strong>com</strong> ela e seus irmãos; eles<br />

passavam fome e eram maltratados; só um que foi bom, mas esse morreu assassinado.<br />

Família <strong>de</strong> R.<br />

R. tem <strong>uma</strong> irmã que <strong>de</strong>ve ter mais ou menos 30 anos; <strong>uma</strong> irmã <strong>de</strong> 20 anos e um irmão<br />

<strong>de</strong> 17 anos (psicótico); <strong>de</strong>pois, vários irmãozinhos pequenos <strong>de</strong> quem ela toma conta, e tem<br />

<strong>uma</strong> avó materna. Sua mãe é alcoólatra e trabalha <strong>com</strong>o artesã fazendo tapetes e cestas <strong>de</strong><br />

palha; sua irmã <strong>de</strong> 20 anos se prostitui e sua irmã mais velha também vive <strong>de</strong> artesanatos no<br />

município <strong>de</strong> origem da família, <strong>com</strong> o marido, seus filhos e sua avó materna. Sua mãe se<br />

mudou para Betim quando R. era pré-adolescente e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre R. fica na rua; tem histórico<br />

<strong>de</strong> alcoolismo e <strong>de</strong> prostituição. R. foi inscrita durante muito tempo num programa para<br />

crianças em situação <strong>de</strong> risco.<br />

Excluído:<br />

Excluído:<br />

Excluído: noticia<br />

Excluído:<br />

Excluído: 2.4.2.1.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: :<br />

Excluído: /<br />

Excluído: l<br />

Excluído: :<br />

Excluído: /MG


71<br />

Reconstrução dos acontecimentos e construção do caso<br />

R. conta que se escon<strong>de</strong>u na casa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> amiga e que escon<strong>de</strong>u a gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> sua mãe,<br />

do pai da criança e <strong>de</strong> sua sogra; conta que tinha medo da raiva da sua mãe, sabia que sua mãe<br />

ficaria muito brava <strong>com</strong> ela. Foi essa amiga que a convenceu a contar. R. conta que não<br />

suportava ficar lavando roupa e cuidando dos seus irmãos e que, por isso, bebia muito; que<br />

não suportava as brigas <strong>com</strong> sua mãe e <strong>com</strong> sua sogra.<br />

Quando o bebê nasce, R. vai para sua cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem ficar <strong>com</strong> sua irmã e sua avó. R.<br />

fica bem, amamenta o bebê, mas após um mês diz que quer voltar para Betim para registrar o<br />

bebê junto <strong>com</strong> o pai <strong>de</strong> sua filha, e quando vai ocorre o surto. R. conta que estava <strong>com</strong> seu<br />

bebê <strong>de</strong> dois meses e que estava triste, não querendo levantar, diz que isso durou alguns dias e<br />

que, <strong>de</strong> repente, sua filha passou mal, ficou sem ar, aí ela correu para <strong>uma</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

urgência, a qual encaminhou sua filha para a pediatria.<br />

Na pediatria, ocorre um episódio <strong>de</strong>lirante, R. diz que não a <strong>de</strong>ixaram entrar e que<br />

mataram seu bebê. Ficamos sabendo <strong>de</strong>pois que R. ficou extremamente agitada, brigou <strong>com</strong><br />

os médicos e que seu bebê chegou quase morto, e que os médicos acharam que o bebê não iria<br />

sobreviver. Segue-se então um contato do serviço social do hospital <strong>com</strong> R. e o conselho<br />

tutelar, no sentido <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar <strong>uma</strong> certidão <strong>de</strong> nascimento para a filha <strong>de</strong> R., para que o<br />

hospital possa dar a notificação <strong>de</strong> óbito, caso o bebê venha a morrer, que é o que todos<br />

achavam que iria acontecer. Nesse momento R. procura ajuda do conselho tutelar, porque está<br />

se sentindo estranha.<br />

Parece-nos relevante anotar aqui que por várias vezes os médicos tiveram quase a<br />

certeza <strong>de</strong> que esse bebê iria morrer, e sua resposta <strong>de</strong> vida surpreen<strong>de</strong>u todos.<br />

Tratamento <strong>de</strong> R. no Capsi Cersami/Betim<br />

R. chega muito angustiada, dizendo que está estranha e que na rua estão xingando ela <strong>de</strong><br />

mãe; quer ter notícias <strong>de</strong> sua filha e quer ficar <strong>com</strong> ela. R. é inscrita na permanência-dia em<br />

dois turnos, porque está muito mal, extremamente <strong>de</strong>sorganizada, angustiada e assustada.<br />

Encontra-se <strong>de</strong>lirante. Esse primeiro momento é um momento <strong>de</strong> reconstruir os<br />

acontecimentos; e <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r quais dispositivos po<strong>de</strong>m estar a serviço <strong>de</strong> R. para seu<br />

Excluído: :<br />

Excluído: m/MG<br />

Excluído: <strong>de</strong> R<br />

Excluído:<br />

Excluído: Nos p<br />

Excluído: importante<br />

Excluído: ’<br />

Excluído: :<br />

Excluído: ,


tratamento. R. está muito angustiada, por não estar <strong>com</strong> sua filha no hospital, pe<strong>de</strong> <strong>com</strong><br />

insistência para ir visitá-la; fazemos um contato <strong>com</strong> a assistente social da pediatria para<br />

organizar <strong>uma</strong> visita.<br />

72<br />

Destaca-se então o enorme sofrimento <strong>de</strong> R; sua dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar <strong>uma</strong> distância<br />

possível entre ela e sua filha. Quando fica próxima a sua filha, ao ir visitá-la, ela tem<br />

experiência persecutória, conta que tinha algo estranho no hospital, que iam matá-la; contou<br />

que na troca <strong>de</strong> plantão dos médicos, ela leu isso <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> agitação, e que iam matá-la. Sua<br />

filha fica hospitalizada por muito tempo. R. melhora muito, se organiza e pe<strong>de</strong> que a<br />

aju<strong>de</strong>mos a obter vale-transporte para ir visitar sua filha; diminui a sua permanência-dia para<br />

três vezes por semana. Isso é feito, mas R. não suporta; vai visitar sua filha e fica muito<br />

angustiada, diz que sua filha está muito sozinha. R. entra em crise novamente.<br />

R. continua pedindo para ver sua filha, que continua hospitalizada. Nesse momento,<br />

intensificamos o a<strong>com</strong>panhamento <strong>de</strong> R. em suas visitas à filha, em conjunto <strong>com</strong> a equipe do<br />

hospital da pediatria. R. suporta melhor e se organiza. É feito um trabalho <strong>com</strong> ela a respeito<br />

do que ela traz em suas questões em relação a sua filha; ela quer ajuda <strong>de</strong> alguém para cuidar,<br />

e diz que po<strong>de</strong>ria ser <strong>uma</strong> <strong>de</strong> suas irmãs. Começa então um longo trabalho nosso, do Cersami<br />

e do hospital, no sentido <strong>de</strong> investigar se existe essa possibilida<strong>de</strong>.<br />

Deparamos então <strong>com</strong> um <strong>de</strong>sencontro entre o discurso <strong>de</strong> R. e o discurso <strong>de</strong> sua mãe e<br />

das irmãs. R. sustenta que certamente qualquer <strong>uma</strong> <strong>de</strong>las teria condições e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ajudá-<br />

la. Na realida<strong>de</strong>, encontramos primeiro <strong>uma</strong> precarieda<strong>de</strong> simbólica, que se traduz por um<br />

caos enorme na vida <strong>de</strong> cada <strong>uma</strong>, a mãe alcoólatra bebe muitíssimo, vivendo num lugar<br />

imundo, ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> bêbados, e não toma conta dos filhos pequenos, sustenta esporadicamente<br />

seu trabalho <strong>de</strong> colher palha e fazer tapetes... A irmã mais nova <strong>de</strong> R. se prostitui e não quer<br />

saber <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> criança; e sua irmã mais velha, que vive <strong>com</strong> a avó <strong>de</strong> R., o marido e os<br />

filhos, mora num lugar muito sujo e <strong>de</strong>sorganizado, <strong>com</strong> poucos recursos e não quer saber <strong>de</strong><br />

cuidar <strong>de</strong> R. e da sua filha.<br />

Partimos, então, para o estudo <strong>de</strong> algum dispositivo da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção à criança e ao<br />

adolescente que possa acolher R. e sua filha quando estiver <strong>de</strong> alta do hospital, e faça esse<br />

trabalho <strong>de</strong> apoio quanto aos cuidados <strong>com</strong> sua filha, no sentido dos cuidados básicos da<br />

organização <strong>de</strong> horários, alimentação, sono e dos cuidados médicos múltiplos que sua filha<br />

necessita, por ter nascido <strong>com</strong> várias seqüelas físicas; e ainda alguém que também possa fazer<br />

esse trabalho <strong>de</strong> modular a distância entre R. e sua filha.


73<br />

Após um intenso trabalho junto à re<strong>de</strong> e ao juizado da infância e do adolescente, nos<br />

<strong>de</strong>paramos <strong>com</strong> a impossibilida<strong>de</strong>, por não haver nenhum dispositivo que possa ou tope esse<br />

trabalho. O hospital investiga a família do pai e chega à conclusão <strong>de</strong> que ninguém gostaria<br />

nem teria estrutura para cuidar <strong>de</strong> R. e sua filha.<br />

A filha <strong>de</strong> R. precisa fazer <strong>uma</strong> cirurgia importante no coração; R. tenta a<strong>com</strong>panhar os<br />

exames pré-cirúrgicos, mas não suporta e entra em crise novamente, fica muito triste, chora<br />

sem parar, não quer falar por um tempo, <strong>de</strong>pois fala do medo <strong>de</strong> sua filha morrer. R. falta à<br />

permanência-dia; a equipe que vai buscá-la em casa, mas não a encontra. Sua filha é<br />

transferida para Belo Horizonte, para cirurgia, sozinha, sem que nenhum familiar a<strong>com</strong>panhe.<br />

A cirurgia é bem-sucedida e sua filha volta para o hospital, na pediatria on<strong>de</strong> estava. R.<br />

volta ao tratamento, conta muito angustiada que o juiz quer tomar sua filha e encaminhar para<br />

adoção. Nós sabemos que foi a mãe <strong>de</strong> R. que fez esse pedido para o juizado da infância e da<br />

adolescência.<br />

O pai da criança e R. são convocados pela equipe <strong>de</strong> assistência social do juizado da<br />

infância e da adolescência. O pai nega ser o pai da filha <strong>de</strong> R. e R. diz que ele é o pai; é feito<br />

então um pedido <strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> DNA. Começa então um <strong>de</strong>morado período no qual o pai<br />

se furta a fazer o teste e R. fica na expectativa.<br />

A equipe do juizado da infância e do adolescente procura <strong>uma</strong> família <strong>de</strong> acolhimento<br />

para a filha <strong>de</strong> R. e é muito cuidadosa e atenta <strong>com</strong> R. O posicionamento é priorizar o bebê<br />

que, do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>les, se encontra n<strong>uma</strong> situação mais precária e mais sem <strong>de</strong>fesa do<br />

que R., mas ao mesmo tempo eles se preocupam <strong>com</strong> o tratamento <strong>de</strong> R. e querem trabalhar<br />

levando em conta o processo <strong>de</strong> R.<br />

Véspera <strong>de</strong> Natal, R. está <strong>de</strong>sesperada, porque soube que sua filha vai passar o final <strong>de</strong><br />

semana <strong>de</strong> Natal <strong>com</strong> <strong>uma</strong> família <strong>de</strong> acolhimento e pe<strong>de</strong> ajuda nossa no Cersami, para<br />

conversar <strong>com</strong> o juizado e a família <strong>de</strong> acolhimento, o que coinci<strong>de</strong> <strong>com</strong> o trabalho do<br />

juizado, que quer conversar <strong>com</strong> R. e <strong>de</strong>pois apresentar a família <strong>de</strong> acolhimento.<br />

Acontece o famoso encontro no juizado da infância e adolescência: a psicóloga do<br />

juizado expõe para R. o que é <strong>uma</strong> família <strong>de</strong> acolhimento e escuta R.; R. pe<strong>de</strong> para conhecer<br />

a família. Vem a sua mãe e o pai <strong>de</strong> acolhimento. R. fala <strong>com</strong> eles e fala sobre suas<br />

preocupações <strong>com</strong> sua filha, dos cuidados para que ela não passe fome e tenha conforto, e que<br />

ela não quer que, quando for gran<strong>de</strong>, pense em por que sua mãe a abandonou; diz que quer<br />

pegar sua filha quando ela (R.) ficar boa.<br />

Excluído: vem


74<br />

A mãe e o pai <strong>de</strong> acolhimento são muito cuidadosos <strong>com</strong> R., no sentido <strong>de</strong> não tomar o<br />

lugar <strong>de</strong>la e <strong>de</strong> valorizar o que R. está dizendo. R. fala do seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> querer continuar<br />

vendo sua filha. Com a estabilida<strong>de</strong>, R. melhora e piora alternadamente, e diante <strong>de</strong> toda a<br />

questão <strong>de</strong> R. <strong>com</strong> a modulação da distância possível <strong>de</strong>la <strong>com</strong> sua filha, propomos que as<br />

visitas <strong>de</strong> R. a sua filha ocorram no Cersami. Segue-se então um longo período <strong>de</strong> tratamento<br />

no qual R. traz a questão da adoção; diz que não quer que sua filha, ao crescer, pense que ela a<br />

abandonou.R., mas ao mesmo tempo, quer saber o que ela (R.) tem e quando vai ficar boa.<br />

O dispositivo dos encontros no Cersami <strong>com</strong>eça a funcionar <strong>uma</strong> vez por semana,<br />

durante um tempo, só eu que modulo quem vai estar presente; <strong>de</strong>pois me dou conta <strong>de</strong> que<br />

estou ficando para R. num lugar que a faz querer distância, faltar aos atendimentos e não<br />

trazer outros assuntos da vida <strong>de</strong>la para além <strong>de</strong> R enquanto mãe. Propõe-se então que <strong>uma</strong><br />

assistente social a<strong>com</strong>panhe simplesmente, e eu aten<strong>de</strong>ndo R. após os encontros. Sua filha<br />

vem a<strong>com</strong>panhada da mãe <strong>de</strong> acolhimento e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>uma</strong> babá.<br />

O dispositivo está no Cersami. Diante <strong>de</strong>le R. vem e falta aos encontros. Nesse sentido<br />

o dispositivo marca o limite <strong>de</strong> R. Ela se zanga <strong>com</strong> o agente, dizendo que estamos em falta<br />

(que não organizamos o encontro) quando ela falta... e vamos trabalhando isso. Ao mesmo<br />

tempo R. ingressa no programa Agente Jovem e por um tempo fica bem.<br />

Após um tempo longo, no qual R. questiona o que tem e fala da discriminação que<br />

sente, ela sai do serviço e vai para a prostituição. R. se organiza e fica mais estabilizada, vindo<br />

apenas ao serviço para <strong>com</strong>er e dormir <strong>de</strong> vez em quando. No final, me conta que foi parar no<br />

juizado e que conversou <strong>com</strong> a psicóloga do juizado e que ela falou que existe o dispositivo<br />

da adoção e a guarda; que na adoção o nome da criança é um direito da mãe adotiva, e na<br />

guarda a criança ficaria <strong>com</strong> o nome da mãe biológica, R.<br />

Articulação do fragmento do caso clínico <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong><br />

Produzir o lugar <strong>de</strong> mãe<br />

Logo no início do caso é surpreen<strong>de</strong>nte o lugar que R. dá a si mesma <strong>com</strong>o mãe. O<br />

lugar <strong>de</strong> mãe é nesse momento o que a mobiliza e <strong>de</strong>termina o que ela é e vai fazer. Ela marca<br />

esse lugar, ela nomeia sua filha. Ela precisa registrá-la, dar sua certidão <strong>de</strong> nascimento e para<br />

isso ela sai <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem para ir até Betim. Em seguida, segue-se o surto <strong>com</strong> as<br />

Excluído: 2.4.2.2.<br />

Excluído: :<br />

Excluído: se


alucinações auditivas, as vozes que a xingam <strong>de</strong> "mãe"; a voz vem porque é melhor do que<br />

um caos, um significante surge do real, para <strong>de</strong>limitar um lugar no Outro, que para R é o<br />

significante mãe.<br />

75<br />

Como filha ela estabilizou, porque pelo menos um pai foi bom. Esse pelo menos um era<br />

o que a assegurava, a organizava. Mas nem tanto, porque recorria à bebida e também não<br />

ficou nesse lugar, foi parar no lugar <strong>de</strong> mãe. Ela tenta achar um lugar entre mãe e filha, sua<br />

filha a remete a seu lugar, ao <strong>de</strong>la <strong>com</strong>o filha, às suas angústias, a seu lugar <strong>de</strong> filha<br />

maltratada, apavorada, fala <strong>de</strong> sua filha <strong>com</strong>o se não houvesse diferença entre ela (R.) e sua<br />

filha: é <strong>com</strong> sua angústia <strong>de</strong> ficar sozinha que fala da angústia da filha que está no hospital, é<br />

<strong>com</strong> sua angústia e horror do abandono que fala do abandono subjetivo, sua mãe não quer<br />

saber <strong>de</strong> R. e a <strong>de</strong>ixou à mercê dos homens, da fome, dos maus tratos. E nos parece que, se<br />

insiste muito no medo <strong>de</strong> que sua filha um dia lhe "jogue na cara" que ela a abandonou, não é<br />

sem relação <strong>com</strong> a raiva que sente por sua mãe, por tê-la abandonado.<br />

Estabilização – ser e ao mesmo tempo não ser<br />

Parece que o lugar <strong>de</strong> prostituta lhe possibilita <strong>uma</strong> certa estabilização; lá, sendo paga,<br />

não é objeto. Uma vez que é do Outro que vem o lugar do sujeito, entendo a estabilização, no<br />

sentido <strong>de</strong> manter <strong>uma</strong> certa distância, já que perto <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser, vira objeto, longe<br />

<strong>de</strong>mais é a morte, é nada. É assim que ela procura modular a distância <strong>com</strong> sua filha, seu lugar<br />

e o da filha, não a abandonando e querendo visitá-la; perto <strong>de</strong> sua filha alucina, dizendo que<br />

tentaram matá-la. Tenta manter <strong>uma</strong> distância, <strong>de</strong> ser e ao mesmo tempo não ser. Ser mãe e ao<br />

mesmo tempo não ser, perto <strong>de</strong>mais da filha <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser, vira um objeto criança ameaçada <strong>de</strong><br />

morte; longe <strong>de</strong>mais, quer vê-la, sofre no lugar <strong>de</strong> R. criança abandonada e <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser.<br />

Assim, mais tar<strong>de</strong> ela se faz presente nos encontros <strong>com</strong> sua filha e se ausenta.<br />

É o perto <strong>de</strong>mais do analista, junto ao lugar <strong>de</strong> filha e mãe, que faz <strong>com</strong> que, após um<br />

tempo, a analista se retire fisicamente do a<strong>com</strong>panhamento <strong>de</strong>sse encontrar, para possibilitar<br />

um <strong>espaço</strong> possível para R., e que R. traga também outras questões para análise.<br />

Alienação e separação<br />

Excluído: seria<br />

Excluído: angustias<br />

Excluído: lhe<br />

Excluído: (?)<br />

Excluído: ter<br />

Excluído: -a<br />

Excluído: :<br />

Excluído: :


76<br />

Sabemos <strong>com</strong> Lacan que o movimento, o trabalho <strong>de</strong> alienação e separação é um só, é<br />

no mesmo movimento que o sujeito se aliena ao Outro, ou melhor, ao que cai do outro, ao<br />

objeto a e se separa.<br />

Todo o trabalho <strong>de</strong> R. para encontrar <strong>uma</strong> distância possível entre ela e seu bebê diz<br />

respeito ao trabalho <strong>de</strong> alienação e separação, ou seja, é um trabalho <strong>de</strong> busca incessante <strong>de</strong><br />

ruptura <strong>com</strong> esse Outro tão todo, tão ameaçador; por isso esse trabalho para ser filha ou mãe,<br />

mãe ou filha <strong>uma</strong> ruptura no Outro, na qual possa caber <strong>com</strong>o sujeito, n<strong>uma</strong> distância<br />

suportável num intervalo da alienação total a esse Outro, tornando-se objeto, ou na separação<br />

total, em que R. é nada.<br />

Não há diferença, para R., entre ela e sua filha abandonada, que não tem nome, é um<br />

objeto anônimo, que apenas tem um pouco <strong>de</strong> consistência; e a mãe é injúria, é marca da<br />

alienação total. Não há diferença entre ela, mãe, e seu bebê, sua filha; não há diferença no<br />

inconsciente, sua filha é ela bebê abandonada, que não tem nome, um objeto anônimo que<br />

apenas tem um pouco <strong>de</strong> consistência, graças a pelo menos um pai que era bom. Quanto à<br />

injúria, o significante “mãe”, estão me “xingando <strong>de</strong> mãe”, vem para tentar separar, para<br />

tentar achar um lugar entre a filha e a mãe. A voz vem para melhorar o que é um caos, é um<br />

significante que surge do real para cavar no Outro seu lugar <strong>de</strong> mãe. Mas isso não a estabiliza,<br />

não funciona muito bem.<br />

A perda da libido<br />

Retornamos ao estudo <strong>de</strong> Miller sobre a voz, seguiremos aqui elaborações. Para Lacan,<br />

o <strong>de</strong>lírio vem construir <strong>uma</strong> perda, ele tira alg<strong>uma</strong> coisa da libido na realida<strong>de</strong> para criar <strong>uma</strong><br />

distância. Po<strong>de</strong>mos ler em Lacan que voz tem o estatuto <strong>de</strong> objeto quando ela é a voz do<br />

Outro. O que nos parece fundamental é que ele <strong>de</strong>fine o conjunto formado pela injúria pela<br />

frase que inclui a injúria, <strong>com</strong>o a ca<strong>de</strong>ia significante que se encontrou rompida, ou seja, que<br />

produziu atribuição subjetiva <strong>de</strong>ssa frase ao Outro. Isto possibilita que o sujeito pense na<br />

injúria por ela ser consi<strong>de</strong>rada pertencendo ao Outro.<br />

Lacan <strong>de</strong>fine que a carga afetiva, ou melhor, libidinal <strong>de</strong>ssa injúria – por exemplo<br />

“mãe”, estão me “xingando <strong>de</strong> mãe” – vai operar <strong>uma</strong> ruptura <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> da ca<strong>de</strong>ia<br />

significante, e <strong>uma</strong> rejeição no real. De fato, é na medida em que essa carga libidinal não po<strong>de</strong><br />

ser assumida pelo sujeito, que ele passa para o real e ela é atribuída ao Outro. É nesse sentido<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: objeto a<br />

Excluído: :<br />

Excluído:


que a voz aparece na sua dimensão <strong>de</strong> objeto, é quando ela vem do Outro. É isso que a <strong>de</strong>fine<br />

<strong>com</strong>o objeto.<br />

77<br />

Estruturalmente, vimos que o significante é utilizado pelo sujeito para tentar fazer <strong>com</strong><br />

que o Outro responda a ele o que se espera <strong>de</strong>le; ou seja, o sujeito se serve do significante,<br />

espera a voz do Outro, para que o Outro lhe diga o do que seu ser é indizível. Constatamos<br />

ainda, a partir da leitura <strong>de</strong> Miller, que a voz é essa dimensão da ca<strong>de</strong>ia significante que diz<br />

do ser do sujeito, mas que não po<strong>de</strong> dizer e é o que me liga ao campo do Outro. Temos então<br />

a voz pelo fato do significante girar em torno do objeto indizível, o objeto do <strong>de</strong>sejo.<br />

Como vimos nesses dois casos <strong>de</strong> psicose, a voz, ou dimensão da ca<strong>de</strong>ia significante<br />

que me liga ao Outro, não está submetida ao efeito da castração que faz <strong>com</strong> que o objeto<br />

indizível ou objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo seja o objeto que me liga ao Outro e que produz <strong>uma</strong> falta, <strong>uma</strong><br />

hiância que dialeticamente me relança num movimento incessante <strong>de</strong> busca <strong>de</strong>sejante. Na<br />

psicose, muito diferentemente, a voz do Outro já está <strong>com</strong> o sujeito, <strong>uma</strong> vez que o sujeito<br />

atribuía ao Outro não <strong>uma</strong> pergunta sobre a falta, o <strong>de</strong>sejo, mas <strong>uma</strong> certeza <strong>de</strong> que traz <strong>com</strong><br />

ela a carga libidinal <strong>de</strong>sse indizível.<br />

Excluído: 16


78<br />

IV. Espaço pais-bebês


79<br />

Alg<strong>uma</strong>s consi<strong>de</strong>rações sobre os fragmentos clínicos e o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong><br />

Constatamos, a partir dos casos clínicos, que era a<strong>de</strong>quado aten<strong>de</strong>r o infans e seu Outro<br />

primordial 97 conjuntamente, tratando-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong> clínica que se propõe a aten<strong>de</strong>r também<br />

aquele que não fala. Po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>cidir aten<strong>de</strong>r apenas o Outro do bebê, no entanto<br />

<strong>de</strong>cidimos atendê-los um na presença do Outro, <strong>uma</strong> vez que o infans nos dava notícia <strong>de</strong> um<br />

sofrimento psíquico que remetia ao laço <strong>com</strong> o Outro. Para isso, nos <strong>de</strong>bruçamos sobre a<br />

<strong>teoria</strong> <strong>de</strong> alienação e separação para tentar formalizar questões que se colocaram a partir <strong>de</strong>ssa<br />

clínica.<br />

Vimos que, embora o significante seja transmitido a partir do Outro, será preciso um<br />

trabalho <strong>de</strong> significação feito pelo sujeito e se faz necessária <strong>uma</strong> torção a mais: embora o<br />

simbólico preceda o sujeito, será a partir do encontro que o sujeito e o Outro se constituem,<br />

ou seja, não há duas entida<strong>de</strong>s prévias que se enlaçam e produzem o sujeito, há um encontro<br />

no qual o Outro e o sujeito se constituem. Assim, o ser do sujeito <strong>de</strong>verá vir <strong>de</strong> fora a<br />

posteriori, <strong>com</strong>o ato, <strong>com</strong>o resposta. Partindo <strong>de</strong>ssa teorização, gostaríamos agora <strong>de</strong> dar mais<br />

um passo e pensar <strong>com</strong>o po<strong>de</strong>mos trabalhar <strong>com</strong> os pais ou o infans, a criança pequena.<br />

Apren<strong>de</strong>mos muito <strong>com</strong> a contribuição <strong>de</strong> Virgínio Baio, que propõe o trabalho <strong>com</strong> os<br />

pais. A clínica <strong>com</strong> crianças psicóticas nos coloca a importância <strong>de</strong> que os pais nos autorizem<br />

a tratar <strong>de</strong> seus filhos e que se dê suporte para o trabalho do sujeito. Virgínio Baio propõe que<br />

é importante dar um lugar aos pais <strong>com</strong>o sujeitos, isso num primeiro tempo lógico, e, num<br />

segundo tempo lógico, convidá-los a se situar <strong>com</strong>o parceiros <strong>de</strong> seu filho e trazê-los a situar-<br />

se <strong>com</strong>nosco, do lado do Outro em relação a seus filhos. O que nos pareceu interessante nesse<br />

primeiro tempo lógico é que, para instaurar os pais <strong>com</strong>o sujeito, temos que fazer valer a<br />

barra da castração sobre a equipe, e isso se faz na medida que a equipe não se coloca no lugar<br />

<strong>de</strong> sujeito suposto saber, ao contrário, se coloca num lugar que situa um certo saber do lado<br />

dos pais, que lhes diz que, sem o saber <strong>de</strong>les, a equipe se encontra num impasse. Vimos aqui a<br />

mesma ética que vigora na clínica psicanalítica em geral. Nela o saber não está do lado do<br />

analista mas do lado do analisante. Isso nos parece muito interessante para nossa pesquisa,<br />

<strong>uma</strong> vez que esse lugar dado à enunciação dos pais constitui <strong>uma</strong> hiância, um vazio que<br />

97 Vi<strong>de</strong> nota 1, p. 2.


orienta e limita a equipe e sem o qual eles consi<strong>de</strong>ram que não po<strong>de</strong>m operar. Vemos nisso<br />

<strong>uma</strong> indicação clínica importante para o trabalho não só <strong>com</strong> as crianças psicóticas, mas<br />

também <strong>com</strong> os pais e os bebês, no que estamos tentando formalizar <strong>com</strong>o sendo esse <strong>espaço</strong><br />

possível <strong>de</strong> subjetivação. O segundo tempo lógico nos permite dar um passo a mais n<strong>uma</strong><br />

direção <strong>de</strong> trabalho que possibilite a constituição <strong>de</strong> um <strong>espaço</strong> vazio entre o sujeito e o Outro<br />

que permita um trabalho <strong>de</strong> subjetivação, <strong>uma</strong> vez que se trata <strong>de</strong> um trabalho em que a<br />

equipe e os pais tentam se fazer parceiros da criança agora <strong>com</strong>o sujeito, ou seja, parceiros do<br />

trabalho subjetivo da criança, em vez <strong>de</strong> encarnar para criança um Outro do saber pleno que<br />

se <strong>com</strong>pleta <strong>com</strong> seu objeto criança.<br />

80<br />

Tentamos verificar <strong>com</strong>o isso se daria nos casos clínicos e trabalhamos em algum<br />

momento <strong>com</strong> essa referência. Reconhecemos, ao longo dos casos clínicos, momentos em que<br />

trabalhamos <strong>com</strong> a mãe a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> proposta <strong>de</strong> trabalho que era <strong>de</strong> lhe dar um lugar <strong>de</strong><br />

sujeito, <strong>com</strong>o, por exemplo, para a mãe <strong>de</strong> S., quando a convidamos a falar <strong>de</strong> S., porque é ela<br />

que sabe sobre S. E nos interessamos também pelo trabalho do segundo momento lógico, que<br />

é <strong>de</strong> associá-los <strong>com</strong>o parceiros do trabalho <strong>de</strong> seus filhos, reconhecendo o lugar que o Outro<br />

ocupa para seu filho, e assim reconhecendo o trabalho <strong>de</strong> seu filho, sua resposta <strong>de</strong> sujeito<br />

diante do Outro. Pareceu-nos que po<strong>de</strong>ríamos ler algo <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m, no caso <strong>de</strong> S., quando<br />

tentamos sustentar um lugar para o trabalho <strong>de</strong> S. <strong>com</strong>: “queremos saber mais <strong>de</strong> S” – que<br />

vive, se agita, se interessa por objetos diante <strong>de</strong> um Outro que a <strong>de</strong>fine <strong>com</strong>o “<strong>de</strong>sobediente”.<br />

Assim, parece-nos que, quando instauramos os pais <strong>com</strong>o sujeitos e nos colocamos do lado do<br />

Outro possível para o infans, e quando nos fazemos parceiros do trabalho do infans ou da<br />

criança pequena, estamos nos orientando pela operação <strong>de</strong> alienação e separação, pela noção<br />

<strong>de</strong> objeto a, <strong>com</strong>o <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> para o sujeito, seja ele pai, mãe ou criança.<br />

Nessa perspectiva, vamos abrir esse último capítulo <strong>com</strong> <strong>uma</strong> reflexão a respeito do<br />

texto "Nota sobre a criança", <strong>de</strong> Jacques Lacan, a fim <strong>de</strong> avançar mais um pouco no estudo a<br />

respeito do objeto a a partir da clínica <strong>com</strong> crianças e seus pais. Lacan nos diz que a função<br />

<strong>de</strong> resíduo que sustenta a família conjugal, ao longo da evolução das socieda<strong>de</strong>s, faz <strong>de</strong>stacar<br />

um irredutível <strong>de</strong> transmissão, que é a constituição subjetiva que implica a relação a um<br />

<strong>de</strong>sejo que não seja anônimo.


81<br />

Assim a função da mãe e do pai se <strong>de</strong>fine a partir <strong>de</strong>ssa necessida<strong>de</strong>. A mãe, enquanto<br />

seus cuidados trazem a marca <strong>de</strong> um interesse particular, transmitindo sua própria falta. E o<br />

pai, enquanto o seu nome é o vetor <strong>de</strong> <strong>uma</strong> encarnação da lei no <strong>de</strong>sejo, ou seja, da castração.<br />

A partir disso, Lacan postula que o sintoma da criança se constitui para respon<strong>de</strong>r ao<br />

que tem <strong>de</strong> sintomático na estrutura da família. Teremos então, segundo Lacan, duas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resposta do sujeito: n<strong>uma</strong>, o sintoma representa a verda<strong>de</strong> do casal parental.<br />

Essa possibilida<strong>de</strong> é a mais <strong>com</strong>plexa, mas também a mais aberta à nossa intervenção. Na<br />

outra, o sintoma revela a subjetivida<strong>de</strong> da mãe; nesse caso, nossa intervenção encontra-se<br />

bastante reduzida, nessa situação a criança está diretamente interessada, enquanto correlativa<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> fantasia.<br />

Nesse caso, a distância entre a i<strong>de</strong>ntificação ao i<strong>de</strong>al do eu e o <strong>de</strong>sejo da mãe, sem<br />

mediação, que normalmente é assegurada pela função do pai, <strong>de</strong>ixa a criança vulnerável à<br />

fantasia materna, tornando-se assim "objeto" da mãe, e a função <strong>de</strong>sse objeto é <strong>de</strong> revelar a<br />

verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse objeto. Isso terá por conseqüência o fato <strong>de</strong> que a criança realiza a presença do<br />

objeto a na fantasia. Saturando assim a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falta na qual se especifica o <strong>de</strong>sejo da<br />

mãe, qualquer que seja sua estrutura.<br />

A criança aliena na mãe qualquer acesso possível a sua própria verda<strong>de</strong>, dando-lhe<br />

corpo e existência. Dessa maneira, nessa relação dual <strong>com</strong> a mãe, a criança lhe dá o que lhe<br />

falta, o falo, oferecendo-se assim <strong>com</strong>o objeto no real. Isso tem <strong>com</strong>o conseqüência que, na<br />

medida em que o objeto apresenta o real, ele está mais subordinado à fantasia materna. Parece<br />

então possível extrair aí que, quando a criança torna-se "objeto" da mãe, por não ter a<br />

mediação assegurada pela função do pai para modular a distância entre a i<strong>de</strong>ntificação i<strong>de</strong>al<br />

do eu e o <strong>de</strong>sejo da mãe, ela se realiza, oferecendo-se <strong>com</strong>o objeto no real. Isso significa que<br />

não operou a castração e que o objeto não se realiza <strong>com</strong>o resto, <strong>com</strong>o objeto a, <strong>com</strong>o aquilo<br />

que possibilitou <strong>uma</strong> certa separação, um <strong>espaço</strong> entre alienação e separação. Diferentemente<br />

do objeto a, o objeto no real é o objeto na psicose. Ou seja, o objeto da psicose não é o objeto<br />

a, porque o objeto a implica um <strong>espaço</strong> entre alienação e separação, e o objeto no real vem<br />

saturar a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falta que viabiliza a separação. Parece-nos igualmente importante<br />

<strong>de</strong>stacar aqui que a mediação assegurada pela função do pai não é <strong>uma</strong> mediação entre duas<br />

entida<strong>de</strong>s que buscam fazer <strong>uma</strong> média entre elas, tentando um entendimento entre o que cada<br />

<strong>uma</strong> reivindica. Muito pelo contrário, não se trata nada disso, a mediação aqui posta por<br />

Lacan é <strong>uma</strong> mediação paradoxal, que é virtual, que tem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>espaço</strong>, <strong>uma</strong> vez


que a função do pai garante a mediação através do recobrimento <strong>de</strong> duas faltas, a do sujeito e<br />

a do Outro, a partir da operação da castração, resultando num <strong>espaço</strong> vazio, que tem a<br />

consistência lógica do objeto a, um objeto que não é nem do sujeito nem do outro e que é o<br />

elo entre o sujeito e o Outro, e que, <strong>com</strong>o objeto, <strong>de</strong>saparece. Vemos ai <strong>uma</strong> direção <strong>de</strong><br />

trabalho para o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, não sendo um <strong>espaço</strong> para tentar harmonizar algo do<br />

Outro materno e o bebê, mas sim <strong>de</strong> fazer valer, a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> função <strong>de</strong> terceiro, um <strong>espaço</strong><br />

possível <strong>de</strong> subjetivação.<br />

82<br />

A partir <strong>de</strong>ssa reflexão, vamos nos propor a arriscar <strong>uma</strong> breve aproximação entre<br />

<strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> pensado a partir do objeto a lacaniano, ou seja, a partir das operações <strong>de</strong><br />

alienação e separação, e o objeto transicional <strong>de</strong> D. W. Winnicott, <strong>uma</strong> vez que este inspirou<br />

muito a noção <strong>de</strong> objeto a lacaniano.<br />

Farei primeiro <strong>uma</strong> breve <strong>articulação</strong> da <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> Jacques Lacan, alienação e separação,<br />

<strong>com</strong> o conceito <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> potencial e o objeto transicional <strong>de</strong> Winnicott. Embora o aporte <strong>de</strong><br />

Winnicott seja muito importante, infelizmente não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolvê-lo aqui<br />

extensivamente, mas tentaremos apresentar alg<strong>uma</strong>s articulações que nos parecem<br />

interessantes para nosso campo <strong>de</strong> pesquisa.<br />

Articulação da operação <strong>de</strong> alienação e separação <strong>com</strong> o <strong>espaço</strong> potencial e<br />

o objeto transicional<br />

Alienação/separação e o objeto a<br />

Lacan, no Seminário 10, A angústia, diz que <strong>de</strong>ve muito da sua formalização do objeto<br />

a a Winnicott.<br />

O que chamamos do objeto traduz-se, portanto, pelo aparecimento, na ca<strong>de</strong>ia da<br />

fabricação h<strong>uma</strong>na, <strong>de</strong> objetos cedíveis que po<strong>de</strong>m ser equivalentes aos objetos naturais. Se<br />

esta repetição não é <strong>de</strong>spropositada aqui é que, por meio <strong>de</strong>la, tenciono ligar diretamente a isso<br />

a função que tenho enfatizado há muito tempo – a do objeto transicional, para retomar o termo,


83<br />

apropriado ou não, mas já consagrado, <strong>com</strong> que o rotulou seu criador, aquele que o percebeu,<br />

ou seja, Winnicott 98 .<br />

O objeto a <strong>de</strong> Lacan se constitui na operação <strong>de</strong> alienação e separação. Como vimos, na<br />

operação <strong>de</strong> alienação, o Outro, ao tentar recobrir o sujeito <strong>com</strong> todo o sentido, faz aparecer o<br />

furo, o que não é possível fazer consistir <strong>com</strong>o sentido; <strong>uma</strong> vez que é impossível recobrir<br />

<strong>com</strong> todo o sentido, falta sentido, constitui-se então um furo no Outro, a falta, o <strong>de</strong>sejo no<br />

Outro. Na operação <strong>de</strong> separação, o sujeito, ao tentar preencher essa falta, tenta preencher o<br />

<strong>de</strong>sejo do Outro, mas é barrado, <strong>uma</strong> vez que esse Outro, ao en<strong>de</strong>reçar seu <strong>de</strong>sejo para além<br />

do sujeito, produz a castração <strong>de</strong>ste. Isso significa que ele é interditado na sua tentativa <strong>de</strong><br />

preencher o <strong>de</strong>sejo do 0utro. O sujeito será então expulso do <strong>de</strong>sejo do Outro, produzindo-se a<br />

divisão do sujeito. O resto <strong>de</strong>ssa operação é o objeto a.<br />

De acordo <strong>com</strong> Lacan, para que haja separação será necessário que o sujeito se<br />

i<strong>de</strong>ntifique <strong>com</strong> esse resto caído <strong>de</strong>sse Outro, o objeto a, que sobra da operação <strong>de</strong> castração:<br />

O a, aqui, é suplente do sujeito – e suplente na posição <strong>de</strong> prece<strong>de</strong>nte. O sujeito mítico<br />

primitivo, postulado no início <strong>com</strong>o tendo <strong>de</strong> se constituir no confronto significante, nós nunca<br />

o apren<strong>de</strong>mos, por razões óbvias, porque o a o prece<strong>de</strong>u, e é <strong>com</strong>o marcado, ele próprio, por<br />

essa substituição primitiva que ele tem que reemergir secundariamente, para além <strong>de</strong> seu<br />

<strong>de</strong>saparecimento 99 .<br />

Assim, Lacan formula no Seminário 10 que, na operação <strong>de</strong> castração, <strong>de</strong> divisão do<br />

sujeito que se escreve $, tem no sentido da divisão um resto, um resíduo. Esse resto é a única<br />

prova, garantia da alterida<strong>de</strong> do Outro e, é o a. É por isso que os dois termos, $ e a, o sujeito<br />

marcado pela barra do significante e o pequeno a, resto, resíduo que é a condição <strong>de</strong><br />

existência do Outro, estão no mesmo lado da barra, do lado objetivo da barra. Ou seja, para<br />

Lacan, tanto o $ <strong>com</strong>o o a estão do lado do Outro, porque a fantasia, que é apoio do <strong>de</strong>sejo,<br />

está na sua totalida<strong>de</strong> do lado do Outro. O que está do lado do sujeito e que o constitui <strong>com</strong>o<br />

inconsciente é o Outro barrado, A que é inatingível por mim. Assim Lacan escreve o esquema<br />

que é o primeiro esquema da divisão:<br />

98 LACAN, Jacques (1962-1963), O Seminário. Livro 10: A angústia, Rio <strong>de</strong> janeiro: Jorge Zahar, 2005,<br />

p. 340.<br />

99 LACAN, Jacques, op.cit., p. 341.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: a<br />

Excluído: .<br />

Excluído: (1962-1963)<br />

Excluído: .<br />

Excluído: O Seminário. Livro10:<br />

Excluído: a<br />

Excluído: A angústia. Rio <strong>de</strong><br />

janeiro: Jorge Zahar, 200<br />

Inserido: A<br />

Excluído: 5


A S<br />

$ A<br />

a<br />

84<br />

É por isso que os dois termos $ e a, o sujeito marcado pela barra do significante e o<br />

objeto pequeno a, resíduo do condicionamento, se assim posso me exprimir, pelo Outro,<br />

encontra-se do mesmo lado, do lado objetivo da barra. Todos os dois estão do lado do Outro,<br />

porque a fantasia, esteio do meu <strong>de</strong>sejo, está inteiramente do lado do outro. O que está agora<br />

do meu lado é aquilo que me constitui <strong>com</strong>o inconsciente, ou seja, A, o Outro <strong>com</strong>o aquele<br />

que não atinjo 100 .<br />

Assim, o objeto a na condição <strong>de</strong> resto não pertence nem ao Outro nem ao sujeito,<br />

porque <strong>com</strong>o o objeto é do Outro, será necessário, para que se inscreva a falta no objeto, que<br />

algo seja perdido. Nos interessa aqui essa afirmação <strong>de</strong> Lacan, enquanto direção clínica, <strong>uma</strong><br />

vez que vamos ter que trabalhar na direção <strong>de</strong> causar o sujeito.<br />

Aporte <strong>de</strong> D. W. Winnicott sobre o conceito objetos transicionais e <strong>espaço</strong><br />

potencial 101<br />

Seguiremos agora, a fim <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r <strong>com</strong>o D. W. Winnicott formalizou esses conceitos,<br />

um capítulo nomeado “Objetos transicionais e fenômenos transicionais”. Ali Winnicott se<br />

propõe a estudar a riqueza do padrão <strong>de</strong> uso que os bebês fazem <strong>de</strong> sua primeira posse não-eu.<br />

Ele nos dá a seguinte <strong>de</strong>finição:<br />

Introduzi as expressões ”objeto transicional” e ”fenômeno transicional” para <strong>de</strong>signar a<br />

área intermediária da experiência, entre o polegar e o ursinho, entre o erotismo oral e a<br />

verda<strong>de</strong>ira relação objetal, entre a ativida<strong>de</strong> da criativida<strong>de</strong> primária e a projeção do que já<br />

100 LACAN, Jacques , op.cit., p. 36.<br />

101 WINNICOTT, Donald W., “Objetos transicionais e fenômenos transicionais”, in: Da pediatria à<br />

psicanálise. Obras escolhidas, (1951), cap. XVIII, pp. 316 – 331.<br />

Excluído: (1962-1963).<br />

Excluído: O Seminário. Livro10:<br />

Excluído: a<br />

Excluído: A angústia. Rio <strong>de</strong><br />

janeiro: Jorge Zahar, 2005<br />

Inserido: A<br />

Excluído: Winnicott<br />

Excluído: I<br />

Excluído: .<br />

Excluído: (1951),<br />

Excluído: -


85<br />

teria sido introjetado, entre a não-consciência primária da dívida e o reconhecimento da<br />

dívida 102 .<br />

Desse modo, para ele, tanto o balbucio do bebê <strong>com</strong>o a maneira <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> criança mais<br />

velha repassa todo um repertório <strong>de</strong> canções enquanto se preparando para dormir, ocorrem<br />

nessa área intermediária, enquanto fenômenos transicionais. Nessa área ocorrerá também o<br />

uso <strong>de</strong> objetos que nem fazem parte do corpo do bebê, nem são reconhecidos <strong>com</strong>o sendo da<br />

realida<strong>de</strong> exterior.<br />

O que Winnicott está formalizando é que o indivíduo possui <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> interna que<br />

faz fronteira <strong>com</strong> <strong>uma</strong> realida<strong>de</strong> externa, mas que existe <strong>uma</strong> terceira parte da vida do<br />

indivíduo que é <strong>uma</strong> região intermediária da experimentação que tem a contribuição tanto da<br />

realida<strong>de</strong> interna <strong>com</strong>o da externa. Essa área é <strong>uma</strong> área intermediária, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, porque<br />

não é questionada.<br />

Interessa-lhe estudar essa área intermediária entre o subjetivo e o objetivamente<br />

percebido, porque isso vai permitir-lhe estudar o progresso que leva à manipulação dos<br />

verda<strong>de</strong>iros objetos não-eu. Esse estudo vai conduzi-lo à formulação do objeto transicional<br />

que será a primeira posse não-eu 103 . Vejamos as características especiais no relacionamento<br />

do bebê <strong>com</strong> o objeto, que o torna um objeto transicional.<br />

No então, para que ocorram os fenômenos transicionais e objetos transicionais, será<br />

necessário que a mãe seja suficientemente boa. Isso significa que ela se adapte ativamente às<br />

necessida<strong>de</strong>s do seu bebê, <strong>uma</strong> adaptação que irá diminuir gradativamente <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> a<br />

capacida<strong>de</strong> que o bebê irá adquirir <strong>de</strong> suportar as falhas na adaptação e tolerar a vivência das<br />

frustrações. Assim, no início da vida do bebê, a mãe <strong>com</strong> sua ação adaptadora vai lhe dar a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter a ilusão <strong>de</strong> que seu seio é <strong>uma</strong> parte <strong>de</strong>le. O bebê tem <strong>uma</strong> vivência<br />

mágica <strong>de</strong> ter o controle sobre o seio.<br />

Recapitulando: para Winnicott, essa primeira posse relaciona-se retroativamente aos<br />

fenômenos auto-eróticos, ao costume <strong>de</strong> chupar o punho ou o polegar e, mais tar<strong>de</strong>, o<br />

paninho, o bichinho macio, a boneca, ou o brinquedo. Essa primeira posse, embora se<br />

relacione tanto aos objetos externos (seio materno) quanto internos (seio mágico), difere dos<br />

dois.<br />

102 I<strong>de</strong>m, p. 317.<br />

103 Para Winnicott, o padrão dos fenômenos transicionais <strong>com</strong>eça a tornar-se perceptível por volta <strong>de</strong> 4-6-<br />

8-12 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Op.cit., p. 320.<br />

Excluído: P.


86<br />

Essa primeira posse constitui os objetos e fenômenos transicionais que pertencem ao<br />

campo da ilusão. Esse é o momento dos primórdios do <strong>de</strong>senvolvimento, que <strong>de</strong>ve sua<br />

existência à capacida<strong>de</strong> da mãe <strong>de</strong> adaptar-se ativamente às necessida<strong>de</strong>s do seu bebê, dando-<br />

lhe a ilusão <strong>de</strong> que o que ele cria realmente existe. Já houve a percepção <strong>de</strong> perda: “O bebê<br />

assume direitos sobre o objeto e nós concordamos <strong>com</strong> isto. Ainda assim, alg<strong>uma</strong> ab-rogação<br />

<strong>de</strong> onipotência está presente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início” 104 . Vemos aí, a partir do ensino <strong>de</strong> Lacan, o<br />

reconhecimento da perda, ou seja, da castração necessária, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> perda estrutural.<br />

O objeto transicional é importante porque ele é o que possibilita se separar do objeto.<br />

Assim, paraWinnicott, o uso típico do objeto transicional é <strong>de</strong> um tranqüilizador que permite<br />

que a criança use o objeto substituto para ampará-la diante da separação do objeto, da perda<br />

do objeto. Assim, ele diz: “Pouco <strong>de</strong>pois do <strong>de</strong>smame, aos cinco ou seis meses, ele adotou a<br />

ponta <strong>de</strong> um cobertor sobre um bebê, on<strong>de</strong> terminava a costura. Ficava contente quando um<br />

pouco <strong>de</strong> lã repuxava, fazendo <strong>com</strong> ela cócegas no nariz. Isto tornou-se muito cedo seu<br />

‘baa’” 105 .<br />

Winnicott observa que o bebê não se questiona sobre se essa área intermediária da<br />

experiência pertence à realida<strong>de</strong> interna ou externa. Ela é muito importante porque constitui a<br />

parte maior da experiência do bebê, e num período adulto é lugar <strong>de</strong> experiência no campo da<br />

arte, da religião e da imaginação, assim <strong>com</strong>o do trabalho científico criativo. "O objeto<br />

transicional <strong>de</strong> um bebê será gradativamente <strong>de</strong>scatexizado, especialmente na medida que se<br />

constituem os interesses culturais" 106 . Nesse sentido, o objeto transicional é o aspecto visível<br />

da travessia do bebê <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a subjetivida<strong>de</strong> até a objetivida<strong>de</strong>, ele seria um aspecto visível da<br />

travessia em direção ao simbolismo. De fato, quando o simbolismo é empregado, o bebê já<br />

tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distinguir entre fato e fantasia, entre objetos internos e externos.<br />

104 Op.cit., p. 320.<br />

105 Op.cit., p. 323.<br />

106 Op.cit. p. 406-407.<br />

Excluído: I<strong>de</strong>m<br />

Excluído: I<strong>de</strong>m


87<br />

Articulações do conceito <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> e objeto transicional <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> <strong>de</strong><br />

Lacan alienação/separação e o objeto a e o objeto e <strong>espaço</strong> transicional<br />

O objeto<br />

O objeto transicional é <strong>uma</strong> etapa rumo ao objeto a, <strong>uma</strong> vez que ele já implica a<br />

dimensão <strong>de</strong> falta, <strong>de</strong> perda, porque, <strong>com</strong>o nos diz Winnicott, o bebê se agarra ao objeto<br />

transicional pelo fato <strong>de</strong>le já viver a dimensão da falta, já houve para o bebê a inclusão da<br />

experiência da perda do objeto. Parece-nos fundamental a função do objeto transicional, <strong>uma</strong><br />

vez que, através <strong>de</strong>le, a criança <strong>com</strong>eça a se separar do objeto materno e aí vai se separando<br />

<strong>de</strong> todos os objetos. Essa distância é um <strong>espaço</strong> vazio que antece<strong>de</strong> qualquer troca, é a<br />

primazia do simbólico. Assim, se retomamos os conceitos <strong>de</strong> Lacan <strong>de</strong> real e imaginário,<br />

vemos <strong>com</strong>o a troca passa necessariamente pelo simbólico.<br />

Alienação e separação<br />

Iremos agora seguir o estudo <strong>de</strong> Masud R. Khan 107 e um texto <strong>de</strong> Winnicott: “A<br />

observação do bebê n<strong>uma</strong> situação padronizada” (1941) 108 , que articulamos <strong>com</strong> a operação<br />

<strong>de</strong> alienação e separação <strong>de</strong> Jacques Lacan. Um dos primeiros estudos <strong>de</strong> D. W. Winnicott,<br />

que antece<strong>de</strong> seus trabalhos sobre <strong>espaço</strong> e objeto transicional, encontra-se nesse trabalho<br />

sobre a observação <strong>de</strong> bebês 109 . Nesse trabalho ele <strong>de</strong>screve um certo padrão <strong>de</strong><br />

<strong>com</strong>portamento infantil em relação a <strong>uma</strong> espátula, no contexto <strong>de</strong> <strong>uma</strong> consulta solicitada<br />

pela mãe. Nessa experiência ele vai <strong>de</strong>stacar a hesitação do bebê <strong>com</strong>o um momento muito<br />

importante, eu diria fundamental nesse momento <strong>de</strong> constituição do bebê, nessa experiência<br />

padronizada por ele; momento fundamental, que vai da hesitação ao gesto criativo.<br />

107 KHAN, Masud R., "Introdução" a WINNICOTT Donald. W., Da pediatria à psicanálise. Obras<br />

escolhidas, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 2000, pp. 11-54.<br />

108 WINNICOTT. Donald, W., op.cit., cf. Capítulo IV, “A observação do bebê n<strong>uma</strong> situação<br />

padronizada” (1941), pp. 112-132.<br />

109 WINNICOTT, op.cit., p. 112.<br />

Excluído: .<br />

Excluído: (Introdução <strong>de</strong><br />

Massud R. Khan).<br />

Excluído: o.c<br />

Excluído: .<br />

Excluído: r<br />

Excluído: bebÊ


88<br />

O gesto criativo consi<strong>de</strong>rado por Winnicott, o rabisco, é o produto “do jogo do<br />

rabisco” 110 , que é um jogo que possibilitou a ele criar o <strong>espaço</strong> transicional. O <strong>espaço</strong><br />

transicional seria constituído <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> hesitação que constitui esse momento, esse<br />

<strong>espaço</strong>, até o <strong>de</strong>sdobrar-se no gesto criativo, o rabisco. Parece-me importante, para enten<strong>de</strong>r<br />

em que consiste o <strong>espaço</strong> transicional, <strong>de</strong>screver esse movimento que vai da hesitação ao<br />

rabisco. Para isso vou agora <strong>de</strong>screver as observações <strong>de</strong> Winnicott sobre <strong>uma</strong> experiência<br />

feita <strong>com</strong> <strong>uma</strong> espátula em <strong>uma</strong> situação padronizada, em consultas solicitadas pela mãe.<br />

Nessa experiência tem a análise <strong>de</strong>sse movimento. Teremos três estágios:<br />

1) Primeiro estágio – o bebê esten<strong>de</strong> sua mão para a espátula, mas <strong>de</strong>scobre subitamente<br />

que precisa pensar um pouco mais sobre a situação. Ele se vê num dilema. Instaura-se então a<br />

hesitação.<br />

2) Segundo estágio – enquanto dura o “período <strong>de</strong> hesitação”, o bebê vai manter seu<br />

corpo na mesma posição, mas sem rigi<strong>de</strong>z.<br />

Winnicott assinala que, aos poucos, o bebê reúne coragem suficiente para <strong>de</strong>ixar que<br />

seus sentimentos aflorem, e aí a cena vai mudar rapidamente. O momento em que essa<br />

primeira fase é substituída pela segunda é facilmente reconhecível, diante da aceitação por<br />

parte da criança da realida<strong>de</strong> do seu <strong>de</strong>sejo pela espátula. Ocorre <strong>uma</strong> mudança no interior da<br />

boca da criança, esta se torna flácida, <strong>com</strong> a língua grossa e macia, cheia <strong>de</strong> saliva.<br />

O bebê dá a impressão <strong>de</strong> acreditar que a espátula está sob seu controle, talvez em seu<br />

po<strong>de</strong>r; parece acreditar que a espátula está aí disponível para, por meio <strong>de</strong>la, expressar o seu<br />

Eu. Nesse momento sua intenção é brincar, é representar.<br />

3) Terceiro estágio – o bebê, antes <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>ixa cair a espátula, fazendo <strong>com</strong>o se fosse<br />

por acaso. Quando a recebe <strong>de</strong> volta, fica feliz, brinca novamente <strong>com</strong> a espátula e a <strong>de</strong>ixa<br />

cair um pouco propositalmente, até <strong>de</strong>ixar propositalmente mesmo, adorando então o ato <strong>de</strong><br />

jogá-la <strong>de</strong> modo agressivo, tornando-se muito satisfeito quando a espátula faz barulho ao cair<br />

no chão.<br />

No final da terceira fase, o bebê pe<strong>de</strong> pra <strong>de</strong>scer ao chão <strong>com</strong> a espátula, para brincar e<br />

mordê-la ou para <strong>de</strong>ixá-la pra lá e alcançar outro objeto.<br />

Alg<strong>uma</strong>s aproximações entre a <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> alienação e separação <strong>de</strong> Lacan<br />

110 Cf. a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Masud R. Kahn, op.cit., p. 19.


89<br />

Iremos agora trazer alg<strong>uma</strong>s reflexões que forma forjadas pelo grupo <strong>de</strong> orientação e<br />

pesquisa ministrado por Marco Antônio Coutinho Jorge.<br />

Parece-me importante essa experiência <strong>com</strong> o bebê, a espátula e a mãe. Winnicott, <strong>com</strong><br />

base na experiência padronizada, institui um <strong>espaço</strong> no qual po<strong>de</strong>ríamos situar o bebê<br />

constituindo-se <strong>com</strong>o $, a espátula que po<strong>de</strong>ríamos consi<strong>de</strong>rar <strong>com</strong>o o objeto a, e o Outro do<br />

bebê, a mãe. Isso nos possibilita instaurar <strong>uma</strong> analogia entre o “<strong>espaço</strong> potencial”,<br />

transicional, e a operação <strong>de</strong> alienação e separação que se dá num movimento só.<br />

O que me parece importante <strong>de</strong>stacar, tanto no <strong>espaço</strong> potencial, <strong>com</strong>o na operação <strong>de</strong><br />

alienação separação, é a falta, o buraco, <strong>com</strong>o condição <strong>de</strong> esse <strong>espaço</strong> se configurar <strong>com</strong>o<br />

operação. No caso do <strong>espaço</strong> potencial, temos o período <strong>de</strong> hesitação que é central e<br />

fundamental para ele configurar um período, um <strong>espaço</strong> e um tempo lógico no qual po<strong>de</strong><br />

escolher sim ou não. Por aí já se instaura a falta e um momento <strong>de</strong> suspensão, por não<br />

escolher. Po<strong>de</strong>ríamos dizer o recobrimento <strong>de</strong> duas faltas, do sujeito e do Outro, assim <strong>com</strong>o a<br />

operação <strong>de</strong> alienação e separação se dá, se fundamenta a partir do recobrimento <strong>de</strong>ssas duas<br />

faltas. Na suspensão, o bebê está às voltas <strong>com</strong> o <strong>de</strong>sejo do Outro; tentando <strong>de</strong>cifrá-lo e<br />

correspon<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>sejo do Outro; fazendo <strong>com</strong> que sua falta corresponda ao <strong>de</strong>sejo do Outro.<br />

Notamos também que o objeto a é o resto da operação <strong>de</strong> alienação e separação, o resto<br />

da operação <strong>de</strong> castração, o que se produz quando o Outro materno dirige-se mais além do<br />

sujeito, do $ que tenta respon<strong>de</strong>r, <strong>com</strong>pletar o <strong>de</strong>sejo do Outro materno, e que se vê barrado,<br />

interditado pelo Outro materno. A castração, a divisão do sujeito $ e o resto objeto a, o que<br />

fica <strong>de</strong> não simbolizável <strong>de</strong>ssa operação da castração, é o resto que o simbólico não po<strong>de</strong><br />

recobrir. Nesse sentido po<strong>de</strong>mos aproximar a experiência da espátula <strong>com</strong> o objetivo que é do<br />

sujeito, mas não só <strong>de</strong>le, também é do Outro, porque ele serve <strong>de</strong> instrumento <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>ira<br />

entre o sujeito e o Outro, ao <strong>de</strong>ixá-lo cair e ser apanhado. Mas, ao mesmo tempo, ele não fica<br />

nem <strong>com</strong> o sujeito nem <strong>com</strong> o Outro. E ele está abandonado no chão.<br />

Para Winnicott, o verda<strong>de</strong>iro Eu surge, se faz no gesto criativo do jogo do rabisco. O<br />

jogo do rabisco é um jogo que o terapeuta inicia <strong>com</strong> um risco e o paciente continua <strong>com</strong> seu<br />

risco. Sua essência é o modo <strong>com</strong>o Winnicott cria o <strong>espaço</strong> potencial, um <strong>espaço</strong> transicional<br />

no qual o período <strong>de</strong> hesitação está totalmente presente, <strong>uma</strong> vez que essa hesitação constitui<br />

esse <strong>espaço</strong>, já que ela suspen<strong>de</strong> algo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e, assim, cria um vazio. Po<strong>de</strong>mos pensar<br />

também que essa hesitação constitui esse <strong>espaço</strong>, já que ela suspen<strong>de</strong> algo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e, assim,<br />

cria um vazio. Po<strong>de</strong>mos pensar também que a hesitação é possível porque há um <strong>espaço</strong> vazio


que não é ocupado pelo terapeuta, nem pelo paciente, o bebê. Desta forma po<strong>de</strong>mos dizer que<br />

o <strong>espaço</strong>, que não é do terapeuta nem do bebê, é redobrado pela hesitação do bebê, ou seja,<br />

um puxa o outro.<br />

90<br />

Será do movimento do <strong>espaço</strong> potencial entre o terapeuta e o paciente, ou entre o bebê e<br />

o Outro, que nascerá o sujeito do inconsciente, o verda<strong>de</strong>iro eu, se constituindo a partir <strong>de</strong>sse<br />

<strong>espaço</strong> e <strong>de</strong>sse gesto criativo. Assim, <strong>com</strong>o é da operação <strong>de</strong> duas faltas num movimento só<br />

<strong>de</strong> alienação e separação que o sujeito <strong>de</strong> inconsciente <strong>de</strong> S passa a $.<br />

Espaço <strong>pais–bebês</strong><br />

Tentaremos agora, a partir do trabalho do <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> e as questões ali<br />

levantadas, articular os conceitos que estudamos ao longo da dissertação.<br />

<strong>pais–bebês</strong>.<br />

Apresentamos a seguir alguns fragmentos clínicos em sua <strong>articulação</strong> <strong>com</strong> o <strong>espaço</strong><br />

Primeiro fragmento clínico<br />

L. é <strong>uma</strong> menina autista <strong>de</strong> dois anos quando chega ao atendimento individual. Nesse<br />

primeiro momento, minha presença parece não contar, ela não se dirige ao outro, não há troca<br />

<strong>de</strong> olhar <strong>com</strong> o outro. Apresenta <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> agitação, jogando todos os brinquedos da sala no<br />

chão. Após um longo trabalho junto a L. <strong>com</strong> seus pais, no sentido <strong>de</strong> possibilitar à mãe e ao<br />

pai fazer o luto <strong>de</strong> <strong>uma</strong> morte que os capturava, impossibilitando que L. nascesse – ela tinha<br />

sido amalgamada ao lugar <strong>de</strong> morte – é possível então inaugurar um outro momento, em que<br />

L. passa a ser investida libidinalmente, <strong>com</strong>o objeto <strong>de</strong> amor. Cai, então, o lugar <strong>de</strong> criança<br />

<strong>de</strong>sobediente, que precisa apanhar, para dar a vez ao lugar <strong>de</strong> criança que interessa<br />

(“Queremos saber mais <strong>de</strong> L.”).<br />

É nesse momento que ela é indicada para o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, um <strong>espaço</strong> para além do<br />

<strong>espaço</strong> do atendimento individual, no qual o lúdico possa servir <strong>de</strong> suporte, <strong>espaço</strong> que<br />

possibilita à mãe libidinizar L. mais um pouco.<br />

Indicamos também <strong>com</strong>o <strong>espaço</strong> “regrado”, no qual o saber não vem por parte das<br />

técnicas, mas, sim, por parte da criança. Trata-se portanto <strong>de</strong> um <strong>espaço</strong> que é não-todo, que<br />

contém <strong>uma</strong> certa margem na qual L. possa experimentar, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s,


encontrar novos objetos, outras crianças. L. constrói conhecimentos sobre si, sobre as relações<br />

<strong>com</strong> as outras crianças enquanto brinca.<br />

91<br />

Nas primeiras vezes L. cai em <strong>de</strong>sespero, grita, rola no chão, se <strong>de</strong>smancha toda,<br />

quando é confrontada <strong>com</strong> outra criança que lhe toma seu brinquedo.<br />

Introduzimos a dimensão da palavra, diferente do agir sempre antecipado da mãe <strong>com</strong><br />

L., que não lhe <strong>de</strong>ixa escolha, nem <strong>espaço</strong> para pedir ou respon<strong>de</strong>r. A mãe constrói<br />

conhecimento sobre as possibilida<strong>de</strong>s da filha, ao vê-la brincar e se relacionar <strong>com</strong> as outras<br />

crianças e ao refletir sobre sua postura frente à filha. Assim, aos poucos, a mãe se dirige a L.<br />

não mais <strong>com</strong> o saber fechado, mas <strong>de</strong>ixando-se surpreen<strong>de</strong>r por L. É por meio da palavra que<br />

introduzimos um certo tempo, tempo no qual L. po<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r, mesmo que <strong>de</strong>ssa forma e<br />

que isso seja reconhecido. E tentando fazer <strong>uma</strong> certa suplência, fazendo-se suporte <strong>de</strong>sse ir-<br />

e-vir do objeto, buscando fazer um trabalho <strong>de</strong> escriba, que tentamos dar notícia <strong>de</strong> que ela<br />

continua lá inteira.<br />

Segundo fragmento clínico<br />

M. tem um ano e meio quando chega ao serviço. Nos primeiros atendimentos<br />

ambulatoriais vêm a mãe e a avó paterna, <strong>uma</strong> vez que moram juntas, e a mãe, grávida, diz<br />

estar precisando da ajuda da avó. Depois, <strong>de</strong>vido a questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, vêm o avô paterno e M.<br />

M. chega constantemente machucado, <strong>com</strong> galos na testa. O avô relata que M. é muito<br />

”nervozinho”, por isso bate a cabeça.<br />

No <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, constatamos que M. é calmo, procura interagir <strong>com</strong> outras<br />

crianças. Toda vez que M. convida o avô para brincar, ele não aceita e o manda ir brincar,<br />

<strong>de</strong>terminando <strong>com</strong>o M. <strong>de</strong>veria brincar; é <strong>de</strong>ssa forma que ele intervém também quando M.<br />

está brincando, impõe-lhe outra brinca<strong>de</strong>ira, indo até tirar o brinquedo <strong>de</strong> M., pegando <strong>de</strong>le<br />

num momento em que M. está muito interessado e atento ao seu brinquedo. Isso <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>uma</strong> explosão em M.: ele grita, chora e bate a sua cabeça na pare<strong>de</strong>.<br />

É preciso intervir, dar notícia a M. <strong>de</strong> que ouvimos que ele está muito interessado no<br />

seu brinquedo e tentar falar <strong>com</strong> o avô <strong>com</strong>o se fosse M. que estivesse se dirigindo a ele e,<br />

<strong>com</strong> isso, buscar cavar um enigma para ver se o avô consegue dirigir-se a M. <strong>de</strong> outro lugar.


92<br />

Tentativa <strong>de</strong> formalização do <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong><br />

Consi<strong>de</strong>ramos este <strong>com</strong>o um <strong>espaço</strong> que se faz a partir <strong>de</strong> sua função. Propomos que ele<br />

funcione <strong>com</strong>o um <strong>espaço</strong> vazio, que tem, no entanto, um contorno. Esse contorno é<br />

constituído por alguns princípios que o fazem clinicamente operacional, no sentido <strong>de</strong> que ele<br />

é oferecido aos pacientes <strong>com</strong>o um lugar on<strong>de</strong> se é convidado e por isso se po<strong>de</strong> recusar, ou<br />

seja, um <strong>espaço</strong> no qual as pessoas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>cidir ficar ou sair. Portanto, não é um grupo, é<br />

apenas um <strong>espaço</strong> on<strong>de</strong> é possível estar presente <strong>com</strong> a criança e po<strong>de</strong>r brincar, falar e ser<br />

escutado. O princípio fundamental, então, é que ele constitui um <strong>espaço</strong> <strong>com</strong>o instrumento, e<br />

não um grupo. Mas não é um <strong>espaço</strong> isento da clínica, é um lugar no qual um analista e um<br />

terapeuta ocupacional se fazem presentes <strong>com</strong> sua escuta. Com isso queremos dizer que<br />

fazemos valer um <strong>espaço</strong> vazio, não sabemos <strong>de</strong> antemão, o saber não está lá pronto, para<br />

repertoriar a fala.<br />

O saber está do lado do paciente, as pessoas falam o que já sabem, mas apostamos que,<br />

fazendo valer um <strong>espaço</strong> vazio <strong>de</strong> saber, po<strong>de</strong>mos possibilitar que se produza aí nesse <strong>espaço</strong><br />

algo novo, um saber do inconsciente que possa servir para aquela mãe ou aquela criança.<br />

É <strong>uma</strong> escuta que garante que a “palavra circule”, que seja respeitada a palavra <strong>de</strong> cada<br />

um, é nessa posição <strong>de</strong> não saber que se vai fazer valer ativamente, na ação, esse <strong>espaço</strong><br />

vazio. Muitas vezes, trata-se <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> scribe 111 , <strong>de</strong> tabelião, <strong>de</strong> quem toma nota<br />

durante o fazer da criança, ou até mesmo do seu dizer. Tomar nota significa para o sujeito que<br />

estamos a serviço do saber do sujeito, do que ele diz, mesmo quando são sujeitos que não<br />

sabem falar, <strong>uma</strong> vez que eles se constituem a partir do campo da linguagem. Como nos diz<br />

Luciano Elia:<br />

(...) <strong>com</strong>o os autistas ou alguns psicóticos esquizofrênicos em condições<br />

subjetivas cuja gravida<strong>de</strong> faça <strong>com</strong> que sua relação <strong>com</strong> a linguagem se caracterize<br />

pela mais <strong>com</strong>pleta fragmentação e <strong>de</strong>sconcatenação <strong>de</strong> sua fala – ainda assim estará<br />

no campo da linguagem, na medida em que é ser falante, que se constitui em um<br />

mundo <strong>de</strong> linguagem, o h<strong>uma</strong>no: não relincha, não late, e sua fala, quando há, não<br />

111 BAYO, Virgínio, “Une pratique à plusieurs généralisée”, in: Préliminaire. Publication du Champ<br />

Freudien en Belgique, outono 1999, p.143-154.<br />

Excluído: Virginio


93<br />

estaria <strong>de</strong> modo algum mais próxima das produções sonoras dos animais do que a<br />

nossa 112 .<br />

Então, por pertencer ao campo da linguagem, trata-se <strong>de</strong> um dizer referenciado ao saber<br />

do sujeito do inconsciente. Tomar nota <strong>de</strong>sse saber do sujeito do inconsciente é tentar<br />

inscrever, fixar alg<strong>uma</strong> coisa, para permitir que isso se repita e estabilize <strong>uma</strong> fala <strong>com</strong>o<br />

produção do sujeito. É assim que apostamos, <strong>com</strong> este trabalho, na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilizar<br />

cada um no campo do seu <strong>de</strong>sejo, tentando localizar o furo no discurso <strong>de</strong> cada um, localizar<br />

qual é o furo que se tece nesse discurso, convidando o sujeito a trabalhar aí. Enten<strong>de</strong>mos que<br />

é necessário intervir pontualmente, a partir do que ocorre naquele <strong>espaço</strong> e naquele momento<br />

<strong>com</strong> aquele sujeito.<br />

Avaliamos que talvez se trate <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> tradução no sentido <strong>de</strong> que nessas<br />

intervenções nos autorizamos a partir do campo do nosso <strong>de</strong>sejo, do que escolhemos a ser<br />

escutado, <strong>de</strong>stacado, transcrito ao Outro. Isso nos leva a pensar que talvez o <strong>espaço</strong> pais–<br />

bebês seja um <strong>espaço</strong> no qual um vazio faz valer um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> escrita para cada um, escrita<br />

do trabalho <strong>de</strong> alienação e separação <strong>de</strong> cada um e que nós somos tradutores 113 humil<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sse trabalho que se tece nesse laço ao Outro.<br />

Quando propomos que o <strong>espaço</strong> se <strong>de</strong>fine por um <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, é para que aí<br />

possa caber <strong>uma</strong> clínica do laço, que esse laço <strong>pais–bebês</strong>, infans–gran<strong>de</strong> Outro, possa se dar,<br />

possa se tecer, possa se fazer, <strong>de</strong>sfazer, se escrever, rasurar, reescrever. E que a leitura se faça<br />

por nós a partir <strong>de</strong>sse movimento <strong>de</strong> alienação e separação, fazendo valer que, nesse laço do<br />

infans ao Outro, nesse movimento do Outro ao infans, alienação e separação tecem um <strong>espaço</strong><br />

que não é nem do infans, nem do Outro.<br />

Esse <strong>espaço</strong> se constitui <strong>com</strong>o resto <strong>de</strong>ssa operação, ou seja, constitui-se <strong>com</strong>o objeto a.<br />

Po<strong>de</strong>mos assim pensar que o objeto a é esse <strong>espaço</strong> entre alienação e separação, que po<strong>de</strong>mos<br />

chamar <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> subjetivo. Vemos aí <strong>uma</strong> aproximação do objeto potencial <strong>de</strong> D. W.<br />

Winnicott <strong>com</strong>o sendo aquele objeto que se constitui pelo fato do infans já viver a dimensão<br />

da falta, já haver nele a inclusão da perda do objeto. Ele tem a função <strong>de</strong> possibilitar que o<br />

112 ELIA, Luciano, O conceito <strong>de</strong> sujeito, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar editor, 2004, pp. 21-22.<br />

113 Sabemos que há um estudo rigoroso sobre o trabalho <strong>de</strong> tradução. Não vamos <strong>de</strong>senvolver isso aqui.<br />

Nos referimos ao texto <strong>de</strong> Lacan, "Avis au lecteur japonais", in LACAN, Jacques, Autres écrits, Paris, Seuil,<br />

2001, p. 497.<br />

Excluído: a


infans se separe do objeto materno e <strong>de</strong>pois dos outros objetos, trazendo assim consigo a<br />

marca <strong>de</strong> um vazio, a primazia do simbólico, tendo um efeito subjetivante.<br />

94<br />

Tentaremos, para finalizar, dar mais um passo nessa reflexão acerca do que constituiria<br />

um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> sujeito, e que direção <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>veria ter,<br />

tentando retomar um pouco mais a partir <strong>de</strong> qual referência guiamos esse trabalho <strong>de</strong><br />

intervenção, e especificamente o que sustentaria teoricamente e eticamente um trabalho no<br />

campo da psicanálise <strong>com</strong> crianças tão pequenas, para o qual Lacan <strong>de</strong>u o estatuto <strong>de</strong> infans,<br />

<strong>de</strong> vir-a-ser. Para isso, vamos percorrer brevemente alguns pontos que lemos sobre a ética da<br />

psicanálise, a fim <strong>de</strong> tentar formalizar mais um pouco <strong>com</strong>o po<strong>de</strong>ríamos manter um rigor ético<br />

nesse trabalho que preten<strong>de</strong>mos fazer <strong>com</strong> crianças bem pequenas, e o que isso quer dizer.<br />

A psicanálise está presente em vários lugares: na universida<strong>de</strong>, nas instituições <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, na saú<strong>de</strong> mental, em lugares on<strong>de</strong> há ambulatórios, permanência diurna, noturna,<br />

atendimento <strong>de</strong> urgência… Ou seja, extrapolamos os muros do "setting analítico": o divã e o<br />

analista.<br />

N<strong>uma</strong> revista francesa, o Magazine littéraire (n°428, fev. 2004), po<strong>de</strong>mos ler o título:<br />

"La psychanalyse – nouveaux enjeux, nouvelles pratiques". Esta revista tem as contribuições<br />

dos psicanalistas René Major, Julia Kristeva, Tobie Nathan, Boris Cyrulnik, Michel Schnei<strong>de</strong>r<br />

e … <strong>uma</strong> entrevista inédita <strong>com</strong> Lacan <strong>de</strong> 1974, que trata dos perigos do retorno da religião e<br />

do cientificismo, a psicanálise sendo para ele a única muralha concebível contra as angústias<br />

contemporâneas.<br />

Nesse sentido, para Lacan, a psicanálise é o melhor que se tem <strong>com</strong>o resposta à questão<br />

do sofrimento e do gozo presente nos sintomas <strong>de</strong> nossa cultura, <strong>uma</strong> vez que, <strong>com</strong>o nos diz<br />

Eduardo Vidal, "<strong>com</strong> a psicanálise a sexualida<strong>de</strong> entra em outra dimensão, pois passa a estar<br />

na causa, <strong>com</strong> o termo <strong>de</strong> pulsão, do acontecer psíquico (...) A satisfação da pulsão e o<br />

gozo” 114 . Ele escreve também: "mas o ser falante não está bem aparelhado para lidar <strong>com</strong> ele.<br />

As palavras faltam no que se refere ao gozo e o inconsciente é um saber in<strong>com</strong>pleto no que<br />

tange ao sexual. Entre o inconsciente e a pulsão, há <strong>uma</strong> fenda on<strong>de</strong> o <strong>de</strong>sejo tem a função <strong>de</strong><br />

fazer o nó. Que o <strong>de</strong>sejo possa surgir <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manter aberta a fenda,<br />

não preencher a falta" 115 .<br />

114 VIDAL Eduardo, "O sujeito consumido", in: O Estado <strong>de</strong> Minas do 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2001, p. 3.<br />

115 VIDAL, art.citado.<br />

Excluído:<br />

Excluído: Ib


95<br />

Manter a fenda aberta e não preencher a falta é um recurso ético que a psicanálise<br />

propõe para tratar da questão do sofrimento e do gozo presente nos sintomas <strong>de</strong> nossa cultura.<br />

Os sintomas <strong>de</strong> nossa cultura, Lacan os pensa a partir da releitura que faz do texto Mal-estar<br />

na civilização, escrito por Freud em 1930. Nesse livro, ele mostra <strong>com</strong>o a tirania do i<strong>de</strong>al leva<br />

ao mal-estar na civilização. "El superyó <strong>de</strong> la cultura ha plasmado sus i<strong>de</strong>ales y plantea sus<br />

reclamos. Entre estos, los que atañen a los vínculos recíprocos entre los seres h<strong>uma</strong>nos se<br />

resumen bajo el nombre <strong>de</strong> ética. En todos les tiempos se atribuyó el máximo valor a esta<br />

ética, <strong>com</strong>o si se esperara justamente <strong>de</strong> ella unos logros <strong>de</strong> particular importancia. Y en<br />

efecto, la ética se dirije a aquel punto que facilmente se reconoce <strong>com</strong>o la <strong>de</strong>solladura <strong>de</strong> toda<br />

cultura 116 .” Freud nos diz assim que a ética <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> tentativa<br />

terapêutica: tratar-se-ia <strong>de</strong> um esforço que, através do supereu cultural, tentaria alcançar algo<br />

que nenh<strong>uma</strong> ativida<strong>de</strong> cultural conseguiu até hoje: <strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong> se livrar do maior<br />

problema da civilização, isto é, a agressivida<strong>de</strong> entre os seres h<strong>uma</strong>nos. Nada simples, <strong>uma</strong><br />

vez que a agressão é <strong>uma</strong> disposição pulsional original e auto-subsistente. É por isso que a<br />

civilização facilita i<strong>de</strong>ntificações fortes, <strong>uma</strong> vez que a libido inibida fortalece o vínculo.<br />

Freud escreve Mal-estar na civilização a partir da clínica e esta vai conduzi-lo a<br />

autorizar duas censuras contra o supereu. Trata-se, segundo ele, <strong>de</strong> se opor ao supereu, seja<br />

quando a sua severida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhece o eu – aí nós nos opomos para diminuir suas exigências<br />

–, seja quando há <strong>uma</strong> super-rigi<strong>de</strong>z na criação dos filhos. Segundo Leila Mariné, "a super-<br />

rigi<strong>de</strong>z na criação dos filhos é patogênica, porque a constituição <strong>de</strong>ssa agressivida<strong>de</strong><br />

en<strong>de</strong>reçada ao Outro e incorporada pelo sujeito inclui sempre um cálculo da agressão<br />

esperada" 117 . Para Freud, na cultura fazemos oposição a or<strong>de</strong>ns impossíveis <strong>de</strong> obe<strong>de</strong>cer,<br />

porque nelas está implicada a suposição <strong>de</strong> que seria possível ao homem dominar isso, o que<br />

ele não po<strong>de</strong>.<br />

Lacan toma a psicanálise <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> ética, a ética do bem dizer a relação do sujeito <strong>com</strong><br />

o <strong>de</strong>sejo e o gozo. Segundo Eduardo Vidal, "o sujeito para a psicanálise é dividido entre o que<br />

116 FREUD, Sigmund (1930), O malestar na civilização, in: ESB, vol.XXI, AE, vol. XXI. "O supereu da<br />

cultura formou seus i<strong>de</strong>ias e exibiu suas exigências. Entre estas, aquelas que dizem respeito às relações dos<br />

homens entre si, se resumem sob o termo geral <strong>de</strong> ética. Em todos os tempos, o maior valor foi atribuído a essa<br />

ética, <strong>com</strong>o se se esperasse <strong>de</strong>la mesma benefícios <strong>de</strong> particular importância. E, <strong>de</strong> fato, a ética diz respeito<br />

àquilo que facilmente se reconhece <strong>com</strong>o o ponto mais fraco da cultura." (tradução nossa)<br />

117 GUIMARAES Leila Mariné da Cunha, "Do mal-estar", texto inédito, p. 3.<br />

Excluído: FREUD Sigmund, El<br />

malestar en la cultura (1930<br />

[1929]),<br />

Excluído:<br />

Excluído: in: Obras <strong>com</strong>pletas,<br />

vol. XXI<br />

Inserido:


acredita saber – suas convicções, i<strong>de</strong>ais… – e o que sabe em outro lugar, o inconsciente, que,<br />

<strong>com</strong>o a linguagem que fala, continua trabalhando ainda quando dorme" 118 .<br />

96<br />

Portanto, bem dizer a relação do sujeito <strong>com</strong> o <strong>de</strong>sejo e o gozo implica que a análise não<br />

tente suprimir o sintoma, eliminá-lo. Ela convida antes o sujeito a dizê-lo, <strong>de</strong> maneira que a<br />

posição do sujeito do sintoma mu<strong>de</strong> a ponto <strong>de</strong> mudar também a economia <strong>de</strong> gozo e as<br />

implicações do <strong>de</strong>sejo nesse sintoma.<br />

Lacan nos dirá, no Seminário VII, A ética da psicanálise, que o que se pe<strong>de</strong> ao analista é<br />

a felicida<strong>de</strong> 119 e que o que é importante <strong>de</strong> ser lembrado no momento em que o analista se<br />

encontra em posição <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a quem lhe pe<strong>de</strong> a felicida<strong>de</strong>, é que não só ele tem o bem<br />

soberano, a felicida<strong>de</strong>, mas sobretudo que ele sabe que não existe o bem soberano, a<br />

felicida<strong>de</strong>. Lacan dirá a esse respeito: "Eis o que convém relembrar no momento em que o<br />

analista se encontra em posição <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a quem lhe <strong>de</strong>manda a felicida<strong>de</strong> (…), mas ele,<br />

o analista, sabe que essa questão é <strong>uma</strong> questão fechada. Não somente o que se lhe <strong>de</strong>manda,<br />

o Bem supremo, é claro que ele não tem mas sabe que não existe" 120 .<br />

Lacan explica que levar <strong>uma</strong> análise a termo não é nada mais do que ter encontrado esse<br />

limite on<strong>de</strong> se apóia toda a problemática do <strong>de</strong>sejo. O que o analista tem para dar não é a<br />

felicida<strong>de</strong>; o que ele tem para dar é o que ele tem, que é somente seu <strong>de</strong>sejo, um <strong>de</strong>sejo<br />

advertido: "O que o analista tem a dar, contrariamente ao parceiro do amor, é o que a mais<br />

linda noiva do mundo não po<strong>de</strong> ultrapassar, ou seja, o que tem. E o que tem nada mais é que<br />

seu <strong>de</strong>sejo, <strong>com</strong>o o analisado, <strong>com</strong> diferença que é um <strong>de</strong>sejo prevenido" 121 .<br />

Serge Cottet, falando da "ética freudiana", abre o capítulo intitulado "A ética do <strong>de</strong>sejo"<br />

<strong>com</strong> <strong>uma</strong> citação <strong>de</strong> Lacan: "Está por ser formulada <strong>uma</strong> ética que integre as conquistas<br />

freudianas sobre o <strong>de</strong>sejo: para pôr em seu cume a questão do <strong>de</strong>sejo do analista" 122 . Para<br />

Cottet, a <strong>de</strong>scoberta freudiana do recalque e <strong>de</strong> seus efeitos no sintoma <strong>de</strong>termina <strong>uma</strong> direção<br />

da cura que não <strong>de</strong>ixa o psicanalista inteiramente neutro. No texto "A questão da análise leiga<br />

– conversação <strong>com</strong> <strong>uma</strong> pessoa imparcial", po<strong>de</strong>mos verificar a esse respeito que Freud<br />

insiste em que o fato <strong>de</strong>le abster-se, <strong>de</strong>le sublinhar a importância <strong>de</strong> que suas interpretações<br />

sejam in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> suas características pessoais não significa que o analista esteja<br />

118<br />

VIDAL, art.cit., p. 3.<br />

119<br />

LACAN Jacques, O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise (1959 - 1960), Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar,<br />

1998, p. 359.<br />

120<br />

O.c., p. 359.<br />

121<br />

O.c., p. 360.<br />

122<br />

COTTET Serge, Freud e o <strong>de</strong>sejo do psicanalista, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 1993,, p. 122.<br />

Excluído: L'éthique <strong>de</strong> la<br />

psychanalyse, in: Séminaire VII,<br />

Excluído: 338<br />

Excluído: 46<br />

Excluído: 47<br />

Excluído: parte 3 "A ética<br />

freudiana"


indiferente a essa parte do trabalho. Pelo contrário, Freud afirma que o analista <strong>de</strong>verá se<br />

submeter a <strong>uma</strong> análise própria para que possa estar atento ao material inconsciente e ouvi-lo<br />

sem preconceito. “No digo, escreve Freud, que para esta parte <strong>de</strong> la tarea resulte indiferente la<br />

personalidad <strong>de</strong>l analista. Cuenta cierta fineza <strong>de</strong> oído para lo reprimido inconsciente, que no<br />

todos poseen en igual medida. Y es esto, en especial, lo que impone al analista la obligación<br />

<strong>de</strong> someterse él mismo a un análisis en profundidad a fin <strong>de</strong> volverse idóneo para una<br />

recepción sin prejuicios <strong>de</strong>l material analítico 123 .”<br />

97<br />

Eis aí um engajamento do analista que se abstém por motivo ético, mas que não fica<br />

indiferente ao trabalho da análise.<br />

Serge Cottet nos mostra, <strong>com</strong> muita perspicácia, que abster-se <strong>de</strong> tomar partido, ou <strong>de</strong><br />

tomar o paciente para si, não significa em nenhum momento que haja <strong>uma</strong> certa indiferença<br />

por parte <strong>de</strong> Freud. Há nessa imposição <strong>de</strong> abster-se o que fundamenta um ato, <strong>uma</strong> ética que<br />

funda a psicanálise. Freud "quer dizer que o analista não tem que escolher entre duas<br />

instâncias que governam o inconsciente do sujeito, entre dois significantes que regem<br />

contraditoriamente o inconsciente" 124 . Para Serge Cottet, o <strong>de</strong>sejo do analista é a função que<br />

<strong>de</strong>saponta a i<strong>de</strong>ntificação do eu <strong>com</strong> o analista, <strong>uma</strong> vez que o eu tenta assimilá-lo. O <strong>de</strong>sejo<br />

do analista é então a função que <strong>de</strong>saponta essa i<strong>de</strong>ntificação em benefício da diferença<br />

absoluta 125 .<br />

Para finalizar essa reflexão, recorremos a um artigo <strong>de</strong> Colette Soler, intitulado "O<br />

<strong>de</strong>sejo do psicanalista – on<strong>de</strong> está a diferença", para pensar <strong>com</strong>o no contexto do trabalho<br />

clínico <strong>com</strong> os bebês e seus cuidadores po<strong>de</strong>mos articular a questão <strong>de</strong> <strong>com</strong>o se manter aí o<br />

rigor ético da psicanálise.<br />

Colette Soler <strong>com</strong>eça <strong>com</strong> <strong>uma</strong> reformulação da pergunta: qual é o lugar da criança no<br />

<strong>de</strong>sejo do analista? Dessa forma ela coloca a questão da psicanálise das crianças na sua<br />

diferença. E afirma que não se trata mais <strong>de</strong> se perguntar sobre a análise possível da criança.<br />

A questão já foi respondida em ato por Freud a propósito do seu trabalho <strong>com</strong> o pequeno<br />

123 FREUD, Sigmund, "¿Pue<strong>de</strong>n les legos ejercer el análisis? Dialogos con un juez imparcial" (1926), in:<br />

AE, vol. XX p. 205. " "Não digo que para esta parte da tarefa, a personalida<strong>de</strong> do analista é indiferente. Vale <strong>uma</strong><br />

certa fineza <strong>de</strong> escuta para o reprimido inconsciente, que não todos possuem a um memso grau. E é isso,<br />

precisamente, que impõe ao analista a obrigação <strong>de</strong> someter-se ele mesmo a <strong>uma</strong> análise em profundida<strong>de</strong> a fim<br />

<strong>de</strong> tornar-se capaz <strong>de</strong> <strong>uma</strong> recepção sem conceitos do material analítico" (tradução nossa)<br />

124 COTTET, op.cit., p. 124.<br />

125 COTTET, op.cit. p. 136.<br />

Excluído: FREUD,<br />

Excluído: o.c.,<br />

Excluído: o.c.<br />

Excluído: Cfr.<br />

Excluído: o.c.


Hans. No entanto, diz que permanecemos <strong>com</strong> a questão <strong>de</strong> que a criança não é um adulto, e<br />

ela vê aí a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ilustrar a diferença entre o sujeito e a pessoa. O que leva Colette<br />

Soler a pensar que o que difere não é que o analisante seja diferente, mas no que <strong>de</strong>ve ser aí<br />

analisado, <strong>uma</strong> vez que, segundo Lacan, diz Colette Soler, "analisam-se as relações do sujeito<br />

ao real, o real que se apresenta sob a espécie do sexo e do gozo" 126 . Ela pergunta então se o<br />

<strong>de</strong>sejo do analista po<strong>de</strong> operar sobre não importa que estado do ser: "O <strong>de</strong>sejo do analista,<br />

enquanto que é <strong>de</strong>finido <strong>com</strong>o um elemento <strong>de</strong> estrutura do discurso, isto é, <strong>com</strong>o o parceiro<br />

do sujeito analisante, não po<strong>de</strong>ria operar senão quando certas condições se encontram<br />

realizadas: sobretudo que o que Lacan <strong>de</strong>signou <strong>com</strong>o o lugar nítido do <strong>de</strong>sejo, esteja feito,<br />

esteja posto" 127 .<br />

98<br />

Colette Soler vai propor, então, que para falar <strong>de</strong> psicanálise <strong>de</strong> criança se questione,<br />

para cada criança, o estado <strong>de</strong> efetuação da estrutura. Ela acredita que há <strong>uma</strong> lógica que<br />

or<strong>de</strong>na o campo do que os psicanalistas fazem <strong>com</strong> crianças, e diz a esse respeito: ou bem a<br />

criança já é sujeito pela operação da significância, e o analista procura se alojar no lugar já<br />

cavado do <strong>de</strong>sejo, ou então se tem a ver <strong>com</strong> <strong>uma</strong> criança para a qual o sujeito não apareceu<br />

no real – criança objeto –, e neste caso o analista <strong>de</strong>verá se alojar em um lugar que não po<strong>de</strong><br />

ser outro senão do Outro primordial, <strong>com</strong> a questão que lhe é posta <strong>de</strong> saber <strong>com</strong>o po<strong>de</strong><br />

operar neste caso, mantendo-se no eixo da ética psicanalítica que faz a unida<strong>de</strong> da psicanálise,<br />

segundo a expressão que <strong>de</strong>vemos a Robert e Rosine Lefort.<br />

Teremos então, segundo Colette Soler, duas lógicas: a da criança objeto e a da criança<br />

que já é sujeito. No caso da criança objeto, o analista terá que ligar a operação do significante,<br />

ou seja, produzir o que não aconteceu: corte, separação, buraco… possibilitando um efeito <strong>de</strong><br />

sujeito ali on<strong>de</strong> faltava. Ela escreve: “po<strong>de</strong>ria chamar-se isto <strong>de</strong> psicanálise invertida... porque<br />

é <strong>uma</strong> operação que vai do real em direção ao simbólico... e que cria as condições <strong>de</strong> falta-a-<br />

ser”.<br />

A respeito da análise <strong>de</strong> criança sujeito, Colette Soler alerta para o cuidado que<br />

<strong>de</strong>vemos ter para <strong>de</strong>ixar o que é para vir em seu inacabamento e por isso temos que dar lugar<br />

a um certo laissez-faire, mesmo o analista tendo que causar o trabalho do simbólico, on<strong>de</strong> se<br />

cumpre o que a estrutura programa <strong>de</strong> castração. Partindo da teorização <strong>de</strong> Soler, achamos<br />

126 SOLER, Colette, "Le désir du psychanalyste. Où est la différence?", in: La Lettre Mensuelle, Paris,<br />

ACF, n°131, p. 10-12, juillet 1994 ("O <strong>de</strong>sejo do psicanalista — on<strong>de</strong> está a diferença?", trad. Sônia Campos<br />

Magalhães. Extrato <strong>de</strong> <strong>uma</strong> contribuição feita na jornada do Cereda sobre "A criança e o <strong>de</strong>sejo do psicanalista"),<br />

p. 2.<br />

127 Ibid.<br />

Excluído: SOLER Colette,<br />

Excluído: "O <strong>de</strong>sejo do<br />

psicanalista<br />

Excluído: —<br />

Excluído: –<br />

Inserido: –<br />

Excluído: On<strong>de</strong><br />

Excluído: on<strong>de</strong> está a diferença",<br />

Inserido: on<strong>de</strong>


perspicaz pensar o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> <strong>com</strong>o um instrumento interessante para intervir junto a<br />

crianças que estão no lugar <strong>de</strong> objeto no real, <strong>uma</strong> vez que o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> se propõe a<br />

trabalhar tendo <strong>com</strong> direção essas três noções – sujeito, Outro, objeto, no sentido <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeito, ou seja, <strong>de</strong> fazer consistir um vazio que permita um trabalho que vá<br />

tanto do real ao simbólico, no caso da criança que está no lugar <strong>de</strong> objeto no real, <strong>com</strong>o<br />

também possa ser útil para as crianças quando, por exemplo, seu trabalho <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong><br />

separação não está sendo reconhecido; penso por exemplo em crianças pequenas que não são<br />

autistas, mas recorrem à auto-agressivida<strong>de</strong>, diante <strong>de</strong> <strong>uma</strong> mãe que sistematicamente não<br />

reconhece seus movimentos subjetivos enquanto filho <strong>de</strong>sejante. Dessa forma, o <strong>espaço</strong> pais–<br />

bebês po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o um lugar que se propõe a tentar guardar um lugar para o<br />

sujeito.<br />

99<br />

Finalizamos esse último capítulo percorrendo o percurso que fizemos em nossa<br />

dissertação. No início, partimos da constatação <strong>de</strong> que havia <strong>uma</strong> criança que nos dava notícia<br />

<strong>de</strong> que estava em sofrimento. Começamos então por questionar o terceiro, o Outro, enquanto<br />

Outro primordial, aquele que seria responsável pelas primeiras marcas constitutivas do<br />

sujeito; <strong>de</strong>mo-nos conta <strong>de</strong> que isso não seria possível sem situarmos a noção <strong>de</strong> sujeito,<br />

vimos então que a noção <strong>de</strong> sujeito era indissociável da noção <strong>de</strong> objeto. A partir disso foi<br />

possível pensar que a clínica do laço seria um exercício clínico para tentar guardar um lugar<br />

<strong>de</strong> sujeito. Dessa forma pensamos o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> <strong>com</strong>o um <strong>espaço</strong> que tentaria se<br />

constituir a partir da lógica da operação <strong>de</strong> alienação e separação, <strong>com</strong>o um <strong>espaço</strong> entre o<br />

sujeito e o Outro que não é nem do sujeito nem do Outro, isto é, tendo a consistência lógica<br />

<strong>de</strong> objeto a, <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> virtual, que consiste n<strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subjetivação.


100<br />

V. Conclusão


101<br />

Este trabalho <strong>de</strong> dissertação foi feito <strong>com</strong> a intenção <strong>de</strong> formalizar <strong>uma</strong> prática que<br />

especifica o trabalho clínico que <strong>de</strong>senvolvemos <strong>com</strong> crianças bem pequenas e seu Outro<br />

primordial, Outro da linguagem ou Outro materno, na maioria das vezes a mãe, mas não<br />

sempre.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong>senvolvido tanto no <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, <strong>com</strong>o também no<br />

atendimento do bebê e seu Outro primordial, a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> proposta clínica elaborada no<br />

Cersami, Capsi <strong>de</strong> Betim.<br />

Por isso, iniciamos o trabalho contextualizando o percurso histórico e institucional no<br />

qual se inseriu essa clínica, <strong>uma</strong> vez que acreditamos que foi a partir do que o dispositivo<br />

institucional se propunha, a saber priorizar o atendimento <strong>de</strong> crianças <strong>com</strong> sofrimento<br />

psíquico grave que fomos conduzidos a voltar nossa atenção para essa clientela e as questões<br />

clínicas trazidas por ela. É <strong>de</strong> fundamental importância ressaltar também que tanto nosso<br />

olhar <strong>com</strong>o nossas intervenções clínicas e toda a pesquisa se <strong>de</strong>ram a partir do que a clínica ia<br />

nos apontando, ou seja, a partir do que cada caso vinha trazendo consigo. Parece-nos muito<br />

importante ressaltar isso, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar que tanto o dispositivo <strong>com</strong>o nossas intervenções<br />

distinguem-se <strong>de</strong> práticas educativas ou ortopédicas.<br />

Nesse sentido nos pareceu relevante mostrar ainda que nosso percurso inicia-se a partir<br />

<strong>de</strong> um <strong>de</strong>samparo trazido pelos familiares, diante da ausência <strong>de</strong> tratamento. Começamos<br />

então por nos perguntar: <strong>com</strong>o fazer para que os casos graves chegassem mais cedo?<br />

Consi<strong>de</strong>ramos esse momento importantíssimo, <strong>uma</strong> vez que abriu e constitui-se para nós um<br />

campo novo <strong>de</strong> intervenção tanto no manejo <strong>com</strong>o nas questões <strong>de</strong> trabalho analítico, a partir<br />

da ética psicanalítica lacaniana, levantando questões <strong>com</strong>o: Que tempo era esse? Como pensar<br />

essa questão do tempo a partir da ética da psicanálise? E o que significava intervir a tempo na<br />

procura <strong>de</strong>sses mães ou avós? Quem íamos aten<strong>de</strong>r? A mãe, a avó, o bebê? Ou o Outro do<br />

bebê sozinho, já que o infans não fala? Ou o bebê e seu Outro?<br />

No entanto, diante <strong>de</strong> tantas questões, foi difícil para nós encontrar um fio que<br />

orientasse a leitura das situações clínicas e a nossa pesquisa. Partimos do que nos tinha levado<br />

até esse campo, a saber, a constatação <strong>de</strong> que essas crianças pequenas nos davam notícia <strong>de</strong><br />

que estavam mal. Foi possível então extrair o significante "notícia", que ia nos remetendo<br />

justamente a <strong>uma</strong> hipótese <strong>de</strong> que os bebês nos mostram que algo vai mal no laço <strong>pais–bebês</strong>,


por meio <strong>de</strong> seu adoecimento, <strong>uma</strong> vez que o infans, o vir-a-ser, é um sujeito em fase <strong>de</strong><br />

constituição, segundo a psicanálise, o que aponta para algo que se passa no laço <strong>com</strong> o Outro<br />

primordial. O significante "clínica do laço" passou a partir disso a indicar, justamente, a<br />

direção <strong>de</strong>ssa clínica, que leva em conta a constituição do sujeito a partir do campo do Outro.<br />

Tratava-se <strong>de</strong> “intervir a tempo”, no tempo em que já havia sofrimento psíquico. Nosso<br />

trabalho não consistiu, então, em intervir precocemente, antes <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cronologia, <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

102<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sucessivida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento, ou da manifestação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> doença.<br />

Nesse ponto, parece-nos <strong>de</strong> fundamental relevância ressaltar que o exame <strong>de</strong><br />

qualificação foi importante para darmos mais um passo em direção à questão do tempo e do<br />

Outro em psicanálise. Vimos o quanto é <strong>de</strong>licado nos propormos a intervir a tempo da notícia<br />

do sofrimento psíquico, <strong>uma</strong> vez que sabemos que não é possível prevenir ou prever esse<br />

sofrimento, porque ele vem <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> produção individual subjetiva, no que é justamente<br />

inapreensível, por constituir-se <strong>com</strong>o resposta do sujeito do inconsciente. Ou seja, é <strong>de</strong><br />

fundamental importância, para manter o rigor ético da psicanálise, trabalharmos <strong>com</strong> a noção<br />

<strong>de</strong> tempo que não é a <strong>de</strong> um tempo prévio, mas que se faz do encontro do Outro e do sujeito,<br />

que também se constituem a partir <strong>de</strong>sse encontro, <strong>uma</strong> vez que será no tempo <strong>de</strong> só <strong>de</strong>pois<br />

que po<strong>de</strong>mos verificar a resposta do sujeito que se constitui em resposta ao significante que<br />

vem do Outro. Assim, nos <strong>de</strong>bruçando sobre a noção <strong>de</strong> tempo em psicanálise, chegamos a<br />

um ponto <strong>de</strong> <strong>articulação</strong> entre os três significantes – notícia, clínica do laço e intervenção a<br />

tempo.<br />

Buscamos então um elemento teórico que consi<strong>de</strong>rássemos fundamental para estudar<br />

essa clínica. Escolhemos <strong>de</strong>ssa forma estudar a operação <strong>de</strong> alienação e separação, conforme<br />

formulada por Lacan, para formalizar o <strong>espaço</strong> que está na origem da constituição do sujeito e<br />

que funda a possibilida<strong>de</strong> do laço <strong>com</strong> o Outro a partir da linguagem.<br />

Para isso, organizamos a dissertação <strong>com</strong> <strong>uma</strong> introdução, três partes e <strong>uma</strong> conclusão.<br />

Na primeira parte, "Desenvolvimento e estrutura", nos <strong>de</strong>dicamos a diferenciar a lógica do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da lógica da estrutura do sujeito, buscando <strong>de</strong>marcar a especificida<strong>de</strong> e a<br />

originalida<strong>de</strong> da contribuição da psicanálise nessa área. Nos referimos resumidamente a Jean<br />

Piaget e Henri Wallon para mostrar que, para eles, o <strong>de</strong>senvolvimento psíquico ocorre ao<br />

modo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> construção progressiva, produzida pela interação entre o indivíduo e seu meio.<br />

Sublinhamos que o empenho <strong>de</strong> Lacan em um "retorno a Freud" foi imprescindível para


tornar possível a crítica contun<strong>de</strong>nte à assimilação da psicanálise a <strong>uma</strong> psicologia evolutiva<br />

genética. Para nossa pesquisa, nos interessou muito que Freud, ao falar da experiência <strong>de</strong><br />

satisfação, sublinha que ela é constituinte do aparelho psíquico. Vimos aí um corte essencial<br />

para orientar nossa leitura e nosso trabalho clínico a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> perspectiva<br />

fundamentalmente estrutural e não <strong>de</strong>senvolvimentista. Enten<strong>de</strong>mos assim, a partir do estudo<br />

103<br />

<strong>de</strong> Jorge, <strong>com</strong>o <strong>de</strong>vemos a Lacan a restituição da psicanálise ao campo da linguagem.<br />

Nessa perspectiva, seguimos estudando mais <strong>de</strong>talhadamente em “Estrutura e sujeito” o<br />

conceito <strong>de</strong> estrutura no ensino lacaniano. Nossa discussão a<strong>com</strong>panha um percurso que vai<br />

do simbólico ao real, mostrando a importância do furo na estrutura, na medida em que este<br />

aponta para o sujeito. Assim, percorremos os conceitos <strong>de</strong> real, simbólico e imaginário e nos<br />

<strong>de</strong>tivemos sobre o conceito <strong>de</strong> real. Estudamos <strong>com</strong> Miller que Lacan vai paradoxalmente<br />

i<strong>de</strong>ntificar o real <strong>com</strong>o um elemento <strong>de</strong> presença que falta estruturalmente na or<strong>de</strong>m<br />

simbólica.<br />

Dessa forma, vimos que ele <strong>de</strong>fine o real <strong>com</strong>o resíduo, <strong>com</strong>o objeto a, objeto que dá<br />

notícia da essência do sujeito, mas que, ao mesmo tempo, faz furo <strong>com</strong> o resto, <strong>com</strong> o que não<br />

se encaixa, o que não é simbolizável. No <strong>com</strong>eço da dissertação, tratamos do real <strong>com</strong>o<br />

excluído, e só tratamos do real <strong>com</strong>o resíduo na terceira parte, a partir das questões que<br />

surgirão da clínica.<br />

Para nos foi imprescindível, para termos subsídios para pensar a clínica, nos<br />

interessarmos pela questão que Miller trata do sujeito da estrutura da linguagem e o ponto <strong>de</strong><br />

interação <strong>com</strong> o sujeito da palavra. Quando Miller marca que há <strong>uma</strong> diferença entre o sujeito<br />

na estrutura e o sujeito que toma a palavra, isso nos ajuda muito a enten<strong>de</strong>r melhor toda a<br />

sutileza da clínica – que é importante que <strong>uma</strong> pessoa fale, mas que, quando a pessoa fala, não<br />

está ali a estrutura e será preciso um trabalho nosso <strong>de</strong> leitura. Gostaríamos aqui <strong>de</strong> aproveitar<br />

a conclusão para observar a importância <strong>de</strong>sse trabalho <strong>de</strong> leitura. No trabalho da dissertação,<br />

nos interessamos por dar lugar ao que a pessoa em lugar <strong>de</strong> Outro primordial tinha para dizer<br />

<strong>de</strong>la, do infans... Também nos interessamos em que a criança pequena falasse, e nos <strong>de</strong>mos<br />

conta, a partir da qualificação nesse sentido, que o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> é um dispositivo que<br />

propõe um trabalho nosso <strong>de</strong> leitura, precisamente no que ele tenta se constituir <strong>com</strong>o <strong>espaço</strong><br />

vazio <strong>de</strong> saber antecipado, que convida as pessoas a falarem, apostando assim num trabalho<br />

<strong>de</strong> subjetivação para os pacientes. E que, para que isso seja possível, necessita-se em gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> leitura feita por nós.


104<br />

Por fim, concluímos essa parte tentando articular alg<strong>uma</strong>s conseqüências das<br />

perspectivas teóricas do <strong>de</strong>senvolvimento e da estrutura para o que <strong>de</strong>termina o que seria<br />

consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o sinal <strong>de</strong> sofrimento psíquico, bem <strong>com</strong>o o que <strong>de</strong>termina o campo clínico,<br />

tanto no que o constitui, <strong>com</strong>o também nas propostas <strong>de</strong> intervenções que se <strong>de</strong>duzem a partir<br />

<strong>de</strong>le.<br />

Notemos que temos dois campos teóricos: um que se constitui pela observação <strong>de</strong><br />

distúrbios e <strong>com</strong>portamentos que estariam no campo do <strong>de</strong>senvolvimento psicoafetivo, e<br />

outro em que teríamos o trabalho <strong>de</strong> Marie Christine Laznik e do grupo nacional <strong>de</strong> pesquisa<br />

GNP, que formalizam, a partir dos conceitos psicanalíticos, quatro eixos que eles consi<strong>de</strong>ram<br />

balizadores da constituição da subjetivida<strong>de</strong>. A hipótese que fazem é que a ausência <strong>de</strong>stes<br />

aponta para problematização na estrutura da subjetivida<strong>de</strong> do bebê. Para eles, o sinal <strong>de</strong> risco<br />

é constituído na ausência <strong>de</strong> indicadores baseados nos quatro eixos. E eles propõem a<br />

verificação via observação direta.<br />

Do nosso ponto <strong>de</strong> vista, nos parece fundamental, para nossa pesquisa, <strong>de</strong>stacar que<br />

encontramos aí um equívoco, <strong>uma</strong> vez que se trata <strong>de</strong> um método que passa pela observação<br />

e, a partir da ética da psicanálise, nos parece que não é possível transformar presença,<br />

ausência, <strong>de</strong>manda, suposição <strong>de</strong> saber... (que são os eixos que eles propõem) em coisas<br />

observáveis, mensuráveis, apreensíveis. O método analítico seria outro, nele não existe <strong>uma</strong><br />

or<strong>de</strong>nação do normal e do patológico, do que seria observável <strong>com</strong>o normal ou patológico.<br />

Para Freud, o patológico é a via <strong>de</strong> acesso ao normal, e o avesso é aquilo que o normal<br />

escon<strong>de</strong>. O patológico é a dimensão possível da verda<strong>de</strong>, que estaria mascarada sob a<br />

normalida<strong>de</strong>. O que Freud traz <strong>de</strong> subversão é que as diversas formas <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> viriam<br />

para escon<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> modo que o patológico, a aberração, seria o único acesso possível à verda<strong>de</strong><br />

do sujeito.<br />

Consi<strong>de</strong>ramos também que só é possível saber caso a caso, na via <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> cada um.<br />

E, <strong>com</strong>o vimos ao longo da dissertação, é a partir do discurso, do encontro do Outro e do<br />

sujeito.<br />

Dessa maneira nos parece mais interessante dialogar <strong>com</strong> os médicos a partir do<br />

referencial <strong>de</strong>les, isto é, a partir da leitura que fazem dos transtornos e, caso a caso, manter um<br />

tensionamento entre o saber <strong>de</strong>les e nossa escuta analítica.


105<br />

A segunda parte, "Alienação e separação", está dividido em quatro títulos: 3.1<br />

Alienação; 3.2 Separação; 3.3 Alienação e separação: <strong>articulação</strong> da <strong>teoria</strong> <strong>com</strong> a clínica; 3.4<br />

Alienação, separação e o objeto a.<br />

Apresentamos dois fragmentos <strong>de</strong> casos clínicos, em torno dos quais nos propomos<br />

circunscrever o que consi<strong>de</strong>ramos <strong>com</strong>o o coração do trabalho <strong>de</strong>sta dissertação, que é a busca<br />

<strong>de</strong> formalização do <strong>espaço</strong> lógico na origem da constituição do sujeito. Procuramos tratar esse<br />

<strong>espaço</strong> subjetivo em constituição – que não é nem só do infans, nem só do Outro primordial –<br />

<strong>com</strong>o formulação que legitima nossa intervenção, por meio da operação <strong>de</strong> alienação e<br />

separação.<br />

Confirmamos <strong>com</strong>o é imprescindível que o Outro materno se en<strong>de</strong>rece ao infans <strong>com</strong><br />

seus significantes, em <strong>uma</strong> posição <strong>de</strong>sejante, isto é, faltante, por sua própria alienação à<br />

linguagem. Observamos também que, para o infans, a operação <strong>de</strong> ser barrado no seu <strong>de</strong>sejo,<br />

<strong>de</strong> ser objeto do Outro, terá um efeito <strong>de</strong> separação. Produzindo <strong>uma</strong> mudança <strong>de</strong> posição,<br />

torna o sujeito capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar, restando da operação <strong>de</strong> alienação e <strong>de</strong> separação o objeto a.<br />

Em "Alienação, separação e o objeto a", mais <strong>uma</strong> vez partindo <strong>de</strong> um fragmento <strong>de</strong><br />

caso clínico, damos continuida<strong>de</strong> à discussão relativa ao objeto, não mais na dimensão da<br />

alienação, que constitui o furo, mas na sua face <strong>de</strong> separação, <strong>com</strong>o <strong>uma</strong> possibilida<strong>de</strong> que<br />

surge no próprio trabalho clínico.<br />

Aqui nos parece importante <strong>de</strong>stacar que o aporte dos examinadores no exame <strong>de</strong><br />

qualificação foi muito precioso para afinar nossa elaboração <strong>de</strong>sse <strong>espaço</strong> constitutivo do<br />

sujeito. Ficou evi<strong>de</strong>nte que não é possível simplesmente consi<strong>de</strong>rar esse <strong>espaço</strong> subjetivo em<br />

constituição e <strong>de</strong>duzir que aí po<strong>de</strong>ríamos intervir diretamente na constituição do sujeito.<br />

Nosso trabalho nos conduziu na direção <strong>de</strong> tentar criar condições a partir <strong>de</strong> nossa intervenção<br />

para que pu<strong>de</strong>sse se constituir um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>, um <strong>espaço</strong> entre o Outro e o infans<br />

que apostasse que aí pu<strong>de</strong>sse advir <strong>uma</strong> resposta <strong>de</strong> sujeito. Vale a pena marcar que, embora<br />

tragamos a importância <strong>de</strong> o Outro primordial, que geralmente é a mãe, en<strong>de</strong>reçar-se ao infans<br />

<strong>com</strong>o Outro <strong>de</strong>sejante, a quem falta, não queremos dizer <strong>com</strong> isso que o discurso <strong>de</strong>sse Outro<br />

ou o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>sse Outro vai ter <strong>uma</strong> relação "<strong>de</strong> causa e efeito" sobre o infans, <strong>com</strong>o se no<br />

discurso do Outro fosse possível medir e apreen<strong>de</strong>r o que <strong>de</strong>terminaria o aparecimento do<br />

sujeito e aí fazer <strong>uma</strong> intervenção mensurável. Muito pelo contrário, sabemos, a partir do<br />

ensino <strong>de</strong> Lacan, que é diante do real <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> intransmissível, <strong>de</strong> falta, <strong>de</strong> primazia do


significante, que o sujeito tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir um ato que implica a sua assunção<br />

subjetiva.<br />

106<br />

Um outro <strong>de</strong>staque importante se refere ao significante "clínica do laço". Embora<br />

justifiquemos num primeiro momento que esse significante seria justamente entendido <strong>com</strong>o<br />

o que se tece a partir do campo do Outro, ou seja, a necessida<strong>de</strong> da ação específica para<br />

Freud, a função do gran<strong>de</strong> Outro simbólico para Lacan e a resposta do sujeito diante <strong>de</strong> seu<br />

discurso, foi para nós <strong>de</strong> fundamental importância enten<strong>de</strong>r que se fazia necessária aí mais<br />

<strong>uma</strong> torção, que consistiu em enten<strong>de</strong>r que, embora o simbólico preexista ao sujeito, será só a<br />

partir do encontro do sujeito e do Outro que eles passarão a se constituir. Assim, nos<br />

<strong>de</strong>paramos <strong>com</strong> a noção <strong>de</strong> tempo em psicanálise, em que paradoxalmente se afirma a partir<br />

<strong>de</strong> Lacan que é necessário o simbólico, o Outro, para que o sujeito, o vir-a-ser, possa advir.<br />

Trata-se paradoxalmente <strong>de</strong> um encontro entre o sujeito e o Outro que marca um tempo<br />

em que esses elementos presentes hoje só existirão quando forem passado, ou seja, quando<br />

esse momento futuro do encontro chegar. É o tempo do futuro anterior.<br />

Assim passamos a enten<strong>de</strong>r a clínica do laço, no que diz respeito a um <strong>de</strong>bate sobre a<br />

clínica <strong>com</strong> crianças bem pequenas, à luz da operação <strong>de</strong> alienação e separação, <strong>com</strong>o <strong>uma</strong><br />

clínica que põe em evidência que se, por um lado, é necessária a operação <strong>de</strong> alienação, o<br />

assujeitamento ao Outro da linguagem, que consiste em <strong>uma</strong> escolha forçada em acatar que<br />

um significante que vem do Outro o representa, por outro lado será necessário que esse Outro<br />

<strong>de</strong>seje para além do sujeito e assim promova a operação <strong>de</strong> separação. Passa-se assim para<br />

<strong>uma</strong> lógica na qual "nem sem o sujeito, nem sem o Outro", constitui assim um tipo <strong>de</strong> laço no<br />

qual o sujeito e o Outro estão excluídos, e o ser do sujeito <strong>de</strong>verá então advir <strong>de</strong> fora.<br />

Isso nos parece primordial para pensar essa clínica que nos aponta para <strong>uma</strong> direção <strong>de</strong><br />

trabalho que leve em conta que o ser do sujeito <strong>de</strong>verá advir <strong>de</strong> algo que não é nem do sujeito,<br />

nem do Outro, ou seja, <strong>de</strong>limitando assim que não há duas entida<strong>de</strong>s prévias que se enlaçam e<br />

produzem o sujeito: há um encontro e é <strong>de</strong>sse encontro que o Outro e o sujeito se constituem,<br />

e o ser do sujeito virá num a posteriori <strong>com</strong>o resposta possível, em ato.<br />

Vimos então que tal separação produz um resto, o objeto a, através do qual o sujeito irá<br />

se constituir <strong>com</strong>o <strong>de</strong>sejante. Lacan nos diz que o objeto a possibilita a constituição da<br />

fantasia, que sustenta a ilusão da totalida<strong>de</strong> na tentativa do sujeito <strong>de</strong> se livrar da divisão.<br />

Dessa operação <strong>de</strong> separação, surge a divisão do sujeito em eu e inconsciente, e a divisão do<br />

Outro em Outro faltante e objeto a.


107<br />

Parece-nos que nessa perspectiva, quando nos propomos a aten<strong>de</strong>r o infans na presença<br />

do Outro primordial, <strong>com</strong>o no caso aqui visto, guiamos nossa intervenção a partir <strong>de</strong>ssa<br />

noção, do objeto a, ou seja, a partir disso po<strong>de</strong>ríamos fazer a posteriori <strong>uma</strong> leitura do nosso<br />

trabalho, consistindo em <strong>uma</strong> operação lógica: fazer-se suporte das construções do infans,<br />

construções que ele produz, para dizer do mal-estar diante do qual ele é falado, ou melhor, o<br />

lugar que ele ocupa no <strong>de</strong>sejo, ou na fantasia <strong>de</strong>sse gran<strong>de</strong> Outro primordial. Assim, po<strong>de</strong>ria<br />

tratar-se <strong>de</strong> um trabalho no qual o analista e a equipe po<strong>de</strong>riam fazer operar <strong>com</strong> sua escuta<br />

um dizer lógico em posição <strong>de</strong> terceiro, em que a palavra possa circular n<strong>uma</strong> direção <strong>de</strong> fazer<br />

suporte ao que o sujeito traz, en<strong>de</strong>reçando ao sujeito e reen<strong>de</strong>reçando a seu gran<strong>de</strong> Outro as<br />

manifestações do sujeito, advertidos <strong>de</strong> que nessa operação <strong>de</strong> constituição do sujeito haverá<br />

sempre um resto, o objeto a, <strong>com</strong>o o que não é possível simbolizar, dizer, isto é, o que vai<br />

sempre produzir o mal-estar. Isso é importantíssimo porque trabalhamos <strong>com</strong> isso e operamos<br />

aí um corte <strong>com</strong> todas as práticas educativas e psicológicas, <strong>uma</strong> vez que não tentamos<br />

estabelecer <strong>uma</strong> relação entre o sujeito e o Outro <strong>de</strong> harmonia, <strong>de</strong> <strong>com</strong>pletu<strong>de</strong>.<br />

É também a partir <strong>de</strong>ssa dimensão do objeto a, <strong>com</strong>o resto da operação <strong>de</strong> alienação e<br />

separação, que pensamos o lugar que damos aos pais. E por isso nos interessamos muito pela<br />

idéia <strong>de</strong> Baio do lugar dos pais <strong>com</strong>o sujeito e <strong>com</strong>o Outro parceiro do trabalho <strong>de</strong> seus filhos.<br />

Por exemplo, quando tentamos dar à mãe <strong>de</strong> S. um lugar <strong>de</strong> sujeito e <strong>de</strong> Outro parceiro do<br />

trabalho <strong>de</strong> seu filho, isto possibilitou <strong>uma</strong> diferenciação entre a mãe e S. e um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho para S. Quando reconhecemos o trabalho, por exemplo, <strong>de</strong> S., reconhecemos o lugar<br />

possível que o Outro ocupa para S., e não impomos para S. um Outro i<strong>de</strong>al ou invasor. Assim<br />

convocamos os pais a serem parceiro do trabalho possível para seus filhos quando, por<br />

exemplo, dissemos querer saber mais <strong>de</strong> S. que vive, se agita, se interessa por objetos.,<br />

diferente do lugar antecipado da <strong>de</strong>sobediência imposta pela mãe <strong>de</strong> S.<br />

Na terceira parte, fizemos <strong>uma</strong> reflexão a partir do texto "Nota sobre a criança", <strong>de</strong><br />

Jacques Lacan, a fim <strong>de</strong> avançar um pouco mais nosso estudo a respeito do objeto a, a partir<br />

da clínica <strong>com</strong> crianças e seus pais.<br />

Pu<strong>de</strong>mos extrair do texto que a criança se torna "objeto" da mãe por não ter a mediação<br />

assegurada pela função do pai para modular a distância entre a i<strong>de</strong>ntificação ao i<strong>de</strong>al do eu e o<br />

<strong>de</strong>sejo da mãe; e se torna objeto da mãe, isto é, realiza-se se oferecendo-se <strong>com</strong>o objeto no<br />

real. Isso significa que não se operou a castração e que o objeto não se realiza <strong>com</strong>o resto,<br />

<strong>com</strong>o objeto a, <strong>com</strong>o aquilo que possibilita <strong>uma</strong> certa separação, um <strong>espaço</strong> entre alienação e


separação. O objeto no real é o objeto da psicose, <strong>uma</strong> vez que ele não implica <strong>uma</strong> certa<br />

separação: ao contrário, ele satura a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falta que viabiliza a separação. É<br />

fundamental <strong>de</strong>stacar que a mediação nos interessa não porque ela tenta conciliar duas<br />

entida<strong>de</strong>s, ou porque tenta fazer <strong>com</strong> que elas se entendam, não é por isso que a mediação nos<br />

interessa, <strong>uma</strong> vez que se trata <strong>de</strong> <strong>uma</strong> mediação paradoxal enquanto um <strong>espaço</strong> virtual,<br />

constituído não por duas entida<strong>de</strong>s, mas por duas faltas, a do sujeito e a do Outro. Então essa<br />

função <strong>de</strong> mediação assegurada pela função do pai nos é preciosa no que ela nos permite<br />

pensar que nossa intervenções no <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> po<strong>de</strong>riam tentar assegurar esse <strong>espaço</strong><br />

108<br />

terceiro entre o bebê e sua mãe, tendo assim a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efeito subjetivante.<br />

A partir disso, pu<strong>de</strong>mos tirar <strong>com</strong>o conclusão que a principal conseqüência clínica disso<br />

é que o objeto a é esse <strong>espaço</strong> entre alienação e separação, que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> <strong>espaço</strong><br />

subjetivo. Sugerimos então <strong>uma</strong> breve aproximação entre o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> pensado a<br />

partir do objeto lacaniano (ou seja, das operações <strong>de</strong> alienação e separação) e o objeto<br />

transicional <strong>de</strong> D. W. Winnicott. Consi<strong>de</strong>ramos que essa aproximação se dá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o<br />

objeto potencial <strong>de</strong> Winnicott constitui-se pelo fato do infans já viver a dimensão da falta,<br />

<strong>uma</strong> vez que já houve nele a dimensão da perda do objeto. O objeto potencial tem a função <strong>de</strong><br />

possibilitar ao infans se separar do objeto materno e <strong>de</strong>pois dos outros objetos, trazendo assim<br />

consigo a marca <strong>de</strong> um vazio, isto é, a primazia do simbólico, e tendo por isso a possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um efeito subjetivante. Nessa perspectiva, pensamos que é <strong>com</strong>o função <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> subjetivação que apostamos no <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>: consi<strong>de</strong>ramos o <strong>espaço</strong> que se faz a<br />

partir <strong>de</strong> sua função. Propomos que ele funcione <strong>com</strong>o um <strong>espaço</strong> vazio, <strong>com</strong> isso queremos<br />

dizer que fazemos valer um <strong>espaço</strong> vazio <strong>de</strong> saber, não sabemos <strong>de</strong> antemão, o saber não está<br />

repertoriado. O princípio fundamental é que ele se constitui em um <strong>espaço</strong> <strong>com</strong>o instrumento,<br />

para que a palavra possa circular.<br />

O saber está do lado do paciente, as pessoas falam o que já sabem, mas apostamos que,<br />

fazendo valer um <strong>espaço</strong> vazio <strong>de</strong> saber, possibilitamos que se produza aí nesse <strong>espaço</strong> algo<br />

novo, um saber do inconsciente que possa servir àquela mãe ou àquela criança. Dissemos ao<br />

longo da dissertação que apostamos no <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> <strong>com</strong>o um <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s<br />

para que pu<strong>de</strong>sse haver resposta <strong>de</strong> sujeito; assim tentamos formalizar o melhor possível em<br />

que consistia esse trabalho <strong>de</strong> "intervenção a tempo", seja no atendimento só do bebê e <strong>de</strong> seu<br />

Outro, seja num dispositivo do "<strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> <strong>com</strong> outros pais e outros bebês",<br />

formalizar o conceito <strong>de</strong> tempo em psicanálise. Começamos por dizer que não se tratava <strong>de</strong>


um tempo mensurável, nem <strong>de</strong> um tempo cronológico, e mais adiante tentamos <strong>de</strong>finir que se<br />

tratava <strong>de</strong> um tempo que se constitui mesmo a partir do encontro do Outro do infans, que eles<br />

mesmos se constituem a partir <strong>de</strong>sse encontro e que por isso nos só po<strong>de</strong>ríamos ler no <strong>de</strong>pois,<br />

quando houvesse resposta do sujeito. No entanto, nos parece imprescindível marcar aqui que<br />

sabemos que estamos tratando <strong>de</strong> <strong>uma</strong> questão muito <strong>de</strong>licada que não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>senvolver<br />

aqui, a saber, que tratamos aqui <strong>de</strong> <strong>uma</strong> clínica <strong>com</strong> crianças bem pequenas que não falam, e<br />

que colocam para nós a questão <strong>de</strong> saber se po<strong>de</strong>mos afirmar que já haveria sujeito<br />

constituído quando dizemos que trabalhamos no tempo do só <strong>de</strong>pois, a partir da resposta do<br />

sujeito, ou se seria necessário nos perguntarmos sobre o estado <strong>de</strong> efetuação da estrutura.<br />

Nesse sentido a elaboração <strong>de</strong> Colette Soler nos interessou muito, <strong>uma</strong> vez que ela nos ajuda a<br />

pensar que é possível afinar mais um pouco nossa leitura da resposta do sujeito, justamente<br />

<strong>com</strong>o víamos <strong>de</strong>scobrindo a partir <strong>de</strong> nossa pesquisa sobre o lugar da criança no seu laço ao<br />

objeto, ou seja, quando a criança cola ao objeto ela está no mesmo lugar que o objeto, por<br />

isso, <strong>com</strong>o nos diz Lacan, ela presentifica o objeto no real, e <strong>de</strong>ssa forma sutura o <strong>espaço</strong><br />

entra ela e o Outro, não havendo possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> subjetivação. A indicação <strong>de</strong> Colette Soler<br />

<strong>de</strong> que haveria nesse caso um trabalho a ser feito <strong>de</strong> extração do objeto no real interessou-nos<br />

justamente pelo fato <strong>de</strong> que, se po<strong>de</strong>ríamos pensar o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong> <strong>com</strong>o um <strong>espaço</strong> para<br />

109<br />

fazer valer essa função <strong>de</strong> terceiro, apostamos assim num <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> subjetiva.<br />

Por outro lado, essa teorização a respeito do momento <strong>de</strong> efetuação da estrutura, embora<br />

nos pareça muito interessante para pensar a direção <strong>de</strong> intervenção, no caso da criança objeto<br />

que necessitaria <strong>de</strong> um trabalho do real em direção ao simbólico, nos faz pensar que tem algo<br />

<strong>de</strong> esquemático na maneira <strong>com</strong>o que ela pensa o sujeito, o Outro, e o objeto; dá um pouco a<br />

impressão <strong>de</strong> que a gente po<strong>de</strong>ria repertoriar o estado <strong>de</strong> efetuação <strong>de</strong> sujeito e intervir<br />

diretamente nele <strong>com</strong>o se fosse algo <strong>de</strong> apreensível. Achamos importante enfatizar que<br />

pensamos a operação <strong>de</strong> alienação e separação justamente <strong>com</strong>o noções que nos dão <strong>uma</strong><br />

direção <strong>de</strong> trabalho, por isso o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, a rigor, é um <strong>espaço</strong> que não é dado, do<br />

ponto <strong>de</strong> vista clínico, ele é tão virtual quanto o objeto a, <strong>uma</strong> vez que se constitui a cada vez<br />

que po<strong>de</strong>mos fazer valer um <strong>espaço</strong> vazio <strong>de</strong> saber. Portanto ele <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do posicionamento<br />

ético <strong>de</strong> quem convida a trabalhar.<br />

Concluímos consi<strong>de</strong>rando que a clínica do laço, o <strong>espaço</strong> <strong>pais–bebês</strong>, se propõe a<br />

resguardar um lugar <strong>de</strong> sujeito, no entanto nos parece importante lembrar que se trata <strong>de</strong> <strong>uma</strong>


clínica que se orienta pela noção <strong>de</strong> objeto, <strong>uma</strong> vez que sujeito e objeto não são totalmente<br />

110<br />

indissociáveis e que o objeto nos dá notícia da posição do sujeito.<br />

Nessa pesquisa, <strong>de</strong>senvolvemos sobretudo a relação do <strong>de</strong>sejo do Outro <strong>com</strong> o<br />

simbólico. Vimos alg<strong>uma</strong>s conseqüências disso no trabalho do <strong>espaço</strong> pais-bebês, <strong>com</strong><br />

relação à mãe e ao bebê. Enfatizamos a importância <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sejo não fosse anônimo, que<br />

ele tivesse en<strong>de</strong>reço, e por isso enfatizamos sua localização significante. Ou seja, abordamos<br />

o <strong>de</strong>sejo do Outro, <strong>de</strong>stacando a relação do <strong>de</strong>sejo do Outro <strong>com</strong> o significante. De um certo<br />

modo, po<strong>de</strong>mos dizer que <strong>de</strong>stacamos o real <strong>com</strong>o <strong>de</strong>sejo do Outro. Interessar-nos-ia agora, se<br />

for possível, explorar a relação do <strong>de</strong>sejo <strong>com</strong> o real, não <strong>com</strong>o o que tem en<strong>de</strong>reço, mas sim<br />

<strong>com</strong>o o que não se inscreve, <strong>com</strong>o algo que faz furo, e rompe, insiste, o real <strong>com</strong>o presença.<br />

Nessa perspectiva, parece-nos que seria <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância aprofundar o estudo da noção<br />

<strong>de</strong> objeto na sua relação <strong>com</strong> o real. Num outro plano, mais concreto, interessar-nos-ia muito<br />

que esse trabalho <strong>de</strong> pesquisa possa ser útil para a implantação <strong>de</strong> <strong>espaço</strong>s <strong>com</strong>o o <strong>espaço</strong><br />

pais-bebês e serviços e dispositivos do tipo CAPSI. E nesse sentido, gostariamos <strong>de</strong> retomar a<br />

praxis do <strong>espaço</strong> pais-bebês, no dispositivo <strong>de</strong> CAPSI, formando um grupo <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> um CAPSI e for a <strong>de</strong>le. Visando constituir <strong>uma</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção a crianças bem pequenas a<br />

partir das questões clínicas em jogo em cada caso, contando <strong>com</strong> isso po<strong>de</strong>r aprofundar e<br />

relançar nossa pesquisa.


111<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ABRAHAM, Karl, Teoria psicanalítica da libido: sobre o caráter e o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

libido (1924), Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago Editora, 1970.<br />

ANSERMET, François, Clínica da origem, a criança entre a medicina e a psicanálise, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Contracapa Livraria, 2003.<br />

BAYO, Virginio, "Une pratique à plusieurs généralisée", in Préliminaire, Publication du<br />

Champ Freudien en Belgique, 1999, p.143-154.<br />

BENOÎT, Pierre, Le corps et la peine <strong>de</strong>s hommes, Paris: L'Harmattan, pp. 281-291.<br />

CIRINO, Oscar, Psicanálise e psiquiatria <strong>com</strong> criança, <strong>de</strong>senvolvimento ou estrutura, Belo<br />

Horizonte: Autêntica, 2001.<br />

COTTET Serge, Freud e o <strong>de</strong>sejo do psicanalista, Campo Freudiano no Brasil, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Jorge Zahar, 1993<br />

DELEUZE, Gilles, "A quoi reconnaît-on le structuralisme?", in: Histoire <strong>de</strong> la philosophie,<br />

sous la direction <strong>de</strong> François Chatelet, vol. 8, “Le XX e siècle”, pp. 299-335.<br />

ELIA, Luciano, Corpo e sexualida<strong>de</strong> in Freud e Lacan, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Uapê, 2d edição,<br />

1995.<br />

ELIA, Luciano, O conceito <strong>de</strong> sujeito, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2004.<br />

FINK, Bruce, O sujeito lacaniano entre a linguagem e o gozo, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar<br />

Editor, 1998.<br />

FREUD, Sigmund, Obras Completas, Buenos Aires, Amorrortu Editores (25 tomos), 1988.<br />

(AE)<br />

FREUD, Sigmund, Edição standard brasileira das obras psicológicas <strong>com</strong>pletas, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Editora Imago, 1996. (ESB)<br />

FREUD, Sigmund (1895), "Projeto para <strong>uma</strong> psicologia científica", in: ESB, vol. I, AE,<br />

vol.I.<br />

FREUD, Sigmund (1905), "Três ensaios sobre a <strong>teoria</strong> da sexualida<strong>de</strong>", in: ESB, vol. VII;<br />

AE, vol. VII.<br />

FREUD, Sigmund (1911), "Formulações sobre os dois princípios do funcionamento<br />

mental", in: ESB, Vol XII; AE, vol. XII.<br />

FREUD, Sigmund (1933), "Ansieda<strong>de</strong> e vida instintual", in: ESB, vol. XXII; AE, vol.<br />

XXII.<br />

Código <strong>de</strong> campo alterado


112<br />

FREUD, Sigmund (1923), "A organização genital infantil: <strong>uma</strong> interpolação na <strong>teoria</strong> da<br />

sexualida<strong>de</strong> infantil", in: ESB, vol. XIX; AE, vol. XIX.<br />

FREUD, Sigmund (1926), "¿Pue<strong>de</strong>n les legos ejercer el análisis? Dialogos con un juez<br />

imparcial", in: ESB, vol.XX; AE, vol. XX<br />

FREUD, Sigmund (1930), O malestar na civilização, in: ESB, vol.XXI, AE, vol. XXI.<br />

GUERRA, Andréia Máris Campos e LIMA, Nádia Laguardia <strong>de</strong> (orgs.), A clínica <strong>de</strong><br />

crianças <strong>com</strong> transtorno no <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>uma</strong> contribuição no campo da<br />

psicanálise e da saú<strong>de</strong> mental, Belo Horizonte: Autêntica-FUMEC, 2003.<br />

GUIMARAES Leila Mariné da Cunha, "Do mal-estar", texto inédito<br />

HOUZEL, Didier. (1993). "Peut-on endiguer les psychoses infantiles?" In. SOULÉ",<br />

Michel (dir.), Des utopies aux réalisations, Paris: ESF, 1993.<br />

JORGE, Marco Antonio Coutinho, Fundamentos da psicanálise <strong>de</strong> Freud a Lacan, vol. 1,<br />

As bases conceituais, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.<br />

KLEIN, Melanie, "A importância da formação <strong>de</strong> símbolos no <strong>de</strong>senvolvimento do ego"<br />

(1930), in: Contribuições à psicanálise, 2 ed., São Paulo: Mestre Jou, 1970, p.297-<br />

313.<br />

KLEIN, Melanie. "O <strong>com</strong>plexo <strong>de</strong> Édipo à luz das primeiras ansieda<strong>de</strong>s" (1945), in:<br />

Contribuições à psicanálise, 2 ed., São Paulo: Mestre Jou, 1970, p.425-489.<br />

KLEIN, Melanie, "Primeiros estádios do conflito edípico e da formação do superego"<br />

(1932), in: Psicanálise da criança, São Paulo: Mestre Jou, 1975, p.173-202.<br />

LACAN, Jacques, "O estádio do espelho <strong>com</strong>o formador da função do eu" (1949), in<br />

Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, 1998.<br />

LACAN Jacques, "A coisa freudiana ou sentido do retorno a Freud em psicanálise", in:<br />

Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 1988<br />

LACAN, Jacques, "Uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose" (1957-<br />

1958), in: Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, 1998<br />

LACAN, Jacques, "Observação sobre o relatório <strong>de</strong> Daniel Lagache: psicanálisee estrutura<br />

da personalida<strong>de</strong>" (1957-1958), in: Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, 1998.<br />

LACAN, Jacques, "O seminário sobre ‘a carta roubada’", in: Escritos, Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Zahar, 1998.<br />

LACAN, Jacques, O Seminário, Livro 4: a relação <strong>de</strong> objeto (1956-1957), Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Zahar, 1995.


113<br />

LACAN, Jacques, O Seminário, livro 7: a ética da psicanálise (1959 - 1960), Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Zahar, 1998.<br />

LACAN, Jacques, O Seminário. Livro10: A Angústia (1962-1963), Rio <strong>de</strong> janeiro: Zahar,<br />

2005.<br />

LACAN, Jacques, O seminário, Livro 11: os quatro conceitos fundamentais da psicanálise<br />

(1964), Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 1996.<br />

LACAN, Jacques, Autres écrits, Paris, Seuil, 2001.<br />

LACAN, Jacques, "Avis au lecteur japonais", in LACAN, Jacques, Autres écrits, Paris,<br />

Seuil, 2001.<br />

LAMOUR, Martine; BARACO, Marthe, Souffrances autour du berceau. Des émotions aux<br />

soins, Paris: Gaëtan Éditeur, 1998<br />

LAURENT, Eric, "Alienação e separação", in FELDSTEIN, Richard, FINK, Bruce e<br />

JAANUS Maire (orgs), Para ler o Seminário 11 <strong>de</strong> Lacan, Os quatro conceitos da<br />

psicanálise, Coleção Campo Freudiano no Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zahar, 1997, pp.<br />

42-51.<br />

MILLER, Jacques-Alain, “S’truc dure”, in: Matemas II, Buenos Aires: Manantial, 1989.<br />

MILLER, Jacques-Alain, Cours du 14 novembre 1984, p.32-124. [Inédito].<br />

MILLER, Jacques-Alain, "Jacques Lacan et la voix. Concepts et mathèmes", in: Quarto,<br />

Revue <strong>de</strong> la Cause freudienne — ACF— en Belgique, "De la voix", juin 1994, pp47-<br />

52.<br />

MORAIS, Rosângela, "A clínica da saú<strong>de</strong> mental infanto-juvenil", Artigo inédito<br />

OGILVIE, Bertrand, Lacan, a formação do conceito <strong>de</strong> sujeito, 1932-1949, Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Zahar, 1988.<br />

PIAGET, Jean, La Naissance <strong>de</strong> l'intelligence chez l'Enfant, Paris, Delachaux et Niestlé,<br />

1936.<br />

PIAGET, JEAN, La construction du réel chez l'enfant, Paris, Delachaux et Niestlé, 1937.<br />

PIRARD, Eliane e GIOURGAS, Chloé, “Étayage du processus <strong>de</strong> subjectivation chez un<br />

jeune enfant <strong>de</strong> mère psychotique”, Acta Psychiatrica Belgica, n. 103/2, 2003,<br />

p.101-110.<br />

RIBEIRO, Jeanne Marie <strong>de</strong> Leers Costa, A criança autista em trabalho, Rio <strong>de</strong> Janeiro: 7<br />

Letras, 2005.


114<br />

RINALDI, Doris, A ética da diferença. Um <strong>de</strong>bate entre psicanálise e antropologia, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Zahar, Editora da UERJ, 1996.<br />

ROHENKOHL, Cláudia Mascarenhas Fernan<strong>de</strong>s (Org.), A clínica <strong>com</strong> o bebê, São Paulo:<br />

Casa do Psicólogo, 2000.<br />

SOLER, Colette, "Le désir du psychanalyste. Où est la différence?", in: La Lettre<br />

Mensuelle, Paris, ACF, n°131, p. 10-12, juillet 1994 ("O <strong>de</strong>sejo do psicanalista —<br />

on<strong>de</strong> está a diferença?", trad. Sônia Campos Magalhães. Extrato <strong>de</strong> <strong>uma</strong> contribuição<br />

feita na jornada do Cereda sobre "A criança e o <strong>de</strong>sejo do psicanalista")<br />

SPITZ, René, De la naissance à la parole. (La première année <strong>de</strong> la vie), Paris, P.U.F.<br />

1979.<br />

TAVARES, Maria Antunes, “Novos dispositivos <strong>de</strong> atendimento na pequena infância”, in:<br />

Transfinito, psicanálise: transmissão e causa, Belo Horizonte: Autêntica, 2003.<br />

TAVARES, Maria Antunes, “A clínica e a inserção social no atendimento em saú<strong>de</strong> mental<br />

<strong>com</strong> crianças e adolescentes: mo<strong>de</strong>los, possibilida<strong>de</strong>s e o trabalho em equipe", in:<br />

GUERRA, Andréia Máris Campos e LIMA, Nádia Laguardia <strong>de</strong> (orgs.), A clínica <strong>de</strong><br />

crianças <strong>com</strong> transtorno no <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>uma</strong> contribuição no campo da<br />

psicanálise e da saú<strong>de</strong> mental, Belo Horizonte: Autêntica-FUMEC, 2003.<br />

TAVARES, Maria Antunes e FERREIRA, Tânia (Orgs.), “Intervenção a tempo <strong>com</strong> bebês<br />

e seu Outro primordial: <strong>uma</strong> nova proposta”, in: A criança e a saú<strong>de</strong> mental, enlaces<br />

entre a clínica e a política, Belo Horizonte: Autêntica, Fumec, 2004.<br />

VIGANO, Carlos, “A construção do caso clínico em sau<strong>de</strong> mental”, Conferência proferida<br />

no seminário <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, psiquiatria e psicanálise na AMMG, em 20 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1997.<br />

VIVÉS, Jean-Michel, “Texto para introduzir a questão da pulsão invocante”, trad. Júnia<br />

Mitre Haddad, rev. Marco Antonio Coutinho Jorge. [Inédito].<br />

VIVÉS, Jean-Michel (Org.), Les enjeux <strong>de</strong> la voix en psychanalyse dans et hors la cure,<br />

Grenoble: Presses Universitaire <strong>de</strong> Grenoble, 2002.<br />

WALLON Henry, "Comment se développe la notion <strong>de</strong> corps propre chez l'enfant", Journal<br />

<strong>de</strong> Psychologie, nov.-<strong>de</strong>z. 1931, t. XXVIII, p. 705-748.<br />

WALLON, Henry, L'Évolution psychologique <strong>de</strong> l'enfant, Paris, A. Colin, 1941, rééd. 2002.<br />

WINNICOTT, Donald W., Da pediatria à psicanálise, obras escolhidas, Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Imago, 2000. Com <strong>uma</strong> Introdução <strong>de</strong> Masud R. KHAN, pp. 11-54


115<br />

.<br />

Excluído: <br />

Excluído: <br />

Quebra <strong>de</strong> página<br />

CAPÍTULO 3<br />

ESPAÇO PAIS-BEBÊS<br />

<br />

Alg<strong>uma</strong>s consi<strong>de</strong>rações sobre os<br />

fragmentos clínicos e o <strong>espaço</strong><br />

Pais-bebes-<br />

Constatamos a partir dos casos<br />

clínicos que aten<strong>de</strong>mos o infans e<br />

seu Outro primordial num mesmo<br />

atendimento, tratando-se <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

clínica que se propõe a aten<strong>de</strong>r<br />

também aquele que não fala.<br />

Po<strong>de</strong>riamos <strong>de</strong>cidir aten<strong>de</strong>r apenas<br />

o Outro do bebê, no entanto<br />

<strong>de</strong>cidimos atendê-los um na<br />

presença do Outro ,<strong>uma</strong> vez que<br />

o infans nos dava noticia <strong>de</strong> um<br />

sofrimento psíquico que remetia<br />

ao laço <strong>com</strong> o Outro. Para isso ,<br />

nos <strong>de</strong>bruçamos sobre a <strong>teoria</strong> <strong>de</strong><br />

alienação e separação para tentar<br />

formalizar questões que se<br />

colocaram a partir <strong>de</strong>ssa clínica.<br />

Vimos que embora o significante é<br />

transmitido a partir do Outro, será<br />

necessário um trabalho <strong>de</strong><br />

significação feito pelo sujeito e se<br />

faz necessário <strong>uma</strong> torção a mais,<br />

que é que embora o simbólico<br />

prece<strong>de</strong> ao sujeito, será a partir do<br />

encontro que o sujeito e o Outro se<br />

constituem ou seja não há duas<br />

entida<strong>de</strong>s prévias que se enlaçam<br />

e produzem o sujeito , há um<br />

encontro no qual o Outro e o<br />

sujeito se constituem. Assim, o ser<br />

do sujeito <strong>de</strong>verá vir <strong>de</strong> fora ... num [36] a<br />

Excluído: Assim, Lacan escreve<br />

no Seminário 10 que na operação<br />

<strong>de</strong> castração, <strong>de</strong> divisão do sujeito<br />

que se escreve $, tem no sentido da<br />

divisão um resto,um resíduo. Esse<br />

resto é a única prova, garantia da<br />

alterida<strong>de</strong> do outro e, é o a. É por<br />

isso,diz Lacan, que os dois termos<br />

$ e a, o sujeito marcado pela barra<br />

do significante e o pequeno a,resto,<br />

resíduo que é a condição <strong>de</strong> ... [37]<br />

Excluído: <br />

Excluído: A S<br />

$ A<br />

a <br />

<br />

<br />

Excluído: “É por isso que os dois<br />

termos $ e a, o sujeito marcado<br />

pela barra do significante e o<br />

objeto pequeno a, resíduo do<br />

condicionamento, se assim posso<br />

me exprimir,pelo Outro, encontrase<br />

do mesmo lado, do lado<br />

objetivo da barra. Todos os dois<br />

estão do lado do Outro, porque a<br />

fantasia, esteio do meu <strong>de</strong>sejo, está<br />

inteiramente do lado do outro. ... [38]<br />

O


Sumário<br />

Introdução 5<br />

1. Assunto e roteiro <strong>de</strong> trabalho 5<br />

1.2. campo <strong>de</strong> trabalho, percurso e mo<strong>de</strong>lo: saú<strong>de</strong> mental<br />

e pequena infância 8<br />

1.2.1. Saú<strong>de</strong> mental e pequena infância: nosso campo <strong>de</strong><br />

trabalho 8<br />

Capítulo I. Desenvolvimento e estrutura 12<br />

1.1. Situando os dois campos teóricos 12<br />

1.2. Estrutura e sujeito 20<br />

1.3. Conseqüências das perspectivas teóricas do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e da estrutura para a <strong>de</strong>terminação do que<br />

sinaliza e constitui no campo clínico 28<br />

1.3.1. Saú<strong>de</strong> mental: intervenção a tempo X intervenção<br />

precoce 28<br />

1.3.1.1. Intervenção precoce 28<br />

1.3.1.2. Intervenção a tempo e a clínica <strong>de</strong> crianças<br />

menores <strong>de</strong> quatro anos na saú<strong>de</strong> mental infanto-juvenil<br />

<strong>de</strong> Betim 29<br />

Capítulo II – Alienação e separação 42<br />

2.1. A alienação 42<br />

2.2. A separação 44<br />

2.3. Alienação e separação: <strong>articulação</strong> da <strong>teoria</strong> <strong>com</strong> a<br />

clínica 48<br />

1


2.3.1. Caso I (S.) 51<br />

2.3.1.1. Histórico e <strong>de</strong>scrição do atendimento 51<br />

2.3.1.2. Consi<strong>de</strong>rações e articulações do fragmento <strong>de</strong><br />

caso clínico <strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> 51<br />

2.3.1.3. Consi<strong>de</strong>rações e articulações da clínica <strong>com</strong> a<br />

<strong>teoria</strong> 52<br />

2.4. Alienação / separação e o objeto a 55<br />

2.4.1. Fragmento do caso II (E. e L.) 56<br />

2.4.1.1. Histórico e <strong>de</strong>scrição dos atendimentos 57<br />

2.4.1.2. Articulações do fragmento do caso clínico <strong>com</strong> a<br />

<strong>teoria</strong> 59<br />

2.4.2. Fragmento do caso III (R.) 62<br />

2.4.2.1. Histórico e <strong>de</strong>scrição dos atendimentos 63<br />

2.4.2.2. Articulação do fragmento do caso clínico <strong>com</strong> a<br />

<strong>teoria</strong> 67<br />

Capítulo III – Espaço pais-bebês<strong>pais–bebês</strong> 71<br />

3.1. Articulação da operação <strong>de</strong> alienação-–separação <strong>com</strong> o<br />

<strong>espaço</strong> potencial e o objeto transicional. 71<br />

3.1.1. Alienação/separação e o objeto a 71<br />

3.2. Apport <strong>de</strong> D. W. Winnicott sobre o conceito objetos<br />

transicionais e <strong>espaço</strong> potencial..<br />

...................................................................................................<br />

.........................................73<br />

2


3.3. Articulações do conceito <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> e objeto transicional<br />

<strong>com</strong> a <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> Lacan alienação-–separação e o objeto a e o<br />

objeto e <strong>espaço</strong> transicional 75<br />

3.3.1.O objeto 75<br />

3.3.2. Alienação e separação 75<br />

3.4. Alg<strong>uma</strong>s aproximações entre a <strong>teoria</strong> <strong>de</strong> alienação e<br />

separação <strong>de</strong> Lacan 76<br />

3.5. Espaço pais-bebês<strong>pais–bebês</strong> 78<br />

3.6. Tentativa <strong>de</strong> Formalização do <strong>espaço</strong> pais-bebêspais–<br />

bebês 80<br />

Página VII: [3] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 23/11/2007 12:03<br />

Página VII: [4] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 4:27<br />

PARA ISSO, TRABALHAMOS NO<br />

Página VII: [5] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 4:28<br />

DESTACAMOS ASSIM QUE O<br />

Página VII: [6] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 4:30<br />

QUE É NECESSÁRIO QUE O SUJEITO SE ALIENE<br />

Página VII: [7] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 4:30<br />

, LACAN NOS DIZ QUE SE TRATA DE UMA ESCOLHA FORÇADA, NA QUAL<br />

O SUJEITO NÃO TEM ESCOLHA, SENÃO SE ALIENAR. DESCOBRIMOS QUE, AO<br />

SE ALIENAR, O SUJEITO<br />

3


Página VII: [8] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 4:32<br />

O OBJETO QUE VAI TAMPONAR ESSE FURO, OU MELHOR,<br />

Página VII: [9] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 4:33<br />

O OUTRO DESEJA PARA ALÉM DESSE SUJEITO E O BARRA,<br />

PRODUZINDO ASSIM A CASTRAÇÃO PELA QUAL O SUJEITO É EXPULSO DO<br />

DESEJO DESSE OUTRO, TORNANDO-SE<br />

Página VII: [10] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 4:36<br />

NO CURSO DA DISSERTAÇÃO<br />

Página 5: [11] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 7:41<br />

O<br />

Página 5: [11] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 7:41<br />

O<br />

Página 5: [11] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 7:41<br />

CAPÍTULO<br />

Página 5: [11] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 7:41<br />

NOS<br />

Página 5: [11] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 7:41<br />

S<br />

Página 5: [11] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:50<br />

, COMO EM SEU TEXTO "A ORGANIZAÇÃO GENITAL INFANTIL" (1923)1,<br />

QUE É UMA ELABORAÇÃO FEITA<br />

Página 5: [12] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 7:42<br />

DEPOIS DE TER ESCRITO OS TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA<br />

SEXUALIDADE<br />

Página 5: [12] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 10:22<br />

QUER<br />

Página 5: [13] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:56<br />

DIZER QUE A QUESTÃO DA SEXUALIDADE, NO SEU CONJUNTO, ESTÁ<br />

COLOCADA DESDE DO INÍCIO NO CAMPO DA SEXUALIDADE INFANTIL,<br />

ASSIM COMO TAMBÉM ESTÁ<br />

1 FREUD, SIGMUND. (1923), "A ORGANIZAÇÃO GENITAL INFANTIL: UMA<br />

INTERPOLAÇÃO NA TEORIA DA SEXUALIDADE INFANTIL", ESB, VOL. XIX; AE,<br />

VOL. XIX.(?)<br />

4


Página 5: [14] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:50<br />

NELE A QUESTÃO DA GENITALIDADE E DAS ESCOLHAS AMOROSAS<br />

BASEADAS NO REGISTRO GENITAL. OU SEJA, NÃO SE TRATA DE ESPERAR A<br />

VIDA ADULTA PARA SE ALCANÇAR UMA GENITALIDADE DIFERENTE QUE<br />

Página 5: [15] Inserido Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:50<br />

NELE A QUESTÃO DA GENITALIDADE E DAS ESCOLHAS AMOROSAS<br />

BASEADAS NO REGISTRO GENITAL. OU SEJA, NÃO SE TRATA DE ESPERAR A<br />

VIDA ADULTA PARA SE ALCANÇAR UMA GENITALIDADE DIFERENTE QUE<br />

Página 5: [16] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 10:24<br />

RESPEITO AO ÂMBITO DA SEXUALIDADE INFANTIL<br />

Página 5: [17] Inserido Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 10:24<br />

RESPEITO AO ÂMBITO DA SEXUALIDADE INFANTIL<br />

Página 5: [18] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:50<br />

. É JUSTAMENTE POR TER LIGADO À SUA TEORIA DA SEXUALIDADE<br />

INFANTIL UMA ORGANIZAÇÃO GENITAL QUE<br />

Página 5: [19] Inserido Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:50<br />

. É JUSTAMENTE POR TER LIGADO À SUA TEORIA DA SEXUALIDADE<br />

INFANTIL UMA ORGANIZAÇÃO GENITAL QUE<br />

Página 5: [20] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:50<br />

FREUD CORTA A POSSIBILIDADE DE SUSTENTAR QUALQUER<br />

PENSAMENTO MATURACIONISTA "DE UMA POSTERIOR GENITALIZAÇÃO<br />

ADULTA, ISTO É, NÃO-INFANTIL, NÃO BASEADA NA TEORIA E NA ÉTICA DA<br />

PSICANÁLISE, QUE SE DIFERENCIA DE UMA TEORIA E DE UMA MORAL<br />

SEXUAL VIGENTES, NA QUAL HAVERIA COMPLEMENTARIDADE GENITAL<br />

(RELAÇÃO SEXUAL) NO PLANO INCONSCIENTE<br />

Página 5: [21] Inserido Michel Van <strong>de</strong>r kelen 27/2/2008 2:50<br />

FREUD CORTA A POSSIBILIDADE DE SUSTENTAR QUALQUER<br />

PENSAMENTO MATURACIONISTA "DE UMA POSTERIOR GENITALIZAÇÃO<br />

ADULTA, ISTO É, NÃO-INFANTIL, NÃO BASEADA NA TEORIA E NA ÉTICA DA<br />

PSICANÁLISE, QUE SE DIFERENCIA DE UMA TEORIA E DE UMA MORAL<br />

SEXUAL VIGENTES, NA QUAL HAVERIA COMPLEMENTARIDADE GENITAL<br />

(RELAÇÃO SEXUAL) NO PLANO INCONSCIENTE<br />

5


Página 5: [22] Excluído Beto Arreguy 16/11/2007 10:37<br />

COLOCAR REF CORPO E SEX<br />

Página 5: [23] Inserido Beto Arreguy 16/11/2007 10:37<br />

COLOCAR REF CORPO E SEX<br />

Página 5: [24] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 22/11/2007 5:41<br />

A<br />

Página 5: [24] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 7:45<br />

...<br />

Página 5: [25] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:07<br />

O SEGUNDO CAPÍTULO,<br />

Página 5: [25] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:07<br />

,<br />

Página 5: [25] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:07<br />

O<br />

Página 5: [25] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:07<br />

DIVIDIMOS<br />

Página 5: [25] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:08<br />

OIS SUBCAPÍTULO<br />

Página 5: [25] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 6:34<br />

OBJETO A<br />

Página 5: [26] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:08<br />

O SUBCAPÍTULO<br />

Página 5: [26] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 6:34<br />

OBJETO A<br />

Página 42: [27] Excluído Beto Arreguy 17/11/2007 4:28<br />

(COLOCAR REF,. EM PÉ DE PAGINA DO LIVRO DO LUCIANO) .<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:27<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:27<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

ALEM<br />

6


Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 16/11/2007 10:11<br />

I –<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

ALEM<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

BARRA<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 16/11/2007 10:11<br />

CASTRAÇAO<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

SUJEITO<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

–<br />

Página 48: [28] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

È<br />

Página 48: [29] Excluído Beto Arreguy 16/11/2007 10:11<br />

È<br />

Página 48: [29] Excluído Beto Arreguy 16/11/2007 10:11<br />

Página 48: [29] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:28<br />

Página 48: [29] Excluído Beto Arreguy 16/11/2007 10:11<br />

SIMBOLISAVEL<br />

Página 48: [29] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:29<br />

È<br />

Página 48: [29] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:29<br />

OPERAÇÃO<br />

Página 48: [30] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:29<br />

7


,<br />

Página 48: [30] Excluído Beto Arreguy 16/11/2007 10:11<br />

RECUBRIMENTO<br />

Página 48: [31] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:29<br />

,<br />

Página 48: [31] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:29<br />

,<br />

Página 48: [32] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:30<br />

,<br />

Página 48: [32] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:30<br />

,<br />

Página 48: [33] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:30<br />

,<br />

Página 48: [33] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:30<br />

DESAPARECIMENTO<br />

Página 48: [34] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:53<br />

.<br />

Página 48: [34] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:53<br />

Página 48: [34] Excluído Michel Van <strong>de</strong>r kelen 26/2/2008 8:54<br />

O<br />

Página 48: [35] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:31<br />

,<br />

Página 48: [35] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:32<br />

SABER<br />

Página 115: [36] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 7:00<br />

CAPÍTULO 3<br />

ESPAÇO PAIS-BEBÊS<br />

Quebra <strong>de</strong> página<br />

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS FRAGMENTOS CLÍNICOS E O ESPAÇO<br />

PAIS-BEBES-<br />

CONSTATAMOS A PARTIR DOS CASOS CLÍNICOS QUE ATENDEMOS O INFANS<br />

E SEU OUTRO PRIMORDIAL NUM MESMO ATENDIMENTO, TRATANDO-SE DE<br />

UMA CLÍNICA QUE SE PROPÕE A ATENDER TAMBÉM AQUELE QUE NÃO<br />

8


FALA. PODERIAMOS DECIDIR ATENDER APENAS O OUTRO DO BEBÊ, NO<br />

ENTANTO DECIDIMOS ATENDÊ-LOS UM NA PRESENÇA DO OUTRO ,UMA VEZ<br />

QUE O INFANS NOS DAVA NOTICIA DE UM SOFRIMENTO PSÍQUICO QUE<br />

REMETIA AO LAÇO COM O OUTRO. PARA ISSO , NOS DEBRUÇAMOS SOBRE<br />

A TEORIA DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO PARA TENTAR FORMALIZAR<br />

QUESTÕES QUE SE COLOCARAM A PARTIR DESSA CLÍNICA.<br />

VIMOS QUE EMBORA O SIGNIFICANTE É TRANSMITIDO A PARTIR DO OUTRO,<br />

SERÁ NECESSÁRIO UM TRABALHO DE SIGNIFICAÇÃO FEITO PELO SUJEITO E<br />

SE FAZ NECESSÁRIO UMA TORÇÃO A MAIS, QUE É QUE EMBORA O<br />

SIMBÓLICO PRECEDE AO SUJEITO, SERÁ A PARTIR DO ENCONTRO QUE O<br />

SUJEITO E O OUTRO SE CONSTITUEM OU SEJA NÃO HÁ DUAS ENTIDADES<br />

PRÉVIAS QUE SE ENLAÇAM E PRODUZEM O SUJEITO , HÁ UM ENCONTRO NO<br />

QUAL O OUTRO E O SUJEITO SE CONSTITUEM. ASSIM, O SER DO SUJEITO<br />

DEVERÁ VIR DE FORA NUM A POSTERIORI, COMO ATO, COMO RESPOSTA.<br />

APRENDEMOS MUITO COM A CONTRIBUIÇÃO DE VIRGÍNIO BAIO QUE<br />

PROPÕE PARA O TRABALHO COM OS PAIS , QUE ARTICULAMOS ISSO A<br />

PARTIR DA ESPECIFICIDADE QUE ESSA CLÍNICA COM CRIANÇAS<br />

PSICÓTICAS NOS COLOCA , A SABER A IMPORTÂNCIA DE QUE OS PAIS NOS<br />

AUTORIZEM A TRATAR DE SEUS FILHOS E DE QUE SE DE SUPORTE PARA O<br />

TRABALHO DO SUJEITO . VIRGÍNIO BAIO PROPÕE QUE É IMPORTANTE DAR<br />

UM LUGAR AOS PAIS COMO SUJEITO, ISSO NUM PRIMEIRO TEMPO LÓGICO, E,<br />

NUM SEGUNDO TEMPO LÓGICO, DE CONVIDÁ-LOS A SE SITUAR COMO<br />

PARCEIROS DE SEU FILHO E DE TRAZE -LOS A SITUAR-SE COM AGENTE ,<br />

DO LADO DO OUTRO EM RELAÇÃO A SEUS FILHOS .O QUE NOS PARECEU<br />

INTEREÇANTE NESSE PRIMEIRO TEMPO LÓGICO É QUE PARA INSTAURAR OS<br />

PAIS COMO SUJEITO ,TEMOS QUE FAZER VALER A BARRA DA CASTRAÇÃO<br />

SOBRE A EQUIPE,E ISSO SE FAZ NA MEDIDA QUE A EQUIPE NÃO SE COLOCA<br />

NO LUGAR DE SUJEITO SUPOSTO SABER ,AO CONTRARIO, SE COLOCA NUM<br />

LUGAR QUE SITUA UM CERTO SABER DO LADO DOS PAIS , QUE LHE DIZ QUE<br />

SEM O SABER DELES , A EQUIPE SE ENCONTRA NUM IMPASSE .ISSO NOS<br />

PARECE MUITO INTERESSANTE PARA NOSSA PESQUISA UMA VEZ ,ESSE<br />

LUGAR DADO A ENUNCIAÇAO DOS PAIS ,CONSTITUE UMA HIANCIA ,UM<br />

VASIO QUI ORIENTA E LIMITA A EQUIPE E SEM O QUAL ELES CONSIDERAM<br />

QUE ELES NÃO PODEM OPERAR.VEMOS NISSO UMA INDICAÇÃO CLINICA<br />

IMPORTANTE PARA O TRABALHO COM OS PAIS E OS BEBES , NO QUE<br />

ESTAMOS TENTANDO FORMALIZAR COMO SENDO ESSE ESPAÇO POSSÍVEL<br />

DE SUBJETIVAÇÃO . O SEGUNDO TEMPO LÓGICO ,NOS PERMITE DAR UM<br />

PASSO HÁ MAIS NUM DIREÇÃO DE TRABALHO QUE POSSIBILITE A<br />

CONSTITUIÇÃO DE UM ESPAÇO VAZIO ENTRE O SUJEITO E O OUTRO QUE<br />

POSSIBILITE UM TRABALHO DE SUBJETIVAÇÃO UMA VEZ QUE TRATA-SE<br />

DE UM TRABALHO QUE CONSISTE EM QUE A EQUIPE E OS PAIS TENTAM SE<br />

FAZER PARCEIRO ,DESSA VEZ DA CRIANÇA COMO SUJEITO ,OU SEJA<br />

PARCEIRO DO TRABALHO SUBJETIVO DA CRIANÇA EM VEZ DE INCARNAR<br />

PARA CRIANÇA UM OUTRO DO SABER PLENO QUE COMPLETA-SE COM SEU<br />

OBJETO CRIANÇA.<br />

TENTAMOS VERIFICAR COMO ISSO SE DARIA NOS CASO CLÍNICOS E SE<br />

TRABALHAMOS EM ALGUM MOMENTO COM ESSA REFERENCIA<br />

9


.RENCONHEÇEMOS AO LONGO DOS CASOS CLÍNICOS , MOMENTOS EM QUE<br />

TRABALHAMOS COM A MÃE A PARTIR DE UMA UMA PROPOSTA DE<br />

TRABALHO QUE ERA DE DAR UM LUGAR DE SUJEITO, COMO POR EXEMPLO<br />

PARA A MÃE DE S .QUANDO A CONVIDAMOS A FALAR DE S. PORQUE É ELA<br />

QUE SABE SOBRE S. . E NOS INTEREÇAMOS TAMBÉM PELO TRABALHO , DO<br />

SEGUNDO MOMENTO LOGICO, QUE È DE ASSOCIÁ-LOS, COMO<br />

PARCEIROS DO TRABALHO DE SEUS FILHOS, RECONHECENDO O LUGAR QUE<br />

O OUTRO OCUPA PARA SEU FILHO, E ASSIM RECONHECENDO O TRABALHO<br />

DE SEU FILHO, SUA RESPOSTA DE SUJEITO DIANTE DO OUTRO. NOS<br />

PARECEU,QUE PODERÍAMOS LER ALGO DESSA ORDEM, NO CASO DE S.<br />

QUANDO TENTAMOS SUSTENTAR UM LUGAR PARA O TRABALHO DE S<br />

COM:´´ QUEREMOS SABER MAIS DE S`` , QUE VIVE, SE AGITA, SE INTERESSA<br />

POR OBJETOS DIANTE DE UM OUTRO QUE A DETERMINA DESOBEDIENTE.<br />

NESSE ÚLTIMO CAPÍTULO, IREMOS ABRÍ-LO COM UMA REFLEXÃO A<br />

RESPEITO DO TEXTO "NOTA SOBRE A CRIANÇA" DE JACQUES LACAN, A FIM<br />

DE AVANÇAR MAIS UM POUCO NO ESTUDO A RESPEITO DO OBJETO A A<br />

PARTIR DA CLÍNCIA COM CRIANÇAS E SEUS PAIS. NESSE TEXTO, LACAN NOS<br />

DIZ QUE A FUNÇÃO DE RESÍDUO QUE SUSTENTA A FAMÍLIA CONJUGAL, AO<br />

LONGO DA EVOLUÇÃO DAS SOCIEDADES, FAZ SE DESTACAR UM<br />

IRREDUTÍVEL DE UMA TRANSMISSÃO, QUE É A CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA<br />

QUE IMPLICA A RELAÇÃO A UM DESEJO QUE NÃO SEJA ANÓNIMO .<br />

ASSIM A FUNÇÃO DA MÃE E DO PAI SE DEFINEM A PARTIR DESSA<br />

NECESSIDADE. A MÃE, ENQUANTO SEUS CUIDADOS TRAZEM A MARCA DE<br />

UM INTERESSE PARTICULAR, TRANSMITINDO SUA PRÓPRIA FALTA. E O PAI,<br />

ENQUANTO O SEU NOME É O VETOR DE UMA INCARNAÇÃO DA LEI NO<br />

DESEJO, O SEJA DA CASTRAÇÃO.<br />

A PARTIR DISSO, LACAN ELABORA QUE O SINTOMA DA CRIANÇA<br />

CONSTITUI-SE PARA RESPONDER AO QUE TEM DE SINTOMÁTICO NA<br />

ESTRUTURA DA FAMÍLIA. TEREMOS ENTÃO, SEGUNDO LACAN, DUAS<br />

POSSIBILIDADES DE RESPOSTA DO SUJEITO: NUMA, O SINTOMA<br />

REPRESENTA A VERDADE DO CASAL PARENTAL. ESSA POSSIBILIDADE É A<br />

MAIS COMPLEXA, MAS TAMBÉM A MAIS ABERTA À NOSSA INTERVENÇÃO.<br />

NA OUTRA, O SINTOMA REVELA A SUBJETIVIDADE DA MÃE; NESSE CASO,<br />

NOSSA INTERVENÇAO ENCONTRA-SE BASTANTE REDUZIDA ,NESSA<br />

SITUAÇÃO A CRIANÇA ESTA DIRETAMENTE INTERESSADA,ENQUANTO É<br />

CORELATIVA DE UMA FANTASIA.<br />

NESSE CASO, A DISTÂNCIA ENTRE A IDENTIFICAÇÃO AO IDEAL DO EU E O<br />

DESEJO DA MÃE, SEM MEDIAÇÃO, QUE NORMALMENTE É ASSEGURADA<br />

PELA FUNÇÃO DO PAI, DEIXA A CRIANÇA VULNERÁVEL À FANTASIA<br />

MATERNA, TORNANDO-SE ASSIM "OBJETO" DA MÃE, E A FUNÇÃO DESSE<br />

OBJETO É DE REVELAR A VERDADE DESSE OBJETO.<br />

ISSO TERA POR CONSEQÜÊNCIA QUE A CRIANÇA REALISA A PRESENÇA DO<br />

OBJETO A NA FANTASIA [NO FANTASMA]. SATURANDO ASSIM A<br />

10


MODALIDADE DE FALTA NA QUAL SE ESPECIFICA O DESEJO DA MÃE,<br />

QUALQUER QUE SEJA SUA ESTRUTURA.<br />

A CRIANÇA ALIENA NELA (?) QUALQUER ACESSO POSSÍVEL DA MÃE A SUA<br />

PRÓPRIA VERDADE DANDO-LHE CORPO E EXISTÊNCIA. DESSA MANEIRA,<br />

NESSA RELAÇÃO DUAL COM A MÃE, A CRIANÇA DA-LHE O QUE FALTA AO<br />

SUJEITO MASCULINO, O FALO, OFERECENDO SE ASSIM COMO OBJETO NO<br />

REAL. ISSO TEM COMO CONSEQÜÊNCIA QUE, NA MEDIDA EM QUE O OBJETO<br />

APRESENTA O REAL, ELE ESTÁ MAIS SUBORDINADO A FANTASIA<br />

MATERNA. NOS PARECE ENTÃO POSSÍVEL EXTRAIR AÍ QUE, QUANDO A<br />

CRIANÇA TORNA-SE "OBJETO" DA MÃE, POR NÃO TER A MEDIAÇÃO<br />

ASSEGURADA PELA FUNÇÃO DO PAI PARA MODULAR A DISTÂNCIA ENTRE A<br />

IDENTIFICAÇÃO IDEAL DO EU E O DESEJO DA MÃE, ELA REALISA-SE SE<br />

OFERECENDO COMO OBJETO NO REAL. ISSO SIGNIFICA QUE NÃO OPEROU A<br />

CASTRAÇÃO E QUE O OBJETO NÃO REALISA-SE COMO RESTO, COMO<br />

OBJETO A, COMO AQUILO QUE POSSIBILITOU UMA CERTA SEPARAÇÃO, UM<br />

ESPAÇO ENTRE ALIENAÇÃO E SEPARAÇAO. DIFERENTEMENTE DO OBJETO A,<br />

O OBJETO NO REAL É O OBJETO NA PSICOSE. OU SEJA O OBJETO DA PSICOSE<br />

NÃO É O OBJETO A, PORQUE O OBJETO A IMPLICA NUM ESPAÇO ENTRE<br />

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO, E O OBJETO NO REAL VEM SATURAR A<br />

MODALIDADE DE FALTA QUE VIABILIZA A SEPARAÇÃO.NOS PARECE<br />

TAMBÉM IMPORTANTE DESTACAR AQUI, QUE A MEDIAÇÃO ASSEGURADA<br />

PELA FUNÇÃO DO PAI NÃO É UMA MEDIAÇÃO ENTRE DUAS ENTIDADES QUE<br />

TENTA FAZER UMA MEDIA ENTRE DUAS ENTIDAS ,TENTANDO UM<br />

ENTENDIMENTO ENTRE O QUE CADA UMA REVENDICA .MUITO PELO<br />

CONTRARIO NÃO SE TRATA NADA DISSO ,A MEDIAÇÃO AQUI POSTA POR<br />

LACAN ,É UMA MEDIAÇÃO PARADOXAL,QUI É VIRTUAL QUE TEM<br />

POSSIBILIDADE DE ESPAÇO,UMA VEZ QUE A FUNÇAO DO PAI GARANTE A<br />

MEDIAÇÃO ATRAVÉS DO RECUBRIMENTO DE DUAS FALTAS A DO SUJEITO E<br />

A DO OUTRO , APARTIR DA OPERAÇAO DA CASTRAÇÃO , RESULTANDO<br />

NUM ESPAÇO VAZIO ,QUE TEM A CONSISTENCIA LÓGICA DO OBJETO A , UM<br />

OBJETO QUE NÃO É NEM DO SUJEITO NEM DO OUTRO E QUE É O ELO ENTRE<br />

O SUJEITO E O OUTRO E , QUE COMO OBJETO DESAPARECE.VEMOS AI ,UMA<br />

DIREÇÃO DE TRABALHO PARA O ESPAÇO PAIS –BEBES ,NÃO SENDO UM<br />

ESPAÇO PARA TENTAR ARMONIZAR ALGO DO OUTRO MATRNO E O BEBE<br />

,MAS SIM DE FAZER VALER APARTIR DE UMA FUNÇÃO DE TERCEIRO , UM<br />

ESPAÇO POSSÍVEL DE SUBJETIVAÇÃO .<br />

A PARTIR DESSA REFLEXÃO, VAMOS NOS PROPOR A ARRISCAR UMA BREVE<br />

APROXIMAÇÃO ENTRE ESPAÇO PAIS-BEBÊS PENSADO A PARTIR DO OBJETO<br />

A LACANIANO, OU SEJA A PARTIR DAS OPERAÇÕES DE ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO, E O OBJETO TRANSICIONAL DE D.W. WINNICOTT.<br />

FAREI PRIMEIRO UMA BREVE ARTICULAÇÃO DA TEORIA DE JACQUES<br />

LACAN, ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO, COM O CONCEITO DE ESPAÇO<br />

POTENCIAL E O OBJETO TRANSICIONAL DE D. WINNICOTT. EMBORA O<br />

APORTE DE WINNICOTT SEJA MUITO IMPORTANTE, INFELIZMENTE NÃO<br />

PODEMOS DESENVOLVÊ-LO AQUI EXTENSIVAMENTE, MAS TENTAREMOS<br />

11


APRESENTAR ALGUMAS ARTICULAÇÕES QUE NOS PARECEM<br />

INTERESSANTES PARA NOSSO CAMPO DE PESQUISA.<br />

ARTICULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO-SEPARAÇÃO COM O ESPAÇO<br />

POTENCIAL E O OBJETO TRANSICIONAL.<br />

3.1.1. ALIENAÇÃO/SEPARAÇÃO E O OBJETO A<br />

SABEMOS QUE LACAN, NO SEMINÁRIO 10: A ANGÚSTIA, DIZ QUE DEVE<br />

MUITO DA SUA FORMALIZAÇÃO DO OBJETO A À WINNICOTT.<br />

“O QUE CHAMAMOS DO OBJETO TRADUZ-SE, PORTANTO, PELO APARECIMENTO,NA<br />

CADEIA DA FABRICAÇÃO HUMANA, DE OBJETOS CEDÍVEIS QUE PODEM SER<br />

EQUIVALENTES AOS OBJETOS NATURAIS. SE ESTA REPETIÇÃO NÃO É<br />

DESPROPOSITADA AQUI É QUE, POR MEIO DELA, TENCIONO LIGAR DIRETAMENTE A<br />

ISSO A FUNÇÃO QUE TENHO ENFATIZADO HÁ MUITO TEMPO – A DO OBJETO<br />

TRANSICIONAL, PARA RETOMAR O TERMO, APROPRIADO OU NÃO, MASJÁ<br />

CONSAGRADO,COM QUE O ROTULOU SEU CRIADOR, AQUELE QUE O PERCEBEU, OU<br />

SEJA, WINNICOTT”2.<br />

O OBJETO A DE LACAN SE CONSTITUI NA OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO. COMO VIMOS, NA OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO, O OUTRO, AO<br />

TENTA RECOBRIR O SUJEITO COM TODO O SENTIDO , FAZ APARECER O<br />

FURO , O QUE NÃO E POSSÍVEL FAZER CONSISTIR COMO SENTIDO , UMA VEZ<br />

QUE É IMPOSSÍVEL RECOBRIR COM TODO O SENTIDO, FALTA SENTIDO,<br />

CONSTITUI-SE ENTÃO UM FURO NO OUTRO, A FALTA, O DESEJO NO OUTRO.<br />

NA OPERAÇÃO DE SEPARAÇÃO, O SUJEITO, AO TENTAR PREENCHER ESSA<br />

FALTA, TENTA PREENCHER O DESEJO DO OUTRO, MAS É BARRADO, UMA<br />

VEZ QUE ESSE OUTRO, AO ENDEREÇAR SEU DESEJO PARA ALÉM DO<br />

SUJEITO, PRODUZ A CASTRAÇÃO DO SUJEITO. ISSO SIGNIFICA QUE ELE É<br />

INTERDITADO NA SUA TENTATIVA DE PREENCHER O DESEJO DO OUTRO. O<br />

SUJEITO SERÁ ENTÃO EXPULSO DO DESEJO DO OUTRO, PRODUZINDO-SE A<br />

DIVISÃO DO SUJEITO. O RESTO DESSA OPERAÇÃO É O OBJETO A.<br />

LACAN NOS DIZ QUE PARA QUE HAJA SEPARAÇÃO, SERÁ NECESSÁRIO QUE<br />

O SUJEITO SE IDENTIFIQUE COM ESSE RESTO CAÍDO DESSE OUTRO, O<br />

OBJETO A, QUE SOBRA DA OPERAÇÃO DE CASTRAÇÃO.<br />

“O A, AQUI, É SUPLENTE DO SUJEITO – E SUPLENTE NA POSIÇÃO DE PRECEDENTE. O<br />

SUJEITO MÍTICO PRIMITIVO, POSTULADO NO INÍCIO COMO TENDO SE CONSTITUIR<br />

NO CONFRONTO SIGNIFICANTE, NÓS NUNCA O APRENDEMOS, POR RAZÕES ÓBVIAS,<br />

PORQUE O A O PRECEDEU, E É COMO MARCADO, ELE PRÓPRIO, POR ESSA<br />

SUBSTITUIÇÃO PRIMITIVA QUE ELE TEM QUE REEMERGIR SECUNDARIAMENTE,<br />

PARA ALÉM DE SEU DESAPARECIMENTO”3.<br />

Página 115: [37] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:09<br />

2 LACAN, Jacques (1962-1963). O Seminário. Livro10: a angústia. Rio <strong>de</strong> janeiro: Jorge<br />

Zahar, 2005, p. 340.<br />

3 LACAN, Jacques (1962-1963). O Seminário. Livro10: a angústia. Rio <strong>de</strong> janeiro: Jorge<br />

Zahar, 2005, p. 341.<br />

12


ASSIM, LACAN ESCREVE NO SEMINÁRIO 10 QUE NA OPERAÇÃO DE<br />

CASTRAÇÃO, DE DIVISÃO DO SUJEITO QUE SE ESCREVE $, TEM NO SENTIDO<br />

DA DIVISÃO UM RESTO,UM RESÍDUO. ESSE RESTO É A ÚNICA PROVA,<br />

GARANTIA DA ALTERIDADE DO OUTRO E, É O A. É POR ISSO,DIZ LACAN, QUE<br />

OS DOIS TERMOS $ E A, O SUJEITO MARCADO PELA BARRA DO SIGNIFICANTE<br />

E O PEQUENO A,RESTO, RESÍDUO QUE É A CONDIÇÃO DE EXISTÊNCIA DO<br />

OUTRO, ESTÃO NO MESMO LADO DA BARRA, DO LADO OBJETIVO DA<br />

BARRA. OU SEJA, PARA LACAN TANTO O $ COMO O A ESTÃO DO LADO DO<br />

OUTRO, PORQUE O FANTASMA, QUE É APOIO DO MEU DESEJO ESTÁ NA SUA<br />

TOTALIDADE DO LADO DO OUTRO. O QUE ESTÁ DO LADODO SUJEITO E QUE<br />

O CONSTITUI COMO INCONSCIENTE É O OUTRO BARRADO A QUE É<br />

INATINGÍVEL POR MIM. ASSIM LACAN ESCREVE O ESQUEMA QUE É O<br />

PRIMEIRO ESQUEMA DA DIVISÃO.<br />

Página 115: [38] Excluído Beto Arreguy 18/11/2007 4:09<br />

“É POR ISSO QUE OS DOIS TERMOS $ E A, O SUJEITO MARCADO PELA BARRA DO<br />

SIGNIFICANTE E O OBJETO PEQUENO A, RESÍDUO DO CONDICIONAMENTO, SE<br />

ASSIM POSSO ME EXPRIMIR,PELO OUTRO, ENCONTRA-SE DO MESMO LADO, DO<br />

LADO OBJETIVO DA BARRA. TODOS OS DOIS ESTÃO DO LADO DO OUTRO, PORQUE<br />

A FANTASIA, ESTEIO DO MEU DESEJO, ESTÁ INTEIRAMENTE DO LADO DO OUTRO. O<br />

QUE ESTÁ AGORA DO MEU LADO É AQUILO QUE ME CONSTITUI COMO<br />

INCONSCIENTE, OU SEJA, A, O OUTRO COMO AQUELE QUE NÃO ATINJO”4.<br />

ASSIM, O OBJETO A NA CONDIÇÃO DE RESTO NÃO PERTENCE NEM AO<br />

OUTRO NEM AO SUJEITO, PORQUE COMO O OBJETO É DO OUTRO, SERÁ<br />

NECESSÁRIO, PARA QUE SE INSCREVA A FALTA NO OBJETO QUE ALGO SEJA<br />

PERDIDO. NOS INTERESSA AQUI ESSA AFIRMAÇÃO DE LACAN, ENQUANTO<br />

DIREÇÃO CLÍNICA, UMA VEZ QUE VAMOS TER QUE TRABALHAR NA<br />

DIREÇÃO DE CAUSAR O SUJEITO.<br />

APPORT DE D. W. WINNICOTT SOBRE O CONCEITO OBJETOS TRANSICIONAIS<br />

E ESPAÇO POTENCIAL5.<br />

SEGUIREMOS AGORA, A FIM DE ENTENDER COMO D. W. WINNICOTT<br />

FORMALIZOU ESSES CONCEITOS UM CAPITULO DE WINICOTT NOMEADO:<br />

“OBJETOS TRANSICIONAIS E FENÔMENOS TRANSICIONAIS”. NESTE<br />

CAPÍTULO, WINNICOTT, SE PROPÕE A ESTUDAR A RIQUEZA DO PADRÃO DE<br />

USO QUE OS BEBÊS FAZEM DE SUA PRIMEIRA POSSE NÃO-EU. ELE NOS DÁ A<br />

SEGUINTE DEFINIÇÃO:<br />

“INTRODUZI AS EXPRESSÕES ‘OBJETOS TRANSICIONAL’ E ‘FENÔMENO<br />

TRANSICIONAL’ PARA DESIGNAR A ÁREA INTERMEDIÁRIA DA EXPERIÊNCIA,<br />

4 LACAN, Jacques (1962-1963). O Seminário. Livro10: a angústia. Rio <strong>de</strong> janeiro: Jorge<br />

Zahar, 2005, p. 36.<br />

5 Winnicott Donald W, “Objetos transicionais e fenômenos transicionais” In. Da pediatria<br />

à psicanálise. Obras escolhidas cap. XVIII, (1951), pp. 316 - 331<br />

13


ENTRE O POLEGAR E O URSINHO, ENTRE O EROTISMO ORAL E A VERDADEIRA<br />

RELAÇÃO OBJETAL, ENTRE O EROTISMO ORAL E A VERDADEIRA RELAÇÃO<br />

OBJETAL, ENTRE A ATIVIDADE DA CRIATIVIDADE PRIMÁRIA E A PROJEÇÃO DO QUE<br />

JÁ TERIA SIDO INTROJETADO, ENTRE A NÃO CONSCIÊNCIA PRIMÁRIA DA DÍVIDA E<br />

O RECONHECIMENTODA DÍVIDA6”.<br />

DESSE MODO, PARA ELE, TANTO O BALBUCIO DO BEBÊ COMO A MANEIRA<br />

COMO UMA CRIANÇA MAIS VELHA REPASSA TODO UM REPERTÓRIO DE<br />

CANÇÕES ENQUANTO SE PREPARANDO PARA DORMIR, OCORREM NESSA<br />

ÁREA INTERMEDIÁRIA, ENQUANTO FENÔMENOS TRANSICIONAIS. NESSA<br />

ÁREA OCORRERÁ TAMBÉM O USO DE OBJETO QUE NEM FAZEM PARTE DO<br />

CORPO DO BEBÊ, NEM SÃO RECONHECIDOS COMO SENDO DA REALIDADE<br />

EXTERIOR.<br />

O QUE WINNICOTT ESTÁ FORMALIZANDO É QUE O INDIVÍDUO POSSUI UMA<br />

REALIDADE INTERNA QUE FAZ FRONTEIRA COM UMA REALIDADE EXTERNA<br />

MAS QUE, EXISTE UMA TERCEIRA PARTE DA VIDA DO INDIVÍDUO QUE É<br />

UMA REGIÃO INTERMEDIÁRIA DA EXPERIMENTAÇÃO QUE TEM A<br />

CONTRIBUIÇÃO TANTO DA REALIDADE INTERNA COMO EXTERNA. ESSA<br />

ÁREA É UMA ÁREA INTERMEDIÁRIA, DE DESCANSO PORQUE NÃO É<br />

QUESTIONADA.<br />

INTERESSA-LHE ESTUDAR ESSA ÁREA INTERMEDIÁRIA ENTRE O SUBJETIVO<br />

E O OBJETIVAMENTE PERCEBIDO, PORQUE ISSO VAI PERMITIR-LHE<br />

ESTUDAR O PROGRESSO QUE LEVA A MANIPULAÇÃO DOS VERDADEIROS<br />

OBJETOS NÃO EU. ESSE ESTUDO VAI CONDUZI-LO A FORMULAÇÃO DO<br />

OBJETO TRANSICIONAL QUE SERÁ A PRIMEIRA POSSE NÃO EU7. VEJAMOS<br />

AS CARACTERÍSTICAS ESPECIAIS NO RELACIONAMENTO DO BEBÊ COM O<br />

OBJETO TRANSICIONAL, QUE O TORNA UM OBJETO TRANSICIONAL.<br />

NO ENTÃO, PARA QUE OCORRAM OS FENÔMENOS TRANSICIONAIS E<br />

OBJETOS TRANSICIONAIS, SERÁ NECESSÁRIO QUE A MÃE SEJA<br />

SUFUCIENTEMENTE BOA. ISSO SIGNIFICA QUE ELA SE ADAPTE ATIVAMENTE<br />

AS NECESSIDADES DO SEU BEBÊ, UMA ADAPTAÇÃO QUE IRÁ DIMINUIR<br />

GRADATIVAMENTE DE ACORDO COM A CAPACIDADE QUE O BEBÊ IRÁ<br />

ADQUIRIR DE SUPORTAR AS FALHAS NA ADAPTAÇÃO E TOLERARA<br />

VIVÊNCIA DAS FRUSTRAÇÕES. ASSIM, NO INÍCIO DA VIDA DO BEBÊ, A MÃE<br />

COM SUA AÇÃO ADAPTADORA VAI DAR AO BEBÊ A POSSIBILIDADE DE TER<br />

A ILUSÃO DE QUE SEU SEIO É UMA PARTE DELE. O BEBÊ TEM UMA<br />

VIVÊNCIA MÁGICA DE TER O CONTROLE SOBRE O SEIO.<br />

RECAPITULANDO, PARA WINNICOTT, ESSA PRIMEIRA POSSE RELACIONA-SE<br />

RETROATIVAMENTE AOS FENÔMENOS AUTO-ERÓTICOS, AO COSTUME DE<br />

CHUPAR O PUNHO OU O POLEGAR E, MAIS TARDE, O PANINHO, OU BICHINHO<br />

MACIO, OU BONECA, OU BRINQUEDO. ESSA PRIMEIRA POSSE, EMBORA<br />

RELACIONA-SE TANTO AOS OBJETOS EXTERNOS (SEIO MATERNO) QUANTO<br />

INTERNO (SEIO MÁGICO), DIFERE DOS DOIS.<br />

6 I<strong>de</strong>m, p. 317.<br />

7 Para Winnicott, o padrão dos fenômenos transicionais <strong>com</strong>eça a tornar-se perceptível por<br />

volta <strong>de</strong> 4-6-8-12 meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. P. 320.<br />

14


ESSA PRIMEIRA POSSE CONSTITUI OS OBJETOS E FENÔMENOS<br />

TRANSICIONAIS QUE PERTENCEM AO CAMPO DA ILUSÃO. ESSE É O<br />

MOMENTO DOS PRIMÓRDIOS DO DESENVOLVIMENTO QUE DEVE SUA<br />

EXISTÊNCIA À CAPACIDADE DA MÃE DE ADAPTAR-SE ATIVAMENTE ÀS<br />

NECESSIDADES DO SEU BEBÊ, DANDO-LHE A ILUSÃO DE QUE O QUE ELE<br />

CRIA, REALMENTE EXISTE. JÁ HOUVE A PERCEPÇÃO DE PERDA: “O BEBÊ<br />

ASSUME DIREITOS SOBRE O OBJETO E NÓS CONCORDAMOS COM ISTO.<br />

AINDA ASSIM, ALGUMA AB-ROGAÇÃO DE ONIPOTÊNCIA ESTÁ PRESENTE<br />

DESDE O INÍCIO”8. VEMOS AÍ, A PARTIR DO ENSINO DE LACAN, O<br />

RECONHECIMENTO DA PERDA, OU SEJA, DA CASTRAÇÃO NECESSÁRIA, DE<br />

UMA PERDA ESTRUTURAL.<br />

WINNICOTT NOS DIRIA QUE O OBJETO TRANSICIONAL É IMPORTANTE<br />

PORQUE ELE É O QUE POSSIBILITA SE SEPARAR DO OBJETO. ASSIM, PARA<br />

ELE, O USO TÍPICO DO OBJETO TRANSICIONAL É UM TRANQÜILIZADOR QUE<br />

PERMITE QUE A CRIANÇA USE O OBJETO SUBSTITUTO PARA AMPARÁ-LO<br />

DIANTE DA SEPARAÇÃO DO OBJETO, DA PERDA DO OBJETO. ASSIM, ELE DIZ:<br />

“ POUCO DEPOIS DO DESMAME, AOS CINCO OU SEIS MESES, ELE ADOTOU A<br />

PONTA DE UM COBERTOR, ONDE TERMINAVA A COSTURA. FICAVA<br />

CONTENTE QUANDO UM POUCO DE LÃ REJUXAVA, FAZENDO COM ELA<br />

CÓCEGAS NO NARIZ. ISTO TORNOU-SE MUITO CEDO SEU ‘BAA’”9.<br />

NÃO HÁ QUESTIONAMENTO PARA SABER SE ESSA ÁREA INTERMEDIÁRIA<br />

DA EXPERIÊNCIA PERTENCE À REALIDADE INTERNA OU EXTERNA. ELA É<br />

MUITO IMPORTANTE PORQUE CONSTITUI A PARTE MAIOR DA EXPERIÊNCIA<br />

DO BEBÊ, E NUM PERÍODO ADULTO, É LUGAR DE EXPERIÊNCIA NO CAMPO<br />

DA ARTE, DA RELIGIÃO E DA IMAGINAÇÃO, E DO TRABALHO CIENTÍFICO<br />

CRIATIVO. O OBJETO TRANSICIONAL DE UM BEBÊ SERÁ GRADATIVAMENTE<br />

DESCATEXIZADO, NA MEDIDA QUE SE CONSTITUEM OS INTERESSES<br />

CULTURAIS. NESSE SENTIDO, O OBJETO TRANSICIONAL É O ASPECTO<br />

VISÍVEL DA TRAVESSIA DO BEBÊ DESDE A SUBJETIVIDADE ATÉ A<br />

OBJETIVIDADE, ELE SERIA UM ASPECTO VISÍVEL DA TRAVESSIA EM<br />

DIREÇÃO AO SIMBOLISMO. DE FATO, QUANDO O SIMBOLISMO É<br />

EMPREGADO, O BEBÊ JÁ TEM A CAPACIDADE DE DISTINGUIR ENTRE FATO E<br />

FANTASIA, ENTRE OBJETOS INTERNOS E EXTERNOS.<br />

ARTICULAÇÕES DO CONCEITO DE ESPAÇO E OBJETO TRANSICIONAL COM A<br />

TEORIA DE LACAN ALIENAÇÃO-SEPARAÇÃO E O OBJETO A E O OBJETO E<br />

ESPAÇO TRANSICIONAL<br />

O OBJETO<br />

O OBJETO TRANSICIONAL É UM RUMO AO OBJETO A, UMA VEZ QUE ELE JÁ<br />

TEM UMA DIMENSÃO DE FALTA, DE PERDA, PORQUE COMO NOS DIZ<br />

WINNICOTT, O BEBÊ SE AGARRA AO OBJETO TRANSICIONAL PELO FATO<br />

DELE JÁ VIVER A DIMENSÃO DA FALTA,JÁ HOUVE PARA O BEBÊ A<br />

INCLUSÃO DA PERDA DO OBJETO. NOS PARECE FUNDAMENTAL A FUNÇÃO<br />

8 I<strong>de</strong>m, p. 320<br />

9 I<strong>de</strong>m, p. 323<br />

15


DO OBJETO TRANSICIONAL, UMA VEZ QUE, ATRAVÉS DELE A CRIANÇA<br />

COMEÇA A SE SEPARAR DO OBJETO MATERNO E AÍ VAI SE SEPARANDO DE<br />

TODOS OS OBJETOS. ESSA DISTÂNCIA É UM ESPAÇO VAZIO QUE ANTECEDE<br />

AQUALQUER TROCA, É A PRIMAZIA DO SIMBÓLICO. ASSIM, SE RETOMAMOS<br />

OS CONCEITOS DE LACAN DE REAL E IMAGINÁRIO, VEMOS COMO A TROCA<br />

PASSA NECESSARIAMENTE PELO SIMBÓLICO.<br />

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO<br />

IREMOS AGORA SEGUIR O ESTUDO DE MASSUD R. KHAN10 E UM TEXTO DE<br />

WINNICOTT: A OBSERVAÇÃO DE BEBÊS NUMA SITUAÇÃO PADRONIZADA<br />

(1941)11 QUE ARTICULAMOS COM A OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO DE JACQUES LACAN. UM DOS PRIMEIROS ESTUDOS DE D. W.<br />

WINNICOTT SOBRE ESPAÇO E OBJETO TRANSICIONAL ENCONTRA-SE EM SEU<br />

TRABALHO DE “OBSERVAÇÃO DE BEBÊS NUMA SITUAÇÃO<br />

PADRONIZADA”12. NESSE TRABALHO ELE DESCREVE UM CERTO PADRÃO DE<br />

COMPORTAMENTO INFANTIL EM RELAÇÃO A UMA ESPÁTULA, NO<br />

CONTEXTO DE UMA CONSULTA SOLICITADA PELA MÃE. NESSA<br />

EXPERIÊNCIA ELE VAI DESTACAR A HESITAÇÃO DO BEBÊ COMO UM<br />

MOMENTO MUITO IMPORTANTE, EU DIRIA FUNDAMENTAL NESSE<br />

MOMENTO DE CONSTITUIÇÃO DO BEBÊ, NESSA EXPERIÊNCIA<br />

PADRONIZADA POR ELE; MOMENTO FUNDAMENTAL POR CONSTITUIR UM<br />

MOVIMENTO CONSTITUTIVO DO BEBÊ, QUE VAI DA HESITAÇÃO AO GESTO<br />

CRIATIVO.<br />

O GESTO CRIATIVO CONSIDERADO POR WINNICOTT, O RABISCO, É O<br />

PRODUTO “DO JOGO DO RABISCO”13, QUE É UM JOGO QUE POSSIBILITOU A<br />

ELE CRIAR O ESPAÇO TRANSICIONAL. O ESPAÇO TRANSICIONAL SERIA<br />

CONSTITUÍDO DE UM PERÍODO DE HESITAÇÃO QUE CONSTITUI ESSE<br />

MOMENTO, ESSE ESPAÇO, ATÉ O DESDOBRAR-SE NO GESTO CRIATIVO, O<br />

RABISCO. PARECE-ME IMPORTANTE, PARA ENTENDER EM QUE CONSISTE O<br />

ESPAÇO TRANSICIONAL, DESCREVER ESSE MOVIMENTO QUE VAI DA<br />

HESITAÇÃO AO RABISCO. PARA ISSO VOU AGORA DESCREVER AS<br />

OBSERVAÇÕES DE WINNICOTT SOBRE UMA EXPERIÊNCIA FEITA COM UMA<br />

ESPÁTULA EM UMA SITUAÇÃO PADRONIZADA, EM CONSULTAS<br />

SOLICITADAS PELA MÃE. NESSA EXPERIÊNCIA TEM A ANÁLISE DESSE<br />

MOVIMENTO. TEREMOS TRÊS ESTÁGIOS:<br />

1) PRIMEIRO ESTÁGIO – O BEBÊ ESTENDE SUA MÃO PARA A ESPÁTULA, MAS<br />

DESCOBRE SUBITAMENTE QUE PRECISA PENSAR UM POUCO MAIS SOBRE A<br />

SITUAÇÃO. ELE SE VÊ NUM DILEMA. INSTAURA-SE ENTÃO A HESITAÇÃO.<br />

2) SEGUNDO ESTÁGIO – ENQUANTO DURA O “PERÍODO DE HESITAÇÃO”, O<br />

BEBÊ VAI MANTER SEU CORPO NA MESMA POSIÇÃO, MAS SEM RIGIDEZ.<br />

10 WINNICOTT. Donald. W. Da pediatria à psicanálise. Obras escolhidas (Introdução <strong>de</strong><br />

Massud R. Khan). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Imago, 2000, pp. 11-54.<br />

11 WINNICOTT. Donald, W., o.c., cfr. Capítulo IV, “A observação do bebÊ n<strong>uma</strong> situação<br />

padronizada” (1941), pp. 112-132.<br />

12 WINNICOTT, o.c., p. 112.<br />

13 Cf. a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Masud R. Kahn, o.c., p. 19.<br />

16


WINNICOTT ASSINALA QUE, AOS POUCOS, O BEBÊ REÚNE CORAGEM<br />

SUFICIENTE PARA DEIXAR QUE SEUS SENTIMENTOS AFLOREM, E AÍ A CENA<br />

VAI MUDAR RAPIDAMENTE.ESSE MOMENTO EM QUE ESSA PRIMEIRA FASE É<br />

SUBSTITUÍDA PELA SEGUNDA, É FACILMENTE RECONHECÍVEL, DIANTE DA<br />

ACEITAÇÃO POR PARTE DA CRIANÇA DA REALIDADE DO SEU DESEJO PELA<br />

ESPÁTULA. OCORRE UMA MUDANÇA NO INTERIOR DA BOCA DA CRIANÇA,<br />

ESTA SE TORNA FLÁCIDA, COM A LÍNGUA GROSSA E MACIA, CHEIA DE<br />

SALIVA.<br />

O BEBÊ DÁ A IMPRESSÃO DE ACREDITAR QUE A ESPÁTULA ESTÁ SOB SEU<br />

CONTROLE, TALVEZ EM SEU PODER; PARECE ACREDITAR QUE A ESPÁTULA<br />

ESTÁ AÍ DISPONÍVEL PARA, POR MEIO DELA, ELE EXPRESSAR O SEU EU.<br />

NESSE MOMENTO SUA INTENÇÃO É BRINCAR, É REPRESENTAR.<br />

3) TERCEIRO ESTÁGIO – O BEBÊ, ANTES DE TUDO, DEIXA CAIR A ESPÁTULA,<br />

FAZENDO COMO SE FOSSE POR ACASO. QUANDO ELE A RECEBE DE VOLTA,<br />

FICA FELIZ, BRINCA NOVAMENTE COM A ESPÁTULA E A DEIXA CAIR UM<br />

POUCO PROPOSITALMENTE, ATÉ DEIXAR PROPOSITALMENTE MESMO,<br />

ADORANDO ENTÃO O ATO DE JOGÁ-LA DE MODO AGRESSIVO, TORNANDO-<br />

SE MUITO SATISFEITO QUANDO A ESPÁTULA FAZ BARULHO AO CAIR NO<br />

CHÃO.<br />

NO FINAL DA TERCEIRA FASE, O BEBÊ PEDE PRA DESCER AO CHÃO COM A<br />

ESPÁTULA, PARA BRINCAR E MORDÊ-LA OU PARA DEIXÁ-LA PRA LÁ E<br />

ALCANÇAR OUTRO OBJETO.<br />

3.4. ALGUMAS APROXIMAÇÕES ENTRE A TEORIA DE ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO DE LACAN<br />

PARECE-ME IMPORTANTE ESSA EXPERIÊNCIA COM O BEBÊ, A ESPÁTULA E A<br />

MÃE. WINNICOTT, COM BASE NA EXPERIÊNCIA PADRONIZADA, INSTITUI UM<br />

ESPAÇO NO QUAL PODERÍAMOS SITUAR O BEBÊ CONSTITUINDO-SE COMO $,<br />

A ESPÁTULA QUE PODERÍAMOS CONSIDERAR COMO O OBJETO A, E O OUTRO<br />

DO BEBÊ, A MÃE. ISSO NOS POSSIBILITA INSTAURAR UMA ANALOGIA ENTRE<br />

O “ESPAÇO POTENCIAL”, TRANSICIONAL, E A OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO QUE SE DÁ NUM MOVIMENTO SÓ.<br />

O QUE ME PARECE IMPORTANTE DESTACAR, TANTO NO ESPAÇO POTENCIAL,<br />

COMO NA OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO SEPARAÇÃO, É A FALTA, O BURACO,<br />

COMO CONDIÇÃO DE ESSE ESPAÇO SE CONFIGURAR COMO OPERAÇÃO. NO<br />

CASO DO ESPAÇO POTENCIAL, TEMOS O PERÍODO DE HESITAÇÃO QUE É<br />

CENTRAL E FUNDAMENTAL PARA ELE CONFIGURAR UM PERÍODO, UM<br />

ESPAÇO E UM TEMPO LÓGICO NO QUAL PODE ESCOLHER QUE SIM OU QUE<br />

NÃO. POR AÍ JÁ SE INSTAURA A FALTA E UM MOMENTO DE SUSPENSÃO, POR<br />

NÃO ESCOLHER. PODERÍAMOS DIZER O RECOBRIMENTO DE DUAS FALTAS<br />

DO SUJEITO E DO OUTRO, ASSIM COMO A OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO SE DÁ, SE FUNDAMENTA A PARTIR DO RECOBRIMENTO DESSAS<br />

DUAS FALTAS. NA SUSPENSÃO O BEBÊ ESTÁ ÀS VOLTAS COM O DESEJO DO<br />

OUTRO; TENTANDO DECIFRA-LO E CORRESPONDER AO DESEJO DO OUTRO;<br />

FAZENDO COM QUE SUA FALTA CORRESPONDA AO DESEJO DO OUTRO.<br />

NOTAMOS TAMBÉM QUE O OBJETO A É O RESTO DA OPERAÇÃO DE<br />

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO, O RESTO DA OPERAÇÃO DE CASTRAÇÃO, O QUE<br />

17


SE PRODUZ QUANDO O OUTRO MATERNO DIRIGE-SE MAIS ALÉM DO<br />

SUJEITO, DO $ QUE TENTA RESPONDER, COMPLETAR O DESEJO DO OUTRO<br />

MATERNO, E QUE SE VÊ BARRADO, INTERDITADO PELO OUTRO MATERNO. A<br />

CASTRAÇÃO, A DIVISÃO DO SUJEITO $ E O RESTO OBJETO A, O QUE FICA DE<br />

NÃO SIMBOLIZÁVEL DESSA OPERAÇÃO DA CASTRAÇÃO. É O RESTO QUE O<br />

SIMBÓLICO NÃO PODE RECOBRIR. NESSE SENTIDO PODEMOS APROXIMAR A<br />

EXPERIÊNCIA DA ESPÁTULA COM O OBJETIVO QUE É DO SUJEITO, MAS NÃO<br />

SÓ DELE, TAMBÉM É DO OUTRO, PORQUE ELE SERVE DE INSTRUMENTO DE<br />

BRINCADEIRA ENTRE O SUJEITO E O OUTRO, AO DEIXÁ-LO CAIR E SER<br />

APANHADO. MAS AO MESMO TEMPO ELE NÃO FICA NEM COM O SUJEITO<br />

NEM COM O OUTRO. E ELE ESTÁ ABANDONADO NO CHÃO.<br />

PARA WINNICOTT, O VERDADEIRO EU SURGE, SE FAZ NO GESTO CRIATIVO<br />

DO JOGO DO RABISCO. O JOGO DO RABISCO É UM JOGO QUE O TERAPEUTA<br />

INICIA COM UM RISCO E O PACIENTE CONTINUA COM SEU RISCO, SUA<br />

ESSÊNCIA É O MODO COMO WINNICOTT CRIA O ESPAÇO POTENCIAL, UM<br />

ESPAÇO TRANSICIONAL NO QUAL O PERÍODO DE HESITAÇÃO ESTÁ<br />

TOTALMENTE PRESENTE, UMA VEZ QUE ESSA HESITAÇÃO CONSTITUI ESSE<br />

ESPAÇO, JÁ QUE ELA SUSPENDE ALGO DE DECISÃO E ASSIM CRIA UM VAZIO.<br />

PODEMOS PENSAR TAMBÉM QUE ESSA HESITAÇÃO CONSTITUI ESSE<br />

ESPAÇO, JÁ QUE ELA SUSPENDE ALGO DE DECISÃO E, ASSIM, CRIA UM<br />

VAZIO. PODEMOS PENSAR TAMBÉM QUE A HESITAÇÃO É POSSÍVEL PORQUE<br />

HÁ UM ESPAÇO VAZIO QUE NÃO É OCUPADO NEM PELO TERAPEUTA, NEM<br />

PELO PACIENTE, O BEBÊ. DESTA FORMA PODEMOS DIZER QUE O ESPAÇO,<br />

QUE NÃO É NEM DO TERAPEUTA NEM DO BEBÊ, É REDOBRADO PELA<br />

HESITAÇÃO DO BEBÊ, OU SEJA, UM PUXA O OUTRO.<br />

SERÁ DO MOVIMENTO DO ESPAÇO POTENCIAL ENTRE O TERAPEUTA E O<br />

PACIENTE, OU ENTRE O BEBÊ E O OUTRO, QUE NASCERÁ O SUJEITO DO<br />

INCONSCIENTE, O VERDADEIRO EU, SE CONSTITUINDO A PARTIR DESSE<br />

ESPAÇO E DESSE GESTO CRIATIVO. ASSIM COMO É DA OPERAÇÃO DE DUAS<br />

FALTAS NUM MOVIMENTO SÓ DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO QUE O SUJEITO<br />

DE INCONSCIENTE DE S PASSA A $.<br />

3.5. ESPAÇO PAIS-BEBÊS<br />

TENTAREMOS AGORA A PARTIR DO TRABALHO DO ESPAÇO PAIS-BEBÊS E AS<br />

QUESTÕES ALI LEVANTADAS ARTICULAR OS CONCEITOS QUE ESTUDAMOS<br />

AO LONGO DA DISSERTAÇÃO.<br />

APRESENTAMOS A SEGUIR ALGUNS FRAGMENTOS CLÍNICOS EM SUA<br />

ARTICULAÇÃO COM O ESPAÇO PAIS-BEBÊS:<br />

PRIMEIRO FRAGMENTO CLÍNICO:<br />

L. É UMA MENINA AUTISTA DE DOIS ANOS QUANDO CHEGA AO<br />

ATENDIMENTO INDIVIDUAL. NESSE PRIMEIRO MOMENTO, MINHA PRESENÇA<br />

PARECE NÃO CONTAR, ELA NÃO SE DIRIGE AO OUTRO, NÃO HÁ TROCA DE<br />

OLHAR COM O OUTRO. APRESENTA UMA GRANDE AGITAÇÃO, JOGANDO<br />

TODOS OS BRINQUEDOS DA SALA NO CHÃO. APÓS UM LONGO TRABALHO<br />

JUNTO A L. COM SEUS PAIS, NO SENTIDO DE POSSIBILITAR À MÃE E AO PAI<br />

FAZER O LUTO DE UMA MORTE QUE OS CAPTURAVA, IMPOSSIBILITADO QUE<br />

18


L. NASCESSE – ELA TINHA SIDO AMALGAMADA AO LUGAR DE MORTE – É<br />

POSSÍVEL ENTÃO INAUGURAR UM OUTRO MOMENTO, EM QUE L. PASSA A<br />

SER INVESTIDA LIBIDINALMENTE, COMO OBJETO DE AMOR. CAI, ENTÃO, O<br />

LUGAR DE CRIANÇA DESOBEDIENTE, QUE PRECISA APANHAR, PARA DAS A<br />

VEZ AO LUGAR DE CRIANÇA QUE INTERESSA (‘QUEREMOS SABER MAIS DE<br />

L.’).<br />

É NESSE MOMENTO QUE ELA É INDICADA PARA O ESPAÇO PAIS/BEBÊ, UM<br />

ESPAÇO PARA ALÉM DO ESPAÇO DO ATENDIMENTO INDIVIDUAL, NO QUAL<br />

O LÚDICO POSSA SERVIR DE SUPORTE, ESPAÇO QUE POSSIBILITA À MÃE<br />

LIBINIZAR L. MAIS UM POUCO.<br />

INDICAMOS TAMBÉM COMO ESPAÇO “REGRADO”, NO QUAL O SABER NÃO<br />

VEM POR PARTE DAS TÉCNICAS, MAS, SIM, POR PARTE DA CRIANÇA. TRATA-<br />

SE PORTANTO DE UM ESPAÇO QUE É NÃO-TODO, QUE CONTÉM UMA CERTA<br />

MARGEM NA QUAL L. POSSA EXPERIMENTAR, DENTRO DE SUAS<br />

POSSIBILIDADES, ENCONTRAR NOVOS OBJETOS, OUTRAS CRIANÇAS. L.<br />

CONSTRÓI CONHECIMENTOS SOBRE SI, SOBRE AS RELAÇÕESCOM AS<br />

OUTRAS CRIANÇAS ENQUANTOBRINCA.<br />

NAS PRIMEIRAS VEZES L. CAI EM DESESPERO,GRITA,ROLA NO CHÃO, SE<br />

DESMANCHA TODA, QUANDO É CONFRONTADA COM OUTRA CRIANÇA QUE<br />

LHE TOMA SEU BRINQUEDO.<br />

INTRODUZIMOS A DIMENSÃO DA PALAVRA, DIFERENTE DO AGIR SEMPRE<br />

ANTECIPADO DA MÃE COM L., QUE NÃO LHE DEIXA ESCOLHA,NE ESPAÇO<br />

PARA PEDIR OU RESPONDER. A MÃE CONSTRÓI CONHECIMENTO SOBRE AS<br />

POSSIBILIDADES DA FILHA, AO VÊ-LA BRINCAR E SE RELACIONAR COMAS<br />

OUTRAS CRIANÇAS E AO REFLETIR SOBRE SUA POSTURA FRENTE À FILHA.<br />

ASSIM, AOS POUCOS, A MÃE SE DIRIGE A L. NÃO MAIS COM O SABER<br />

FECHADO, MAS DEIXANDO SESURPREENDER POR L. É POR MEIO DA<br />

PALAVRA QUE INTRODUZIMOS UM CERTO TEMPO, TEMPO NO QUAL L. PODE<br />

RESPONDER, MESMO QUE DESSA FORMA E QUE ISSOSEJA RECONHECIDO. E<br />

TENTANDO FAZER UMA CERTA SUPLÊNCIA, FAZENDO-SE SUPORTE DESSE IR<br />

E VIR DO OBJETO, BUSCANDO FAZER UM TRABALHO DE ESCRIBA QUE<br />

TENTAMOS DAR NOTÍCIA DE QUE ELA CONTINUA LÁ INTEIRA.<br />

SEGUNDO FRAGMENTO CLÍNICO:<br />

M. TEM UM ANO E MEIO QUANDO CHEGA AO SERVIÇO. NOS PRIMEIROS<br />

ATENDIMENTOS AMBULATORIAIS VÊM A MÃE E A AVÓ PATERNA, UMA VEZ<br />

QUE MORAM JUNTAS, E A MÃE, GRÁVIDA,DIZ ESTAR PRECISANDO DA<br />

AJUDA DA AVÓ. DEPOIS, DEVIDO A QUESTÕES DE SAÚDE, VÊM O AVÔ<br />

PATERNO E M. M. CHEGA CONSTANTEMENTE MACHUCADO, COM GALOS NA<br />

TESTA. O AVÔ RELATA QUE M. É MUITO ‘NERVOZINHO’, POR ISSO BATE A<br />

CABEÇA.<br />

NO ESPAÇO PAIS/BEBÊS,CONSTATAMOS QUE M. É CALMO, PROCURA<br />

INTERAGIR COM OUTRAS CRIANÇAS. TODA VEZ QUE M. CONVIDA O AVÔ<br />

PARA BRINCAR, ELE NÃO ACEITA E O MANDA IR BRINCAR, DETERMINANDO<br />

COMO M. DEVERIA BRINCAR; É DESSA FORMA QUE ELE INTERVÉM TAMBÉM<br />

QUANDO M. ESTÁ BRINCANDO, IMPÕE-LHE OUTRA BRINCADEIRA, INDO ATÉ<br />

TIRAR O BRINQUEDO DE M., PEGANDO DELE NUM MOMENTO QUE QUE M.<br />

ESTÁ MUITO INTERESSADO E ATENTO AO SEU BRINQUEDO. ISSO<br />

19


DESENCADEIA UMA EXPLOSÃO EM M. : ELE GRITA, CHORA E BATEA SUA<br />

CABEÇA NA PAREDE.<br />

É PRECISO INTERVIR, DAR NOTÍCIA A M. DE QUE OUVIMOS QUE ELE ESTÁ<br />

MUITO INTERESSADO NO SEU BRINQUEDO E TENTAR FALAR COM O AVÔ<br />

COMO SE FOSSE M. QUE ESTIVESSE SE DIRIGINDO A ELE E, COM ISSO,<br />

BUSCAR CAVAR UM ENIGMA PARA VER SE O AVÔ CONSEGUE DIRIGIR-SE A<br />

M. DE OUTRO LUGAR.<br />

3.6. TENTATIVA DE FORMALIZAÇÃO DO ESPAÇO PAIS-BEBÊS<br />

CONSIDERAMOS O ESPAÇO COMO UM ESPAÇO QUE SE FAZ A PARTIR DE SUA<br />

FUNÇÃO. PROPOMOS QUE ELE FUNCIONE COMO UM ESPAÇO VAZIO, QUE<br />

TEM NO ENTANTO UM CONTORNO. ESSE CONTORNO É CONSTITUÍDO POR<br />

ALGUNS PRINCÍPIOS QUE O FAZEM CLINICAMENTE OPERACIONAL, NO<br />

SENTIDO DE QUE ELE É OFERECIDO AOS PACIENTES COMO UM LUGAR ONDE<br />

SE É CONVIDADO E POR ISSO SE PODE RECUSAR, OU SEJA, UM ESPAÇO NO<br />

QUAL AS PESSOAS PODEM DECIDIR FICAR OU SAIR. PORTANTO NÃO É UM<br />

GRUPO, É APENAS UM ESPAÇO ONDE É POSSÍVEL ESTAR PRESENTE COM A<br />

CRIANÇA E PODER BRINCAR, FALAR E SER ESCUTADO. O PRINCIPIO<br />

FUNDAMENTAL, ENTÃO, É QUE ELE SE CONSTITUI EM UM ESPAÇO COMO<br />

INSTRUMENTO, E NÃO EM UM GRUPO. MAS NÃO É UM ESPAÇO ISENTO DA<br />

CLÍNICA, É UM LUGAR NO QUAL UM ANALISTA E UM TERAPEUTA<br />

OCUPACIONAL SE FAZEM PRESENTES COM SUA ESCUTA. COM ISSO<br />

QUEREMOS DIZER QUE FAZEMOS VALER UM ESPAÇO VAZIO, NÃO SABEMOS<br />

DE ANTEMÃO, O SABER NÃO ESTÁ LÁ PRONTO, PARA REPERTORIAR A FALA.<br />

O SABER ESTÁ DO LADO DO PACIENTE, AS PESSOAS FALAM O QUE JÁ<br />

SABEM, MAS APOSTAMOS QUE FAZENDO VALER UM ESPAÇO VAZIO DE<br />

SABER, PODEMOS POSSIBILITAR QUE SE PRODUZA AÍ NESSE ESPAÇO, ALGO<br />

NOVO, UM SABER DO INCONSCIENTE QUE POSSA SERVIR PARA AQUELA<br />

MÃE OU AQUELA CRIANÇA.<br />

É UMA ESCUTA QUE GARANTE QUE A “PALAVRA CIRCULE”, QUE SEJA<br />

RESPEITADA A PALAVRA DE CADA UM, É NESSA POSIÇÃO DE NÃO SABER<br />

QUE VAI FAZER VALER ATIVAMENTE, NA AÇÃO ESSE ESPAÇO VAZIO.<br />

MUITAS VEZES, TRATA-SE DE UM TRABALHO DE “SCRIBE”14, DE TABELIÃO<br />

DE QUEM TOMA NOTA DO FAZER ENQUANTO DIZER DA CRIANÇA, OU ATÉ<br />

MESMO DO SEU DIZER. TOMAR NOTA SIGNIFICA PARA O SUJEITO QUE<br />

ESTAMOS A SERVIÇO DO SABER DO SUJEITO, DO QUE ELE DIZ, MESMO<br />

QUANDO SÃO SUJEITOS QUE NÃO SABEM FALAR, UMA VEZ QUE ELES SE<br />

CONSTITUEM A PARTIR DO CAMPO DA LINGUAGEM. COMO NOS DIZ<br />

LUCIANO ELIA:<br />

“(...) COMO OS AUTISTAS OU ALGUNS PSICÓTICOS ESQUIZOFRÊNICOS EM<br />

CONDIÇÕES SUBJETIVAS CUJA GRAVIDADE FAÇA COM QUE SUA RELAÇÃO<br />

COM A LINGUAGEM SE CARACTERIZE PELA MAIS COMPLETA<br />

14 BAYO, Virginio, “Une pratique à plusieurs généralisée”, in: Préliminaire. Publication<br />

du Champ Freudien en Belgique, outono 1999, p.143-154.<br />

20


FRAGMENTAÇÃO E DESCONCATENAÇÃO DE SUA FALA – AINDA ASSIM<br />

ESTARÁ NO CAMPO DA LINGUAGEM NA MEDIDA EM QUE É SER FALANTE,<br />

QUE SE CONSTITUI EM UM MUNDO DE LINGUAGEM, O HUMANO: NÃO<br />

RELINCHA, NÃO LATE, E SUA FALA, QUANDO HÁ, NÃO ESTARIA DE MODO<br />

ALGUM MAIS PRÓXIMA DAS PRODUÇÕES SONORAS DOS ANIMAIS DO QUE A<br />

NOSSA”15 .<br />

ENTÃO, POR PERTENCER AO CAMPO DA LINGUAGEM, TRATA-SE DE UM<br />

DIZER REFERENCIADO AO SABER DO SUJEITO DO INCONSCIENTE. TOMAR<br />

NOTA DESSE SABER DO SUJEITO DO INCONSCIENTE É TENTAR INSCREVER,<br />

FIXAR ALGUMA COISA, PARA PERMITIR QUE ISSO SE REPITA E ESTABILIZE<br />

UMA FALA COMO PRODUÇÃO DO SUJEITO. É ASSIM QUE APOSTAMOS, COM<br />

ESTE TRABALHO, NA POSSIBILIDADE DE MOBILIZAR CADA UM NO CAMPO<br />

DO SEU DESEJO, TENTANDO LOCALIZAR O FURO NO DISCURSO DE CADA<br />

UM, LOCALIZAR QUAL É O FURO QUE SE TECE NESSE DISCURSO,<br />

CONVIDANDO O SUJEITO A TRABALHAR AÍ. ENTENDEMOS QUE É<br />

NECESSÁRIO INTERVIR PONTUALMENTE, A PARTIR DO QUE OCORRE<br />

NAQUELE ESPAÇO E NAQUELE MOMENTO COM AQUELE SUJEITO.<br />

AVALIAMOS QUE TALVEZ SE TRATE DE UM TRABALHO DE TRADUÇÃO NO<br />

SENTIDO DE QUE NESSAS INTERVENÇÕES NOS AUTORIZAMOS A PARTIR DO<br />

CAMPO DO NOSSO DESEJO, DO QUE ESCOLHEMOS A SER ESCUTADO,<br />

DESTACADO, TRANSCRITO AO OUTRO. ISSO NOS LEVA A PENSAR QUE<br />

TALVEZ O ESPAÇO PAIS-BEBÊS SEJA UM ESPAÇO NO QUAL UM VAZIO FAZ<br />

VALER UM ESPAÇO DE ESCRITA PARA CADA UM, ESCRITA DO TRABALHO DE<br />

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO DE CADA UM E QUE NÓS SOMOS TRADUTORES16<br />

HUMILDES DESSE TRABALHO QUE SE TECE NESSE LAÇO AO OUTRO.<br />

QUANDO PROPOMOS QUE O ESPAÇO SE DEFINE POR UM ESPAÇO PAIS-BEBÊS,<br />

É PARA QUE AÍ POSSA CABER UMA CLÍNICA DO LAÇO, QUE ESSE LAÇO PAIS-<br />

BEBÊS, INFANS-GRANDE OUTRO, POSSA SE DAR, POSSA SE TECER, POSSA SE<br />

FAZER, DESFAZER, SE ESCREVER, RASURAR, REESCREVER. E QUE A LEITURA<br />

SE FAÇA POR NÓS A PARTIR DESSE MOVIMENTO DE ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO, FAZENDO VALER QUE NESSE LAÇO DO INFANS AO OUTRO,<br />

NESSE MOVIMENTO DO OUTRO AO INFANS, ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO<br />

TECEM UM ESPAÇO QUE NÃO É NEM DO INFANS, NEM DO OUTRO.<br />

ESPAÇO ESSE QUE SE CONSTITUI COMO RESTO DESSA OPERAÇÃO, OU SEJA<br />

CONSTITUI-SE OBJETO A. PODEMOS ASSIM PENSAR QUE O OBJETO A É ESSE<br />

ESPAÇO ENTRE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO, QUE PODEMOS CHAMAR DE<br />

ESPAÇO SUBJETIVO. VEMOS AÍ UMA APROXIMAÇÃO DO OBJETO POTENCIAL<br />

DE D.W. WINNICOTT COMO SENDO AQUELE OBJETO QUE SE CONSTITUI PELO<br />

FATO DO INFANS JÁ VIVER A DIMENSÃO DA FALTA, JÁ HAVER NELE A<br />

15 ELIA, Luciano, O conceito <strong>de</strong> sujeito, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Jorge Zahar editor, 2004, pp. 21-<br />

22.<br />

16 Sabemos que ha um estudo rigoroso sobre o trabalho <strong>de</strong> tradução. Não vamos<br />

<strong>de</strong>senvolver isso aqui. Nos referimos ao texto <strong>de</strong> Lacan, "Avis au lecteur japonais", in<br />

LACAN, Jacques, Autres écrits, Paris, Seuil, 2001, p. 497.<br />

21


INCLUSÃO DA PERDA DO OBJETO. ELE TEM A FUNÇÃO DE POSSIBILITAR O<br />

INFANS SE SEPARAR DO OBJETO MATERNO E DEPOIS DOS OUTROS OBJETOS,<br />

TRAZENDO ASSIM CONSIGO A MARCA DE UM VAZIO, A PRIMAZIA DO<br />

SIMBÓLICO TENDO UM EFEITO SUBJETIVANTE.<br />

TENTAREMOS, PARA FINALIZAR, DAR MAIS UM PASSO NESSA REFELXÃO A<br />

CERCA DO QUE CONSTITUIRIA UM ESPAÇO DE POSSIBILIDADE DE<br />

COSTITUIÇAO DE SUJEITO , E QUE DIREÇÃO DE TRABALHO DEVERIA TER ,<br />

TENTANDO RETOMAR UM POUCO MAIS A PARTIR DE QUAL REFERÊNCIA<br />

GUIAMOS ESSE TRABALHO DE INTERVENÇÃO, E ESPECIFICAMENTE O QUE<br />

SUSTENTARIA TEORICAMENTE E ETICAMENTE UM TRABALHO NO CAMPO<br />

DA PSICANÁLISE COM CRIANÇAS TÃO PEQUENAS , PARA QUAL LACAN DEU<br />

O ESTATUTO DE INFANS ,DE VIRA -A-SER. . PARA ISSO, VAMOS<br />

PERCORRER BRIEVEMENTE O QUE LEMOS SOBRE A ÉTICA DA PSYCANALISE<br />

, AFIM DE TENTAR FORMALIZAR MAIS UM POUCO COMO PODERIAMOS<br />

MANTER UM RIGOR ÉTICO NESSE TRABALHO QUE PRETENDEMOS FAZER<br />

COM CRIANÇAS BEM PEQUENAS, E O QUE ISSO QUER DIZER.<br />

A PSICANÁLISE ESTÁ PRESENTE EM VÁRIOS LUGARES: NA UNIVERSIDADE,<br />

NAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE, NA SAÚDE MENTAL … LUGARES ONDE HÁ<br />

AMBULATÓRIOS, PERMANÊNCIA DIURNA, NOTURNA, ATENDIMENTO DE<br />

URGÊNCIA…<br />

OU SEJA, EXTRAPOLAMOS OS MUROS DO "SITING ANALÍTICO": O DIVAN E O<br />

ANALISTA.<br />

NUMA REVISTA FRANCESA, O MAGAZINE LITTÉRAIRE (N°428, FÉVRIER 2004),<br />

PODEMOS LER O TÍTULO: "LA PSYCHANALYSE — NOUVEAUX ENJEUX,<br />

NOUVELLES PRATIQUES". ESTA REVISTA TEM AS CONTRIBUIÇÕES DOS<br />

PSICANALISTAS RENÉ MAJOR, JULIA KRISTEVA, TOBIE NATHAN, BORI S<br />

PERIGOS DO RETORNO DA RELIGIÃO E DO CIENTICISMO, A PSICANÁLISE<br />

SENDO PARA ELE A ÚNICA MURALHA AMPARO CONCEBÍVEL CONTRA AS<br />

ANGÚSTIAS CONTEMPORÂNEAS.<br />

NESSE SENTIDO, PARA LACAN, A PSICANÁLISE É O MELHOR QUE SE TEM<br />

COMO RESPOSTA À QUESTÃO DO SOFRIMENTO E DO GOZO PRESENTE NOS<br />

SINTOMAS DE NOSSA CULTURA, UMA VEZ QUE, COMO NOS DIZ EDUARDO<br />

VIDAL, EM SEU ARTIGO `` O SUJEITO CONSUMIDO `` ,"COM A<br />

PSICANÁLISE, A SEXUALIDADE ENTRA EM OUTRA DIMENSÃO, POIS PASSA A<br />

ESTAR NA CAUSA, COM O TERMO DE PULSÃO, DO ACONTECER PSÍQUICO (...)<br />

A SATISFAÇAO DA PULSÃO E OGOZO ``17 ELE ESCREVE TAMBÉM: " MAS O<br />

SER FALANTE NÃO ESTÁ BEM APARELHADO PARA LIDAR COM ELE. AS<br />

PALAVRAS FALTAM NO QUE SE REFERE AO GOZO E O INCONSCIENTE É UM<br />

SABER INCOMPLETO NO QUE TANGE AO SEXUAL. ENTRE O INCONSCIENTE E<br />

A PULSÃO, HÁ UMA FENDA ONDE O DESEJO TEM A FUNÇÃO DE FAZER O NÓ.<br />

QUE O DESEJO POSSA SURGIR DEPENDE DA POSSIBILIDADE DE SE MANTER<br />

ABERTA A FENDA, NÃO PREENCHER A FALTA."18<br />

17 VIDAL Eduardo, "O sujeito consumido", in: O Estado <strong>de</strong> Minas do 17 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />

2001, p. 3.<br />

18 Ib.<br />

22


MANTER A FENDA ABERTA E NÃO PREENCHER A FALTA É UM RECURSO<br />

ÉTICO QUE A PSICANÁLISE PROPÕE PARA TRATAR DA QUESTÃO DO<br />

SOFRIMENTO E DO GOZO PRESENTE NOS SINTOMAS DE NOSSA CULTURA. OS<br />

SINTOMAS DE NOSSA CULTURA, LACAN OS PENSA A PARTIR DA RELEITURA<br />

QUE FAZ DO TEXTO MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO, ESCRITO POR FREUD EM<br />

1930. NESSE LIVRO, FREUD MOSTRA COMO QUE A TIRANIA DO IDEAL LEVA<br />

AO MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO. "EL SUPERYÓ DE LA CULTURA HA<br />

PLASMADO SUS IDEALES Y PLANTEA SUS RECLAMOS. ENTRE ESTOS, LOS<br />

QUE ATAÑEN A LOS VÍNCULOS RECÍPROCOS ENTRE LOS SERES HUMANOS<br />

SE RESUMEN BAJO EL NOMBRE DE ÉTICA. EN TODOS LES TIEMPOS SE<br />

ATRIBUYÓ EL MÁXIMO VALOR A ESTA ÉTICA, COMO SI SE ESPERARA<br />

JUSTAMENTE DE ELLA UNOS LOGROS DE PARTICULAR IMPORTANCIA. Y EN<br />

EFECTO, LA ÉTICA SE DIRIJE A AQUEL PUNTO QUE FACILMENTE SE<br />

RECONOCE COMO LA DESOLLADURA DE TODA CULTURA"19. FREUD NOS DIZ<br />

ASSIM QUE A ÉTICA DEVE SER CONSIDERADA COMO UMA TENTATIVA<br />

TERAPÊUTICA: TRATAR-SE-IA DE UM ESFORÇO QUE, ATRAVÉS DO SUPEREU<br />

CULTURAL, TENTARIA ALCANÇAR ALGO QUE NENHUMA ATIVIDADE<br />

CULTURAL CONSEGUIU ATÉ HOJE: UMA TENTATIVA SE SE LIVRAR DO<br />

MAIOR PROBLEMA DA CIVILIZAÇÃO, ISTO É, A AGRESSIVIDADE ENTRE OS<br />

SERES HUMANOS. NADA SIMPLES, UMA VEZ QUE A AGRESSÃO É UMA<br />

DISPOSIÇÃO PULSIONAL ORIGINAL E AUTO-SUBSISTENTE. É POR ISSO QUE A<br />

CIVILIZAÇÃO FACILITA IDENTIFICAÇÕES FORTES, UMA VEZ QUE A LIBIDO<br />

INIBIDA FORTALECE O VÍNCULO.<br />

FREUD ESCREVE MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO A PARTIR DA CLÍNICA E ESTA<br />

VAI CONDUZI-LO A AUTORIZAR DUAS CENSURAS CONTRA O SUPEREU.<br />

TRATA-SE, SEGUNDO ELE, DE SE OPOR AO SUPEREU, SEJA QUANDO A SUA<br />

SEVERIDADE DESCONHECE O EU — AÍ NÓS NOS OPOMOS PARA DIMINUIR<br />

SUAS EXIGÊNCIAS —, SEJA QUANDO HÁ UMA SUPER RIGIDEZ NA CRIAÇÃO<br />

DOS FILHOS. SEGUNDO LEILA MARINÉ, " A SUPER RIGIDEZ NA CRIAÇÃO DOS<br />

FILHOS É PATOGÊNICA, PORQUE A CONSITUIÇÃO DESSA AGRESSIVIDADE<br />

ENDEREÇADA AO OUTRO E INCORPORADA PELO SUJEITO INCLUI SEMPRE<br />

UM CÁLCULO DA AGRESSÃO ESPERADA"20. PARA FREUD, NA CULTURA<br />

FAZEMOS OPOSIÇÃO A ORDENS IMPOSSÍVEIS DE OBEDECER, PORQUE NELAS<br />

ESTÁ IMPLICADA A SUPOSIÇÃO DE QUE SERIA POSSÍVEL AO HOMEM<br />

DOMINAR ISSO, O QUE ELE NÃO PODE.<br />

LACAN TOMA A PSICANÁLISE COMO UMA ÉTICA, A ÉTICA DO BEM DIZER A<br />

RELAÇÃO DO SUJEITO COM O DESEJO E O GOZO. SEGUNDO EDUARDO<br />

VIDAL, "O SUJEITO PARA A PSICANÁLISE É DIVIDIDO ENTRE O QUE<br />

ACREDITA SABER — SUAS CONVICÇÕES, IDEAIS… — E O QUE SABE EM<br />

OUTRO LUGAR, O INCONSCIENTE, QUE, COMO A LINGUAGEM QUE FALA,<br />

CONTINUA TRABALHANDO AINDA QUANDO DORME"21<br />

19 FREUD Sigmund, El malestar en la cultura (1930 [1929]), in: Obras <strong>com</strong>pletas, vol.<br />

XXI.<br />

20 GUIMARAES Leila Mariné da Cunha, "Do mal-estar", texto inédito, p. 3.<br />

21 VIDAL, art.cit., p. 3.<br />

23


PORTANTO, BEM DIZER A RELAÇÃO DO SUJEITO COM O DESEJO E O GOZO<br />

IMPLICA QUE A ANÁLISE NÃO TENTE SUPRIMIR O SINTOMA, ELIMINÁ-LO.<br />

ELA CONVIDA ANTES O SUJEITO A DIZÊ-LO, DE MANEIRA QUE A POSIÇÃO<br />

DO SUJEITO DO SINTOMA MUDE A PONTO DE MUDAR TAMBÉM A ECONOMIA<br />

DE GOZO E AS IMPLICAÇÕES DO DESEJO NESSE SINTOMA.<br />

LACAN NOS DIRÁ NO SÉMINAIRE VII, L'ÉTHIQUE DE LA PSYCHANALYSE,<br />

QUE O QUE SE PEDE AO ANALISTA É A FELICIDADE22 E QUE O QUE É<br />

IMPORTANTE DE SER LEMBRADO NO MOMENTO QUE O ANALISTA SE<br />

ENCONTRA EM POSIÇÃO DE RESPONDER A QUEM LHE PEDE A FELICIDADE, É<br />

QUE NÃO SÓ ELE TEM O BEM SOBERANO, A FELICIDADE, MAS SOBRETUDO<br />

QUE ELE SABE QUE NÃO EXISTE O BEM SOBERANO, A FELICIDADE. LACAN<br />

DIRÁ A ESSE RESPEITO: "VOICI CE QU'IL CONVIENT DE RAPPELER AU<br />

MOMENT OÙ L'ANALYSTE SE TROUVE EN POSITION DE RÉPONSE À QUI LUI<br />

DEMANDE LE BONHEUR (…), MAIS LUI L'ANALYSTE SAIT QUE C'EST UNE<br />

QUESTION FERMÉE. NON SEULEMENT CE QU'ON LUI DEMANDE, LE<br />

SOUVERAIN BIEN, IL NE L'A PAS BIEN SÛR, MAIS IL SAIT QU'IL N'Y EN A<br />

PAS."23<br />

LACAN EXPLICA QUE LEVAR UMA ANÁLISE A TERMO, NÃO É NADA MAIS DO<br />

QUE TER ENCONTRADO ESSE LIMITE ONDE SE APOIA TODA A<br />

PROBLEMÁTICA DO DESEJO. O QUE O ANALISTA TEM PARA DAR, NÃO É A<br />

FELICIDADE; O QUE ELE TEM PARA DAR É O QUE ELE TEM, QUE É SOMENTE<br />

SEU DESEJO, UM DESEJO ADVERTIDO. "CE QUE L'ANALYSTE A À DONNER …<br />

CE N'EST RIEN D'AUTRE QUE SON DÉSIR, COMME L'ANALYSÉ, À CECI PRÈS<br />

QUE C'EST UN DÉSIR AVERTI"24.<br />

SERGE COTTET, FALANDO DA "ÉTICA FREUDIANA", ABRE O CAPÍTULO<br />

INTITULADO "A ÉTICA DO DESEJO" COM UMA CITAÇÃO DE LACAN: "ESTÁ<br />

POR SER FORMULADA UMA ÉTICA QUE INTEGRE AS CONQUISTAS<br />

FREUDIANAS SOBRE O DESEJO: PARA PÔR EM SEU CUME A QUESTÃO DO<br />

DESEJO DO ANALISTA"25. PARA SERGE COTTET, A DESCOBERTA FREUDIANA<br />

DO RECALQUE E DE SEUS EFEITOS NO SINTOMA, DETERMINA UMA DIREÇÃO<br />

DA CURA QUE NÃO DEIXA O PSICANALISTA INTEIRAMENTE NEUTRO. NO<br />

TEXTO "A QUESTÃO DA ANÁLISE LEIGA, 1926 — CONVERSAÇÃO COM UMA<br />

PESSOA IMPARCIAL", PODEMOS VERIFICAR A ESSE RESPEITO QUE FREUD<br />

INSISTE (P. 212) QUE O FATO DELE "ABSTER-SE, DELE SUBLINHAR A<br />

IMPORTÂNCIA DE QUE SUAS INTERPRETAÇÕES SEJAM INDEPENDENTES DE<br />

SUAS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS NÃO SIGNIFICA QUE O ANALISTA ESTEJA<br />

INDIFERENTE PARA ESSA PARTE DO TRABALHO. PELO CONTRÁRIO, FREUD<br />

AFIRMA QUE O ANALISTA DEVERÁ SE SUBMETER A UMA ANÁLISE PRÓPRIA<br />

PARA QUE POSSA ESTAR ATENTO AO MATERIAL INCONSCIENTE E OUVI-LO<br />

SEM PRECONCEITO. "NO DIGO, ESCREVE FREUD, QUE PARA ESTA PARTE DE<br />

LA TAREA RESULTE INDIFERENTE LA PERSONALIDAD DEL ANALISTA.<br />

CUENTA CIERTA FINEZA DE OIDO PARA LO REPRIMIDO INCONSCIENTE, QUE<br />

22 LACAN Jacques, L'éthique <strong>de</strong> la psychanalyse, in: Séminaire VII, p. 338.<br />

23 O.c., p. 346.<br />

24 O.c., p. 347.<br />

25 COTTET Serge, Freud e o <strong>de</strong>sejo do psicanalista, parte 3 "A ética freudiana", p. 122.<br />

24


NO TODOS POSEEN EN IGUAL MEDIDA. Y ES ESTO, EN ESPECIAL, LO QUE<br />

IMPONE AL ANALISTA LA OBLIGACIÓN DE SOMETERSE ÉL MISMO A UN<br />

ÁNALISIS EN PROFUNDIDAD A FIN DE VOLVERSE IDÓNEO PARA UNA<br />

RECEPCIÓN SIN PREJUICIOS DEL MATERIAL ANALÍTICO."26<br />

EIS AÍ UM ENGAJAMENTO DO ANALISTA QUE ABSTEM-SE POR MOTIVO<br />

ÉTICO, MAS QUE NÃO FICA INDIFERENTE AO TRABALHO DA ANÁLISE.<br />

SERGE COTTET NOS MOSTRA, COM MUITA PERSPICÁCIA, COMO QUE<br />

ABSTER-SE DE TOMAR PARTIDO, OU DE TOMAR O PACIENTE PARA SI, NÃO<br />

SIGNIFICA EM NENHUM MOMENTO QUE HAJA UMA CERTA INDIFERENÇA<br />

POR PARTE DE FREUD. HÁ NESSA IMPOSIÇÃO DE ABSTER-SE O QUE<br />

FUNDAMENTA UM ATO, UMA ÉTICA QUE FUNDA A PSICANÁLISE. FREUD<br />

"QUER DIZER QUE O ANALISTA NÃO TEM QUE ESCOLHER ENTRE DUAS<br />

INSTÂNCIAS QUE GOVERNAM O INCONSCIENTE DO SUJEITO, ENTRE DOIS<br />

SIGNIFICANTES QUE REGEM CONTRADITORIAMENTE O INCONSCIENTE"27<br />

PARA SERGE COTTET, O DESEJO DO ANALISTA É A FUNÇÃO QUE<br />

DESAPONTA A IDENTIFICAÇÃO DO EU COM O ANALISTA, UMA VEZ QUE O EU<br />

TENTA ASSIMILA-LO. O DESEJO DO ANALISTA É ENTÃO A FUNÇÃO QUE<br />

DESAPONTA ESSA IDENTIFICAÇÃO EM BENEFÍCIO DA DIFERENÇA<br />

ABSOLUTA28.<br />

PARA FINALIZAR ESSE REFLEXAO, NOS RECORREMOS A UM ARTIGO DE<br />

COLETTE SOLER, INTITULADO "O DESEJO DO PSICANALISTA — ONDE ESTÁ A<br />

DIFERENÇA", PARA PENSAR COMO QUE NO CONTEXTO DO TRABALHO<br />

CLÍNICO COM OS BEBÊS E SEUS CUIDADORES PODEMOS ARTICULAR A<br />

QUESTÃO DE COMO SE MANTER AÍ O RIGOR ÉTICO DA PSICANÁLISE.<br />

COLETTE SOLER COMEÇA COM UMA REFORMULAÇÃO DA PERGUNTA: QUAL<br />

É O LUGAR DA CRIANÇA NO DESEJO DO ANALISTA? DESSA FORMA ELA<br />

COLOCA A QUESTÃO DA PSICANÁLISE DAS CRIANÇAS NA SUA DIFERENÇA.<br />

ELA AFIRMA QUE NÃO SE TRATA MAIS DE SE PERGUNTAR SOBRE A ANÁLISE<br />

POSSÍVEL DA CRIANÇA. A QUESTÃO JÁ FOI RESPONDIDA EM ATO POR<br />

FREUD A PROPÓSITO DO SEU TRABALHO COM O PEQUENO HANS. NO<br />

ENTANTO, DIZ QUE PERMANECEMOS COM QUESTÃO QUE A CRIANÇA NÃO É<br />

UM ADULTO, E ELA VÊ AÍ A OPORTUNIDADE DE ILUSTRAR A DIFERENÇA<br />

ENTRE O SUJEITO E A PESSOA. O QUE LEVA COLETTE SOLER A PENSAR QUE<br />

O QUE DIFERE NÃO É QUE O ANALISANTE SEJA DIFERENTE MAS NO QUE<br />

DEVE SER AÍ ANALISADO, UMA VEZ QUE SEGUNDO LACAN, DIZ COLETTE<br />

SOLER, "ANALISAM-SE AS RELAÇÕES DO SUJEITO AO REAL, O REAL QUE SE<br />

APRESENTA SOB A ESPÉCIE DO SEXO E DO GOZO"29 ELA PERGUNTA ENTÃO<br />

SE O DESEJO DO ANALISTA PODE OPERAR SOBRE NÃO IMPORTA QUE<br />

ESTADO DO SER: "O DESEJO DO ANALISTA, ENQUANTO QUE É DEFINIDO<br />

COMO UM ELEMENTO DE ESTRUTURA DO DISCURSO, ISTO É, COMO O<br />

PARCEIRO DO SUJEITO ANALISANTE, NÃO PODERIA OPERAR SENÃO<br />

26 FREUD, o.c., p. 205.<br />

27 COTTET, o.c., p. 124.<br />

28 Cfr. COTTET, o.c. p. 136.<br />

29 SOLER Colette, "O <strong>de</strong>sejo do psicanalista — On<strong>de</strong> está a diferença", p. 2.<br />

25


QUANDO CERTAS CONDIÇÕES SE ENCONTRAM REALIZADAS: SOBRETUDO<br />

QUE, O QUE LACAN DESIGNOU COMO O LUGAR NÍTIDO DO DESEJO, ESTEJA<br />

FEITO, ESTEJA POSTO"30.<br />

COLETTE SOLER VAI PROPOR, ENTÃO, QUE PARA FALAR DE PSICANÁLISE DE<br />

CRIANÇA, SE QUESTIONE PARA CADA CRIANÇA, O ESTADO DE EFETUAÇÃO<br />

DA ESTRUTURA. ELA ACREDITA QUE HÁ UMA LÓGICA QUE ORDENA O<br />

CAMPO DO QUE OS PSICANALISTAS FAZEM COM CRIANÇAS, E DIZ A ESSE<br />

RESPEITO: OU BEM A CRIANÇA JÁ É SUJEITO PELA OPERAÇÃO DA<br />

SIGNIFICÂNCIA, E O ANALISTA PROCURA SE ALOJAR NO LUGAR JÁ CAVADO<br />

DO DESEJO, OU ENTÃO SE TEM A VER COM UMA CRIANÇA PARA O QUAL O<br />

SUJEITO NÃO APARECEU NO REAL — CRIANÇA OBJETO —, E NESTE CASO O<br />

ANALISTA DEVERÁ SE ALOJAR EM UM LUGAR QUE NÃO PODE SER OUTRO,<br />

SENÃO DO OUTRO PRIMORDIAL, COM A QUESTÃO QUE LHE É POSTA DE<br />

SABER COMO PODE OPERAR NESTE CASO, MANTENDO-SE NO EIXO DA ÉTICA<br />

PSICANALÍTICA QUE FAZ A UNIDADE DA PSICANÁLISE SEGUNDO A<br />

EXPRESSÃO QUE DEVEMOS A ROBERT E ROSINE LEFORT.<br />

TEREMOS ENTÃO, SEGUNDO COLETTE SOLER, DUAS LÓGICAS: A DA<br />

CRIANÇA OBJETO E A DA CRIANÇA QUE JÁ É SUJEITO. NO CASO DA CRIANÇA<br />

OBJETO, O ANALISTA TERÁ QUE LIGAR A OPERAÇÃO DO DIGNIFICANTE, O<br />

SEJA, PRODUZIR O QUE NÃO ACONTENCEU: CORTE, SEPARAÇÃO, BURACO…<br />

POSSIBILITANDO UM EFEITO DE SUJEITO ALÍ ONDE FALTAVA. ELA ESCREVE:<br />

`` PODERIA CHAMAR-SE ISTO DE PSICANÁLISE INVERTIDA PORQUE É UMA<br />

OPERAÇAO QUE VAI DO REAL EM DIREÇAO AO SIMBOLICO E QUE CRIA AS<br />

CONDIÇOES DE FALTA – A –<br />

A RESPEITO DA ANALISE DE CRIANÇA SUJEITO,COLETTE SOLER ALERTA<br />

PARA O CUIDADO QUE DEVEMOS TER SER.``PÔR REF PARA DEIXAR O QUE È<br />

PARA VIR EM SEU INACABAMENTO E POR ISSO TEMOS QUE DAR LUGAR A<br />

UM CERTO LAISSEZ-FAIRE, MESMO O ANALISTA TENDO QUE CAUSAR O<br />

TRABALHO DO SIMBÓLICO ONDE SE CUMPRE O QUE A ESTRUTURA<br />

PROGRAMA DE CASTRAÇÃO<br />

NO, INICIO DA DISSERTAÇÃO ,PARTIMOS DA CONSTATAÇÃO DE QUE HAVIA<br />

CRIANÇA QUE NOS DAVA NOTICIA DE QUE ESTAVA EM SOFRIMENTO .<br />

COMEÇAMOS ENTÃO POR QUESTIONAR O TERCEIRO ,O OUTRO ,ENQUANTO<br />

OUTRO PRIMORDIAL ,AQUELE QUE SERIA RESPONSAVEL PELAS PRIMEIRAS<br />

MARCAS CONSTITUTIVA DO SUJEITO .NOS DEMOS CONTA QUE ISSO NÃO<br />

SERIA POSSÍVEL SEM QUE NOS SITUARMOS A NOÇÃO DE SUJEITO ,VIMOS<br />

ENTÃO QUE A NOÇAO DE SUJEITO ERA INDISSOCIÁVEL DA NOÇÃO DE<br />

OBJETO .A PARTIR DISSO FOI POSSÍVEL PENSSAR QUE A CLINICA DO LAÇO<br />

,SERIA UM EXCICO CLINICO PARA TENTAR GUARDAR UM LUGUAR DE<br />

SUJEITO .DESSA FORMA PENÇAMOS OESPAÇO PAIS BEBES COMO UM<br />

ESPAÇO QUE TENTARIA SE CONTITUIR , APARTIR DA LÓGICA DAS<br />

OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO ,COMO UM ESPAÇO ENTRE<br />

OSUJEITO E O OUTRO QUE NÃO É NEM DO SUJEIT NEM DO OUTRO ,O SEJA<br />

TENDO A CONSISTÊNCIA LÓGICA DE OBJETO A .PARTINDO DA TEORIZAÇÃO<br />

DA COLETE SOLER ,ACHAMOS PERSPICAS PENSSAR O ESPAÇO PAIS BEBES<br />

30 Ib.<br />

26


COMO UM INTRUMENTO INTEREÇANTE PARA INTERVIR JUNTO ACRANÇAS<br />

QUE ESTÃO NO LUGAR DE OBJETO NO REAL ,UMA VÊS QUE O ESPAÇO PAIS<br />

BEBES SE PROPÕE ,A TRABALHAR TENDO COM DIREÇÃO ESSAS TRÊS<br />

NOÇÕES SUJEITO ,OUTRO ,OBJETO , NO SENTIDO DE POSSIBILIDADE DE<br />

SUJEITO,O SEJA DE FAZER CONSISTIR UM VAZIO, QUE POSSA POSSIBILITAR<br />

UM TRABALHO QUE POSSA IR TANTO DO REAL AO SIMBÓLICO NO CASO DA<br />

CRIANÇAQUE ESTA NO LUGAR DE OBJETO NO REAL ,COMO TAMBÉM ,POSSA<br />

SER UTIUL PARA QUAL SEU TRABLHO DE TENTATIVA DE SEPARAÇÃO NÃO<br />

ESTA SENDO RECONHECIDO .<br />

CONCLUSÃO<br />

ESTE TRABALHO DE DISSERTAÇÃO FOI FEITO COM A INTENÇÃO DE<br />

FORMALIZAR UMA PRÁTICA QUE ESPECIFICA O TRABALHO CLÍNICO QUE<br />

REALIZAMOS COM CRIANÇAS BEM PEQUENAS E SEU OUTRO PRIMORDIAL,<br />

OUTRO DA LINGUAGEM OU OUTRA MATERNO, MUITAS VEZES A MÃE, MAS<br />

NÃO SEMPRE.<br />

TRATA-SE DE UM TRABALHO DESENVOLVIDO TANTO NO ESPAÇO PAIS<br />

BEBÊS, COMO TAMBÉM NO ATENDIMENTO DO BEBÊ E SEU OUTRO<br />

PRIMORIDAL, A PARTIR DE UMA PROPOSTA CLÍNICA ELABORADA NO<br />

CERSAMI, CAPSI DE BETIM .<br />

POR ISSO, INICIAMOS O TRABALHO, CONTEXTUALIZANDO O PERCURSO<br />

HISTÓRICO E INSTITUCIONAL NO QUAL SE INSERIU ESSA CLÍNICA, UM VEZ<br />

QUE ACREDITAMOS QUE FOI A PARTIR DO QUE O DISPOSITIVO<br />

INSTITUCIONAL SE PROPUNHA ,A SABER PRIORIZAR O ATENDIMENTO DE<br />

CRIANÇAS COM SOFRIMENTO PSÍQUICO GRAVE , QUE FOMOS CONDUZIDOS<br />

A VOLTAR NOSSA ATENÇÃO PARA ESSA CLIENTELA E AS QUESTÕES<br />

CLINICAS TRAZIDAS POR ELA.É DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA<br />

,RESSALTAR ,TAMBÉM, QUE TANTO NOSSO OLHAR ,COMO NOSSA<br />

INTERVENÇÕES CLINICAS,E TODA A PESQUISA SE DEU A PARTIR DO QUE A<br />

CLINICA IA NOS APONTANDO,OU SEJA A PARTIR DO QUE CADA CASO VINHA<br />

TRAZENDO CONSIGO. NOS PARECE MUITO IMPORTANTE ,RESALTAR ISSO<br />

,AFIM DE DEMARCAR QUE TANTO O DISPOSITIVO COMO NOSSA<br />

INTERVENÇAOES ,DISTINTIGUE –SE DE PRATICAS EDUCATIVAS OU<br />

ORTOPÉDICAS .<br />

NESSE SENTIDO NOS PARECEU IMPORTANTE MOSTRA QUE NOSSO<br />

PERCURÇO INICIA –SE A PARTIR DE UM DESAMPARO TRAZIDO PELOS<br />

FAMILIARES ,DIANTE DA AUSÊNCIA DE TRATAMENTO .COMEÇAMOS ENTÃO<br />

POR NOS PERGUNTAR , COMO FAZER PARA QUE OS CASOS GRAVES<br />

CHEGASSEM MAIS CEDO?<br />

CONSIDERAMOS UM MOMENTO IMPORTANTÍSSIMO , ABRE –SE ,E ,<br />

CONSTITUI-SE , PARA NOS UM CAMPO NOVO DE INTERVENÇÃO TANTO NO<br />

MANEJO COMO NAS QUESTÕES DE TRABALHO ANALÍTICO, A PARTIR DA<br />

ÉTICA PSICANALÍTICA LACANIANA, QUESTÕES COMO:QUE TEMPO ERA<br />

ESSE? ,COMO PENSAR ESSA QUESTÃO DO TEMPO A PARTIR DA ÉTICA DA<br />

PSICANÁLISE ? E, O QUE SIGNIFICAVA INTERVIR A TEMPO DA PROCURA<br />

DESSES MÃES OU AVÓS? QUE TEMPO ERA ESSE? QUEM IAMOS ATENDER?<br />

27


A MÃE? A AVÓ ,O BEBÊ? OU O OUTRO DO BEBÊ SOZINHO, JÁ QUE O INFANS<br />

NÃO FALA? OU O BEBÊ E SEU OUTRO?<br />

NO ENTANTO ,DIANTE DE TANTAS QUESTÕES ,FOI DIFÍCIL PARA NOS<br />

ENCONTRA UM FIL QUE ORIENTASSE A LEITURA DAS SITUAÇOES CLINICAS<br />

,E A NOSSA PESQUISA . PARTIMOS DO QUE NOS TIANHA LEVADO ATÉ ESSE<br />

CAMPO A SABER A CONSTATAÇAO DE QUE ESSAS CRIANÇAS PEQUENAS<br />

NOS DAVAM NOTICIA DE QUE ESTAVAO MAL. FOI POSSÍVEL ENTÃO<br />

EXTRAIR O SIGNIFICANTE "NOTÍCIA" QUE IA NOS REMETENDO<br />

JUSTAMENTE A UMA HIPÓTESE DE QUE OS BEBÊS NOS MOSTRAM QUE ALGO<br />

VAI MAL NO LAÇO PAIS-BEBÊS, POR MEIO DE SEU ADOECIMENTO.QUE SE<br />

APRESENTA SOB FORMA DE GRAVE DISTÚRBIOS PSICOSOMÁTICOS E<br />

FUNCIONAIS (DISTÚRBIOS DO SONO, ALIMENTARES, RESPIRATÓRIOS E/OU<br />

DE PELE), ACENTUADOS DISTURBIO DE HUMOR (MEDO, FOBIAS), GRAVES<br />

DISTÚRBIOS DO DESENVOLVIMENTO SEM CAUSA ORGÂNICA (INTELETUAL,<br />

PSICOMOTOR DE TONÛS E/OU DE CONTATO) E DIFICULDADES NO CONTROLE<br />

DA AGRESSIVIDADE. OU SEJA, PASSAMOS O LER COMO NOTÍCIA BEBÊS QUE<br />

ESTAVAM MUITO ADOECIDOS, APRESENTANDO-SE COM INFECÇÕES<br />

REPETIDAMENTE E SEM JUSTIFICATIVA CLÍNICA, COM INSÔNIA, ANOREXIA,<br />

BEBÊS MUITO COLADOS À MÃE, BEBÊS COM DEPRESSÃO, APRESENTANDO<br />

UM QUADRO DE "HOSPITALISMO DOMICILIAR", MUITO PARECIDO COM A<br />

DEPRESSÃO ANACLÍTICA31 DESCRITA POR SPITZ (1979) MAS QUE NÃO FOI<br />

INSTITUCIONALIZADO, BEBÊS COM CARACTÉRÍSTICAS DE AUTISMO (QUE<br />

NÃO OLHAM, NÃO BALBUCIAM).<br />

CONSIDERAMOS QUE NÃO SE TRATAVA DE UMA NOTÍCIA RELACIONADA<br />

APENAS À JOVEM CRIANÇA OU AO INFANS, UMA VEZ QUE O INFANS ,O<br />

VIRA –SER , REMETE A UM SUJEITO EM FASE DE CONSTITUIÇÃO, SEGUNDO<br />

A PSICANÁLISE APONTA PARA ALGO QUE SE PASSA NO LAÇO COM O OUTRO<br />

PRIMORDIAL. O SIGNIFICANTE "CLÍNICA DO LAÇO" PASSOU A PARTIR<br />

DISSO A INDICAR, JUSTAMENTE, A DIREÇÃO DESSA CLÍNICA, QUE LEVA EM<br />

CONTA A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO A PARTIR DO CAMPO DO OUTRO.<br />

FINALMENTE, O SIGNIFICANTE "INTERVENÇÃO A TEMPO" NOS CONDUZIO<br />

AO ESTUDO DE UMA INTERVENÇÃO A PARTIR DE UM TEMPO QUE NÃO É<br />

CRONOLÓGICO, NÃO É DESENVOLVIMENTISTA UMA VEZ QUE NÃO<br />

INTERVIMOS PELA IDADE DA CRIANÇA OU MEDINDO O DESENVOLVIMENTO;<br />

NOSSO TRABALHO NÃO CONSISTE EM INTERVIR PRECOCEMENTE, ANTES DE<br />

UMA CRONOLOGIA, DE UMA ORDEM DE SUCESSIVIDADE DO<br />

DESENVOLVIMENTO, OU DA MANIFESTAÇÃO DE UMA DOENÇA.<br />

NOS PARECE DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA , RESALTAR QUE O<br />

EXAME DE QUALIFICAÇÃO FOI IMPORTANTE PARA DARMOS MAIS UM<br />

PASSO EM DIREÇÃO A QUESTAO DO TEMPO E DO OUTRO EM PSICANÁLISE .<br />

VIMOS O QUANTO QUE É DELICADO ,NOS PROPOR A INTERVIR A TEMP<br />

OQUANTO DA NOTÍCIA DO SOFRIMENTO PSÍQUICO, UMA VEZ QUE<br />

SABEMOS QUE PARA A PSICANÁLISE, NÃO É POSSÍVEL PREVENIR OU<br />

PREVER ESSE SOFRIMENTO, PORQUE ELE VÉM COMO UMA PRODUÇÃO<br />

INDIVIDUAL SUBJETIVA, NO QUE É JUSTAMENTE INAPREENSÍVEL,POR<br />

31<br />

28


CONSTITUIR –SE COMO RESPOSTA DO SUJEITO DO INCONSCIENTE. OU SEJA,<br />

É DE FUNDAMENTAL IMPORTÂNCIA PARA MANTER O RIGOR ÉTICO DA<br />

PSICANÁLISE , TRABALHAMOS COM A NOÇÃO DE TEMPO QUE NÃO É UM<br />

TEMPO PRÉVIO, MAIS QUE SE FAZ DO ENCONTRO DO OUTRO E DO SUJEITO,<br />

QUE TAMBÉM SE CONSTITUEM A PARTIR DESSE ENCONTRO, UMA VEZ QUE<br />

SERÁ A TEMPO DE SÓ DEPOIS QUE PODEMOS VERIFICAR A RESPOSTA DO<br />

SUJEITO QUE SE CONSTITUI EM RESPOSTA AO SIGNIFICANTE QUE VEM DO<br />

OUTRO.ASSIM ,A PARTIR DO INICIO DE UM ESTUDO A RESPEITO DO TEMPO E<br />

DO OUTRO EM PSICANÁLISE , CHEGAMOS A UM PONTO DE ARTICULAÇÃO<br />

ENTRE OS TRÊS SIGNIFICANTES ,NOTICIA,CLINICA DO LAÇO ,E<br />

INTERVENÇÃO A TEMPO .<br />

BUSCAMOS ENTÃO UM ELEMENTO TEÓRICO QUE CONSIDERÁSSEMOS<br />

FUNDAMENTAL,PARA ESTUDAR ESSA CLINICA .ESCOLHENDO DESSA FORMA<br />

ESTUDAR DAS OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO CONFORME<br />

FORMULADA POR LACAN PARA FORMALIZAR O ESPAÇO QUE ESTÁ NA<br />

ORIGEM DA CONSITUIÇÃO DO SUJEITO E QUE FUNDA A POSSIBILIDADE DO<br />

LAÇO COM O OUTRO A PARTIR DA LINGUAGEM. NOS PARECE IMPORTANTE<br />

QUE A PARTIR DISSO É POSSÍVEL FORMULAR ,QUE POR MEIO DE SEU<br />

SOFRIMENTO, A CRIANÇA DARIA NOTÍCIA, INDICARIA QUE ALGO NÃO VAI<br />

BEM EM UM ESPAÇO QUE É DA ORDEM DO LAÇO, DEVENDO A<br />

INTERVENÇÃO CLÍNICA, PORTANTO, TER ESSA DIREÇÃO.<br />

SERÁ ENTÃO NA TENTATIVA DE CONTRIBUIR COM SUBSÍDIOS PARA PENSAR<br />

E FORMALIZAR O TRABALHO CLÍNICO REALIZADO QUE ESCREVEMOS ESTA<br />

DISSERTAÇÃO, TENDO COMO EIXO TEÓRICO DE ARTICULAÇÃO AS<br />

OPERAÇÕES DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO CONFORME FORMULADO POR<br />

LACAN.(DUVIDA SE PODE TIRAR)<br />

ORGANIZAMOS A DISSERTAÇÃO COM UMA INTRODUÇÃO E TRÊS<br />

CAPÍTULOS.<br />

NO PRIMEIRO CAPÍTULO, "DESENVOLVIMENTO E ESTRUTURA", NOS<br />

DEDICAMOS A DIFERENCIAR A LÓGICA DO DESENVOLVIMENTO DA LÓGICA<br />

DA ESTRUTURA DO SUJEITO, BUSCANDO DEMARCAR A ESPECIFICIDADE E A<br />

ORIGINALIDADE DA CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE NESSA ÁREA. NOS<br />

REFERIMOS RESUMIDAMENTE A JEAN PIAGET (1896-1980) E HENRI WALLON<br />

(1879-1962) PARA MOSTRAR QUE, PARA ELES, O DESENVOLVIMENTO<br />

PSÍQUICO OCORRE AO MODO DE UMA CONSTRUÇÃO PROGRESSIVA,<br />

PRODUZIDA PELA INTERAÇÃO ENTRE O INDIVÍDUO E SEU MEIO.<br />

DISCUTIMOS TAMBÉM O MODO PELA QUAL A PSICANÁLISE FOI ASSIMILADA<br />

À PSICOLOGIA EVOLUTIVA E GENÉTICA, TRATANDO DESTACAR O<br />

EQUIVOCO QUE AÍ SE INSTALA, A SABER A CRENÇA DE QUE SERIA POSSÍVEL<br />

O ENCONTRO ENTRE O SUJEITO E O OBJETO, ACREDITANDO-SE QUE<br />

HAVERIA UM MOMENTO NO QUAL O SUJEITO ALCANÇARIA UMA RELAÇÃO<br />

"MADURA" COM O OBJETO, O "ESTADIO GENITAL" OU "AMOR OBJETAL",<br />

PONTO FINAL DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL.<br />

SUBLINHAMOS QUE O EMPENHO DE LACAN EM UM "RETORNO A FREUD" FOI<br />

IMPRESCINDÍVEL PARA TORNAR POSSÍVEL A CRÍTICA CONTUNDENTE À<br />

ASSIMILAÇÃO DA PSICANÁLISE A UMA PSICOLOGIA EVOLUTIVA GENÉTICA.<br />

ASSIM, TROUXEMOS PARA NOSSA PESQUISA O QUE PUDEMOS LER NO<br />

29


PROJETO PARA UMA PSICOLOGIA CIENTIFÍCA (1895) SOBRE O NAO<br />

ENCONTRO COM O OBJETO. NESSE TEXTO, FREUD QUER MOSTRAR QUE A<br />

PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE SATISFAÇÃO ACONTECE A PARTIR DE UM<br />

OUTRO, QUE INAUGURA O CAMPO DO SIMBÓLICO, DEIXANDO MARCAS NO<br />

APARELHO PSÍQUICO. TAIS MARCAS, EM UMA NOVA SITUAÇÃO DE TENSÃO,<br />

COMO, POR EXEMPLO, A FOME, SERÃO INVESTIDAS POR UM IMPULSO<br />

PSÍQUICO E, ASSIM, REATIVADAS. FREUD DENOMINA ESSE INVESTIMENTO<br />

DE IMPULSO DE DESEJO E É ESTE QUE PRODUZ ALGO PRÓXIMO DE UMA<br />

PERCEPÇÃO, A SABER A ALUCINAÇÃO. NESSE SENTIDO, O OBJETO<br />

PROCURADO NÃO SERÁ ENCONTRADO, UMA VEZ QUE NÃO HÁ<br />

COINCIDÊNCIA POSSÍVEL ENTRE O OBJETO PROCURADO E O ENCONTRADO.<br />

A PARTIR DISSO, FREUD POSTULA QUE É A FALTA DE OBJETO, ISTO É, O<br />

DESEJO QUE LEVA O APARELHO PSÍQUICO A TRABALHAR. VIMOS ENTÃO<br />

QUE ESTRUTURALMENTE, A PROCURA DO OBJETO DÁ-SE A PARTIR DAS<br />

MARCAS DERIVADAS DA EXPERIÊNCIA DE SATISFAÇÃO. ESTAS<br />

CONSTITUEM CAMINHOS DE PRAZE"FACILITADOS" PARA DESCARGAS DE<br />

TENSÃO, CAMINHOS QUE SERÃO NOVA E INCESSAMENTE PERCORRIDOS<br />

DIANTE DA AUSÊNCIA DO OBJETO. A RESPEITO DESSA PERMANENTE BUSCA<br />

PELO REENCONTRO DO OBJETO, LACAN NOS DIRÁ QUE JAMAIS<br />

ENCONTRAREMOS O OBJETO ,NOS APENAS RENCONTRAMOS SUAS<br />

CORDENADAS R . . [REFERÊNCIA]LACAN,JAQUES (1959-1960).O<br />

SEMINARIO.LIVRO7 :A ETICA DA PSICANALISE.RIO DE JANEIRO :JORGE<br />

ZAHAR,1988,P.69(POR EM PE DE PAGINA )(POSSO TIRAR ISSO TUDO )<br />

PARA NOSSA PESQUISA, NOS INTERESSA MUITO QUE FREUD, AO FALAR DA<br />

EXPERIÊNCIA DE SATISFAÇÃO, SUBLINHA QUE ELA É CONSTITUINTE DO<br />

APARELHO PSÍQUICO. POIS, VIMOS AÍ UM CORTE ESSENCIAL PARA<br />

ORIENTAR NOSSA LEITURA E NOSSO TRABALHO CLÍNICO A PARTIR DE UMA<br />

PERSPECTIVA FUNDAMENTALMENTE ESTRUTURAL E NÃO<br />

DESENVOLVIMENTISTA. SENDO MAIS IMPORTANTE AINDA DESTACAR<br />

COMO A PRECIOSA LEITURA DE FEUD FEITA POR LACAN PERMITIO DE DE<br />

RESTITUIR A PSICANÁLISE SUA CONSTITUIÇÃO ESTRUTURALISTA. ASSIM<br />

PODEMOS DESTACAR QUE PARA LACAN É A PARTIR DO ENCONTRO, A<br />

RELAÇÃO / DO LAÇDO COM ESS.E OUTRO, QUE SE INSCREVEM AS<br />

PRIMEIRAS MARCAS CONSTITUINTES DO APARELHO COMO PSÍQUICO. ESSE<br />

OUTRO SENDO O OUTRO DA LINGUAGEM. VIMOS ASSIM A PARTIR DO<br />

ESTUDO JORGE , COMO DEVEMOS A LACAN DE TER RESTITUÍDO A<br />

PSICANÁLISE AO CAMPO DA LIN GUAGEM LACAN FUNDAMENTOS... P65<br />

, QUANDO LACAN DESTACOU UM NÚCLEO NA OBRA DE FREUD, APARTIR<br />

DO QUAL ELE , INAUGURA SEU ENSINO, "FUNÇÃO E CAMPO DA FALA E DA<br />

LINGUAGEM NA PSICANÁLISE" (1953)32<br />

NESSA PERSPECTIVA, SEGUIMOS NESSE CAPÍTULO, "ESTRUTURA E SUJEITO"<br />

(1.2), ESTUDANDO MAIS DETALHADAMENTE O CONCEITO DE ESTRUTURA<br />

NO ENSINO LACANIANO. NOSSA DISCUSSÃO ACOMPANHA UM PERCURSO<br />

QUE VAI DO SIMBÓLICO AO REAL, MOSTRANDO A IMPORTÂNCIA DO FURO<br />

NA ESTRUTURA, NA MEDIDA EM QUE ESTE APONTA PARA O SUJEITO.<br />

32<br />

30


MOSTRAMOS, A PARTIR DO TEXTO DE J.-A. MILLER, "STRUC DUR"33, QUE<br />

LACAN IRÁ CHAMAR ESSA REDE DE RELAÇÕES QUE SE SUSTENTA<br />

MINIMENTE DE "SIMBÓLICO": A ORDEM SIMBÓLICA É UMA ORDEM<br />

FUNDADA NO BINARISMO JACOBSONIANO NÃO SUBSTANCIALISTA, QUE<br />

CONSISTE EM UMA OPOSIÇÃO SIMBÓLICA MÍNIMA ENTRE DOIS TERMOS.<br />

ASSIM O ESQUEMAS S1-S2, QUER DIZER QUE UM SIGNIFICANTE É, NO<br />

MÍNIMO, DOIS, UM SIGNIFICANTE SO PODENDO SER DEFINIDO EM RELAÇÃO<br />

A OUTRO SIGNIFICANTE . 34 ISSO TEM POR CONSQÜÊNCIA QUE AS<br />

REPRESENTAÇÕES FICAM DO LADO DE FORA .ESSA REPRESENTAÇOES<br />

QUE AS PESSOAS FAZEM A PARTIR DESSA REDE DE RELAÇÕES CONSTITUEM<br />

O IMAGINÁRIO.<br />

PARA MILLER, A ESCOLHA INICIAL DO ENSINO DE LACAN É A PERGUNTA DE<br />

QUE ORDEM É O INCONSCIENTE FREUDIANO, SE ELE É DA ORDEM<br />

IMAGINÁRIA OU DA LEI SIMBÓLICA. A PARTIR DESSA INTERROGAÇÃO,<br />

CONSITUTI-SE A NOÇÃO DE REAL, QUE NÃO SE REDUZ NEM À LEI<br />

SIMBÓLICA NEM À REPRESENTAÇÃO.ESSA IMPOSSIBILIDADE DE REDUÇÃO<br />

NOS PARECE FUNDAMENTAL PARA ENTENDER A NOÇÃO DE REAL QUE ,A<br />

PRINCÍPIO, LACAN FORMULA COMO UM TERMO EXCLUÍDO, MAS ELE<br />

MUDARÁ ESSA FORMULAÇÃO, DEPOIS ELE IRÁ ENTENDÊ-LO, AO<br />

CONTRÁRIO, COMO UM TERMO RESIDUAL, UM ELEMENTO CUJA A<br />

NATUREZA É COMPLETAMENTE DIFERENTE DOS ELEMENTOS SIMBOLICOS.<br />

ASSIM, ELE VAI PARADOXALMENTE IDENTIFICAR O REAL COMO UM<br />

ELEMENTO DE PRESENÇA QUE FALTA ESTRUTURALEMENTE NA ORDEM<br />

SIMBÓLICA.<br />

DESSA FORMA, VIMOS QUE ELE DEFINE O REAL COMO RESÍDUO, COMO<br />

OBJETO A, OBJETO QUE DA NOTÍCIA DA ESSÊNCIA DO SUJEITO, MAS QUE, AO<br />

MESMO TEMPO, FAZ FURO COMO RESTO, COMO O QUE NÃO SE ENCAIXA, O<br />

QUE NÃO É SIMBOLIZÁVEL. NESSE PRIMEIRO CAPÍTULO TRATAMOS DE<br />

REAL COMO EXCLUÍDO, E SÓ TRATAMOS DO REAL COMO RESÍDUO NO<br />

CAPÍTULO 3, A APARTIR DAS QUESTÕES QUE SURGIRÃO DA CLINICA .<br />

ACHAMOS FUNDAMENTAL SEGUIRMOS A ELABORAÇÃO DE LACAN DE<br />

QUE INCONSCIENTE É CONSTITUIDO POR UMA CADEIA SIGNIFICANTE<br />

CONTÍNUA E QUE O SUJEITO DO INCONSCIENTE, ALIENADO À<br />

LINGUAGEM,BARRADO POR ESTA, DESAPARECE SOB O SIGNIFICANTE.<br />

DESSA FORMA, SEGUNDO LACAN, S1/$, ESSE SIGNIFICANTE S1 USURPA O<br />

LUGAR DO SUJEITO, TENDO POR CONSEQÜÊNCIA QUE ESSE SUJEITO EXISTE<br />

APENAS COMO FURO NO DISCURSO.<br />

NO ENTANTO FOI IMPRESINDIVEL PARA TERMOS SUBSÍDIOS PARA PENSAR<br />

A CLINICA ,NOS INTERESSARMOS PELA QUESTÃO QUE O MILLER TRATA DO<br />

SUJEITO DA ESTRUTURA DA LINGUAGEM E O PONTO DE INTERAÇÃO COM O<br />

SUJEITO DA PALAVRA . QUANDO O QUE MILLER MARCA , QUE HÁ UMA<br />

DIFERENÇA ENTRE O SUJEITO NA ESTRUTURA E O SUJEITO QUE TOMA A<br />

PALAVRA , ISSO NOS AJUDOU MUITO A ENTENDER MELHOR TODA<br />

SUTILEZA DA CLINICA DE QUE É IMPORTANTE DE QUE UMA PESSOA FALE<br />

33 (26)<br />

34 (29).<br />

31


,MAS QUE QUANDO A PESSOA FALA, NÃO ESTÁ ALÍ A ESTRUTURA, O SEJA,<br />

NOS NÃO VAMOS ENCONTRAR A ESTRUTURA NAS PALAVRAS; NO ENTANTO<br />

NÃO SE TEM OUTRO CAMINHO A NÃO SER FAZENDO ALGUÉM FALAR PARA<br />

QUE SE POSSA FAZER UMA LEITURA. ISSO NOS PARECE IMPORTANTE<br />

PORQUE NOS DÁ UMA DIMENSÃO DE QUE NA CLÍNICA TEMOS UM<br />

TRABALHO DE LEITURA A SER FEITO.<br />

DESSE MODO, MILLER NOS MOSTROU QUE É IMPORTANTE QUE O SUJEITO<br />

FALE PORQUE É A PARTIR DE SUA FALA QUE VAI SER POSSÍVEL VER<br />

APARECER O SUJEITO, LER O SEU APARECIMENTO NO INTERVALO DA FALA<br />

POR FIM, FINALIZAMOS O CAPÍTULO TENTANDO ARTICULAR ALGUMAS<br />

CONSEQÜÊNCIAS DAS PERSPECTIVAS TEÓRICAS DO DESENVOLVIMENTO E<br />

DA ESTRUTURA PARA O QUE DETERMINA O QUE SERIA CONSIDERADO<br />

COMO SINAL DE SOFRIMENTO PSÍQUICO E ASSIM O CAMPO CLÍNICO, TANTO<br />

NO QUE O CONSTITUI, COMO NAS PROPOSTAS DE INTERVENÇÕES QUE SE<br />

DEDUZEM A PARTIR DELE.<br />

NOTEMOS QUE TEMOS DOIS CAMPOS TEÓRICOS: UM QUE SE CONSTITUI<br />

PELA OBSERVAÇÃO DE DISTÚRBIOS E COMPORTAMENTOS QUE ESTARIAM<br />

NO CAMPO DO DESENVOLVIMENTO PSICOAFETIVO, E NO OUTRO CAMPO<br />

TEÓRICO TERIAMOS O TRABALHO DE MARIE CHRISTINE LAZNIK E DO<br />

GRUPO NACIONAL DE PESQUISA GNP, QUE FORMALIZAM A PARTIR DOS<br />

CONCEITOS PSICANALÍTICOS QUATRO EIXOS QUE ELES CONSIDERAM QUE<br />

BALIZAM A CONSTITUIÇÃO DA SUBJETIVIDADE E A HIPOTES QUE ELES<br />

FAZEM É QUE A AUSENCIA DESTES APONTA PARA PROBLEMATIZAÇAO NA<br />

ESTRUTURA D ASUBJETIVIDA DO BEBE .PARA ELES , O SINAL DE RISCO É<br />

CONSTITUIDO NA AUSÊNCIA DE INDICADORES BASEADOS NOS QUATRO<br />

EIXOS ;. E ELES PROPÕEM A VERIFICAÇÃO VIA A OBSERVAÇÃO DIRETA<br />

OBIS?.<br />

DO NOSSO PONTO DE VISTA, NOS PARECE FUNDAMENTAL PARA NOSSA<br />

PESQUISA, DESTACAR QUE ENCONTRAMOS AÍ UM EQUIVOCO, UMA VEZ QUE<br />

TRATA-SE DE UM MÉTODO QUE PASSA PELA OBSERVAÇÃO E QUE À PARTIR<br />

DA ÉTICA DA PSICANÁLISE NOS PARECE QUE NÃO É POSSÍVEL<br />

TRANSFORMAR PRESENÇA, AUSÊNCIA, DEMANDA, SUPOSIÇÃO DE SABER ...<br />

( QUE SAO OS EIXOS QUE ELES PROPOEM ), EM COISAS OBSERVÁVEIS,<br />

MEDÍVEIS, APREENSÍVEIS. NOS PARECE QUE O MÉTODO ANALÍTICO É<br />

OUTRO, QUE NELE NÃO EXISTE UMA ORDENAÇÃO DO NORMAL E DO<br />

PATOLÓGICO, DO QUE SERIA OBSERVÁVEL COMO NORMAL OU<br />

PATOLÓGICO. PARA FREUD, O PATOLÓGICO É A VIA DE ACESSO AO<br />

NORMAL, E O AVESSO [?] É AQUILO QUE O NORMAL ESCONDE. O<br />

PATOLÓGICO É A DIMENSÃO POSSÍVEL DA VERDADE, QUE ESTARIA<br />

MASCARADA SOB A NORMALIDADE. O QUE FREUD TRAZ DE SUBVERSÃO É<br />

QUE AS DIVERSAS FORMAS DE NORMALIDADE VIRIAM PARA ESCONDER, DE<br />

MODO QUE O PATOLÓGICO, A ABERRAÇÃO SERIA O ÚNICO ACESSO<br />

POSSÍVEL À VERDADE DO SUJEITO.(TEM QUE POR REFERENCIA DO<br />

LUCIANO)<br />

CONSIDERAMOS TAMBÉM QUE SÓ É POSSÍVEL SABER NO CASO A CASO, NA<br />

VIA DE ACESSO DE CADA UM. E, COMO VIMOS AO LONGO DA DISSERTAÇÃO,<br />

É A PARTIR DO DISCURSO, DO ENCONTRO DO OUTRO E DO SUJEITO QUE<br />

32


ELES SE CONSTITUEM NESSE ENCONTRO, QUE NO SÓ DEPOIS PODEREMOS<br />

FAZER UMA LEITURA A PARTIR DO QUE SE TRANSMITIU NO INTERVALO DO<br />

DISCURSO, NÃO NO QUE É FALADO AO PÉ DA LETRA.<br />

DESSA MANEIRA NOS PARECE , MAIS INTERESSANTE ,DIALOGAR COM OS<br />

MÉDICOS A PARTIR DO REFERENCIAL DELES , OU SEJA APARTIR DA<br />

LEITURA QUE ELES FAZEM DOS TRANSTORNOS ,E NO CASO A CASO,<br />

MENTER UM TENCIONAMENTO ,ENTRE O SABER DELES ,E NOSSA ESCUTA<br />

.ANALITICA.<br />

O SEGUNDO CAPÍTULO, "ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO", ESTÁ DIVIDIDO EM<br />

QUATRO SUBCAPÍTULOS: 2.1 ALIENAÇÃO; 2.2 SEPARAÇÃO; 2.3 ALIENAÇÃO E<br />

SEPARAÇÃO: ARTICULAÇÃO DA TEORIA COM A CLÍNICA; 2.4 ALIENAÇÃO,<br />

SEPARAÇÃO E O OBJETO A.<br />

APRESENTAMOS DOIS FRAGMENTOS DE CASOS CLÍNICOS, EM TORNO DOS<br />

QUAIS NOS PROPOMOS CIRCONSCREVER O QUE CONSIDRAMOS COMO O<br />

CORAÇÃO DO TRABALHO DESTA DISSERTAÇÃO, QUE É A BUSCA DE<br />

FORMALIZAÇÃO DO ESPAÇO LÓGICO NA ORIGEM DA CONSTITUIÇÃO DO<br />

SUJEITO. PROCURAMOS TRATAR ESSE ESPAÇO SUBJETIVO EM<br />

CONSTITUTIÇÃO — QUE NÃO É NEM SÓ DO INFANS, NEM SÓ DO OUTRO<br />

PRIMORDIAL — COMO FORMULAÇÃO QUE LEGITIMA NOSSA<br />

INTERVENÇAO , POR MEIO DA OPERAÇAO DE ALIENAÇAO E SEPARAÇAO.<br />

CONFIRMAMOS COMO É IMPRESCINDÍVEL QUE O OUTRO MATERNO SE<br />

ENDERECE AO INFANS COM SEUS SIGNIFICANTES, EM UMA POSIÇÃO<br />

DESEJANTE, ISTO É, FALTANTE, POR SUA PRÓPRIA ALIENAÇÃO À<br />

LINGUAGEM. OBSERVAMOS TAMBÉM QUE, PARA O INFANS, A OPERAÇÃO DE<br />

SER BARRADO NO SEU DESEJO, DE SER OBJETO DO OUTRO, TERÁ UM EFEITO<br />

DE SEPARAÇÃO. PRODUZINDO UMA MUDANÇA DE POSIÇÃO, TORNA O<br />

SUJEITO CAPAZ DE DESEJAR, RESTANDO DA OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E<br />

DE SEPARAÇÃO O OBJETO A.<br />

NO SUBCAPÍTULO 2.4, "ALIENAÇÃO, SEPARAÇÃO E O OBJETO A", MAIS UMA<br />

VEZ PARTINDO DE UM FRAGMENTO DE CASO CLÍNICO, DAMOS<br />

CONTINUIDADE À DISCUSSÃO RELATIVA AO OBJETO, NÃO MAIS NA<br />

DIMENSÃO DA ALIENAÇÃO, QUE CONSTITUI O FURO, MAS NA SUA FACE DE<br />

SEPARAÇÃO, COMO UMA POSSIBILIDADE QUE SURGE NO PRÓPRIO<br />

TRABALHO CLÍNICO.<br />

AQUI NOS PARECE IMPORTANTE DESTACAR QUE O APORT DOS<br />

EXAMINADORES NO EXAME DE QUALIFICAÇÃO FOI MUITO PRECIOSO PARA<br />

AFINAR NOSSA ELABORAÇÃO DESSE ESPAÇO CONSTITUTIVO DO SUJEITO<br />

.FICOU EVIDENTE ,QUE NÃO É POSSÍVEL SIMPLISMENTE CONSIDERAR ESSE<br />

ESPAÇO SUBJETIVO EM CONSTITUIÇÃO, E DEDUZIR QUE AÍ PODERIAMOS<br />

INTERVIR DIRETAMENTE NA CONSITUIÇÃO DO SUJEITO. NOSSO TRABALHO<br />

NOS CONDUZIU NA DIREÇÃO DE TENTAR CRIAR CONDIÇÕES A PARTIR DE<br />

33


NOSSA INTERVENÇÃO PARA QUE PUDESSE SE CONSTITUIR UM ESPAÇO DE<br />

POSSIBILIDADE, UM ESPAÇO ENTRE O OUTRO E O INFANS QUE APOSTASSE<br />

QUE AÍ PUDESSE ADVIR UMA RESPOSTA DE SUJEITO. VALE A PENA MARCAR<br />

QUE EMBORA TRAZEMOS A IMPORTÂNCIA DO OUTRO PRIMORDIAL, QUE<br />

GERALMENTE É A MÃE, ENDEREÇAR-SE AO INFANS COMO OUTRO<br />

DESEJANTE, A QUEM FALTA, NÃO QUEREMOS DIZER COM ISSO QUE O<br />

DISCURSO DESSE OUTRO OU O DESEJO DESSE OUTRO VAI TER UMA<br />

RELAÇÃO "DE CAUSA E EFEITO" SOBRE O INFANS COMO SE NO DISCURSO<br />

DO OUTRO SERIA POSSÍVEL MEDIR E APREENDER O QUE DETERMINARIA O<br />

APARECIMENTO DO SUJEITO E AÍ FAZER UMA INTERVENÇÃO MIDÍVEL.<br />

MUITO PELO CONTRÁRIO, SABEMOS, A PARTIR DO ENSINO DE LACAN, QUE É<br />

DIANTE DO REAL DESSE PONTO DE INTRANSMISSÍVEL, DE FALTA, DE<br />

PRIMAZIA DO SIGNIFICANTE, QUE O SUJEITO TEM A POSSIBILIDADE DE<br />

PRODUZIR UM ATO QUE IMPLICA NA SUA ASSUNÇÃO SUBJETIVA.<br />

TENTAMOS ENTÃO, A PARTIR DOS FRAGMENTOS DE CASOS CLÍNICOS, LER O<br />

MOVIMENTO TANTO DA MÃE COMO DA CRIANÇA DIANTE DO DISCURSO DO<br />

GRANDE OUTRO PRIMORDIAL. VIMOS QUE O QUE É TRANSMITIDO PELA<br />

MÃE É UMA ESTRUTURA SIGNIFICANTE QUE É INCONSCIENTE. ISSO É<br />

IMPORTANTE PARA ENTENDER QUE O OUTRO MATERNO NÃO TRANSMITE<br />

SIGNIFICADOS A SEREM TOMADOS E DISCODIFICADOS LITERALMENTE PELO<br />

BEBÊ E QUE ISSO PRODUZIRIA A FORMAÇÃO DO SUJEITO. O QUE O OUTRO<br />

MATERNO, OU OUTRO PRIMORDIAL TRANSMITE PARA O INFANS SÃO<br />

SIGNIFICANTES QUE POR SUA ESTRUTURA DEIXAM MARCAS MATERIAIS E<br />

SIMBÓLICAS NO CORPO DO BEBÊ, "QUE SUSCITARÃO NO CORPO DO BEBÊ<br />

UM ATO DE RESPOSTA QUE SE CHAMA DE SUJEITO"35 POR ISSO DISSEMOS A<br />

PARTIR DE LACAN QUE O SUJEITO É UMA RESPOSTA EM ATO.<br />

UM OUTRO DESTAQUE IMPORTANTE SE REFERE AO SIGNIFICANTE "CLÍNICA<br />

DO LAÇO". EMBORA JUSTIFICAMOS NUM PRIMEIRO MOMENTO QUE ESSE<br />

SIGNIFICANTE SERIA JUSTAMENTE ENTENDIDO COMO O QUE SE TECE A<br />

PARTIR DO CAMPO DO OUTRO, OU SEJA A NECESSIDADE DA AÇÃO<br />

ESPECÍFICA PARA FREUD, A FUNÇÃO DO GRANDE OUTRO SIMBÓLICO PARA<br />

LACAN E A RESPOSTA DO SUJEITO DIANTE DE SEU DISCURSO, FOI PARA NOS<br />

DE FUNDEMENTAL IMPORTÂNCIA ENTENDER QUE SE FAZIA NECESSÁRIO AÍ<br />

MAIS UMA TORÇÃO QUE CONSISTIU EM ENTENDER QUE, EMBORA O<br />

SIMBÓLICO SEJA PRÉDETERMINDADO NA HUMANIDADE, OU SEJA, EMBORA<br />

ELE PREEXISTE AO SUJEITO, SERÁ SÓ A PARTIR DO ENCONTRO DO SUJEITO E<br />

DO OUTRO QUE ELES PASSARAM A SE CONSTITUIR. ASSIM, NOS DEPARAMOS<br />

COM A NOÇÃO DE TEMPO EM PSICANÁLISE, A QUAL PARADOXALMENTE<br />

AFIRMA A PARTIR DE LACAN QUE É NECESSÁRIO, O SIMBÓLICO, O OUTRO<br />

PRIMORDIAL PARA QUE O SUJEITO , O VIRA SER POSSA ADVIR. OU SEJA,<br />

SABEMOS QUE A PARTIR DA LINGUAGEM VÁRIOS ELEMENTOS<br />

ENCONTRAM-SE PRESENTES ANTES DO BEBÊ NASCER. DESSA FORMA, O QUE<br />

SE CONSTITUI NESSE ENCONTRO VAI PRODUZIR UM PASSADO QUE JÁ<br />

EXISTIA ANTES MAS QUE SÓ PODE EXISTIR COMO PASSADO A PARTIR DESSE<br />

ENCONTRO.<br />

35 … [?] O conceito <strong>de</strong> sujeito. Psicanálise passo a passo, p. 41<br />

34


TRATA-SE PARADOXALMENTE DE UM ENCONTRO ENTRE O SUJEITO E O<br />

OUTRO QUE MARCA UM TEMPO EM QUE ESSES ELEMENTOS PRESENTES<br />

HOJE SÓ EXISTIRAM QUANDO SERÃO PASSADOS, OU SEJA QUANDO ESSE<br />

MOMENTO FUTURO DO ENCONTRO CHEGAR. É O TEMPO DO FUTUR<br />

ANTERIOR.<br />

"ASSIM, É SÓ A PARTIR DO ENCONTRO MOMENTOSO DO BEBÊ COM O OUTRO<br />

MATERNO QUE A INCIDÊNCIA DOS DESIGNIOS QUE ESTE OUTRO MARCARÁ<br />

O BEBÊ PROJETAR-SE-A NO PASSADO COMO PRE-HISTÓRIA DO BEBÊ. TAIS<br />

DESIGNOS TERÃO SIDO PRÉVIOS AO BEBÊ"36. [REVER ESSA CITAÇÃO]<br />

ASSIM PASSAMOS A ENTENDER A CLÍNICA DO LAÇO, NO QUE DIZ RESPEITO<br />

A UM DEBATE SOBRE A CLÍNICA COM CRIANÇAS BEM PEQUENAS, À LUZ DA<br />

OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO, COMO UMA CLÍNICA QUE PÕE EM<br />

EVIDÊNCIA QUE SE, POR UM LADO, É NECESSÁRIO A OPERAÇÃO DE<br />

ALIENAÇÃO, O ASSUJEITAMENTO AO OUTRO DA LINGUAGEM, QUE<br />

CONSISTE EM UMA ESCOLHA FORÇADA EM ACATAR QUE UM SIGNIFICANTE<br />

QUE VEM DO OUTRO O REPRESENTA, POR OUTRO LADO SERÁ NECESSÁRIO<br />

QUE ESSE OUTRO DESEJE PARA ALÉM DO SUJEITO E ASSIM PROMOVA A<br />

OPERAÇÃO DE SEPARAÇÃO. PASANDO ASSIM ,PARA UMA LÓGICA NA QUAL<br />

NEM SEM O SUJEITO, NEM SEM O OUTRO, CONSTITUINDO ASSIM UM TIPO DE<br />

LAÇO NO QUAL O SUJEITO E O OUTRO ESTÃO EXCLUÍDOS, E ,O SER DO<br />

SUJEITO DEVERÁ ENTÃO ADVIR DE FORA.<br />

ISSO NOS PARECE PRIMORDIAL PARA PENSAR ESSA CLÍNICA QUE NOS<br />

APONTA PARA UMA DIREÇÃO DE TRABALHO QUE LEVE EM CONTA QUE O<br />

SER DO SUJEITO DEVERÁ ADVIR DE ALGO QUE NÃO É NEM DO SUJEITO, NEM<br />

DO OUTRO, OU SEJA DELIMITANDO ASSIM, QUE NÃO HÁ DUAS ENTITADES<br />

PRÉVIAS QUE SE ENLAÇAM E PRODUZEM O SUJEITO: HÁ UM ENCONTRO E É<br />

DESSE ENCONTRO QUE O OUTRO E O SUJEITO SE CONSTITUEM, E O SER DO<br />

SUJEITO VIRÁ NUM APOSTERIORI COMO RESPOSTA POSSÍVEL, EM ATO.<br />

VIMOS ENTÃO QUE TAL SEPARAÇÃO PRODUZ UM RESTO, O OBJETO A,<br />

ATRAVÉS DO QUAL O SUJEITO IRÁ SE CONSTITUIR COMO DESEJANTE.<br />

LACAN NOS DIZ QUE O OBJETO A IRÁ POSSIBILITAR A CONSTITUIÇÃO DA<br />

FANTASIA, QUE SUSTENTA A ILUSÃO DA TOTALIDADE NA TENTATIVA DO<br />

SUJEITO DE SE LIVRAR DA DIVISÃO. DESSA OPERAÇÃO DE SEPARAÇÃO,<br />

SURGE A DIVISÃO DO SUJEITO EM EU E INCONSCIENTE, E A DIVISÃO DO<br />

OUTRO EM OUTRO FALTANTE E OBJETO A.<br />

NOS PARECE QUE NESSA PERSPECTIVA, QUANDO NOS PROPOMOS A<br />

ATENDER O INFANS NA PRESENÇA DO OUTRO PRIMORDIAL, COMO NO CASO<br />

AQUI VISTO, GUIAMOS NOSSA INTERVENÇÃO A PARTIR DESSA NOÇÃO, DO<br />

OBJETO A, OU SEJA, A PARTIR DISSO PODERIAMOS FAZER A POSTERIORI<br />

UMA LEITURA DO NOSSO TRABALHO, CONSISTINDO EM UMA OPERAÇÃO<br />

LÓGICA: FAZER-SE SUPORTE DAS CONSTRUÇÕES DO INFANS, CONSTRUÇÕES<br />

QUE ELE PRODUZ, PARA DIZER DO MAL ESTAR DIANTE DO QUAL ELE É<br />

FALADO, OU MELHOR, O LUGAR QUE ELE OCUPA NO DESEJO, OU NA<br />

FANTASIA DESSE GRANDE OUTRO PRIMORDIAL. ASSIM, PODERIA TRATAR-<br />

36 O.c., p. 44.<br />

35


SE DE UM TRABALHO NO QUAL O ANALISTA E A EQUIPE PODERIAM FAZER<br />

OPERAR COM SUA ESCUTA UM DIZER LÓGICO EM POSIÇÃO DE TERCEIRO,<br />

EM QUE A PALAVRA POSSA CIRCULAR NUMA DIREÇÃO DE FAZER SUPORTE<br />

DO QUE O SUJEITO TRAZ, NOS ENDEREÇANDO AO SUJEITO E<br />

REENDEREÇANDO A SEU GRANDE OUTRO AS MANIFESTAÇÕES DO SUJEITO,<br />

AVERTIDOS DE QUE NESSA [VERSO] OPERAÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DO<br />

SUJEITO HAVERÁ SEMPRE UM RESTO, O OBJETO A, COMO O QUE NÃO É<br />

POSSÍVEL SIMBOLIZAR, DIZER, OU SEJA OU QUE VAI SEMPRE PRODUZIR O<br />

MAL ESTAR. NÃO TENTANDO ENTÃO DE ESTABELECER UMA RELAÇÃO<br />

ENTRE O SUJEITO E O OUTRO DE HARMONIA, DE COMPLETUDE.<br />

NOS PARECE QUE É TAMBÉM A PARTIR DESSA DIMENSÃO DO OBJETO A,<br />

COMO RESTO DA OPERAÇÃO DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO QUE PENSAMOS<br />

O LUGAR QUE DAMOS AOS PAIS .E POR ISSO NOS INTEREÇAMOS MUITO<br />

PELA IDÉIA DO V.BAIO DO LUGAR DOS PAIS COM SUJEITO E COMO OUTRO<br />

PARCEIRO DO TRABALHO DE SEUS FILHOS .COMO POR EXEMPLO,QUANDO<br />

TENTAMOS DAR À MÃE DE S [?] UM LUGAR DE SUJEITO E DE OUTRO<br />

PARCEIRO DO TRABALHO DE SEU FILHO POSSIBILITANDO ,ASSIM UMA<br />

DIFERENCIAÇÃO ENTRE A MÃE E S. E UM ESPAÇO DE TRABALHO PARA S.<br />

A L`ANTENNE PAS SANS LES PARENTS P 24 A35 ANTENNE 110 (A LA PLACE<br />

DU NOM DE QUI ECRIT ) PRELIMINAIR 13 PUBLICATIO DU CHAMP<br />

FREUDIEN EN BELGIQUE . QUANDO RECONHECEMOS O TRABALHO, POR<br />

EXEMPLO, DE S., RECONHECEMOS O LUGAR POSSIVEL QUE O OUTRO OCUPA<br />

PARA A S., E NÃO IMPOMOS PARA S. UM OUTRO IDEAL OU INVASOR, ASSIM<br />

CONVOCAMOS OS PAIS A SEREM PARCEIRO DO TRABALHO POSSÍVEL PARA<br />

SEUS FILHOS QUANDO, POR EXEMPLO, DISSEMOS QUERER SABER MAIS DE S.<br />

QUE VIVE, SE AGITA, SE INTERESSA POR OBJETOS., DIFERENTE DO LUGAR<br />

ANTECIPADO DA DESOBEDIÊNCIA IMPOSTA PELA MÃE DE S.<br />

NO TERCEIRO E ÚLTIMO CAPÍTULO, FIZEMOS UMA REFLEXÃO A PARTIR DO<br />

TEXTO "NOTA SOBRE AS CRIANÇAS" [VERIFICAR] DE JACQUES LACAN, A FIM<br />

DE AVANÇAR UM POUCO MAIS NOSSO ESTUDO A RESPEITO DO OBJETO A, A<br />

PARTIR DA CLÍNICA COM CRIANÇAS E SEUS PAIS.<br />

PUDEMOS EXTRAIR DO TEXTO QUE A CRIANÇA SE TORNA "OBJETO" DA MÃE<br />

POR NÃO TER A MEDIAÇÃO, ASSEGURADA PELA FUNÇÃO DO PAI PARA<br />

MODULAR A DISTÂNCIA ENTRE A IDENTIFICAÇÃO AO IDEAL DO EU E O<br />

DESEJO DA MÃE, SE TORNA OBJETO DA MÃE, ISTO É, REALIZA-SE SE<br />

OFERECENDO –SE COMO OBJETO NO REAL. ISSO SIGNIFICA QUE NÃO<br />

OPEROU A CASTRAÇÃO E QUE O OBJETO NÃO REALIZA-SE COMO RESTO,<br />

COMO OBJETO A, COMO AQUILO QUE POSSIBILITA UMA CERTA SEPARAÇÃO,<br />

UM ESPAÇO ENTRE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO. O OBJETO NO REAL É O<br />

OBJETO DA PSICOSE UMA VEZ QUE ELE NÃO IMPLICA EM UMA CERTA<br />

SEPARAÇÃO: AO CONTRÁRIO, ELE SATURA A MODALIDADE DE FALTA QUE<br />

VIABILIZA A SEPARAÇÃO.É FUNDAMENTAL DESTACAR , QUE A MEDIAÇÃO ,<br />

NOS INTEREÇA NÃO POR QUE ELA TENTA CONCILIAR DUAS ENTIDADES ,<br />

TENTA FAZER COM QUE ELAS SE ENTENDAO ,NÃO É POR ISSO , A<br />

MEDIAÇÃO NOS INTEREÇA UM VEZ QUE TRATA-SE DE UMA MEDIAÇÃO<br />

36


PARADOXAL ENQUANTO ELA É UM ESPAÇO VIRTUAL , COSTITUIDO NÃO<br />

POR DUAS ENTIDADES MAS POR DUAS FALTAS ,A DO SUJEITO E ADO<br />

OUTRO.ENTAO ESSA FUNÇÃO ,DE MEDIAÇÃO ASSEGURADA PELA FUNÇÃO<br />

DO PAI ,NOS É PRECIOSA NO QUE ELA NOS PERMITE PENSAR QUE NOSSA<br />

INTERVENÇÕES NO ESPAÇO PAIS BEBES PODERIAM TENTAR ASSEGURAR<br />

,ESSE ESPAÇO TERCEIRO ENTRE O BEBE E SUA MÃE, TENDO ASSIM<br />

APOSSIBILIDADE DE EFEITO SUBJETIVANTE .<br />

A PARTIR DISSO, PUDEMOS TIRAR COMO CONCLUSÃO QUE A PRINCIPAL<br />

CONSEQÜÊNCIA CLÍNICA DISSO É QUE O OBJETO A É ESSE ESPAÇO ENTRE<br />

ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO QUE PODEMOS CHAMAR DE ESPAÇO SUBJETIVO.<br />

SUGERIMOS ENTÃO UMA BREVE APROXIMAÇÃO ENTRE O ESPAÇO PAIS<br />

BEBÊS PENSADO A PARTIR DO OBJETO LACANIANO (OU SEJA DAS<br />

OPERAÇÕES DE ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO) E O OBJETO TRANSICIONAL DE<br />

D.W. WINNICOTT. CONSIDERAMOS QUE ESSA APROXIMAÇÃO SE DÁ DESDE<br />

QUE O OBJETO POTENCIAL DE WINNICOTT CONSTITUI-SE PELO FATO DO<br />

INFANS JA VIVER A DIMENSÃO DA FALTA UMA VEZ QUE JÁ HOUVE NELE A<br />

DIMENSÃO DA PERDA DO OBJETO. O OBJETO POTENCIAL TEM A FUNÇÃO DE<br />

POSSIBILITAR AO INFANS SE SEPARAR DO OBJETO MATERNO E DEPOIS DOS<br />

OUTROS OBJETOS, TRAZENDO ASSIM CONSIGO A MARCA DE UM VAZIO, OU<br />

SEJA A PRIMAZIA DO SIMBÓLICO, E TENDO POR ISSO A POSSIBILIDADE DE<br />

UM EFEITO SUBJETIVANTE. NESSA PERSPECTIVA, PENSAMOS QUE É COMO<br />

FUNÇÃO DE POSSIBILIDADE DE SUBJETIVAÇÃO QUE APOSTAMOS NO<br />

ESPAÇO PAIS BEBÊS: CONSIDERAMOS O ESPAÇO QUE SE FAZ A PARTIR DE<br />

SUA FUNÇÃO. PROPOMOS QUE ELE FUNCIONE COMO UM ESPAÇO VAZIO,<br />

COM ISSO QUEREMOS DIZERQUE FAZEMOS VALER UM ESPAÇO VAZIO DE<br />

SABER,NÃO SABEMOS DE ANTEMÃO ,O SABER NÃO ESTA REPERTORI. O<br />

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL ENTÃO É QUE ELE SE CONSTITUI EM UM ESPAÇO<br />

COMO INSTRUMENTO, PARA QUE A PALAVRA POSSA CIRCULE<br />

O SABER ESTÁ DO LADO DO PACIENTE, AS PESSOAS FALAM O QUE JÁ<br />

SABEM, MAS APOSTAMOS QUE FAZENDO VALER UM ESPAÇO VAZIO DE<br />

SABER, PODEMOS POSSIBILITAR QUE SE PRODUZA AÍ NESSE ESPAÇO ALGO<br />

NOVO, UM SABER DO INCONSCIENTE QUE POSSA SERVIR ÀQUELA MÃE OU<br />

ÀQUELA CRIANÇA.DISSEMOS AO LONGO DA DISSERTAÇÃO ,QUE<br />

APOSTAMOS NO ESPAÇO PAIS BEBESCOMO UM ESPAÇO DE POSSIBILIDADES<br />

PARA QUE PUDESSE HAVER RESPOSTA DE SUJEITO,ASSIM AO LONGO DESSE<br />

TRABALHO TENTAMOS FORMALIZAR O MELHOR POSSÍVEL EM QUE<br />

CONSISTIA ESSE TRABALHO DE "INTERVENÇÃO A TEMPO", SEJA NO<br />

ATENDIMENTO SÓ DO BEBÊ E DE SEU OUTRO, SEJA NUM DISPOSITIVO DO<br />

"ESPAÇO PAIS BEBÊS COM OUTROS PAIS E OUTROS BEBÊS". FORMALIZAR O<br />

CONCEITO DE TEMPO EM PSICANÁLISE, COMEÇAMOS POR DIZER QUE NÃO<br />

SE TRATAVA DE UM TEMPO MENSURÁVEL, NEM DE UM TEMPO<br />

CRONOLÓGICO, E DEPOIS MAIS ADIANTE NA DISSERTAÇÃO, TENTAMOS<br />

DEFINIR QUE SE TRATAVA DE UM TEMPO QUE CONSTITUE MESMO A PARTIR<br />

DO ENCONTRO DO OUTRO DO INFANS, QUE ELES MESMO SE CONSTITUEM A<br />

PARTIR DESSE ENCONTRO E QUE POR ISSO NOS SÓ PODERIAMOS LER NO<br />

DEPOIS QUANDO HOUVESSE RESPOSTA DO SUJEITO.NO ENTANTO ,NOS<br />

PARECE IMPRESINDIVEL MARCAR AQUI QUE SABEMOS QUE ESTAMOS<br />

37


TRATANDO DE UMA QUESTÃO MUITO DELICADA QUE NÃO PODEMOS<br />

DESENVOLVER AQUI, A SABER, QUE TRATAMOS AQUI , DE UMA CLÍNICA<br />

COM CRIANÇAS BEM PEQUENOS QUE NÃO FALAM, E QUE COLOCAM PARA<br />

NÓS A QUESTÃO DE SABER SE PODEMOS AFIRMAR QUE JÁ HAVERIA SUJEITO<br />

CONSTITUIDO QUANDO DIZEMOS QUE TRABALHAMOS NO TEMPO DO SÓ<br />

DEPOIS, A PARTIR DA RESPOSTA DO SUJEITO, OU SE SERIA NECESSÁRIO NOS<br />

PERGUNTARMOS SOBRE O ESTADO DE EFETUAÇÃO DA ESTRUTURA. NESSE<br />

SENTIDO A ELABORAÇAO DE COLETE SOLER, NOS INTERESSOU MUITO<br />

,UMA VEZ ,QUE ELA NOS AJUDA A PENSAR QUE É POSSÍVEL AFINAR MAIS<br />

UM POUCO NOSSA LEITURA RESPOSTA DO SUJEITRO ,JUSTAMENTE ,COMO<br />

VÍAMOS DESCUBRINDO APARTIR DE NOSSA PESQUISA APARTIR DO LUGAR<br />

DA CRIANÇA NA SEU LAÇO AO OBJETO ,OU SEJA QUANDO ACRIANÇA COLA<br />

AO OBJETO ,ELA ESTA NO MESMO LUGAR QUE O OBJETO ,POR ISSO ,COM<br />

NOS DIZ LACAN ,ELA PRESENTIFICA O OBJETO NO REAL ,E DESSA FORMA<br />

ELA SUTURA O ESPAÇO ENTRA ELA E O OUTRO NÃO HAVENDO<br />

POSSIBILIDADE DE SUBJETIVAÇÃO . DIANTE DISSO ELA NOS ENDICA QUE<br />

HAVERIA NESSES CASO UM TRABALHO A SER FEITO DE ESTRAÇAO, DO<br />

OBJETO NO REAL. NOS PER GUNTAMOS APARTIR DISSO ,SE PODERIAMOS<br />

PENSAR O ESPAÇO PAIS BEBES ,JUSTAMENTE COMO UM ESPAÇO ,PARA<br />

FAZER VALER ESSA<br />

FUNÇÃO DE TERCEIRO ,APOSTANDO ASSIM NUM ESPAÇO DE<br />

POSSIBILIDADE .<br />

REFERÊNCIAS<br />

38


ANSERMET, FRANÇOIS. CLÍNICA DA ORIGEM, A CRIANÇA ENTRE A<br />

MEDICINA E A PSICANÁLISE. RIO DE JANEIRO: CONTRACAPA LIVRARIA, 2003.<br />

BAYO, VIRGINIO. UNE PRATIQUE A PLUSIEURS GENERALISEE, IN.<br />

PRELIMINAIRE. PUBLICATION DU CHAMP FREUDIEN EN BELGIQUE, 1999,<br />

P.143-154.<br />

BENOÎT, PIERRE. LE CORPS ET LA PEINE DES HOMES. PARIS: L'HARMATTAN,<br />

PP. 281-291.<br />

CIRINO, OSCAR. PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA COM CRIANÇA,<br />

DESENVOLVIMENTO OU ESTRUTURA. BELO HORIZONTE: AUTENTICA, 2001.<br />

DELEUZE, GILLES. “A QUOI RECONNAIT-ON LE STRUCTURALISME?”. IN:<br />

HISTOIRE DE LA PHILOSOPHIE, SOUS LA DIRECTION DE FRANÇOIS<br />

CHATELET, VOL. 8, “LE XX E SIECLE”, PP. 299-335.<br />

ELIA, LUCIANO. O CONCEITO DE SUJEITO. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR,<br />

2004.<br />

FINK, BRUCE. O SUJEITO LACANIANO ENTRE A LINGUAGEM E O GOZO. RIO<br />

DE JANEIRO: JORGE ZAHAR EDITOR, 1998.<br />

FREUD, SIGMUND. , BUENOS AYRES, AMORRORTU EDITORES (25 TOMOS)<br />

(TRADUCCIÓN AL CASTELLANO DE ECHEVERRY), 1988. (AE)<br />

FREUD, SIGMUND. EDIÇÃO STANDARD BRASILEIRA DAS OBRAS<br />

PSICOLÓGICAS COMPLETAS. RIO DE JANEIRO: EDITORA IMAGO, 1996. (ESB)<br />

FREUD, SIGMUND (1895). PROJETO PARA UMA PSICOLOGIA CIENTÍFICA. IN.<br />

OBRAS PSICOLÓGICAS COMPLETAS DE SIGMUND FREUD: EDIÇÃO<br />

STANDARD BRASILEIRA. RIO DE JANEIRO: IMAGO, 1996. FREUD, SIGMUND<br />

(1933). ANSIEDADE E VIDA INSTINTUAL. IN. OBRAS PSICOLÓGICAS<br />

COMPLETAS DE SIGMUND FREUD: EDIÇÃO STANDARD BRASILEIRA. RIO DE<br />

JANEIRO: IMAGO, 1996.<br />

FREUD, SIGMUND. (1923). A ORGANIZAÇÃO GENITAL INFANTIL: UMA<br />

INTERPOLAÇÃO NA TEORIA DA SEXUALIDADE INFANTIL. IN. OBRAS<br />

PSICOLÓGICAS COMPLETAS DE SIGMUND FREUD: EDIÇÃO STANDARD<br />

BRASILEIRA. RIO DE JANEIRO: IMAGO, 1996.<br />

FREUD, SIGMUND (1925). A NEGATIVA. IN. OBRAS PSICOLÓGICAS<br />

COMPLETAS DE SIGMUND FREUD: EDIÇÃO STANDARD BRASILEIRA. RIO DE<br />

JANEIRO: IMAGO, 1996.<br />

GUERRA, ANDRÉIA MÁRIS CAMPOS E LIMA, NÁDIA LAGUARDIA DE (ORGS.),<br />

A CLÍNICA DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO NO DESENVOLVIMENTO, UMA<br />

CONTRIBUIÇÃO NO CAMPO DA PSICANÁLISE E DA SAÚDE MENTAL. BELO<br />

HORIZONTE: AUTÊNTICA-FUMEC, 2003.<br />

JORGE, MARCO ANTÔNIO COUTINHO. FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE DE<br />

FREUD A LACAN, VOL. 1, AS BASES CONCEITUAIS. RIO DE JANEIRO: JORGE<br />

ZAHAR EDITOR, 2000.<br />

KLEIN, MELANIE(1930). A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE SÍMBOLOS NO<br />

DESENVOLVIMENTO DO EGO IN. CONTRIBUIÇÕES À PSICANÁLISE, 2 ED., SÃO<br />

PAULO: MESTRE JOU, P.297-313.<br />

KLEIN, MELANIE. O COMPLEXO DE ÉDIPO À LUZ DAS PRIMEIRAS<br />

ANSIEDADES (1945). IN: CONTRIBUIÇÕES À PSICANÁLISE, OP. CIT., P.425-489.<br />

39


KLEIN, MELANIE (1932). PRIMEIROS ESTÁDIOS DO CONFLITO EDÍPICO E DA<br />

FORMAÇÃO DO SUPEREGO. IN: PSICANÁLISE DA CRIANÇA. SÃO PAULO:<br />

MESTRE JOU, 1975, P.173-202.<br />

LACAN, JACQUES. (1949) O ESTÁDIO DO ESPELHO COMO FORMADOR DA<br />

FUNÇÃO DO EU. IN ESCRITOS, RIO DE JANEIRO, ZAHAR, 1998.<br />

_________ (1957-1958). UMA QUESTÃO PRELIMINAR A TODO TRATAMENTO<br />

POSSÍVEL DA PSICOSE. IN. ESCRITOS. RIO DE JANEIRO, ZAHAR, 1998<br />

_________ (1957-1958). OBSERVAÇÃO SOBRE O RELATÓRIO DE DANIEL<br />

LAGACHE: PSICANÁLISEE ESTRUTURA DA PERSONALIDADE. IN. ESCRITOS.<br />

RIO DE JANEIRO, ZAHAR, 1998<br />

_________ O SEMINÁRIO SOBRE ‘A CARTA ROUBADA, IN ESCRITOS, RIO DE<br />

JANEIRO, ZAHAR, 1998.<br />

_________ (1956-1957). O SEMINÁRIO, LIVRO 4: A RELAÇÃO DE OBJETO. RIO DE<br />

JANEIRO, JORGE ZAHAR, 1995.<br />

_________ (1959 - 1960). O SEMINÁRIO, LIVRO 7: A ÉTICA DA PSICANÁLISE. RIO<br />

DE JANEIRO: JORGE ZAHAR, 1998.<br />

_________ (1964). O SEMINÁRIO, LIVRO 11: OS QUATRO CONCEITOS<br />

FUNDAMENTAIS DA PSICANÁLISE. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR EDITOR,<br />

1996.<br />

_________. AUTRES ÉCRITS, PARIS, SEUIL, 2001<br />

_________ "AVIS AU LECTEUR JAPONAIS", IN LACAN, JACQUES. AUTRES<br />

ECRITS. PARIS, SEUIL, 2001.<br />

LAURENT, ERIC. “ALIENAÇÃO E SEPARAÇÃO", IN FELDSTEIN, RICHARD,<br />

FINK, BRUCE E JAANUS MAIRE (ORGS). PARA LER O SEMINÁRIO 11 DE<br />

LACAN, OS QUATRO CONCEITOS DA PSICANÁLISE, COLEÇÃO CAMPO<br />

FREUDIANO NO BRASIL, ZAHAR EDITOR 1997, PP. 42-51<br />

MILLER, JACQUES-ALAIN. “S’TRUC DURE”. IN: MATEMAS II. BUENOS AIRES:<br />

MANANTIAL, 1989.<br />

MILLER, JACQUES-ALAIN. COURS DU 14 NOVEMBRE 1984, P.32-124. [INÉDITO].<br />

RIBEIRO, JEANNE MARIE DE LEERS COSTA. A CRIANÇA AUTISTA EM<br />

TRABALHO. RIO DE JANEIRO: 7 LETRAS, 2005.<br />

RINALDI, DORIS. A ÉTICA DA DIFERENÇA. UM DEBATE ENTRE PSICANÁLISE<br />

E ANTROPOLOGIA. RIO DE JANEIRO: JORGE ZAHAR EDITOR, EDITORA DA<br />

UERJ, 1996.<br />

ROHENKOHL, CLÁUDIA MASCARENHAS FERNANDES (ORG.). A CLÍNICA COM<br />

O BEBÊ. SÃO PAULO: CASA DO PSICÓLOGO, 2000.<br />

TAVARES, MARIA ANTUNES. “NOVOS DISPOSITIVOS DE ATENDIMENTO NA<br />

PEQUENA INFÂNCIA”. IN: TRANSFINITO, PSICANÁLISE: TRANSMISSÃO E<br />

CAUSA, BELO HORIZONTE: AUTÊNTICA, 2003<br />

TAVARES, MARIA ANTUNES. “A CLÍNICA E A INSERÇÃO SOCIAL NO<br />

ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES:<br />

MODELOS, POSSIBILIDADES E O TRABALHO EM EQUIPE"; P. 258, IN. GUERRA,<br />

ANDRÉIA MÁRIS CAMPOS E LIMA, NÁDIA LAGUARDIA DE (ORGS.), A CLÍNICA<br />

DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO NO DESENVOLVIMENTO, UMA<br />

CONTRIBUIÇÃO NO CAMPO DA PSICANÁLISE E DA SAÚDE MENTAL, BELO<br />

HORIZONTE: AUTÊNTICA-FUMEC, 2003.<br />

40


TAVARES, MARIA ANTUNES E FERREIRA, TÂNIA (ORGS.). “INTERVENÇÃO A<br />

TEMPO COM BEBÊS E SEUS OUTRO PRIMORDIAL: UMA NOVA PROPOSTA”. IN:<br />

A CRIANÇA E A SAÚDE MENTAL, ENLACES ENTRE A CLÍNICA E A POLÍTICA.<br />

BELO HORIZONTE: AUTÊNTICA, FUMEC, 2004.<br />

VIVES, JEAN-MICHEL. “TEXTO PARA INTRODUZIR A QUESTÃO DA PULSÃO<br />

INVOCANTE”, TRAD. JÚNIA MITRE HADDAD, REV. MARCO ANTÔNIO<br />

COUTINHO JORGE. [INÉDITO].<br />

VIGANO, CARLOS. “A CONSTRUÇÃO DO CASO CLÍNICO EM SAUDE MENTAL”.<br />

CONFERÊNCIA PROFERIDA NO SEMINÁRIO DE SAÚDE MENTAL, PSIQUIATRIA<br />

E PSICANÁLISE; NA AMMG, EM 20 DE AGOSTO DE 1997.<br />

VIVÉS, JEAN-MICHEL (ORG.). LES ENJEUX DE LA VOIX EN PSYCHANALYSE<br />

DANS ET HORS LA CURE. GRENOBLE: PRESSES UNIVERSITAIRE DE<br />

GRENOBLE, 2002.<br />

WINNICOTT, DONALD W. DA PEDIATRIA À PSICANÁLISE, OBRAS<br />

ESCOLHIDAS. RIO DE JANEIRO: IMAGO, 2000. COM UMA INTRODUÇÃO DE<br />

MASUD R. KHAN, PP. 11-54.<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!