Com todas essas restrições, além <strong>de</strong> critérios etários, o contingente máximo <strong>de</strong> brasileiros que podiam participar das eleições era b<strong>em</strong> inferior a 10% da população total. A participação efetiva era ainda menor. Os brasileiros aptos a votar tinham motivos para não exercer esse direito. Em primeiro lugar, a violência campeava no dia da eleição, com grupos armados prontos a seqüestrar urnas, fechar seções, coagir eleitores e alterar atas, sob as or<strong>de</strong>ns dos “chefes”. Em segundo lugar, o valor do voto era diminuído pela generalização das frau<strong>de</strong>s e pelo próprio sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> “verificação”, que podia mudar os resultados nas instâncias superiores. Em geral, não era realmente para eleger alguém que se votava, mas para expressar apoio, nas relações <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> que sustentavam o sist<strong>em</strong>a político da época. As características do processo eleitoral, a violência e as frau<strong>de</strong>s favoreciam a continuida<strong>de</strong> dos mesmos grupos no po<strong>de</strong>r. Em alguns estados brasileiros, a combinação <strong>de</strong>sses mecanismos <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> à instalação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras dinastias no po<strong>de</strong>r estadual. Esse é o sentido original das célebres “oligarquias” da Primeira República. O termo foi usado, inicialmente, como crítica aos arranjos familiares, como o domínio dos Malta, <strong>em</strong> Alagoas, e dos Acióli, no Ceará. Porém, <strong>em</strong> meio aos confrontos políticos, o sentido se ampliou, <strong>de</strong>signando formas variadas <strong>de</strong> continuísmo e <strong>de</strong> autonomia exagerada do po<strong>de</strong>r estadual. Tratava-se, no fundo, <strong>de</strong> uma crítica ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ralismo adotado na República, crítica que, <strong>em</strong> alguns casos, se baseava no <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los centralizadores, como o que se implantou no país após 1930. A generalização da expressão “República Oligárquica” para <strong>de</strong>signar o período histórico anterior ao movimento <strong>de</strong> 1930 está relacionada a essas referências 12 . Na Bahia, os dirigentes republicanos nunca conseguiram criar um arranjo estável <strong>de</strong> controle do po<strong>de</strong>r estadual. Essa instabilida<strong>de</strong> se explica por vários fatores. Em primeiro lugar, não havia a predominância <strong>de</strong> um único produto econômico na pauta estadual, como ocorria, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> São Paulo, com o café, ou no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, com o gado. A Bahia entrou na República com uma economia diversificada, com <strong>de</strong>staque para quatro produtos: açúcar, café, fumo e cacau. Apesar <strong>de</strong> ter se tornado o principal produto baiano já <strong>em</strong> 1902, foi a partir da década <strong>de</strong> 1920 que o cacau começou a se <strong>de</strong>stacar significativamente dos <strong>de</strong>mais (Gráfico 5). Até então, havia um relativo equilíbrio, que dificultou a formação <strong>de</strong> um grupo com interesse comum que conseguisse monopolizar o controle do Estado (SAMPAIO, 1998). 12 Oligarquia é, literalmente, governo <strong>de</strong> poucos, mas seu sentido nunca se limitou a isso. Des<strong>de</strong> os gregos, o termo já trazia uma carga negativa: <strong>de</strong>signava um governo <strong>de</strong> poucos e maus, um governo viciado. Era mais uma palavra <strong>de</strong> combate político, algo que se atribuía aos adversários, do que um conceito. Nesse sentido, contrapunha-se mais a aristocracia (também governo <strong>de</strong> poucos, mas dos melhores) do que a <strong>de</strong>mocracia (BOBBIO, 2000). Para uma excelente revisão do sentido histórico do termo “oligarquia”, ver DANTAS, Ibarê. 41
Gráfico 5 – Principais produtos <strong>de</strong> exportação da Bahia* (1889-1930) <strong>em</strong> contos <strong>de</strong> réis 140000 120000 100000 80000 60000 40000 20000 0 1889 1891 1893 1895 1897 1899 1901 Fonte: BAHIA, A Inserção da Bahia na Evolução Nacional. Salvador: CPE, 1980, p.110 (tabela 3). * Gráfico elaborado com “valor oficial” da exportação anual dos produtos, não se consi<strong>de</strong>rando o “valor <strong>de</strong> bordo”, citado na tabela <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. 1903 1905 1907 1909 1911 açúcar cacau fumo café 1913 1915 1917 1919 1921 1923 1925 1927 1929 42
- Page 1 and 2: Universidade Federal da Bahia Facul
- Page 3 and 4: ___________________________________
- Page 5 and 6: Resumo Em 1912, o bombardeio de Sal
- Page 7 and 8: Gráficos Lista de ilustrações e
- Page 9 and 10: Introdução Há algum tempo, quand
- Page 11 and 12: Além de viabilizar a pesquisa, red
- Page 13 and 14: seus aliados, como A Bahia, de Jos
- Page 15 and 16: Esperamos que o resultado deste tra
- Page 17 and 18: de Ministros nomeados entre 1847, q
- Page 19 and 20: Seabra fez os estudos preparatório
- Page 21 and 22: pelo fato de o Partido Liberal esta
- Page 23 and 24: 1.2Referências culturais: tradiç
- Page 25 and 26: Não se pretenderá, aqui, fazer um
- Page 27 and 28: Em 1882, quando Tobias Barreto disp
- Page 29 and 30: 1.3Estratégias de atuação polít
- Page 31 and 32: Não por acaso, partiram da Bahia m
- Page 33 and 34: Sua aproximação do marechal Deodo
- Page 35 and 36: seguinte, Campos Sales. Em 1898, fu
- Page 37 and 38: 2 A arena e as regras 2.1A Bahia de
- Page 39 and 40: Gráfico 1 - Comércio Exterior da
- Page 41: Ocorre que, em vários municípios,
- Page 45 and 46: Figura 1 - Mapa esquemático de mun
- Page 47 and 48: Na Bahia, devido à constante insta
- Page 49 and 50: Por seu contingente populacional e
- Page 51 and 52: então ministro Seabra, pedindo seu
- Page 53 and 54: A guerra de insultos era travada na
- Page 55 and 56: à liberdade de expressão. Como o
- Page 57 and 58: hotéis, teatros ou residências. E
- Page 59 and 60: Segundo a denúncia de Seabra, Rui
- Page 61 and 62: Rui, e colocava o “eminente mestr
- Page 63 and 64: A partícula “seu” foi grifada
- Page 65 and 66: tinham uma interface com o Estado.
- Page 67 and 68: Parlamento, nos tribunais, como já
- Page 69 and 70: A polarização entre Rui e Seabra
- Page 71 and 72: O ano de 1902, como já se registro
- Page 73 and 74: Figura 3 - Mapa esquemático de dis
- Page 75 and 76: O expurgo seabrista teve certa repe
- Page 77 and 78: Em resposta aos protestos seabrista
- Page 79 and 80: favorável. Com 7.628 votos, foi o
- Page 81 and 82: O conteúdo das cartas pode ter sid
- Page 83 and 84: As mudanças no panorama definiram
- Page 85 and 86: Referências religiosas misturavam-
- Page 87 and 88: essa candidatura fosse exclusivamen
- Page 89 and 90: adesões. Na primeira, de trem até
- Page 91 and 92: que dela vivemos, haurindo-lhe noss
- Page 93 and 94:
capital baiana para receber uma bai
- Page 95 and 96:
salientando os gastos desnecessári
- Page 97 and 98:
Alerta, baianos! Imitai aos heróis
- Page 99 and 100:
Às 13h30, dois tiros de pólvora s
- Page 101 and 102:
Figura 4 - Palácio do governo apó
- Page 103 and 104:
Figura 6 - Em meio à crise do bomb
- Page 105 and 106:
da Bahia, embora mantivesse uma fac
- Page 107 and 108:
O nome de Rui não logrou obter apo
- Page 109 and 110:
A questão fica ainda mais intrinca
- Page 111 and 112:
No momento em que entregou a renún
- Page 113 and 114:
Figura 7 - Jubileu de Rui na Bahia
- Page 115 and 116:
A oposição baiana se articulava,
- Page 117 and 118:
posteriores, com a evidência de qu
- Page 119 and 120:
Comparou os adversários a vermes,
- Page 121 and 122:
“coronéis”, incomodados com a
- Page 123 and 124:
1923, ele ainda tentou ter o apoio
- Page 125 and 126:
Figura 8 - Caricatura dupla Fonte:
- Page 127 and 128:
Que tipo de herói foi Rui Barbosa?
- Page 129 and 130:
pois serviu também como aglutinado
- Page 131 and 132:
Caim (Fragmento de uma visão) - Ac
- Page 133 and 134:
A revolta acompanha os teus passos
- Page 135 and 136:
de haver tomado, quando criança, b
- Page 137 and 138:
Referências 1 - Fontes primárias
- Page 139 and 140:
1.4 - Livros, livretos e obras dive
- Page 141 and 142:
_____. “Mandonismo, coronelismo,
- Page 143 and 144:
PAIM, Antônio; BARRETO, Vicente.