A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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Não se preten<strong>de</strong>rá, aqui, fazer uma análise do abolicionismo <strong>de</strong> Rui Barbosa, t<strong>em</strong>a já abordado<br />
por outros autores. É certo que seu abolicionismo carregava as marcas <strong>de</strong> sua posição social e <strong>de</strong><br />
suas vinculações políticas, b<strong>em</strong> como dos seus i<strong>de</strong>ais humanistas e liberais, o que resultava <strong>em</strong><br />
posições complexas e, eventualmente, contraditórias. Um ex<strong>em</strong>plo é sua abordag<strong>em</strong> do papel<br />
que os escravos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penharam na campanha abolicionista. Em alguns textos <strong>de</strong> 1889 (OCRB<br />
v.XVI, 1889, t.II), preocupado <strong>em</strong> evitar que a abolição se convertesse <strong>em</strong> um perigo para a<br />
estabilida<strong>de</strong> social, Rui convocou os homens esclarecidos a conduzir<strong>em</strong> a “raça <strong>em</strong>ancipada” e a<br />
“raça <strong>em</strong>ancipadora” à harmonia. Nota-se, na própria construção verbal, a passivida<strong>de</strong> atribuída,<br />
não só aos escravos, mas aos negros <strong>em</strong> geral (a “raça <strong>em</strong>ancipada”). Porém, <strong>em</strong> outros textos, o<br />
mesmo Rui pôs <strong>em</strong> relevo o protagonismo dos cativos, <strong>em</strong> contraponto aos que exaltavam a<br />
ação do governo imperial na abolição. Contra o discurso da princesa “re<strong>de</strong>ntora”, ele <strong>de</strong>stacou o<br />
papel ativo dos escravos, através das fugas <strong>em</strong> massa, e dos soldados do Exército, que se<br />
recusaram a recapturá-los (ALBUQUERQUE, 2006).<br />
Seabra também se <strong>de</strong>clarava abolicionista, <strong>em</strong>bora sua postura fosse mais mo<strong>de</strong>rada do que a<br />
<strong>de</strong> Rui. Para enten<strong>de</strong>r sua posição nessa questão, porém, é preciso antes verificar como ele se<br />
situava no cenário agitado dos últimos anos do Império.<br />
Apesar dos dados biográficos incompletos, parece certo que Seabra não herdou um patrimônio<br />
político s<strong>em</strong>elhante ao <strong>de</strong> Rui, que era ligado por antigos laços <strong>de</strong> família ao Partido Liberal. S<strong>em</strong><br />
estar vinculado a nenhum dos partidos e <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> ingressar na política, Seabra tentou entrar<br />
na agr<strong>em</strong>iação que oferecia maiores probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ascensão no momento, isto é, no Partido<br />
Conservador. Os dados <strong>de</strong> Renato Berbert <strong>de</strong> Castro (1990) indicam que ele buscou se aproximar<br />
dos chefes conservadores, tanto <strong>em</strong> Pernambuco como na Bahia. Mesmo na política interna da<br />
faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife, a aproximação dos conservadores era mais proveitosa: entre 1876 e 1887,<br />
época <strong>em</strong> que Seabra estava concluindo seus estudos e iniciando o magistério, a faculda<strong>de</strong> foi<br />
dirigida pelo senador conservador João Alfredo <strong>de</strong> Oliveira.<br />
Em 1884, <strong>em</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um chefe conservador, o conselheiro Machado Portela (professor e ex-<br />
diretor da faculda<strong>de</strong>), Seabra chegou a travar uma polêmica com Joaquim Nabuco. Ocorreu que,<br />
<strong>em</strong> uma conferência, Nabuco disse que o Partido Conservador era escravocrata porque estava<br />
adiando a abolição, citando nominalmente Machado Portela. Seabra interrompeu o orador para<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o conselheiro e o partido, sob as vaias da platéia. No dia seguinte, interpelado por um<br />
cavalheiro no bon<strong>de</strong>, o baiano voltou a atacar Nabuco, e ainda aludiu ao boato <strong>de</strong> que o famoso<br />
abolicionista teria vendido os escravos que recebeu <strong>de</strong> herança, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> libertá-los, como era<br />
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