A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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então ministro Seabra, pedindo seu apoio para as questões <strong>de</strong> interesse das chamadas “classes<br />
conservadoras” 14 . Em 1912, alguns dos seus dirigentes se engajaram no movimento que resultou<br />
na ascensão <strong>de</strong> Seabra ao governo estadual. Porém, o relacionamento dos comerciantes com o<br />
seabrismo não foi muito duradouro. Em 1919, a Associação Comercial firmou compromisso com<br />
Rui Barbosa pela <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> Seabra. As oscilações reflet<strong>em</strong>, não somente as tensões políticas<br />
externas, como as questões internas da instituição. Além <strong>de</strong> mudanças estruturais, a ascensão<br />
<strong>de</strong> diretorias vinculadas a este ou aquele político dominante, pleitos atendidos ou rejeitados e<br />
outras conveniências diversas marcaram a dinâmica da atuação política da entida<strong>de</strong>.<br />
Os votos angariados com apoio dos comerciantes e industriais, como também dos operários da<br />
capital, não parec<strong>em</strong> ter sido o motivo principal para que políticos como Seabra e Rui Barbosa a<br />
eles recorress<strong>em</strong>. Mesmo que esses setores fornecess<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> votos, isso ainda<br />
não seria suficiente para <strong>de</strong>smontar o mecanismo das eleições fraudadas, com a conivência dos<br />
chefes do interior, que asseguravam a vitória do governo. Mas, o comércio e os trabalhadores <strong>de</strong><br />
Salvador tinham uma visibilida<strong>de</strong> especial, expressa nos jornais e <strong>em</strong> certos rituais públicos. Eles<br />
forneciam uma legitimida<strong>de</strong> para o po<strong>de</strong>r que, a partir da capital, se exercia sobre todo o estado.<br />
O apoio <strong>de</strong> parcelas significativas da população da capital po<strong>de</strong>ria, inclusive, fundamentar uma<br />
“virada <strong>de</strong> mesa”, justificando uma intervenção do governo fe<strong>de</strong>ral – este, sim, era um po<strong>de</strong>r<br />
capaz <strong>de</strong> subverter a lógica <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> estadual, no contexto da Primeira República.<br />
Mas, como esses apoios e essa legitimida<strong>de</strong> se expressavam? Como eles eram contestados? Se a<br />
política exige s<strong>em</strong>pre o acionamento <strong>de</strong> um repertório compartilhado <strong>de</strong> símbolos, quais eram<br />
os limites do território simbólico <strong>em</strong> que Rui e Seabra terçavam armas? Que regras regiam esses<br />
combates? Essas questões serão tratadas a seguir, com a abordag<strong>em</strong> <strong>de</strong> algumas características<br />
da retórica e dos rituais da Bahia republicana.<br />
2.2Retórica e rituais políticos<br />
O que explica que, após <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> intensa violência verbal, adversários políticos como Rui e<br />
Seabra pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> se reconciliar e estabelecer novas alianças? Como Rui pô<strong>de</strong> criar para Seabra a<br />
alcunha <strong>de</strong> Caim e ser chamado pelos seabristas <strong>de</strong> Anticristo, como se verá no terceiro capítulo,<br />
s<strong>em</strong> que isso significasse um rompimento <strong>de</strong>finitivo entre eles?<br />
14 A expressão “classes conservadoras” é extr<strong>em</strong>amente recorrente <strong>em</strong> discursos públicos e jornais da Primeira República.<br />
Refere-se geralmente a três “classes”: lavoura, indústria e comércio, que seriam as responsáveis pela conservação da<br />
or<strong>de</strong>m social. Muitas vezes, porém, a expressão “classes conservadoras” significa apenas o alto comércio, do qual a<br />
Associação Comercial era representante por excelência.<br />
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