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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Como Seabra, Cosme <strong>de</strong> Farias não tinha inibição <strong>de</strong> pedir. Ele batia <strong>em</strong> todas as portas, <strong>em</strong><br />

favor dos mais pobres e necessitados. Ao encontrar a porta <strong>de</strong> Seabra aberta, ficou encantado.<br />

Ali estava um político po<strong>de</strong>roso, um “prócer” da República, mas carismático, acessível, eficiente<br />

na intermediação <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos, doações e benefícios. Firmou-se, então, uma relação vantajosa<br />

para ambos. S<strong>em</strong> bases na política baiana tradicional, dos chefes do interior, Seabra conquistou<br />

um extraordinário promotor <strong>de</strong> seu grupo junto ao povo <strong>de</strong> Salvador, como já se registrou. Em<br />

troca, Cosme tinha acesso a um político que, além <strong>de</strong> se esforçar <strong>em</strong> aten<strong>de</strong>r pedidos, era capaz<br />

<strong>de</strong> se comunicar b<strong>em</strong> com a população menos escolarizada. A a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Cosme durou para<br />

s<strong>em</strong>pre. Até morrer, <strong>em</strong> 1972, ele ainda se <strong>de</strong>clarava seabrista.<br />

Registre-se, ainda, que Seabra elegeu Cosme <strong>de</strong> Farias <strong>de</strong>putado estadual <strong>em</strong> 1915, 1917, 1919 e<br />

1921 (SANTOS, Mônica, 2005, p.89-94), algo absolutamente incomum na Bahia da Primeira<br />

República, <strong>em</strong> se tratando <strong>de</strong> uma pessoa <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> verda<strong>de</strong>iramente popular, s<strong>em</strong> dinheiro e<br />

s<strong>em</strong> anel <strong>de</strong> bacharel. Até então, os lí<strong>de</strong>res operários mais <strong>de</strong>stacados e articulados ao po<strong>de</strong>r<br />

vigente, como Prediliano Pita e Ismael Ribeiro dos Santos, haviam chegado apenas ao Conselho<br />

Municipal. A eleição <strong>de</strong> Cosme para a Câmara Estadual era excepcional. Além <strong>de</strong> dimensionar<br />

sua importância para a política seabrista, essa distinção também po<strong>de</strong> ajudar a explicar o vínculo<br />

<strong>de</strong> gratidão e afeição que se firmou entre Cosme e seu “chefe” político.<br />

Os favores pessoais, <strong>em</strong>pregos e promoções não eram os únicos el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> jogo nessa face<br />

reservada da política brasileira. Seabra, Rui e seus cont<strong>em</strong>porâneos também precisavam lidar<br />

com as relações que se estabeleciam com <strong>em</strong>presas privadas que tinham interesse <strong>em</strong> angariar<br />

o apoio dos políticos mais po<strong>de</strong>rosos do país.<br />

O t<strong>em</strong>a das relações dos homens públicos com interesses privados é s<strong>em</strong>pre muito complexo. A<br />

legislação republicana proibia a eleição para o Congresso Nacional <strong>de</strong> diretores ou presi<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>presas que gozass<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados favores do Governo Fe<strong>de</strong>ral (isenção <strong>de</strong> impostos,<br />

privilégios <strong>de</strong> juros, concessão <strong>de</strong> terras, entre outros). Havia, além disso, geral con<strong>de</strong>nação dos<br />

<strong>de</strong>svios e manobras da “advocacia administrativa”, <strong>de</strong>finida como o uso das prerrogativas <strong>de</strong><br />

funcionário público para patrocinar interesses privados. Atualmente, isso se configura como<br />

crime previsto no Código Penal brasileiro. Mas, ainda hoje, é difícil <strong>de</strong>finir limites claros entre a<br />

“advocacia administrativa”, o “lobby”, o tráfico <strong>de</strong> interesses, e a <strong>de</strong>fesa legítima <strong>de</strong> interesses<br />

junto aos órgãos públicos. Na Primeira República, não era diferente.<br />

A ativida<strong>de</strong> parlamentar ocorria <strong>em</strong> apenas quatro meses do ano. Os homens que se <strong>de</strong>dicavam<br />

a ela não abandonavam suas ativida<strong>de</strong>s profissionais. A questão é que muitas <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s<br />

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