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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

125<br />

Via-se, sentia-se, a situação como a luta entre o mocinho e o<br />

bandido e, obviamente, tomava-se o partido do mocinho.<br />

E como falava b<strong>em</strong> o mocinho, cuja pistola era o verbo!<br />

(ANDRADE, 1973,p.2)<br />

De sua infância <strong>em</strong> Minas Gerais, Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> guardou o sentimento expresso<br />

na epígrafe <strong>em</strong> relação ao herói Rui Barbosa e seu combate contra o malvado marechal Hermes<br />

da Fonseca, na campanha civilista. Do seu ponto <strong>de</strong> vista, aquela não era uma disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

entre enfadonhos senhores <strong>de</strong> bigo<strong>de</strong>s e bengalas pelo controle do Estado. Era uma luta <strong>de</strong><br />

mocinho e bandido, o confronto <strong>de</strong> vida e morte entre o vilão e o herói.<br />

Heróis são, por sua própria natureza, míticos. Eles con<strong>de</strong>nsam uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> referências<br />

culturais, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos, <strong>de</strong> aspirações, <strong>de</strong> uma coletivida<strong>de</strong> 24 . No caso específico do mito político,<br />

po<strong>de</strong>-se dizer, com Raoul Girar<strong>de</strong>t (1987, p.14), que é um sist<strong>em</strong>a particular <strong>de</strong> discurso,<br />

ancorado <strong>em</strong> três planos: fabulação, explicação e mobilização. Fabulação porque envolve<br />

necessariamente a construção <strong>de</strong> uma história, <strong>em</strong>bora nunca baseada apenas <strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos<br />

fictícios, já que esse é um discurso baseado na presunção <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. Explicação porque, como<br />

mito, t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> explicar o mundo, conectar fatos do presente e do passado. Finalmente, a<br />

mobilização aten<strong>de</strong> a uma característica fundamental da política: mover para a ação.<br />

No fascinante território da mitologia política, <strong>de</strong>staca-se a figura do herói, ou melhor, dos heróis,<br />

pois há vários tipos <strong>de</strong>les. Girar<strong>de</strong>t i<strong>de</strong>ntifica quatro, que associa aos seus representantes mais<br />

conhecidos: Cincinato, o idoso que <strong>de</strong>ixou seu retiro mo<strong>de</strong>sto para salvar a pátria; Alexandre, o<br />

jov<strong>em</strong> aventuroso e conquistador; Sólon, o legislador, fundador e organizador; Moisés, o profeta<br />

visionário que guia o seu povo. Muitos outros mo<strong>de</strong>los po<strong>de</strong>riam ser aventados, ou misturados,<br />

pois, no território do mito, não há fronteiras estanques. As diferentes aspirações e referências se<br />

encontram e se modificam, <strong>de</strong> forma fluida e imprevisível, na “encruzilhada do imaginário, on<strong>de</strong><br />

vêm cruzar-se e <strong>em</strong>baralhar-se as aspirações e as exigências mais diversas, e por vezes mais<br />

contraditórias” (GIRARDET, 1987, p.73).<br />

24 As reflexões sobre mitos e heróis políticos foram <strong>em</strong>basadas nos textos <strong>de</strong> Luís Felipe Miguel e Raol Girar<strong>de</strong>t, citados na<br />

bibliografia.

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