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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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s<strong>em</strong>inário, com palestras rebatendo cada um dos capítulos do livro. Magalhães Junior foi alvo <strong>de</strong><br />

artigos violentos <strong>de</strong> jornal, e foi chamado <strong>de</strong> “piolho da águia”. Em compensação, a polêmica fez<br />

o sucesso do livro, que recebeu logo uma segunda edição. O t<strong>em</strong>a Rui Barbosa ainda estava<br />

muito vivo, muito presente, para as pessoas daquela geração.<br />

Com as mudanças na socieda<strong>de</strong> e a <strong>em</strong>ergência <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los, o perfil heróico <strong>de</strong> Rui parece<br />

ter perdido parte <strong>de</strong> seu apelo. Seu estilo retórico já não encontra a mesma ressonância nos<br />

leitores. Ele parece ter sido atingido, além disso, pelas mudanças da própria historiografia, que<br />

v<strong>em</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>ndo uma revisão da imag<strong>em</strong> dos “gran<strong>de</strong>s homens”. É b<strong>em</strong> verda<strong>de</strong> que, dos<br />

seus companheiros (duque <strong>de</strong> Caxias, marechal Deodoro, barão do Rio Branco, entre outros), Rui<br />

é o que ainda se mantém mais <strong>em</strong> forma, principalmente por seus feitos jurídicos e por ter se<br />

tornado símbolo <strong>de</strong> justiça e inteligência. Ainda assim, a revisão historiográfica, ou o que <strong>de</strong>la<br />

transborda para os meios <strong>de</strong> comunicação e as escolas, vai formando um Rui diferente daquele<br />

herói do início do século XX. Entre os jovens, a queima dos arquivos da escravidão, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

po<strong>de</strong> estar se tornando mais conhecida do que a campanha civilista.<br />

Rui Barbosa ainda é um herói do Brasil, mas não com a intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outrora. Um indício <strong>de</strong>sse<br />

amortecimento foi a pouca repercussão causada pela caracterização <strong>de</strong> Rui na minissérie Mad<br />

Maria, veiculada pela TV Globo <strong>em</strong> 2005. Apesar <strong>de</strong> ter roteiro <strong>de</strong> Benedito Rui Barbosa, que é<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte direto <strong>de</strong> Rui, a produção o retratava <strong>de</strong> forma pouco conforme ao seu perfil<br />

tradicional: vaidoso, envolvido <strong>em</strong> tramas palacianas e infiel à esposa. Surpreen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente,<br />

Seabra, que também era personag<strong>em</strong> da minissérie, foi retratado como herói incorruptível e<br />

nacionalista, e interpretado pelo ator Antônio Fagun<strong>de</strong>s. O nome <strong>de</strong> Rui foi mantido, enquanto o<br />

<strong>de</strong> Seabra foi trocado por um pseudônimo (J. <strong>de</strong> Castro). O livro que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> à produção<br />

televisiva, publicado <strong>em</strong> 1980, era ainda mais hostil à figura <strong>de</strong> Rui 26 . Nenhuma das obras (livro e<br />

minissérie) provocou senão marolas, nada que se comparasse ao mar<strong>em</strong>oto <strong>de</strong> indignação que<br />

se seguiu ao livro <strong>de</strong> Magalhães Junior.<br />

O percurso da m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> J. J. Seabra também sofreu alterações. Na época <strong>de</strong> sua morte, <strong>em</strong><br />

1942, ele ainda estava muito presente no cotidiano dos baianos. Seu enterro foi concorridíssimo,<br />

26 O livro Mad Maria, <strong>de</strong> Márcio Souza, é apresentado como romance, porém parte <strong>de</strong> suas personagens são pessoas reais,<br />

facilmente i<strong>de</strong>ntificáveis. Tanto Rui como Seabra aparec<strong>em</strong> com seus nomes verda<strong>de</strong>iros, envolvidos <strong>em</strong> uma trama <strong>de</strong><br />

sexo, dinheiro e corrupção, que mistura fantasia e história. Há erros e imprecisões históricas, além <strong>de</strong> acontecimentos<br />

livr<strong>em</strong>ente inventados pelo autor e atribuídos a pessoas reais. Não há qualquer indicação <strong>de</strong> fontes ou arquivos<br />

consultados. A questão que se põe é: mesmo com a advertência <strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> ficção, como o leitor<br />

po<strong>de</strong> adivinhar até que ponto vai a licença poética do autor?<br />

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