A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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Quanto a Seabra, apesar <strong>de</strong> ter conseguido seus primeiros mandatos <strong>de</strong> <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral graças<br />
a articulações na Bahia, sua atuação no Congresso Nacional se <strong>de</strong>u mais <strong>em</strong> relação pessoal com<br />
o po<strong>de</strong>r fe<strong>de</strong>ral, do que por <strong>de</strong>legação da política baiana. Foi pela ação individual que ele se<br />
<strong>de</strong>stacou, conquistando apoios para ser nomeado ministro, <strong>em</strong> 1902, s<strong>em</strong> que o governador da<br />
Bahia (Severino Vieira) fosse sequer consultado.<br />
De fato, Seabra nunca logrou obter o apoio dos chefes estabelecidos da Bahia para seus planos<br />
políticos. Pelos meios ordinários, dificilmente conseguiria se tornar governador. Por suas<br />
atitu<strong>de</strong>s ousadas, não inspirava confiança nos chefes tradicionais. Nesse sentido, como analisa<br />
Cid Teixeira (LINS, 1988, p.43), ele era realmente “um corpo estranho <strong>de</strong>ntro daquilo que estava<br />
programado na socieda<strong>de</strong> baiana para chegar ao po<strong>de</strong>r”. Sua ascensão ao governo estadual<br />
<strong>de</strong>veria ocorrer, assim, <strong>em</strong> condições excepcionais.<br />
No primeiro capítulo, já se viu como Seabra procurou compensar sua falta <strong>de</strong> bases na política<br />
estadual através da atuação nacional. Como ministro, a partir <strong>de</strong> 1902, ele teria a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> formar seu próprio agrupamento político no estado. Sua atitu<strong>de</strong> não foi inicialmente belicosa.<br />
Seabra buscou se apresentar como um el<strong>em</strong>ento forte, passível <strong>de</strong> ser indicado para a sucessão<br />
estadual <strong>de</strong>ntro dos processos do continuísmo vigentes. Tentou cooptar o governador <strong>de</strong> então,<br />
José Marcelino, instando-o a romper com o antecessor, Severino Vieira, que era também chefe<br />
do Partido Republicano da Bahia (PRB), o que não ocorreu naquele momento. Diante disso,<br />
Seabra foi levado a romper com o governo estadual <strong>em</strong> 1906. Por seu pouco enraizamento na<br />
política baiana, ele buscou agregar ao seu grupo el<strong>em</strong>entos negligenciados nos <strong>em</strong>bates políticos<br />
até então, especialmente o comércio e os trabalhadores <strong>de</strong> Salvador, cujo apoio po<strong>de</strong>ria<br />
legitimar suas pretensões.<br />
Salvador ingressou no século XX como a terceira cida<strong>de</strong> mais populosa do país. Era a segunda até<br />
a década <strong>de</strong> 1890, quando foi ultrapassada por São Paulo, que vinha <strong>em</strong> impressionante ritmo<br />
<strong>de</strong> crescimento. A maior cida<strong>de</strong> brasileira era o Rio <strong>de</strong> Janeiro, capital fe<strong>de</strong>ral, também <strong>em</strong><br />
franca expansão. Na década <strong>de</strong> 1920, o Rio atingiria seu primeiro milhão <strong>de</strong> habitantes. O ritmo<br />
<strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> Salvador era mais mo<strong>de</strong>sto: sua população permaneceu praticamente estável<br />
na Primeira República, com pequena expansão por crescimento vegetativo (SANTOS, Mário,<br />
2001, p.14). Ainda assim, a capital baiana era a terceira maior aglomeração urbana do país, com<br />
cerca <strong>de</strong> 280 mil habitantes <strong>em</strong> 1920 (BRASIL, 1920).<br />
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