A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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As mudanças no panorama <strong>de</strong>finiram a questão para os governistas baianos. José Marcelino e<br />
Araújo Pinho tornaram-se pilares da candidatura Rui. Seabra a<strong>de</strong>riu ao hermismo, <strong>em</strong>bora s<strong>em</strong><br />
romper, num primeiro momento, com os marcelinistas. Continuava jurando lealda<strong>de</strong> ao governo<br />
baiano, pedindo licença para divergir na questão presi<strong>de</strong>ncial. Equilibrou-se nessa fina linha,<br />
tentando atrair para seu lado o governador Araújo Pinho, até agosto <strong>de</strong> 1909, quando oficializou<br />
o rompimento. Os severinistas também a<strong>de</strong>riram ao hermismo com entusiasmo. Era esperado<br />
que Severino Vieira agarrasse a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoiar essa candidatura, que tinha gran<strong>de</strong>s<br />
probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vitória e era inacessível aos adversários marcelinistas. A Bahia passou, então a<br />
ser palco <strong>de</strong> uma disputa entre severinistas e seabristas para saber qu<strong>em</strong> carregava mais alto a<br />
ban<strong>de</strong>ira do hermismo no estado Apesar <strong>de</strong> lutar<strong>em</strong> por um candidato nacional comum, contra<br />
um inimigo local comum, os dois grupos nunca se uniram.<br />
A chamada “campanha civilista” é um dos períodos mais festejados da trajetória política <strong>de</strong> Rui.<br />
De forma nunca vista nas eleições presi<strong>de</strong>nciais até então, o candidato baiano saiu <strong>em</strong> excursão<br />
eleitoral, proferindo conferências <strong>em</strong> três estados (São Paulo, Bahia e Minas Gerais), além do<br />
Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Eram viagens exaustivas, especialmente para o sexagenário Rui, que nunca teve<br />
uma saú<strong>de</strong> muito boa. Ele compensava, no entanto, com uma força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>nte,<br />
que o permitiu cumprir uma maratona cívica. No trajeto <strong>de</strong> tr<strong>em</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro a São Paulo,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, ele teve que parar para receber homenagens <strong>em</strong> seis cida<strong>de</strong>s intermediárias, no<br />
<strong>de</strong>curso <strong>de</strong> um só dia (14 <strong>de</strong>z.1909). Dias <strong>de</strong>pois, na estação <strong>de</strong> Campinas, pediu <strong>de</strong>sculpas por<br />
não po<strong>de</strong>r discursar muito, pois precisava poupar a voz, “como um tenor <strong>em</strong> véspera <strong>de</strong> estréia”<br />
(OCRB, 1909, v.XXXIV, t.I, p.233). Estava claro que o esforço da campanha era gran<strong>de</strong>, mas, <strong>em</strong><br />
contrapartida, a presença <strong>de</strong> Rui nessas cida<strong>de</strong>s, repercutida pelos jornais civilistas, levou a uma<br />
mobilização também inédita <strong>em</strong> campanhas eleitorais no país.<br />
Sua chegada à Bahia (14 jan. 1910) foi consi<strong>de</strong>rada uma “apoteose” pelos civilistas da terra. Era a<br />
primeira vez que um baiano era candidato à presidência da República, e não se tratava <strong>de</strong> um<br />
baiano comum: era Rui Barbosa, a <strong>Águia</strong> <strong>de</strong> Haia, herói da inteligência e da cultura nacional. Para<br />
as elites baianas, frustradas com a <strong>de</strong>cadência política e econômica do estado, o sucesso <strong>de</strong> Rui<br />
era uma forte injeção <strong>de</strong> auto-estima. Mas, a celebração da visita do filho ilustre não foi restrita<br />
apenas aos grupos mais privilegiados. Como já se comentou, alguns rituais políticos envolviam a<br />
maior parte da população da cida<strong>de</strong>. Isso foi especialmente verda<strong>de</strong>iro no dia da chegada <strong>de</strong> Rui.<br />
O comércio fechou as portas, o expediente nas repartições públicas foi suspenso. As ruas por<br />
on<strong>de</strong> ele <strong>de</strong>veria passar foram enfeitadas e dotadas <strong>de</strong> iluminação especial. Tudo isso provocava<br />
um impacto no cotidiano da população, que viveu um dia <strong>de</strong> festa (A Bahia, 15 jan.1909).<br />
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