A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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uniam para combater a supr<strong>em</strong>acia paulista, visível nos três primeiros governos civis. Desta vez,<br />
porém, o acordo não incluía o senador Rui Barbosa. O nome <strong>de</strong> Rui chegou a ser citado <strong>em</strong> uma<br />
reunião convocada por Pinheiro para <strong>de</strong>finir o candidato do Bloco. Com a votação <strong>em</strong>patada<br />
entre Rui e Hermes, o gaúcho <strong>de</strong>legou o “voto <strong>de</strong> minerva” ao chefe pernambucano Francisco<br />
Rosa e Silva, que sabia ser <strong>de</strong>safeto do baiano. Após votar no marechal, selando a escolha do<br />
Bloco, Rosa e Silva ainda comentou, com ironia: “Com Rui, n<strong>em</strong> para o céu!”<br />
Não era da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rui Barbosa aceitar essa exclusão apaticamente. Três dias antes do<br />
lançamento da candidatura Hermes, veio a público uma carta sua combatendo-a frontalmente.<br />
Rui alegava que, como o marechal não tinha passado político, sua candidatura refletia apenas<br />
sua condição <strong>de</strong> militar. Tratava-se, então, segundo ele, <strong>de</strong> um retrocesso do sist<strong>em</strong>a político<br />
brasileiro, que há t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong>ixara os governos militares da transição republicana (Deodoro e<br />
Floriano) <strong>em</strong> direção a governos civis. Esse importante documento, conhecido como a “carta <strong>de</strong><br />
bronze”, porque correligionários <strong>de</strong> Rui quiseram perenizá-lo nesse material, instituiu um novo<br />
mote para a disputa eleitoral. A partir daí, <strong>em</strong> reação ao militarismo, supostamente encarnado<br />
por Hermes da Fonseca, <strong>em</strong>ergiria o civilismo, que teria como candidato, a partir <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> agosto<br />
<strong>de</strong> 1909, o próprio Rui Barbosa.<br />
Pela primeira vez na República, duas candidaturas presi<strong>de</strong>nciais apresentavam-se ao confronto<br />
com certo peso político. Do lado hermista, alinhavam-se os grupos dominantes <strong>de</strong> Minas Gerais,<br />
Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>mais estados – exceto São Paulo, Bahia e, até certa altura, Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro – além <strong>de</strong> setores do Exército. Do lado oposto, que se chamaria civilista, os partidos<br />
governistas <strong>de</strong> São Paulo e Bahia, além das oposições <strong>de</strong> diversos estados. Em Minas Gerais,<br />
oficialmente hermista, <strong>de</strong>savenças internas puseram grupos relevantes do lado civilista. Havia,<br />
ainda, uma expectativa <strong>de</strong> apoio do Catete, inclinado a se compor com Rui e os paulistas, após o<br />
fracasso da candidatura Davi Campista. A morte <strong>de</strong> Afonso Pena (14 jun.1909) extinguiu essa<br />
possibilida<strong>de</strong> 16 . O novo presi<strong>de</strong>nte, Nilo Peçanha, mostrou-se favorável ao hermismo, <strong>em</strong>bora<br />
prometesse neutralida<strong>de</strong>. Quando a convenção civilista escolheu Rui Barbosa como candidato,<br />
suas chances <strong>de</strong> vitória já eram relativamente pequenas.<br />
16 No Senado, Rui atribuiu o falecimento súbito <strong>de</strong> Afonso Pena a um “traumatismo moral” provocado pela candidatura <strong>de</strong><br />
Hermes, seu ex-ministro da Guerra. Segundo o senador baiano, os médicos que aten<strong>de</strong>ram o presi<strong>de</strong>nte lhe garantiram<br />
que todos os seus órgãos estavam “ilesos”. Os hermistas rejeitaram a afirmação e chegaram a acusar Rui <strong>de</strong> conspirar<br />
contra a vida <strong>de</strong> Nilo Peçanha, já que, como vice-presi<strong>de</strong>nte do Senado, o baiano seria o sucessor legal <strong>em</strong> caso <strong>de</strong> morte<br />
do novo presi<strong>de</strong>nte (Gazeta do Povo, 17 jun. 1909). Essas acusações mútuas mostram como os ânimos estavam exaltados<br />
na campanha presi<strong>de</strong>ncial.<br />
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