A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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Parlamento, nos tribunais, como já se apontou aqui diversas vezes, é fácil enten<strong>de</strong>r o interesse<br />
da companhia <strong>em</strong> contratá-lo. Como consultor da <strong>em</strong>presa, Rui <strong>em</strong>prestava a credibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sua imag<strong>em</strong> pública para os negócios da Light.<br />
A Light era uma <strong>em</strong>presa verda<strong>de</strong>iramente multinacional. Foi fundada no Canadá, mas alguns <strong>de</strong><br />
seus donos eram oriundos dos Estados Unidos, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vinham seus métodos <strong>de</strong> gestão. Parte<br />
dos capitais provinha da Inglaterra. O grupo também atuava <strong>em</strong> outros países periféricos, como<br />
Cuba, Argentina e México. No Brasil, a Light iniciou seus negócios <strong>em</strong> São Paulo, passando <strong>de</strong>pois<br />
a disputar o concorrido mercado <strong>de</strong> iluminação, transportes e energia elétrica do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Não <strong>de</strong>morou para que Salvador, terceira maior cida<strong>de</strong> brasileira, viesse a <strong>de</strong>spertar o interesse<br />
da companhia (LAMARÃO, 2002; McDOWALL, 2008).<br />
Na capital da Bahia, a atuação da Light se <strong>de</strong>u <strong>em</strong> socieda<strong>de</strong> com o magnata norte-americano<br />
Percival Farquhar, figura <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>ática do capitalismo internacional da época. Em 1905, Farquhar<br />
fundou a Bahia, Tramway Light and Power Co., com se<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portland, nos Estados<br />
Unidos, tendo como sócios Fre<strong>de</strong>rick Pearson e Alexandre Mackenzie, que também integravam<br />
as <strong>em</strong>presas Light do Rio e <strong>de</strong> São Paulo. A primeira investida da Bahia Light foi a compra da<br />
linha <strong>de</strong> bon<strong>de</strong>s que rodava na Cida<strong>de</strong> Baixa, então sob controle da al<strong>em</strong>ã Si<strong>em</strong>ens e Halske.<br />
Pouco <strong>de</strong>pois, Farquhar adquiriu a inglesa Bahia Gas Company e a belga Compagnie <strong>de</strong> Eclairage<br />
<strong>de</strong> Bahia, assegurando presença, respectivamente, nos mercados <strong>de</strong> iluminação a gás e energia<br />
elétrica (SAMPAIO, 2005; GAULD, 2006, p.125-131).<br />
Apesar do início promissor, os negócios da Light na Bahia não foram tão b<strong>em</strong> sucedidos como no<br />
Rio e <strong>em</strong> São Paulo. Nessas duas cida<strong>de</strong>s, a companhia aumentou progressivamente sua atuação<br />
e acabou estabelecendo um virtual monopólio dos transportes, energia e serviços. Era o “polvo<br />
cana<strong>de</strong>nse” que abarcava tudo com seus tentáculos, no dizer da população. O monopólio não foi<br />
obtido, porém, s<strong>em</strong> intensa disputa prévia. No Rio <strong>de</strong> Janeiro, que era o mercado mais atraente<br />
do país, a Light entabulou uma luta prolongada contra o grupo Guinle, <strong>de</strong> capital originalmente<br />
nacional, mas articulado a gran<strong>de</strong>s <strong>em</strong>presas internacionais como a General Eletric, <strong>de</strong> que eram<br />
representantes no Brasil.<br />
A disputa entre os dois po<strong>de</strong>rosos grupos não envolvia apenas a compra <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas <strong>de</strong> menor<br />
porte, pioneiras nos serviços urbanos brasileiros nas últimas décadas do século XIX, mas também<br />
uma <strong>de</strong>finição sobre o alcance e a valida<strong>de</strong> dos privilégios e concessões públicas que haviam sido<br />
oferecidos para estimular essas primeiras iniciativas. Um ex<strong>em</strong>plo: <strong>em</strong> 1899, William Reid obteve<br />
uma concessão para explorar com exclusivida<strong>de</strong> a geração <strong>de</strong> energia por fonte hidrelétrica para<br />
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