A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Carta Aberta ao Ex mo Sr. Senador Rui Barbosa, M. D.<br />
candidato eterno e malogrado à Presidência da<br />
República<br />
Ex mo Sr.<br />
Logo após a “notável” e “maravilhosa” conferência do Politeama, conferência<br />
com que V. Ex a se dignou distinguir os seus amigos e admiradores, muitos foram<br />
os cavalheiros que me procuraram, apavorados, afirmando que se procurasse<br />
uma prova cabal e indiscutível da <strong>de</strong>cadência mental <strong>de</strong> V. Ex a , outra mais<br />
robusta não se encontraria do que a resultante <strong>de</strong>ssa incomparável peça<br />
oratória.<br />
“Ele po<strong>de</strong> ter, já roçando pelos 71 ‘b<strong>em</strong> forte o músculo central’, como alegre e<br />
bazofeiro alar<strong>de</strong>ou, <strong>em</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, mas com certeza, e talvez por isso mesmo,<br />
os nervos cerebrais estão já muito flácidos”, disseram-me os ditos cavalheiros.<br />
“Mas por quê?" lhes perguntei eu. "Porque jamais se escreveu ou proferiu uma<br />
<strong>de</strong>scompostura mais tr<strong>em</strong>enda e formidolosa a toda gente, principalmente do<br />
Governo do Estado e ao senhor."<br />
Aguar<strong>de</strong>i a publicação <strong>de</strong>sse documento, e, <strong>de</strong>pois que o li, resolvi agra<strong>de</strong>cer a V.<br />
Ex a as grosserias e insolências com que me distinguiu.<br />
Falando V. Ex a <strong>de</strong> si e <strong>de</strong> mim, esqueceu, entretanto, fatos que peço licença para<br />
rel<strong>em</strong>brar. Deixou V. Ex a , falando como s<strong>em</strong>pre faz, <strong>de</strong> si e <strong>de</strong> seus altos feitos,<br />
<strong>de</strong> salientar que, ao pisar nesta terra, <strong>em</strong> 10 do corrente, encontrou, para<br />
recebê-lo, uma gran<strong>de</strong> comissão que, comovida, lhe agra<strong>de</strong>ceu o quanto e muito<br />
concorreu para a construção das obras do porto <strong>de</strong>sta capital, fazendo esquecer<br />
o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcava <strong>em</strong> arrebentados e maltratados saveiros, com<br />
risco <strong>de</strong> vida, <strong>em</strong> um cais on<strong>de</strong> as cascas <strong>de</strong> banana <strong>de</strong> misturavam com toda<br />
sorte <strong>de</strong> imundícies.<br />
Pouco <strong>de</strong>pois, ao entrar na cida<strong>de</strong>, uma outra comissão <strong>de</strong> ricos e importantes<br />
comerciantes agra<strong>de</strong>ceu, sensibilizada, a V. Ex a ter mandado <strong>de</strong>struir o Santa<br />
Bárbara, o beco da Garapa, o gran<strong>de</strong> mictório que era todo o bairro comercial, e<br />
transformado toda aquela montoeira <strong>em</strong> ruas arejadas, largas e salubres.<br />
Ao fim da Rua da Montanha, obra do paulista Hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> Melo, encontrou ainda<br />
V. Ex a uma enorme multidão que lhe bateu palmas frenéticas, por lhe haver V.<br />
Ex a facilitado a passag<strong>em</strong> e condução <strong>em</strong> automóvel por uma avenida asfaltada,<br />
arborizada e limpa, que se <strong>de</strong>stina da Baixa <strong>de</strong> São Bento ao Rio Vermelho, e, que<br />
já está pronta até o Farol da Barra, lugar on<strong>de</strong> precisamente V. Ex a se recordou<br />
AUTOR:<br />
J. J. SEABRA<br />
133<br />
Texto extraído do jornal O<br />
D<strong>em</strong>ocrata (16 abr.1919)<br />
___________________<br />
Comentários:<br />
A conferencia do<br />
Politeama Baiano<br />
ocorreu na campanha<br />
presi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> Rui.<br />
Em MG, Rui havia<br />
respondido aos que o<br />
acusavam <strong>de</strong> “velho”,<br />
falando da própria<br />
saú<strong>de</strong>.<br />
Seabra, quase da mesma<br />
ida<strong>de</strong>, insinua que Rui<br />
está senil, <strong>em</strong> <strong>de</strong>cadência<br />
mental.<br />
A estratégia retórica é<br />
trocar os feitos e<br />
características <strong>de</strong> um por<br />
outro. Tudo que Seabra<br />
atribui a si próprio<br />
refere-se a Rui.<br />
“falando <strong>de</strong> si e dos seus<br />
altos feitos”: a vaida<strong>de</strong> e<br />
a autopromoção eram<br />
críticas recorrentes a Rui.<br />
Seabra passa a listar<br />
suas próprias obras e<br />
realizações: as obras do<br />
porto, a r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação do<br />
bairro comercial, a<br />
avenida Sete, entre<br />
outras.