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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Como eram as relações pessoais entre Rui e Seabra? Já se registrou anteriormente a diferença<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r político entre eles no início da República. Rui afirmou que Seabra era seu “cliente”.<br />

Essa situação assimétrica po<strong>de</strong> ser ilustrada por uma carta que o pai <strong>de</strong> Seabra en<strong>de</strong>reçou a Rui<br />

<strong>em</strong> 1892. Além <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer pelo que consi<strong>de</strong>rou uma “<strong>de</strong>sinteressada e monumental <strong>de</strong>fesa”<br />

que Rui fez <strong>de</strong> seu filho, <strong>de</strong>sterrado por Floriano Peixoto, ele também se <strong>de</strong>clarava grato pela<br />

promoção que Rui arranjou, aten<strong>de</strong>ndo à solicitação <strong>de</strong> Seabra (“a pedido <strong>de</strong> meu filho doutor”),<br />

para outro filho seu, na Alfân<strong>de</strong>ga da Bahia. Concluíu <strong>de</strong>clarando que “só um brasileiro ingrato”<br />

negaria a Rui um voto “para ocupar os primeiros lugares do país e po<strong>de</strong>r, assim, dotá-lo do<br />

engran<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong> que tanto precisa” (ARB/CRUPF 1332.3/2 20/05/1892).<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 1893, o próprio Seabra dirigiu-se ao senador Rui Barbosa, <strong>em</strong> carta reservada.<br />

Depois <strong>de</strong> louvar os “inexcedíveis méritos intelectuais, morais e patrióticos” do conterrâneo,<br />

Seabra pediu que não se esquecesse <strong>de</strong>le, quando fosse tratar com os políticos da Bahia sobre a<br />

futura chapa eleitoral. Solicitou que seu nome fosse colocado <strong>em</strong> um distrito “on<strong>de</strong> sejam<br />

impotentes as imposições do governo [fe<strong>de</strong>ral]”. O pedido tinha cabimento, pois Seabra ainda<br />

era visto como feroz adversário pelo governo. Disse que não gostaria <strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> uma<br />

chapa com a presença <strong>de</strong> militares, mas que se resignava ao que Rui <strong>de</strong>cidisse, pois o<br />

consi<strong>de</strong>rava “chefe das hostes <strong>em</strong> que milito”. Aproveitou, ainda, para dizer que continuava na<br />

campanha <strong>em</strong> favor <strong>de</strong> Rui para a presidência da República, e que acreditava <strong>em</strong> sua vitória<br />

(ARB/CRUPF 1332.1/1 25/01/1893).<br />

Ora, mesmo com todas as finuras <strong>de</strong> retórica, que preconizavam a modéstia e a reverência aos<br />

amigos políticos, é evi<strong>de</strong>nte a posição inferior <strong>de</strong> Seabra nos anos iniciais da República. Outras<br />

cartas indicam que ele serviu como mensageiro e mediador <strong>em</strong> negociações <strong>de</strong> Rui com chefes<br />

da política baiana (ARB/CRUPF 1332.1/1 30/09/1896).<br />

Essa situação <strong>de</strong>sprestigiada se alterou significativamente, a partir <strong>de</strong> 1902, com a ascensão <strong>de</strong><br />

Seabra ao ministério <strong>de</strong> Rodrigues Alves. Apesar <strong>de</strong> ainda chamar Rui <strong>de</strong> “mestre”, o tom <strong>de</strong> suas<br />

cartas passou a ser menos formal e menos humil<strong>de</strong>. Já não era a correspondência entre chefe e<br />

discípulo, mas entre um ministro e um senador – entre dois “próceres”. Em <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1902,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, o ministro Seabra pediu a Rui que fosse à comissão <strong>de</strong> Finanças do Senado falar<br />

com o senador Segismundo Gonçalves sobre certas <strong>em</strong>endas ao orçamento do seu ministério.<br />

“Ele disse encontrar alguma dificulda<strong>de</strong> oposta por três m<strong>em</strong>bros”, explicou Seabra, “oposição<br />

que <strong>de</strong>saparecerá com a sua presença. Como verá, as <strong>em</strong>endas são justíssimas e têm como<br />

objetivo aten<strong>de</strong>r a serviços inadiáveis”. Seabra usava, <strong>em</strong> seu benefício, o imenso prestígio <strong>de</strong><br />

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