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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Ban<strong>de</strong>ira (o Carlito), do que aborrecer a <strong>Águia</strong> <strong>de</strong> Haia com questões rasteiras, que certamente<br />

seriam consi<strong>de</strong>radas por ele pouco nobres.<br />

Não eram todos que tinham esses pudores, é claro. Dentre as muitas cartas <strong>de</strong> pedido guardadas<br />

no acervo <strong>de</strong> Rui, há várias <strong>de</strong> políticos baianos, algumas muito interessantes pela arte com que<br />

os missivistas <strong>em</strong>brulhavam suas solicitações. O advogado e político José Gabriel <strong>de</strong> L<strong>em</strong>os Brito,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, escreveu a Rui dizendo que, impulsionado pela “quase idolatria” que lhe <strong>de</strong>dicava,<br />

acalentava o projeto <strong>de</strong> escrever uma biografia sua, intitulada Rui Barbosa: sua vida e sua obra.<br />

Chegou a <strong>de</strong>talhar o futuro livro, com o conteúdo previsto para cada um dos quatro volumes.<br />

Arr<strong>em</strong>atou com o pedido: “se o gran<strong>de</strong> baiano enten<strong>de</strong>r ser tarefa para minhas forças, irei meter<br />

ombros no estudo preliminar <strong>de</strong>sses trabalhos. Para isso, bastar-me-á que Rui Barbosa entenda<br />

conseguir uma posição fe<strong>de</strong>ral que me dê a calma e o t<strong>em</strong>po necessário para a vasta obra.<br />

Bastará um gesto do meu gran<strong>de</strong> amigo junto ao Miguel Calmon para que esse ilustre ministro<br />

consiga para mim o lugar <strong>de</strong>sejado” (ARB/CRUPF 244 22/10/1908).<br />

Amigos próximos <strong>de</strong> Rui, como o médico baiano Artur Imbassaí, tinham liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedir o que<br />

quisess<strong>em</strong>. Imbassaí era tão íntimo que suas cartas dispensavam as formalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estilo e<br />

eram encabeçadas simplesmente por “Meu caro Rui” ou “Meu Rui” (uma intimida<strong>de</strong> que Seabra,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, nunca teve). Em 1903, esse amigo pediu a Rui que lhe arranjasse um <strong>em</strong>prego no<br />

ministério <strong>de</strong> Seabra. Mas, Imbassaí teve a má sorte <strong>de</strong> solicitar uma nomeação no setor <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, dirigido por Osvaldo Cruz. Apesar <strong>de</strong> ser quase <strong>de</strong>sconhecido, Osvaldo Cruz havia imposto<br />

uma condição para aceitar o cargo: o total controle sobre seu <strong>de</strong>partamento, inclusive sobre as<br />

nomeações e <strong>de</strong>missões. Com espanto, Imbassaí contou a Rui que o diretor da Saú<strong>de</strong> Pública<br />

tinha autonomia até <strong>de</strong> <strong>de</strong>mitir qu<strong>em</strong> lhe conviesse, se o trabalho não fosse satisfatório. Vendo<br />

que Seabra estava tendo dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> nomeá-lo por causa da teimosia do seu subordinado, o<br />

amigo <strong>de</strong> Rui ainda comentou: “Só um ministro muito <strong>de</strong>sgraçado não seria capaz <strong>de</strong> garantir um<br />

candidato seu” (ARB/CRUPF 727/1 12/03/1903, 02/04/1903).<br />

O caso é interessante porque ilustra que a cultura da indicação era a norma, não a exceção. O<br />

procedimento <strong>de</strong> Osvaldo Cruz é que era incomum. Esperava-se que o ministro pu<strong>de</strong>sse nomear<br />

qu<strong>em</strong> b<strong>em</strong> enten<strong>de</strong>sse para o ministério e, se ele não conseguia fazer isso, era sinal <strong>de</strong> fraqueza.<br />

Imbassaí fez a ressalva, no entanto, que Seabra vinha se esforçando para superar as dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Ele relatou que o ministro, com seu jeito peculiar <strong>de</strong> falar, o havia repreendido por aborrecer Rui<br />

com assunto tão corriqueiro. As palavras <strong>de</strong> Seabra, segundo ele: “Agora sim, seu Artur, é que V.<br />

está merecendo uma <strong>de</strong>missão, por ter ido perturbar a paz do meu amigo Rui... Isso não se faz”.<br />

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