a capital fe<strong>de</strong>ral. A chamada “concessão Reid” foi repassada ao grupo Light <strong>em</strong> 1905, mas os Guinle contestaram o privilégio na Justiça. O probl<strong>em</strong>a era complicado, pois envolvia a discussão sobre qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>tinha o controle sobre os serviços urbanos da capital fe<strong>de</strong>ral, se o Conselho Municipal, que havia outorgado a concessão, ou o governo fe<strong>de</strong>ral, responsável por parte da administração da capital. O governo do estado do Rio também interferia na disputa, assim como as diversas instâncias legislativas e judiciárias envolvidas. Tanto a Light como os Guinle partiram para angariar apoio entre os políticos <strong>de</strong> maior influência no país. Já se viu que a Rio Light contratou um advogado <strong>de</strong> peso, o senador Rui Barbosa, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u o monopólio da companhia nos tribunais e na imprensa. Os concorrentes não ficaram atrás, buscando apoio <strong>de</strong> homens públicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa da “livre concorrência”, que os interessava no momento. Usaram, também, argumentos nacionalistas contra os estrangeiros. Sérgio Lamarão (2002, p.87) observa que os alinhamentos não eram automáticos, mas que era possível <strong>de</strong>tectar el<strong>em</strong>entos vinculados a cada grupo. O barão do Rio Branco, por ex<strong>em</strong>plo, tido como velho amigo <strong>de</strong> Alexandre Mackenzie, tendia para o lado da Light, enquanto Lauro Müller, ministro da Viação e Obras Públicas, era pró-Guinle. Em geral, a Light vinha conseguindo mais apoio no nível municipal e no governo estadual (Nilo Peçanha), enquanto os Guinle tinham mais força no plano fe<strong>de</strong>ral (presidência Rodrigues Alves). Ainda assim, após uma prolongada disputa, a Light foi vencedora, assegurando pleno domínio, tanto no Rio quanto <strong>em</strong> São Paulo. A <strong>de</strong>rrota nas duas maiores cida<strong>de</strong>s brasileiras reforçou o interesse dos Guinle na terceira maior cida<strong>de</strong>, Salvador. A capital baiana tornou-se vital para as pretensões do grupo. Não admira, pois, que eles tenham se envolvido <strong>de</strong> perto com a política e os negócios baianos. É provável que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a atuação no ministério <strong>de</strong> Rodrigues Alves, Seabra tenha estreitado laços com os Guinle. Em 1911, como se verá, um gerente da <strong>em</strong>presa (Júlio Brandão) foi escolhido como candidato seabrista à intendência municipal <strong>de</strong> Salvador. Em troca do apoio prestado, os Guinle tiveram ampla participação nas obras do governo <strong>de</strong> Seabra, e ainda intermediaram um <strong>em</strong>préstimo tomado no exterior. Tudo isso será abordado, ainda que brev<strong>em</strong>ente, no último capítulo. Por ora, basta assinalar que os vínculos estabelecidos entre os Guinle e Seabra tiveram efeitos prejudiciais para a Bahia Light, especialmente para o po<strong>de</strong>roso Percival Farquhar, que teve gran<strong>de</strong>s prejuízos. O magnata se arrepen<strong>de</strong>u pelo resto da vida dos <strong>em</strong>preendimentos <strong>em</strong> Salvador, que, do alto <strong>de</strong> sua arrogância civilizatória, consi<strong>de</strong>rava a “cida<strong>de</strong> mais africana e corrupta das Américas”. Segundo Charles A. Gauld (2005, p.125), mesmo octagenário, Farquhar "não gostava que o l<strong>em</strong>brass<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>rrotas nas mãos dos baianos”. 67
A polarização entre Rui e Seabra na política da Bahia tinha, portanto, mais esse componente: a disputa entre grupos po<strong>de</strong>rosos, com ramificações internacionais, que concorriam pelo mercado <strong>de</strong> energia, transportes e serviços urbanos da Bahia. Apesar <strong>de</strong> alguns momentos <strong>de</strong> tensão e mudanças, pois os alinhamentos não eram rígidos e automáticos, po<strong>de</strong>-se dizer que Rui era ligado à Light, e Seabra, aos Guinle. Até aqui, foram apontados aspectos da política, socieda<strong>de</strong> e economia da Bahia republicana, e algumas regras das disputas políticas, tanto <strong>em</strong> sua face pública, da retórica e dos rituais, como <strong>em</strong> sua face mais oculta dos favores e intermediações. Esses el<strong>em</strong>entos serão retomados e articulados ao longo do capítulo seguinte, que se concentrará na dinâmica do confronto político entre Rui Barbosa e J. J. Seabra na Bahia da Primeira República. 68
- Page 1 and 2:
Universidade Federal da Bahia Facul
- Page 3 and 4:
___________________________________
- Page 5 and 6:
Resumo Em 1912, o bombardeio de Sal
- Page 7 and 8:
Gráficos Lista de ilustrações e
- Page 9 and 10:
Introdução Há algum tempo, quand
- Page 11 and 12:
Além de viabilizar a pesquisa, red
- Page 13 and 14:
seus aliados, como A Bahia, de Jos
- Page 15 and 16:
Esperamos que o resultado deste tra
- Page 17 and 18: de Ministros nomeados entre 1847, q
- Page 19 and 20: Seabra fez os estudos preparatório
- Page 21 and 22: pelo fato de o Partido Liberal esta
- Page 23 and 24: 1.2Referências culturais: tradiç
- Page 25 and 26: Não se pretenderá, aqui, fazer um
- Page 27 and 28: Em 1882, quando Tobias Barreto disp
- Page 29 and 30: 1.3Estratégias de atuação polít
- Page 31 and 32: Não por acaso, partiram da Bahia m
- Page 33 and 34: Sua aproximação do marechal Deodo
- Page 35 and 36: seguinte, Campos Sales. Em 1898, fu
- Page 37 and 38: 2 A arena e as regras 2.1A Bahia de
- Page 39 and 40: Gráfico 1 - Comércio Exterior da
- Page 41 and 42: Ocorre que, em vários municípios,
- Page 43 and 44: Gráfico 5 - Principais produtos de
- Page 45 and 46: Figura 1 - Mapa esquemático de mun
- Page 47 and 48: Na Bahia, devido à constante insta
- Page 49 and 50: Por seu contingente populacional e
- Page 51 and 52: então ministro Seabra, pedindo seu
- Page 53 and 54: A guerra de insultos era travada na
- Page 55 and 56: à liberdade de expressão. Como o
- Page 57 and 58: hotéis, teatros ou residências. E
- Page 59 and 60: Segundo a denúncia de Seabra, Rui
- Page 61 and 62: Rui, e colocava o “eminente mestr
- Page 63 and 64: A partícula “seu” foi grifada
- Page 65 and 66: tinham uma interface com o Estado.
- Page 67: Parlamento, nos tribunais, como já
- Page 71 and 72: O ano de 1902, como já se registro
- Page 73 and 74: Figura 3 - Mapa esquemático de dis
- Page 75 and 76: O expurgo seabrista teve certa repe
- Page 77 and 78: Em resposta aos protestos seabrista
- Page 79 and 80: favorável. Com 7.628 votos, foi o
- Page 81 and 82: O conteúdo das cartas pode ter sid
- Page 83 and 84: As mudanças no panorama definiram
- Page 85 and 86: Referências religiosas misturavam-
- Page 87 and 88: essa candidatura fosse exclusivamen
- Page 89 and 90: adesões. Na primeira, de trem até
- Page 91 and 92: que dela vivemos, haurindo-lhe noss
- Page 93 and 94: capital baiana para receber uma bai
- Page 95 and 96: salientando os gastos desnecessári
- Page 97 and 98: Alerta, baianos! Imitai aos heróis
- Page 99 and 100: Às 13h30, dois tiros de pólvora s
- Page 101 and 102: Figura 4 - Palácio do governo apó
- Page 103 and 104: Figura 6 - Em meio à crise do bomb
- Page 105 and 106: da Bahia, embora mantivesse uma fac
- Page 107 and 108: O nome de Rui não logrou obter apo
- Page 109 and 110: A questão fica ainda mais intrinca
- Page 111 and 112: No momento em que entregou a renún
- Page 113 and 114: Figura 7 - Jubileu de Rui na Bahia
- Page 115 and 116: A oposição baiana se articulava,
- Page 117 and 118: posteriores, com a evidência de qu
- Page 119 and 120:
Comparou os adversários a vermes,
- Page 121 and 122:
“coronéis”, incomodados com a
- Page 123 and 124:
1923, ele ainda tentou ter o apoio
- Page 125 and 126:
Figura 8 - Caricatura dupla Fonte:
- Page 127 and 128:
Que tipo de herói foi Rui Barbosa?
- Page 129 and 130:
pois serviu também como aglutinado
- Page 131 and 132:
Caim (Fragmento de uma visão) - Ac
- Page 133 and 134:
A revolta acompanha os teus passos
- Page 135 and 136:
de haver tomado, quando criança, b
- Page 137 and 138:
Referências 1 - Fontes primárias
- Page 139 and 140:
1.4 - Livros, livretos e obras dive
- Page 141 and 142:
_____. “Mandonismo, coronelismo,
- Page 143 and 144:
PAIM, Antônio; BARRETO, Vicente.