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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Outro fator que contribuía para a instabilida<strong>de</strong> política era a <strong>de</strong>ficiência do controle do governo<br />

estadual sobre a totalida<strong>de</strong> do território, que se relacionava, por um lado, à falta <strong>de</strong> transportes<br />

rápidos para gran<strong>de</strong> parte do interior, e, por outro, à fragilida<strong>de</strong> da força policial. No tocante aos<br />

transportes, com a exceção da ferrovia <strong>de</strong> Salvador a Juazeiro e da ferrovia Central da Bahia<br />

(unida à primeira por ramal <strong>em</strong> 1918), a expansão ferroviária ficou limitada a uma área próxima<br />

da capital e seu Recôncavo. Extensas áreas do território, incluindo alguns dos municípios mais<br />

populosos, continuavam acessíveis somente por caminhos <strong>de</strong> terra (Figura 1). Quanto à polícia, a<br />

Bahia contava com um contingente pequeno, mal armado e mal treinado <strong>em</strong> comparação a<br />

outros estados (LOVE, 1975; SAMPAIO, 1988). Tudo isso favorecia uma maior autonomia dos<br />

po<strong>de</strong>res locais. Como o governo po<strong>de</strong>ria controlar chefes guerreiros, como os “coronéis” da<br />

Chapada Diamantina, com uma força policial acanhada e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso?<br />

A instabilida<strong>de</strong> política se expressava claramente na fragilida<strong>de</strong> dos partidos baianos (Figura 2).<br />

Eram freqüentes as cisões e rearrumações, numa dinâmica que Consuelo Novais Sampaio (1998)<br />

chamou <strong>de</strong> “política <strong>de</strong> acomodação”. A partir <strong>de</strong> Luís Viana, que rompeu com o antecessor José<br />

Gonçalves, <strong>em</strong> 1891, cada governador brigou com o anterior até a ascensão <strong>de</strong> Seabra (1912). A<br />

única exceção foi Araújo Pinho, que não chegou a romper com José Marcelino, mas que acabou<br />

abandonando o governo antes do fim, sob pressão dos seabristas.<br />

O governador era a figura central da dinâmica política estadual. O processo <strong>de</strong> sua eleição seguia<br />

a lógica do continuísmo, vigente <strong>em</strong> toda a República: o governador <strong>em</strong> exercício escolhia um<br />

nome que supunha ser b<strong>em</strong> aceito pelas forças que apoiavam seu governo (o que, muitas vezes,<br />

<strong>de</strong>sagradava a alguns grupos, que podiam ser <strong>de</strong>slocados para a oposição). Mesmo quando a<br />

oposição lançava um candidato, o governista costumava ser eleito, pois o governo, além <strong>de</strong> ter o<br />

controle da máquina administrativa (nomeações/<strong>de</strong>missões), normalmente tinha maioria na<br />

Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa, responsável pelo processo <strong>de</strong> “verificação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res”. Em uma situação<br />

<strong>de</strong> controle político, não seria necessário sequer adulterar os resultados na apuração, pois o<br />

apoio dos chefes mais po<strong>de</strong>rosos era suficiente para prover uma maioria incontestável <strong>de</strong> votos.<br />

Todos os envolvidos no processo sabiam que os votos não representavam, <strong>em</strong> realida<strong>de</strong>, a<br />

vonta<strong>de</strong> da população que, por sua vez, mal sabia se expressar politicamente. Eles simbolizavam<br />

o apoio dos “amigos”, como se costumava dizer, além <strong>de</strong> indicar a força <strong>de</strong> cada chefe <strong>em</strong> sua<br />

região. Quanto mais votos o “coronel” enviasse para a capital, não importando os meios usados<br />

para obtê-los, mais forte esse chefe se mostraria diante dos olhos do governo, que se esforçaria<br />

para mantê-lo como aliado.<br />

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