A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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O navio trazendo o candidato chegou à enseada por volta das 14h, mas, entre evoluções navais,<br />
discursos, brin<strong>de</strong>s e apresentações musicais a bordo, Rui <strong>de</strong>morou quase cinco horas para <strong>de</strong>scer<br />
à Navegação Baiana. Estava, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, cansado, mas ainda teria que enfrentar o préstito<br />
que se formou para acompanhá-lo ao palacete das Mercês, on<strong>de</strong> ficaria hospedado. Rui preferiu<br />
fazer o trajeto <strong>de</strong> carro, um landau disponibilizado pelo governador. Mesmo assim, o cortejo<br />
seguia lentamente, com interrupções periódicas para discursos, pois s<strong>em</strong>pre havia um aspirante<br />
a Rui Barbosa ansioso por mostrar seu talento oratório a partir <strong>de</strong> alguma janela. Na la<strong>de</strong>ira da<br />
Montanha, um grupo mais animado quis tomar o lugar da parelha <strong>de</strong> cavalos que puxavam o<br />
carro, só <strong>de</strong>sistindo diante dos apelos do próprio Rui. Ao chegar ao <strong>de</strong>stino, o homenageado<br />
estava exausto <strong>de</strong>mais para discursar e pediu que o <strong>de</strong>putado L<strong>em</strong>os Brito agra<strong>de</strong>cesse, <strong>em</strong> seu<br />
nome, à multidão (A Bahia, 15 jan.1910).<br />
Como <strong>de</strong> praxe, após a parte aberta da cerimônia, seguiu-se um ritual exclusivo, um jantar no<br />
palacete das Mercês. O governador Araújo Pinho não economizou elogios ao homenageado,<br />
chegando a consi<strong>de</strong>rá-lo sobre-humano ao dizer que “o conselheiro Rui Barbosa, <strong>de</strong>stacando-se<br />
das condições normais da espécie humana, subiu tanto, tão alto, que é o ponto <strong>de</strong> convergência<br />
das vistas admiradas <strong>de</strong> todos os povos do mundo” (A Bahia, 16 jan.1910). Rui, já recuperado do<br />
esforço diurno, agra<strong>de</strong>ceu com um discurso e um brin<strong>de</strong>.<br />
O candidato civilista passou seis dias <strong>em</strong> Salvador. Visitou a Associação Comercial, o Banco da<br />
Bahia, o Conselho Municipal, a Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina e a Escola Comercial. O ponto alto da<br />
programação foi a conferência realizada no Politeama Baiano, no dia 15 <strong>de</strong> janeiro, na qual o<br />
candidato proferiu sua plataforma eleitoral, ansiosamente aguardada. Na convenção civilista (22<br />
ago. 1909), a inexistência da plataforma servira <strong>de</strong> pretexto para a <strong>de</strong>bandada do grupo gaúcho<br />
<strong>de</strong> Assis Brasil. Des<strong>de</strong> então, Rui vinha sendo pressionado para apresentar esse documento. Na<br />
véspera da conferência, os marcelinistas <strong>de</strong>stacaram a honra que Rui fazia à Bahia ao proclamar<br />
aqui sua plataforma, tratada com o respeito <strong>de</strong> uma “revelação” sagrada:<br />
Debal<strong>de</strong> lhe solicitaram essa incomparável distinção e honraria o cultíssimo povo da capital da<br />
República e as populações libérrimas do grandioso Estado <strong>de</strong> São Paulo, <strong>em</strong> cujos lábios seu nome<br />
laureado anda como o do salvador da Pátria, como o Messias do governo civil, neste momento<br />
soleníssimo <strong>em</strong> que o tigre do militarismo (...) à s<strong>em</strong>elhança da fera do Apocalipse, afia, <strong>de</strong>sten<strong>de</strong> e<br />
ensaia as garras aduncas (...), para estraçalhar-nos as energias morais e as liberda<strong>de</strong>s civis<br />
nobr<strong>em</strong>ente conquistadas, entregando-nos (...) à sanha incorporadora das gran<strong>de</strong>s potências<br />
mundiais, das nações imperialistas do mundo cont<strong>em</strong>porâneo (...).<br />
A Bahia <strong>de</strong>veria ser o Sinai do Moisés brasileiro. Do alto <strong>de</strong>sta montanha gloriosa <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>scer,<br />
com as tábuas da Lei, os mandamentos sagrados da <strong>de</strong>mocracia que saneia, purifica e regenera (A<br />
Bahia, 14 jan.1909).<br />
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