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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Referências religiosas misturavam-se a imagens patrióticas para reforçar a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Rui como<br />

salvador da Pátria, s<strong>em</strong> o sentido pejorativo que a expressão tomaria mais tar<strong>de</strong>. A leitura da<br />

plataforma ocorreu <strong>em</strong> uma cerimônia que seguia as regras da época. O camarote nobre foi<br />

reservado à família do governador e à esposa <strong>de</strong> Rui. As famílias eram conduzidas aos camarotes<br />

<strong>de</strong> primeira e segunda classe por m<strong>em</strong>bros do Partido Republicano da Bahia, que os recebiam na<br />

porta do Politeama. A gran<strong>de</strong> massa <strong>de</strong> povo, que aguardava do lado <strong>de</strong> fora, entrou <strong>de</strong> forma<br />

menos elegante, aos <strong>em</strong>purrões e cotoveladas, assim que os portões se abriram. O público já<br />

estava acomodado quando uma comissão <strong>de</strong> políticos, precedida por uma banda <strong>de</strong> música, saiu<br />

<strong>em</strong> direção ao palacete das Mercês para buscar a estrela da noite. Rui entrou no recinto sob<br />

uma chuva <strong>de</strong> rosas, ao som do hino nacional (A Bahia, 16 jan. 1910).<br />

A plataforma era um documento extenso e complexo que, se não trazia uma <strong>de</strong>scrição clara <strong>de</strong><br />

suas propostas <strong>de</strong> governo, explicitava aspectos relevantes do seu pensamento político (OCRB,<br />

1910, v.XXXVII, t.I, p.11-108). Para a Bahia, naquele momento, o ponto <strong>de</strong> maior interesse<br />

referia-se às oligarquias e ao intervencionismo fe<strong>de</strong>ral. Defensor da autonomia estadual, Rui<br />

minimizava o probl<strong>em</strong>a das oligarquias, consi<strong>de</strong>rando-as uma conseqüência in<strong>de</strong>sejada, espécie<br />

<strong>de</strong> efeito colateral da “s<strong>em</strong>i-soberania” adquirida pelas províncias com o mo<strong>de</strong>lo fe<strong>de</strong>rativo. “A<br />

corrupção das melhores coisas as <strong>de</strong>genera nas piores”, comentou. Ele praticamente limitava o<br />

probl<strong>em</strong>a das oligarquias aos estados do Norte (<strong>de</strong>finição que, no caso, excluía a Bahia) e sugeria<br />

uma solução política, s<strong>em</strong> recurso às armas, para acabar com elas. O governo fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>veria,<br />

simplesmente, parar <strong>de</strong> fornecer os benefícios que as sustentavam no po<strong>de</strong>r: “não intervenham,<br />

mas não favoreçam, não invadam a esfera dos governos estaduais, mas também não os cubram<br />

da sua boa sombra. Cesse, <strong>em</strong> suma, a União <strong>de</strong> ser o guarda-costas das oligarquias locais e<br />

estas, <strong>de</strong>ntro <strong>em</strong> breve, expirarão naturalmente, asfixiadas na sua impopularida<strong>de</strong>” (OCRB,<br />

1910, XXXVII, t.I, p.43-45).<br />

Teoricamente, Rui estava certo. Era realmente a conivência do governo fe<strong>de</strong>ral que sustentava<br />

os grupos estaduais no po<strong>de</strong>r. Mas, a recíproca também era verda<strong>de</strong>ira, pois o po<strong>de</strong>r central<br />

teria dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> se manter estável caso contrariasse a força dos grupos que dominavam os<br />

estados mais po<strong>de</strong>rosos. Não era, assim, tão fácil solucionar esse probl<strong>em</strong>a.<br />

Os protestos contra o intervencionismo fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> um lado, e as <strong>de</strong>núncias das oligarquias, <strong>de</strong><br />

outro, revelavam uma tensão entre centralização e <strong>de</strong>scentralização. Os probl<strong>em</strong>as apontados,<br />

<strong>de</strong> parte a parte, eram similares: abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, apropriação <strong>de</strong> recursos públicos, manipulação<br />

das eleições, clientelismo, fisiologismo, exclusão da maioria da população, entre outros. Eram<br />

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