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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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No mesmo discurso, Rui teceu um histórico <strong>de</strong> suas relações com Seabra, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente sob<br />

seu ponto <strong>de</strong> vista. Recordou as boas relações que tinham no início da República, o habeas<br />

corpus que pediu a seu favor, o apoio prestado a ele nas difíceis eleições <strong>de</strong> 1896, as relações<br />

amistosas que mantinham quando Seabra foi nomeado ministro e, visitando com a casa <strong>de</strong> Rui, o<br />

abraçava e assegurava que ele seria o “conselheiro <strong>de</strong> todos os seus atos” (OCRB, 1906, v.XXXII,<br />

t.I, p.177). As divergências entre os dois, segundo Rui, teriam ocorrido <strong>em</strong> ocasiões isoladas, por<br />

discordância <strong>de</strong> opiniões, nunca por questões pessoais.<br />

O probl<strong>em</strong>a, realmente, não era pessoal, mas político. O crescimento <strong>de</strong> Seabra já significava,<br />

àquela altura, uma ameaça ao equilíbrio das relações entre Rui e os que dominavam o governo<br />

da Bahia. De <strong>de</strong>putado praticamente <strong>de</strong>sconhecido, ele se tornara rapidamente um ministro<br />

importante, firmando-se como um representante baiano alternativo no país. Por outro lado, a<br />

tentativa <strong>de</strong> articular seu próprio grupo na Bahia, algo que Rui nunca fez, ameaçava os grupos<br />

estabelecidos na política estadual. Tanto Rui como os políticos do PRB tinham motivos para<br />

hostilizá-lo. Ao comentar o assunto <strong>em</strong> seu diário pessoal, ainda <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 1906, o presi<strong>de</strong>nte<br />

Rodrigues Alves avaliava assim as perspectivas <strong>de</strong> seu ex-ministro:<br />

A idéia da entrada do dr. Seabra para o Senado t<strong>em</strong> alarmado o mundo político, o bloco. T<strong>em</strong>-se<br />

medo <strong>de</strong>le. Todos os esforços serão para arredá-lo do Senado e se diz abertamente que lá não<br />

entrará. A sua entrada é uma ofensa ao Rui, que resignará à sua ca<strong>de</strong>ira se isso se <strong>de</strong>r – é a<br />

linguag<strong>em</strong> misteriosa dos seus amigos (1906, apud SANTOS, 1990, p.37, grifo no original).<br />

Para Seabra, esse primeiro confronto direto com Rui terminou <strong>em</strong> <strong>de</strong>rrota. Na nova eleição que<br />

se realizou <strong>em</strong> Alagoas, após a anulação da primeira, o baiano sequer foi candidato. Eucli<strong>de</strong>s<br />

Malta já se julgava <strong>de</strong>sobrigado do compromisso e preferiu eleger seu próprio irmão, que foi<br />

reconhecido s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as, apesar da eleição ter sido realizada com os mesmos métodos da<br />

anterior. S<strong>em</strong> mandato, Seabra não teve r<strong>em</strong>édio senão fazer barulho. Viajou a Maceió para<br />

agra<strong>de</strong>cer os votos recebidos, fez conferências <strong>em</strong> Salvador e <strong>em</strong> Recife, e publicou oito artigos<br />

contra Rui na imprensa do Rio <strong>de</strong> Janeiro, entre 27 <strong>de</strong> março e 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1907. Nesses<br />

artigos, protestou contra o “esbulho” do seu mandato, que consi<strong>de</strong>rou “uma afronta contra a<br />

soberania do Estado <strong>de</strong> Alagoas”. Traçou uma breve autobiografia, louvando a própria orig<strong>em</strong><br />

“pobre” e dizendo não ser “saltimbanco político”, n<strong>em</strong> “intrigante <strong>de</strong> bastidores” – essas eram,<br />

provavelmente, críticas comuns ao seu estilo <strong>de</strong> fazer política. Deu sua versão do histórico <strong>de</strong><br />

suas relações com Rui, confirmando a cordialida<strong>de</strong> que as marcava no início, mas acrescentando<br />

episódios negativos à imag<strong>em</strong> do conterrâneo. Foram esses os artigos citados no segundo<br />

capítulo da dissertação, aos quais Rui respon<strong>de</strong>u com o discurso no Senado, antes <strong>de</strong> <strong>em</strong>barcar<br />

para Haia (CASTRO, 1990).<br />

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