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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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3 Confrontos e tréguas<br />

3.1Embates preliminares (1902 -1906 )<br />

A primeira escaramuça pública entre o senador Rui Barbosa e o então <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Seabra,<br />

lí<strong>de</strong>r do governo na Câmara, se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> 1902, por um motivo aparent<strong>em</strong>ente trivial. Responsável<br />

pela condução do projeto do primeiro Código Civil republicano, <strong>em</strong> tramitação no Congresso,<br />

Seabra entregou o texto, elaborado pelo jurista Clóvis Bevilacqua, ao professor Ernesto Carneiro<br />

Ribeiro, para a revisão gramatical, antes que o projeto passasse pelo Senado, ou seja, antes que<br />

passasse pelas mãos do senador Rui Barbosa. Rui, que era a maior referência <strong>em</strong> estilo e retórica<br />

do país, não gostou. Dedicou-se, então, a apontar <strong>de</strong>feitos da revisão <strong>de</strong> Carneiro Ribeiro (que<br />

havia sido seu professor na Bahia). A querela gramatical, que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> à famosa Réplica <strong>de</strong><br />

Rui, contribuiu para atrasar a aprovação do novo Código Civil e revelou, pela primeira vez, uma<br />

tensão entre o consagrado senador Rui e o ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>putado Seabra.<br />

O <strong>de</strong>putado pernambucano Me<strong>de</strong>iros e Albuquerque comentou o episódio, atribuindo a reação<br />

<strong>de</strong> Rui (e os transtornos <strong>de</strong>correntes) ao excesso <strong>de</strong> entusiasmo governista <strong>de</strong> Seabra, que se<br />

esforçava para terminar o Código Civil ainda no mandato <strong>de</strong> Campos Sales:<br />

Todos sab<strong>em</strong> como a discussão e a elaboração <strong>de</strong>sse trabalho foi feita na Câmara. Nomeada uma<br />

comissão <strong>de</strong> vinte e um m<strong>em</strong>bros, o sr. Seabra se arvorou <strong>em</strong> seu presi<strong>de</strong>nte. Hom<strong>em</strong> para gritar e<br />

esmurrar mesas, a título <strong>de</strong> estar fazendo alta eloqüência e <strong>de</strong>clamação parlamentar, a sua<br />

incapacida<strong>de</strong> para qualquer trabalho <strong>de</strong> pensamento revelou-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo (...)<br />

Depois, para ele, aquilo era uma <strong>em</strong>preitada como qualquer outra; discutir o Código Civil ou<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma violência policial do Governo é exatamente, no seu espírito, a mesma coisa. Quando<br />

ele “pega num serviço” o que quer é dar conta <strong>de</strong>le, brutalmente, o mais <strong>de</strong>pressa possível. Se é<br />

coisa <strong>de</strong> tribuna, o hom<strong>em</strong> esbraveja, fica apoplético, esmurra valent<strong>em</strong>ente a bancada – e sai<br />

radiante, com a tarefa concluída. Tinham-lhe dito que era preciso dar pronta uma discussão do<br />

Código. Ele ajustou o serviço e fez. Fez – do modo “brilhante” que todos viram (OCRB, v.XXIX, 1902,<br />

t.IV, p.129, 130).<br />

Quanto a Rui, apesar da erudição <strong>de</strong>monstrada na Réplica, o atraso do Código Civil foi retomado<br />

várias vezes pelos adversários como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> intelectual colocada acima do interesse<br />

do país. No mesmo texto <strong>em</strong> que criticou Seabra, Me<strong>de</strong>iros e Albuquerque reservou o seguinte<br />

comentário para a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rui no episódio: “O sr. Rui é da estirpe daquele rei <strong>de</strong> Castela, que<br />

lamentava não ter assistido à criação do mundo para dar uns bons conselhos ao Padre Eterno... E<br />

acredit<strong>em</strong> que, se isso tivesse sucedido, ainda se queixaria <strong>de</strong> que não lhe ‘tivesse cabido a<br />

honra da primeira redação’ do Universo...” (OCRB, v.XXIX, 1902, t.IV, p.129, 131).<br />

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