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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Introdução<br />

Há algum t<strong>em</strong>po, quando folheava apressadamente um conjunto <strong>de</strong> fotografias antigas, na<br />

rotina s<strong>em</strong>pre atarefada e estimulante do meu trabalho <strong>de</strong> pesquisadora do Centro <strong>de</strong> M<strong>em</strong>ória<br />

da Bahia (Fundação Pedro Calmon), notei que um senhor ao meu lado se <strong>de</strong>bruçava sobre as<br />

imagens. Era uma figura simpática, conhecida <strong>de</strong> todos por lá, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma família<br />

tradicional da velha Bahia. Aproveitando seu interesse, <strong>de</strong>safiei-o a i<strong>de</strong>ntificar um dos indivíduos<br />

retratados: um hom<strong>em</strong> calvo, s<strong>em</strong> bigo<strong>de</strong>s ou barba, muito <strong>em</strong>aciado e encurvado pela ida<strong>de</strong>,<br />

situado no centro da foto, próximo a alguém que ambos sabíamos ser Otávio Mangabeira. Meu<br />

interlocutor não reconheceu o ancião e se surpreen<strong>de</strong>u quando eu lhe falei que era J. J. Seabra.<br />

Tomando a imag<strong>em</strong> nas mãos para ver melhor, fez o seguinte comentário: “Realmente, é<br />

Seabra... está diferente, envelhecido, mas ainda dá para ver a malda<strong>de</strong> nos olhos <strong>de</strong>le”.<br />

Esse episódio cotidiano, ocorrido <strong>em</strong> 2006, é apenas um ex<strong>em</strong>plo do sentimento que a figura do<br />

político José Joaquim Seabra (1855-1942) ainda é capaz <strong>de</strong> provocar na Bahia, seis décadas após<br />

a sua morte. Governador da Bahia por dois mandatos, senador, <strong>de</strong>putado, duas vezes ministro,<br />

Seabra percorreu mais <strong>de</strong> cinqüenta anos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> política, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Império até os últimos<br />

anos do Estado Novo. Durante essa longa e aci<strong>de</strong>ntada trajetória, <strong>de</strong>spertou <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s doses o<br />

amor e o ódio dos seus cont<strong>em</strong>porâneos.<br />

Sua m<strong>em</strong>ória, no entanto, parece concentrar, atualmente, apenas características negativas. De<br />

um lado, há os que o consi<strong>de</strong>ram uma espécie <strong>de</strong> déspota truculento. Para essas pessoas, <strong>em</strong><br />

geral <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> mais avançada, o nome Seabra costuma evocar imediatamente as imagens do<br />

bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> Salvador, o palácio do governo <strong>em</strong> chamas, os canhões do Forte <strong>de</strong> São Marcelo<br />

surpreen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente voltados para a cida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. De outro lado, no meio<br />

universitário, novas gerações i<strong>de</strong>ntificam Seabra como o símbolo do urbanismo <strong>de</strong>struidor da<br />

velha Salvador, o hom<strong>em</strong> da civilização à força, da higiene disciplinadora e perversa, que<br />

segregava pobres e negros para criar o ambiente asséptico <strong>de</strong>sejado pela burguesia <strong>em</strong><br />

ascensão. A força <strong>de</strong>ssas associações é tanta que muitos põ<strong>em</strong> na conta das <strong>de</strong>struições<br />

seabristas fatos que ocorreram <strong>de</strong>pois do fim do seu governo, como a traumática <strong>de</strong>molição da<br />

igreja da Sé, realizada <strong>em</strong> 1933, já no governo Juraci Magalhães.<br />

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