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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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essa candidatura fosse exclusivamente militar. Dentre os partidários <strong>de</strong> Hermes, havia um<br />

subconjunto <strong>de</strong> militares, que viria a entrar <strong>em</strong> conflito com a parte civil do hermismo quando da<br />

execução das futuras salvações nacionais. Um bom ex<strong>em</strong>plo é o caso <strong>de</strong> Pernambuco, on<strong>de</strong>, <strong>em</strong><br />

1911, um hermista militar (general Dantas Barreto) viria a <strong>de</strong>stronar um hermista civil (Rosa e<br />

Silva), <strong>em</strong> nome da <strong>de</strong>rrubada das oligarquias.<br />

O perfil <strong>de</strong> Rui Barbosa e <strong>de</strong> Hermes da Fonseca, o relativo equilíbrio das forças, o recurso a<br />

novos t<strong>em</strong>as, a promoção <strong>de</strong> uma campanha eleitoral diferente – tudo isso fez com que a eleição<br />

<strong>de</strong> 1910 proporcionasse uma mobilização política fora do comum, inclusive na Bahia. Não só o<br />

civilismo, mas também o hermismo agitou as ruas <strong>de</strong> Salvador com seus rituais políticos, como<br />

uma passeata realizada pelos severinistas (24 jul.1909). No dia da chegada <strong>de</strong> Rui (14 jan.1910),<br />

cada passo do cortejo civilista era acompanhado por gritos dos partidários <strong>de</strong> Severino e <strong>de</strong><br />

Seabra, aclamando seus respectivos chefes e o marechal Hermes, candidato <strong>de</strong> ambos. Segundo<br />

A Bahia, um dos grupos era li<strong>de</strong>rado por um sobrinho do general Siqueira <strong>de</strong> Meneses, inspetor<br />

da 7ª Região Militar, sediada na Bahia. O próprio Rui lamentou a presença <strong>de</strong> hermistas do lado<br />

<strong>de</strong> fora do Politeama, tentando atrapalhar a leitura <strong>de</strong> sua plataforma.<br />

Na batalha simbólica, travada principalmente nos discursos públicos e nos jornais, os dois lados<br />

acionavam as referências difusas no imaginário. Se os marcelinistas louvavam <strong>em</strong> Rui o salvador<br />

da pátria, os seabristas recorriam a um t<strong>em</strong>a mais propriamente baiano: a Bahia como mãe<br />

amorosa e Rui como filho ingrato, que nunca se aproveitava das altas posições que ocupava no<br />

plano fe<strong>de</strong>ral para levar benefícios à sua terra natal:<br />

Que importa à mãe amante lhe tenha dado o <strong>de</strong>stino um filho glorioso, se este fecha o coração e o<br />

afeto como a dizer-lhe: não faço caso <strong>de</strong> ti, porque <strong>de</strong> ti não preciso? Que orgulho po<strong>de</strong> ter a mãe<br />

faminta pelas glórias do filho potentado que, ainda cheio <strong>de</strong> ouro e <strong>de</strong> valor, não se l<strong>em</strong>brou um só<br />

dia <strong>de</strong> que havia misérias e amarguras na mansidão do seu primeiro lar? Melhor, <strong>de</strong> fato, seria ao<br />

sentimento materno o filho humil<strong>de</strong>, cujos extr<strong>em</strong>os a acarinhass<strong>em</strong> com amor e que, marchando<br />

pelas estradas da vida, jamais per<strong>de</strong>sse <strong>de</strong> vista o berço <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saiu (Gazeta do Povo, 11<br />

jan.1910).<br />

Em Salvador, a atmosfera carregada <strong>de</strong> mobilização política da época da campanha civilista se<br />

intensificou com a ocorrência <strong>de</strong> um tumulto urbano <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções. Em 5 <strong>de</strong> outubro<br />

<strong>de</strong> 1909, uma multidão enfurecida com o atropelamento <strong>de</strong> um cego por um bon<strong>de</strong> da Light<br />

<strong>de</strong>predou veículos, entrou <strong>em</strong> confronto com a polícia e com funcionários da companhia. Um<br />

engenheiro estrangeiro atirou <strong>de</strong> revólver contra a multidão, que reagiu a pedradas. A estação<br />

do Gasômetro foi palco <strong>de</strong> uma batalha sangrenta, da qual saiu morto um hom<strong>em</strong>, por arma <strong>de</strong><br />

fogo. A maioria dos revoltosos era formada por carregadores e pescadores do Cais Dourado,<br />

on<strong>de</strong> ocorreu o atropelamento. Segundo a Gazeta do Povo (06 out. 1909), era a primeira vez que<br />

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