Apêndice: textos comentados 129
Caim (Fragmento <strong>de</strong> uma visão) – Acusado, o teu nome? – Todo mundo o sabe. – Tua profissão? – Político. Ministro. Candidato ao governo da Bahia. – Acusado, a Bahia é qu<strong>em</strong> te arrasta a este plenário. Volta os olhos para tua mãe, a terra que te <strong>de</strong>u o ser. O seu vulto, envolvido <strong>em</strong> crepe e escorrendo sangue, enche este pretório. Com uma das mãos, nos mostra as suas feridas, com a outra te aponta a cabeça. Não fala, mas por ela falam as suas chagas; e o seu gesto <strong>de</strong> horror te <strong>de</strong>nuncia. Acusado, que fatos po<strong>de</strong>s alegar <strong>em</strong> tua <strong>de</strong>fesa? – Os meus serviços ao País, à Bahia e à República. Fatos? Os cont<strong>em</strong>porâneos, todos eles, conclamam a glória do meu nome. Professor do nosso direito, eduquei a mocida<strong>de</strong> no conhecimento das leis. Tribuno, inflamei as turbas no amor da liberda<strong>de</strong>. Revolucionário, lutei pela Constituição contra a força. Parlamentar, bati-me pela or<strong>de</strong>m contra a <strong>de</strong>magogia. Ministro, fun<strong>de</strong>i a moralida<strong>de</strong> na administração e a energia no corte das ladroeiras. Baiano, erigi na capital do meu estado um t<strong>em</strong>plo à medicina, dotei <strong>de</strong> novas ferrovias o seu território, e <strong>de</strong>i à sua política, <strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> partido, uma organização invejável, <strong>de</strong> cujos benefícios mana a minha popularida<strong>de</strong>, a minha candidatura e o meu triunfo. No meu caminho, havia apenas um obstáculo, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m aci<strong>de</strong>ntal, o governo e as leis da Bahia. Estou-os r<strong>em</strong>ovendo. Logo, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> criminoso, ben<strong>em</strong>érito, juízes, é o que sou. Mandai-me conferir a coroa do civismo, a da justiça e a da verda<strong>de</strong>. Não me negueis o meu direito. – Acusado, bradas alto, mas oco. Roncas, mas não persua<strong>de</strong>s. O direito, na tua boca, é como a linha reta nos movimentos da serpente. A justiça, nas tuas idéias, como a “Cornucópia do Altíssimo” na eloqüência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> tuas arengas populares. A virtu<strong>de</strong>, na tua moral, como a azeviche das tuas cãs enegrecidas a tinta, <strong>em</strong> tua cabeça <strong>de</strong> quinquagenário à beira dos sessenta anos. Os teus serviços, como os pechisbeques e bugigangas <strong>de</strong> mascataria no armarinho ambulante <strong>de</strong> um turco. Professor, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> ensinares à mocida<strong>de</strong>, o que tens feito é <strong>de</strong>sfrutares comodamente, <strong>em</strong> sucessivas licenças e ausências, coroadas pela tua disponibilida<strong>de</strong> atual, cerca <strong>de</strong> vinte anos <strong>de</strong> vencimentos s<strong>em</strong> trabalho. Tribuno, as tuas palranças <strong>de</strong> agitador nunca se elevaram às alturas <strong>de</strong> uma boa causa, <strong>de</strong> uma idéia feliz ou <strong>de</strong> uma frase <strong>de</strong> bom gosto. Político, extr<strong>em</strong>ado, no antigo regime, entre os conservadores, aceitastes, sôfrego, na última situação liberal do Império, a presidência do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, com que um gracejo telegráfico <strong>de</strong> AUTOR: RUI BARBOSA 130 Texto extraído do volume XXXIX, tomo IV, das Obras Completas <strong>de</strong> Rui Barbosa, p.146-150. Publicado originalmente no Diário <strong>de</strong> Notícias (RJ), <strong>em</strong> 02/fev./1912. ___________________ Comentários: O artigo é construído <strong>em</strong> uma alegoria fantástica <strong>em</strong> que Seabra enfrenta uma espécie <strong>de</strong> tribunal divino. Curiosamente, o nome <strong>de</strong> Seabra não é citado <strong>em</strong> lugar nenhum do texto. Rui recorre à imag<strong>em</strong> da Bahia personificada, <strong>de</strong>screvendo as vestes e o gestual da mãe ensanguentada. Os argumentos usuais do adversário (no caso, os méritos que Seabra costumava reivindicar para si mesmo) são expostos <strong>em</strong> conjunto, no início do texto. Eles serão <strong>de</strong>molidos, um <strong>de</strong> cada vez, dando a impressão <strong>de</strong> que, ao fim, não resta qualquer <strong>de</strong>fesa possível ao acusado. Rui se refere aos cabelos pintados <strong>de</strong> Seabra como evidência da falta <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong> e compostura do adversário. Note-se o recurso a termos incomum <strong>de</strong> sonorida<strong>de</strong> expressiva, como “pechisbeques e “bugigangas”. Aparent<strong>em</strong>ente, Seabra foi vítima <strong>de</strong> um trote <strong>em</strong> que lhe ofereceram a presidência do RS, no Império, e ele aceitou, relevando sua ambição.
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