A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Apesar da argumentação baseada <strong>em</strong> princípios, e das negativas <strong>de</strong> que fosse candidato, era<br />
óbvio que Rui protestava <strong>em</strong> causa própria. O senador baiano era um dos nomes mais citados<br />
nos jornais como aspirante ao Catete e o momento lhe parecia muito favorável. Aos 60 anos, ele<br />
<strong>de</strong>sfrutava <strong>de</strong> imensa popularida<strong>de</strong>, consagrado como gran<strong>de</strong> herói intelectual do Brasil. Para<br />
isso, muito contribuiu sua brilhante participação na Conferência <strong>de</strong> Haia, <strong>em</strong> 1907. Em 1908, Rui<br />
foi eleito presi<strong>de</strong>nte da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong> Letras. Era vice-presi<strong>de</strong>nte do Senado, mais alto<br />
cargo da casa, e amigo <strong>de</strong> Afonso Pena, seu colega <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> a posse <strong>de</strong> Rodrigues<br />
Alves, vinha mostrando não ser apenas um ferrenho opositor, mas alguém capaz <strong>de</strong> articular o<br />
jogo político nacional, ao lado do aliado Pinheiro Machado. Em 1905, Rui retirara sua própria<br />
candidatura, lançada pela Bahia, <strong>em</strong> favor <strong>de</strong> Afonso Pena. Nada mais natural do que esperar<br />
uma retribuição do presi<strong>de</strong>nte (GONÇALVES, 2000, p.115-122).<br />
Afonso Pena, porém, insistiu na candidatura Campista, que não encontrou apoio maciço sequer<br />
<strong>em</strong> Minas Gerais, terra natal do candidato e do presi<strong>de</strong>nte. Outros estados também opuseram<br />
resistência. Diante das dificulda<strong>de</strong>s, vários nomes foram cogitados. Além <strong>de</strong> Rui, dois outros<br />
aspirantes ao Catete eram vistos como que pairando acima dos vícios da política “oligárquica”: o<br />
barão do Rio Branco, ministro do Exterior, e o marechal Hermes da Fonseca, ministro da Guerra.<br />
Dois políticos <strong>de</strong> perfil tradicional, os ex-presi<strong>de</strong>ntes Rodrigues Alves e Campos Sales, ambos<br />
paulistas, eram também s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>brados.<br />
Na Bahia, a crise sucessória teve efeitos importantes. Interessado <strong>em</strong> manter as boas relações<br />
com o governo fe<strong>de</strong>ral, José Marcelino havia prometido ao presi<strong>de</strong>nte que a Bahia apoiaria a<br />
candidatura Campista. Há indícios, inclusive, <strong>de</strong> que esse apoio teria sido negociado <strong>em</strong> troca <strong>de</strong><br />
futuros investimentos fe<strong>de</strong>rais na re<strong>de</strong> ferroviária baiana. Com a oposição <strong>de</strong> Rui, José Marcelino<br />
teve que recuar a uma posição in<strong>de</strong>finida. Em janeiro <strong>de</strong> 1909, dois jornais baianos (Diário <strong>de</strong><br />
Notícias e Gazeta do Povo) noticiaram uma suposta carta <strong>de</strong> Rui a Araújo Pinho, pedindo que a<br />
Bahia assumisse “atitu<strong>de</strong> idêntica à que teve <strong>em</strong> 1905, não aceitando as imposições do Catete”.<br />
Em 1905, a Bahia manifestou in<strong>de</strong>pendência lançando Rui à presidência. A carta seria um recado<br />
para o governador repetir o gesto do anterior. A resposta <strong>de</strong> Araújo Pinho, conforme essa<br />
versão, foi <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>ria “contrariar Dr. Afonso Pena, que foi o verda<strong>de</strong>iro criador da atual<br />
situação baiana”. Tanto a carta como a resposta foram <strong>de</strong>smentidas pelos envolvidos. Rui negou<br />
os boatos, <strong>de</strong>clarando, inclusive, que “nunca interveio nas <strong>de</strong>liberações da política baiana, senão<br />
quando chamado” (A Bahia, 06-08 jan1909).<br />
79