A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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Em resposta aos protestos seabristas, Rui disse que o resultado da segunda eleição alagoana era<br />
uma prova <strong>de</strong> que o Senado agiu corretamente ao anular o primeiro pleito. Afinal, argumentou,<br />
se os milhares <strong>de</strong> votos dados a Seabra foss<strong>em</strong>, <strong>de</strong> fato, a “expressão da vonta<strong>de</strong> popular”, eles<br />
<strong>de</strong>viam aparecer novamente na segunda eleição, o que não ocorreu. O argumento baseava-se<br />
no esquecimento <strong>de</strong>liberado do modo como se processavam as eleições no país. Rui sabia que o<br />
resultado das eleições <strong>em</strong> Alagoas <strong>de</strong>pendia do interesse dos Malta, não da vonta<strong>de</strong> popular, e<br />
que a segunda votação fora tão corrupta quanto a primeira. Mas, fingia acreditar no resultado<br />
das urnas para justificar a controversa “<strong>de</strong>gola” do rival. Rui ainda ironizou os rumores <strong>de</strong> que<br />
mandara anular a eleição alagoana por “medo” <strong>de</strong> enfrentar Seabra no Senado, “porque, <strong>de</strong><br />
certo, não podia resistir aos seus <strong>em</strong>bates, ou porque a sua própria presença seria para mim,<br />
nesse recinto, uma cabeça <strong>de</strong> Medusa” (OCRB, 1907, v.XXXIV, t.I, p.28-30).<br />
Frustrou-se, assim, completamente a tentativa <strong>de</strong> Seabra <strong>de</strong> se estabelecer como chefe na Bahia<br />
e como lí<strong>de</strong>r baiano no país. O ex-ministro entrou, então, <strong>em</strong> um período <strong>de</strong> ostracismo político.<br />
Não tardaria, porém, para que as instabilida<strong>de</strong>s da política baiana (cisão do PRB <strong>em</strong> 1907) e os<br />
projetos do próprio Rui (campanha presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> 1910) possibilitass<strong>em</strong> seu retorno, <strong>em</strong><br />
vertiginosa curva ascen<strong>de</strong>nte, que culminaria no controle do governo da Bahia <strong>em</strong> 1912. Aí,<br />
verda<strong>de</strong>iramente, a raposa e a águia teriam um combate digno <strong>de</strong> suas forças.<br />
3.2A campanha civilista ( 1909-1910)<br />
Em 06 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1909, José Joaquim Seabra figurava entre os que se <strong>de</strong>spediam do ex-<br />
governador José Marcelino, chefe do Partido Republicano da Bahia, na ponte da Navegação<br />
Baiana. Era mais uma cerimônia <strong>de</strong> <strong>em</strong>barque, daquelas tão freqüentes <strong>em</strong> Salvador, mas, <strong>de</strong>ssa<br />
vez, não havia banda <strong>de</strong> música, n<strong>em</strong> foguetório, pois o homenageado não se dirigia à Europa,<br />
n<strong>em</strong> mesmo ao Rio <strong>de</strong> Janeiro. Apenas atravessaria a baía <strong>de</strong> Todos os Santos, <strong>em</strong> direção à<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nazaré, on<strong>de</strong> estava sua proprieda<strong>de</strong> agrícola, o engenho Xangó. Não obstante, lá<br />
estava o ex-ministro Seabra na <strong>de</strong>spedida. Foi citado s<strong>em</strong> <strong>de</strong>staque pelo jornal A Bahia (07 fev.<br />
1909), <strong>em</strong> meio a funcionários públicos e políticos <strong>de</strong> diversos escalões, que aproveitavam para<br />
<strong>de</strong>monstrar publicamente sua lealda<strong>de</strong> ao chefe que partia.<br />
A presença <strong>de</strong> Seabra nesse evento <strong>de</strong> pequena expressão po<strong>de</strong> ser tomada como um indício da<br />
fragilida<strong>de</strong> com que ele, então, retornava à política baiana. Após a “<strong>de</strong>gola” do Senado, Seabra<br />
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