A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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que <strong>de</strong>la viv<strong>em</strong>os, haurindo-lhe nossas forças, e que já mereceu as atenções muito particulares<br />
do presi<strong>de</strong>nte do partido, quando ocupou o cargo <strong>de</strong> ministro do interior no ben<strong>em</strong>érito<br />
governo do Sr. Rodrigues Alves”. O jornalista referia-se aos projetos do ex-ministro Seabra para<br />
construção <strong>de</strong> casas populares, mas o que sobressai no texto é a nítida i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> classe:<br />
“todos nós”, burguesia in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> coloração partidária, precisamos nos preocupar com<br />
“eles”, os operários, pelo b<strong>em</strong> da estabilida<strong>de</strong> social.<br />
Dois t<strong>em</strong>as nacionais aparec<strong>em</strong> no programa do partido, apesar <strong>de</strong> seu alcance ser meramente<br />
estadual. Um <strong>de</strong>les era a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promulgação do Código Civil, o que parece ter sido uma<br />
alfinetada <strong>em</strong> Rui, a qu<strong>em</strong> se atribuía o atraso da promulgação <strong>de</strong>ssa lei. Mas havia também<br />
uma referência ao “<strong>de</strong>senvolvimento dos processos para a <strong>de</strong>fesa militar do país”, que se<br />
relacionava a questões políticas mais concretas, pois Seabra vinha buscando apoio dos militares<br />
para sustentar sua ascensão ao governo da Bahia, como se verá adiante.<br />
Apesar da presença <strong>de</strong> comerciantes e trabalhadores, a linha <strong>de</strong> frente do Partido D<strong>em</strong>ocrata<br />
era composta por “doutores” <strong>de</strong> origens variadas. Os primos Antônio Ferrão Muniz <strong>de</strong> Aragão<br />
(Antônio Muniz) e Antônio Muniz Sodré <strong>de</strong> Aragão (Muniz Sodré), por ex<strong>em</strong>plo, tinham longa<br />
genealogia nos engenhos do Recôncavo. Ernesto Simões Filho vinha <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> posses,<br />
mas s<strong>em</strong> evocações <strong>de</strong> nobreza: seu pai era um coronel <strong>de</strong> Cachoeira, que se tornou proprietário<br />
da próspera farmácia Galdino, <strong>em</strong> Salvador, pelo casamento. Otávio Mangabeira tinha poucos<br />
recursos financeiros, mas bons contatos sociais, situação parecida com a <strong>de</strong> Seabra, quando<br />
iniciou sua carreira. Em comum, além do grau <strong>de</strong> doutor, todos esses el<strong>em</strong>entos centrais do<br />
seabrismo eram jovens: <strong>em</strong> 1910, Antônio Muniz tinha 35 anos; Muniz Sodré, 29; Simões Filho e<br />
Otávio Mangabeira, 24. Eram homens <strong>de</strong> uma nova geração, que se iniciava na política pelas<br />
mãos do experiente Seabra, então com 55 anos. Os adversários os chamavam, ironicamente, a<br />
“petizada” ou os “diabretes” <strong>de</strong> Seabra (A Bahia, 03 set. 1909).<br />
A <strong>de</strong>finição dos rumos da política baiana <strong>de</strong>pendia da força do governo fe<strong>de</strong>ral. Em outubro <strong>de</strong><br />
1910, a balança parecia pen<strong>de</strong>r para o lado <strong>de</strong> Severino Vieira, pois seu candidato a uma vaga <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral pela Bahia, Augusto <strong>de</strong> Freitas (cunhado e <strong>de</strong>safeto <strong>de</strong> Seabra) foi reconhecido<br />
no Congresso. Seabra, que <strong>de</strong>fendia a anulação <strong>de</strong>ssa eleição (o que mostra que ele não tinha<br />
esperanças <strong>de</strong> reconhecer seu candidato, o vianista José Eduardo Freire <strong>de</strong> Carvalho Filho),<br />
sofreu essa <strong>de</strong>rrota e per<strong>de</strong>u o posto <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r do governo na Câmara.<br />
Menos <strong>de</strong> um mês <strong>de</strong>pois, no entanto, na posse do presi<strong>de</strong>nte Hermes (15 nov.1910), Seabra foi<br />
o único baiano escolhido para compor o ministério. A explicação para essa aparente contradição<br />
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