A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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Na Bahia, <strong>de</strong>vido à constante instabilida<strong>de</strong> política, nunca se podia ter certeza <strong>de</strong> que o novo<br />
governador iria se manter fiel ao anterior. Os oposicionistas pressionavam por uma ruptura,<br />
certos <strong>de</strong> que seria sua chance <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rir ao governo. Muitas vezes, essas rupturas aconteciam<br />
com apoio do governo fe<strong>de</strong>ral, que era um ator fundamental na dinâmica estadual.<br />
Apesar da mística da “política dos governadores” <strong>de</strong> Campos Sales, que pretendia proporcionar<br />
estabilida<strong>de</strong> ao regime pela garantia da autonomia estadual, o fato é que o governo fe<strong>de</strong>ral<br />
interferiu na política baiana diversas vezes, ao longo da Primeira República. A primeira ação<br />
ocorreu ainda no governo Floriano Peixoto (antes <strong>de</strong> Campos Sales, portanto), com a <strong>de</strong>posição<br />
do governador <strong>de</strong>odorista José Gonçalves, o que <strong>de</strong>u ensejo à reação imediata <strong>de</strong> Rui Barbosa. A<br />
segunda interferência, porém, ocorreu com apoio <strong>de</strong> Rui, <strong>em</strong> 1907, quando o presi<strong>de</strong>nte Afonso<br />
Pena apoiou a facção do governador José Marcelino, <strong>em</strong> disputa eleitoral contra o grupo <strong>de</strong><br />
Severino Vieira. Os severinistas tinham maioria na Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa Estadual, responsável<br />
pela “verificação” dos votos, mas os marcelinistas tinham o controle do governo e <strong>de</strong> sua polícia.<br />
Segundo os severinistas, a polícia estadual cercou o prédio da Ass<strong>em</strong>bléia e forçou a apuração<br />
favorável aos marcelinistas. O apoio do governo fe<strong>de</strong>ral foi <strong>de</strong>cisivo para a aceitação <strong>de</strong>sses<br />
resultados. Novas interferências na política da Bahia, mais explícitas e violentas, ocorreram <strong>em</strong><br />
1912, 1919 e 1924. Todas elas serão abordadas mais adiante.<br />
Além do governo fe<strong>de</strong>ral, a política baiana também estava sujeita à interferência <strong>de</strong> políticos <strong>de</strong><br />
outros estados, especialmente no Congresso Nacional, on<strong>de</strong> ocorria a “verificação” das eleições<br />
fe<strong>de</strong>rais. Po<strong>de</strong>-se citar, como ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>ssas influências externas, a atuação do senador gaúcho<br />
Pinheiro Machado, que chegou a chefiar as oposições baianas, como se verá no terceiro capítulo.<br />
Na interface com a política nacional, concentrava-se a atuação <strong>de</strong> Rui Barbosa e Seabra no início<br />
da República. Ambos moravam no Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> tinham seus escritórios <strong>de</strong> advocacia.<br />
Como m<strong>em</strong>bros da bancada baiana no Congresso, eles <strong>de</strong>veriam representar a política do seu<br />
estado nas negociações nacionais. Porém, no caso <strong>de</strong> Rui e Seabra, isso n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre aconteceu.<br />
Já se observou que Rui fez oposição a todos os presi<strong>de</strong>ntes da República entre 1891 e 1901. Ora,<br />
isso não correspondia à posição oficial do governo baiano, que, não só apoiava os governos<br />
fe<strong>de</strong>rais, como se esforçava para inserir baianos nos ministérios. Enquanto Rui combatia Campos<br />
Sales, por ex<strong>em</strong>plo, Severino Vieira ocupava o ministério da Viação como representante do<br />
situacionismo baiano, com o qual Rui se dizia solidário. Era uma situação atípica na República, só<br />
explicada pelo excepcional prestígio <strong>de</strong> Rui.<br />
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