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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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capital baiana para receber uma baixela <strong>de</strong> prata. Os pretextos não disfarçavam a ameaça óbvia<br />

sobre o governo estadual. O clima <strong>de</strong> tensão se espalhou pela cida<strong>de</strong>. A Bahia (24 mar.1911)<br />

publicou um soneto jocoso, que se revelaria profético:<br />

Ave São Marcelo<br />

Vai servir afinal o forte S. Marcelo<br />

Servir <strong>de</strong> tribunal para a Bahia...<br />

Já não é mais das horas o martelo<br />

Com a sua carunchosa artilharia<br />

Ele que estava ali qual cogumelo<br />

E que inútil a todos parecia,<br />

R<strong>em</strong>oçará, entrando ativo e belo,<br />

Do Pro-nobis na pân<strong>de</strong>ga arrelia<br />

Assim diz<strong>em</strong> os moços da Gazeta,<br />

Pintando a coisa seriamente preta,<br />

Fazendo um dreadnought do <strong>em</strong>padão...<br />

Reviverão os jovens <strong>de</strong>mocratas<br />

A velha frase chata entre as mais chatas:<br />

O direito na boca do canhão! 19<br />

Rui Barbosa estava, na época, passando uma t<strong>em</strong>porada <strong>em</strong> São Paulo, mas era informado sobre<br />

a crise baiana pelo filho, o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Alfredo Rui. A correspondência entre os dois dá uma<br />

idéia das dificulda<strong>de</strong>s daquele momento político. Em 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1909, Alfredo Rui avaliava<br />

que era necessário “estabelecer na Bahia um modus vivendi com o Seabra”, que pu<strong>de</strong>sse evitar a<br />

intervenção no estado, “já tão enfraquecido pela política <strong>de</strong>sorientada e pusilânime dos nossos<br />

amigos políticos locais”. O filho <strong>de</strong> Rui informava que o general Sotero <strong>de</strong> Meneses, chefe da<br />

guarnição militar na Bahia, era seabrista fervoroso e prometia cumprir “qualquer or<strong>de</strong>m à risca”,<br />

pois se sentiria feliz <strong>em</strong> “<strong>de</strong>monstrar ao seu amigo Seabra o quanto lhe era reconhecido e<br />

grato”. Alfredo Rui consi<strong>de</strong>rava melhor negociar uma solução, pois o confronto armado levaria à<br />

“perda total e completa do nosso predomínio no estado”. Ele <strong>de</strong>clarou, ainda, não acreditar que<br />

Seabra <strong>de</strong>sejasse realmente a intervenção. Em sua opinião, o ministro preferia “conseguir o que<br />

almeja pelos meios naturais” (ARB/CRUPF 141.1/1 12/03/1911, grifo no original).<br />

Seabra propunha aos governistas baianos que lhe ce<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> um terço das ca<strong>de</strong>iras na Câmara<br />

Estadual e uma vaga no Senado Estadual. Queria, também, segundo Alfredo Rui, que a bancada<br />

baiana na Câmara Fe<strong>de</strong>ral não o hostilizasse, n<strong>em</strong> ao marechal Hermes, “afim <strong>de</strong> que ele, com<br />

Pernambuco, Bahia e São Paulo, dê o tombo no Pinheiro”. Já se vê que Seabra buscava cooptar o<br />

19 O forte <strong>de</strong> São Marcelo era acionado toda noite para dar o “tiro das nove”, avisando da hora <strong>de</strong> dormir. Por isso, ele era o<br />

martelo das horas. “Pro-nobis” era como os adversários chamavam os seabristas, como referência aos benefícios que eles<br />

buscavam na política. “Empadão” foi o apelido dado ao forte <strong>de</strong> São Marcelo por D. Pedro II, por sua forma circular e<br />

bojuda. “Dreadnought”, ou encouraçado, eram os po<strong>de</strong>rosos novos navios <strong>de</strong> guerra da Marinha brasileira.<br />

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