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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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tinham uma interface com o Estado. Os limites entre o que era consi<strong>de</strong>rado aceitável nessas<br />

relações eram, então, fluidos e controversos.<br />

Não se preten<strong>de</strong>, aqui, fazer um mapeamento <strong>de</strong> todas as <strong>em</strong>presas que se relacionaram com<br />

Rui Barbosa e Seabra ao longo <strong>de</strong> suas trajetórias políticas, n<strong>em</strong> analisar quais <strong>de</strong>ssas ligações<br />

eram consi<strong>de</strong>radas aceitáveis, <strong>de</strong>ntro dos parâmetros da época. Em geral, o material pesquisado<br />

indica que tanto Rui como Seabra eram consi<strong>de</strong>rados homens honestos pelos cont<strong>em</strong>porâneos,<br />

<strong>em</strong>bora eles tenham trocado sérias acusações <strong>em</strong> seus momentos <strong>de</strong> maior confronto, como se<br />

verá no terceiro capítulo.<br />

Um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> como eram complexas essas ligações, e das interferências <strong>de</strong>sses negócios na<br />

política baiana, po<strong>de</strong> ser encontrado na correspondência <strong>de</strong> Rui com o amigo e parente João <strong>de</strong><br />

Assis Lopes Martins. Em 1910, ele pediu ao senador que escrevesse uma carta ao governador da<br />

Bahia, Araújo Pinho, para que seu grupo conseguisse a preferência sobre um trecho da Viação<br />

Baiana, na parte que se ligava a Minas Gerais. Não ficou claro, na documentação consultada, que<br />

tipo <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>senvolvido na ferrovia, mas Martins disse que era um “negócio<br />

gran<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong> nos dar a in<strong>de</strong>pendência financeira”. Martins e Batista Pereira (genro <strong>de</strong> Rui)<br />

faziam parte da socieda<strong>de</strong>, mas somente um terceiro sócio (Gabriel Penteado) <strong>de</strong>veria aparecer<br />

publicamente. Apesar <strong>de</strong>ssas precauções, Martins assegurava que não havia nada <strong>de</strong> errado com<br />

a pretensão. “Isto é um serviço que <strong>de</strong>ve ser feito por este ou aquele, cumpre-nos aproveitar<br />

todos os nossos el<strong>em</strong>entos para obtermos a preferência. Só isto ambicionamos. Não se trata<br />

propriamente <strong>de</strong> um favor. Os mandatários terão toda a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>preiteiros que<br />

mantenham boas relações com o governador” (ARB/CRUPF 896/3 25/12/1910).<br />

Já se vê que a indicação, <strong>em</strong> si, não era tratada exatamente como infração ao bom andamento<br />

dos negócios públicos, <strong>em</strong>bora se soubesse que isso não seria b<strong>em</strong> visto, caso aparecesse nos<br />

jornais. Daí a preocupação <strong>em</strong> ocultar a participação dos parentes <strong>de</strong> Rui no negócio. Aconteceu,<br />

porém, que Seabra havia acabado <strong>de</strong> ser <strong>em</strong>possado ministro da Viação, e prometeu rever todos<br />

os contratos firmados pelo seu antecessor, alegando que continham irregularida<strong>de</strong>s. O mesmo<br />

Martins, <strong>em</strong> nova carta, aprovou os atos do ministro recém-<strong>em</strong>possado, mesmo sabendo que<br />

seus negócios po<strong>de</strong>riam ser prejudicados com as medidas:<br />

O Seabra está convencido <strong>de</strong> que houve gran<strong>de</strong> come<strong>de</strong>ira na Viação Baiana e procura meios <strong>de</strong><br />

anular o contrato, do qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> o nosso trecho. Não quero analisar os fundamentos da suspeita<br />

do Ministro (...) Apesar <strong>de</strong> não nos atingir a roubalheira, estamos pagando pelo que não fiz<strong>em</strong>os. O<br />

nosso contrato é com a Caisse [banco francês que <strong>em</strong>prestou dinheiro para ferrovias na Bahia], e<br />

sobre ela ir<strong>em</strong>os caso o Seabra realize seus intentos, aliás plenamente justificados, a dar crédito ao<br />

que se diz (ARB/CRUPF 896/3 07/01/1911, grifo no original).<br />

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