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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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A renúncia <strong>de</strong> Araújo Pinho foi o ato <strong>de</strong>flagrador <strong>de</strong> uma estratégia ousada, que parecia a única<br />

saída para resistir à pressão do governo fe<strong>de</strong>ral. O plano foi elaborado por Rui. Consistia na<br />

convocação da Ass<strong>em</strong>bléia Estadual <strong>em</strong> uma cida<strong>de</strong> do interior, longe do alcance dos canhões e<br />

dos navios <strong>de</strong> guerra, sob controle <strong>de</strong> chefes aliados locais, com seus jagunços. O local escolhido<br />

foi Jequié. Segundo o próprio Rui, que tentava negar que a cida<strong>de</strong> fosse distante e isolada, o<br />

transporte da capital a Jequié levava “apenas” um dia e meio: primeiro, quatro horas <strong>de</strong> barco a<br />

Nazaré, <strong>de</strong>pois, 8 horas <strong>de</strong> tr<strong>em</strong> a Santa Inês, mais um trecho que <strong>de</strong>veria ser vencido a pé ou a<br />

força animal. Conforme Rui, esse pedaço final, se compunha <strong>de</strong> “14 léguas <strong>de</strong> bons caminhos, <strong>de</strong><br />

boas estradas, caminhos que qualquer peão daqueles sertões faz, s<strong>em</strong> cansaço, <strong>em</strong> uma noite”.<br />

Jequié também não tinha telégrafo, pois a linha era interrompida <strong>em</strong> Santa Inês. Tratava-se,<br />

seguramente, <strong>de</strong> um lugar r<strong>em</strong>oto, on<strong>de</strong> o governo estadual po<strong>de</strong>ria assegurar os resultados que<br />

o manteriam no po<strong>de</strong>r (OCRB, v.XXXIX, 1912, t.I, p.69, 160).<br />

A partir da convocação da Ass<strong>em</strong>bléia Estadual para Jequié, no primeiro dia <strong>de</strong> mandato do novo<br />

governador Aurélio Viana, os acontecimentos se precipitaram. Os seabristas da Câmara e do<br />

Senado Estadual, cada vez mais numerosos com o evi<strong>de</strong>nte fortalecimento do ministro, queriam<br />

manter a Ass<strong>em</strong>bléia <strong>em</strong> Salvador. Eles alegavam que a mudança <strong>de</strong> se<strong>de</strong> teria que partir dos<br />

parlamentares, e não do governador, como aconteceu. Começou, então, uma batalha jurídica,<br />

durante a qual os seabristas obtiveram do juiz fe<strong>de</strong>ral instalado na Bahia, Paulo Martins Fontes,<br />

um habeas corpus garantindo sua entrada no prédio da Câmara, que vinha sendo guardado<br />

pelas forças do governo. Foi esse o estopim do bombar<strong>de</strong>io.<br />

No dia 10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1912, os seabristas, li<strong>de</strong>rados pelo presi<strong>de</strong>nte do Senado Estadual <strong>em</strong><br />

exercício, o barão <strong>de</strong> São Francisco (que assumiu na ausência do cônego Galrão), marcaram uma<br />

reunião preparatória da Ass<strong>em</strong>bléia Estadual, que pretendiam fazer funcionar <strong>em</strong> Salvador à<br />

revelia do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> mudança para Jequié. O prédio da Câmara, on<strong>de</strong> a Ass<strong>em</strong>bléia <strong>de</strong>veria<br />

funcionar, estava fechado e cercado pela polícia. Os seabristas apelaram para o general Sotero<br />

<strong>de</strong> Meneses, para que ele fizesse cumprir a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> habeas corpus. O general <strong>de</strong>u um ultimato<br />

a Aurélio Viana: se o governador não liberasse o prédio, os militares entrariam <strong>em</strong> ação. Diante<br />

da resposta negativa, mandou distribuir o seguinte boletim:<br />

7ª região militar – O general Sotero <strong>de</strong> Meneses, inspetor da 7ª região militar, faz saber que, tendo<br />

o governo do Estado se recusado terminant<strong>em</strong>ente a obe<strong>de</strong>cer ao habeas corpus concedido pelo<br />

exmo sr. Juiz seccional, para que possam funcionar livr<strong>em</strong>ente, no edifício da Câmara dos<br />

Deputados, os congressistas convocados pelo exmo. sr. barão <strong>de</strong> São Francisco, presi<strong>de</strong>nte <strong>em</strong><br />

exercício do Senado, cumpre-lhe, <strong>em</strong> obediência à requisição do mesmo juiz fe<strong>de</strong>ral, aos po<strong>de</strong>res<br />

competentes da República, fazer respeitar e executar essa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> intervenção da força <strong>de</strong> seu<br />

comando, intervenção a que se dará início <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma hora (Gazeta do Povo, 17 jan. 1912).<br />

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