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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Alerta, baianos! Imitai aos heróis <strong>de</strong> Pernambuco, aquela porção <strong>de</strong> bravos que agora acabam <strong>de</strong><br />

dar o maior ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> civismo.<br />

Viva o povo baiano! (Gazeta do Povo, 17 nov. 1911).<br />

O candidato seabrista à intendência <strong>de</strong> Salvador, Júlio Viveiros Brandão, era o gerente da Linha<br />

Circular, uma das duas <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> bon<strong>de</strong> dos Guinle na capital baiana. A escolha <strong>de</strong>u marg<strong>em</strong><br />

a críticas dos adversários, que alertavam para o risco <strong>de</strong> Salvador se transformar num “Panamá<br />

municipal” 20 , com o açambarcamento dos serviços pela companhia. Segundo artigo do Correio<br />

da Manhã (RJ), reproduzido n’A Bahia (11 nov. 1911), os Guinle <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>ram mais <strong>de</strong> c<strong>em</strong><br />

contos <strong>de</strong> réis na eleição, preparando um “terrível assalto ao patrimônio do município e aos<br />

bolsos do contribuinte, enquanto não chega a vez <strong>de</strong> esten<strong>de</strong>r até os cofres do Estado e às<br />

riquezas naturais da Bahia os tentáculos famélicos da abominável pieuvre”. A metáfora do polvo<br />

(pieuvre) era novamente acionada para simbolizar o po<strong>de</strong>r sufocante das gran<strong>de</strong>s corporações,<br />

nessa etapa do capitalismo mundial.<br />

O adversário <strong>de</strong> Júlio Brandão era João Pedro dos Santos, lançado pelos marcelinistas com apoio<br />

dos severinistas. Segundo os seabristas, ele tinha apoio da Light e da Eclairage, ambas do grupo<br />

Light, <strong>de</strong> Farqhuar. A Gazeta do Povo (04 nov. 1911) <strong>de</strong>nunciou que as duas <strong>em</strong>presas estariam<br />

pressionando seus funcionários para votar no candidato, interessadas nas concessões públicas<br />

<strong>de</strong> energia, transporte e outros serviços. Como se vê, a disputa pela intendência <strong>de</strong> Salvador<br />

envolvia importantes interesses econômicos.<br />

A eleição municipal, realizada a 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro, foi motivo para a escalada das animosida<strong>de</strong>s. A<br />

apuração foi extr<strong>em</strong>amente tumultuada. A certa altura, o general Sotero <strong>de</strong> Meneses resolveu<br />

“acalmar os ânimos” passeando com um pelotão <strong>de</strong> cavalaria <strong>em</strong> frente à Câmara Municipal, o<br />

que foi interpretado como ameaça aos partidários <strong>de</strong> João Santos, pois o general era ligado aos<br />

seabristas. Estes, por sua vez, <strong>de</strong>nunciavam ações violentas da polícia estadual, reforçada por<br />

jagunços, mandados à capital por chefes governistas do interior. Cada um dos lados proclamou<br />

seu próprio inten<strong>de</strong>nte e Conselho Municipal, configurando uma “duplicata”. A pressão sobre o<br />

governo estadual era insuportável e, <strong>em</strong> 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro, o governador Araújo Pinho renunciou.<br />

Seu primeiro substituto legal, o cônego Manuel Leôncio Galrão, presi<strong>de</strong>nte do Senado Estadual,<br />

alegou probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para não assumir o cargo, que foi para as mãos do presi<strong>de</strong>nte da<br />

Câmara, o <strong>de</strong>putado estadual Aurélio Viana.<br />

20 Referência aos escândalos <strong>de</strong> suborno e <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> dinheiro que vieram à tona durante o processo <strong>de</strong> construção do Canal<br />

do Panamá por gran<strong>de</strong>s grupos capitalistas. Em 1911, o canal ainda não estava concluído.<br />

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