A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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males históricos, inerentes à própria constituição política do país, tanto no âmbito fe<strong>de</strong>ral como<br />
no estadual e no local. A questão estava no ponto <strong>de</strong> vista. Para os <strong>de</strong>fensores da centralização<br />
(no caso, os hermistas), o probl<strong>em</strong>a maior estava nos <strong>de</strong>smandos das oligarquias, enquanto os<br />
partidários da <strong>de</strong>scentralização (os civilistas) t<strong>em</strong>iam o autoritarismo do po<strong>de</strong>r central e a perda<br />
<strong>de</strong> autonomia das unida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas.<br />
É b<strong>em</strong> verda<strong>de</strong> que essas tomadas <strong>de</strong> posição não eram radicais. Algumas vezes, eram ditadas<br />
pelas circunstâncias e aparent<strong>em</strong>ente contraditórias. A família Acioli, que dominava o governo<br />
do Ceará, por ex<strong>em</strong>plo, não tinha qualquer interesse <strong>em</strong> uma centralização que tirasse po<strong>de</strong>r<br />
das oligarquias. No entanto, viu-se obrigada a apoiar o candidato hermista, que lhe parecia mais<br />
forte, para não correr o risco <strong>de</strong> ficar na oposição ao próximo governo fe<strong>de</strong>ral. Da mesma forma,<br />
os castilhistas gaúchos que sustentavam a candidatura Hermes não queriam uma centralização<br />
que os impedisse <strong>de</strong> manter, <strong>em</strong> seu estado, um sist<strong>em</strong>a político diferente do nacional. Por isso,<br />
fizeram questão <strong>de</strong> inserir no programa do marechal a manutenção integral da Constituição <strong>de</strong><br />
1891, com seu fe<strong>de</strong>ralismo flexível, aberto às mais variadas interpretações.<br />
O polêmico artigo 6º da Constituição <strong>de</strong> 1891, por ex<strong>em</strong>plo, visava proibir a intervenção fe<strong>de</strong>ral<br />
nos estados, mas abria exceções para “manter a or<strong>de</strong>m e a tranqüilida<strong>de</strong>” e “cumprir leis e<br />
sentenças judiciais”, entre outras, que o tornavam fácil <strong>de</strong> burlar. Em sua plataforma civilista, Rui<br />
<strong>de</strong>nunciou que, para legalizar uma intervenção, bastava que o governo fe<strong>de</strong>ral arranjasse uma<br />
<strong>de</strong>cisão judicial a seu favor, o que não era difícil, diante da <strong>de</strong>pendência do Judiciário. Por isso,<br />
apesar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar necessária a intervenção <strong>em</strong> certos casos, o senador baiano pedia maior<br />
clareza da lei a respeito. Esse era um dos aspectos da revisão constitucional que Rui <strong>de</strong>fendia,<br />
<strong>em</strong>bora ele enfatizasse que sua maior preocupação, no momento, não era com a reforma da<br />
Constituição <strong>de</strong> 1891 (seus aliados paulistas não eram favoráveis a mudanças, já que o texto<br />
original os beneficiava <strong>em</strong> vários aspectos), mas sim com a <strong>de</strong>fesa da or<strong>de</strong>m civil, diante do que<br />
ele consi<strong>de</strong>rava uma ameaça militar.<br />
O caráter <strong>em</strong>inent<strong>em</strong>ente militar da candidatura Hermes é, hoje, controverso. Autores como<br />
Bóris Fausto (1995) e José Murilo <strong>de</strong> Carvalho (2005) <strong>de</strong>stacaram que a viabilização do seu nome<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u principalmente da ação <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos civis, dos chefes estaduais tradicionais li<strong>de</strong>rados<br />
por Pinheiro Machado. Nada haveria <strong>de</strong> mais fundamentalmente oligárquico do que isso. S<strong>em</strong><br />
discordar <strong>de</strong> que esse foi o fator principal na viabilização da candidatura, Cláudia Viscardi (2000,<br />
p.195) observa, no entanto, que havia um componente militar na orig<strong>em</strong> da escolha do ministro<br />
da Guerra. Isso não quer dizer que todo o Exército estivesse engajado na campanha, n<strong>em</strong> que<br />
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