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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Rui vinha buscando, claramente, conquistar o apoio do presi<strong>de</strong>nte Epitácio Pessoa. Sua primeira<br />

ação nesse sentido ocorreu imediatamente após as eleições, quando ele reconheceu a vitória do<br />

adversário e não contestou os votos por ele obtidos. Era uma postura b<strong>em</strong> diferente da que Rui<br />

assumiu <strong>em</strong> 1910, quando escreveu um longo m<strong>em</strong>orial contestando a eleição <strong>de</strong> Hermes. Além<br />

<strong>de</strong> reconhecer a vitória <strong>de</strong> Epitácio, Rui salientou que s<strong>em</strong>pre o respeitou durante a campanha.<br />

Ele sabia que o novo presi<strong>de</strong>nte não tinha um bom relacionamento com Seabra e queria garantir<br />

o apoio para seu grupo na Bahia. A estratégia parecia promissora. Diversos funcionários fe<strong>de</strong>rais<br />

seabristas começaram a ser <strong>de</strong>mitidos, o que sinalizava o apoio <strong>de</strong> Epitácio à oposição. Mais<br />

importante: houve uma mudança no comando da guarnição militar instalada na Bahia, com a<br />

substituição <strong>de</strong> um general simpático a Seabra por um militar ligado aos ruístas. Tudo isso dava<br />

novas esperanças aos partidários <strong>de</strong> Rui.<br />

Para viabilizar a intervenção, a oposição também precisaria <strong>de</strong> uma sentença favorável ao grupo,<br />

o que era b<strong>em</strong> simples, pois o candidato <strong>de</strong> Rui era o próprio juiz fe<strong>de</strong>ral. Os ruístas contavam,<br />

também, com outros importantes magistrados baianos, como Bráulio Xavier, outro ex-seabrista<br />

<strong>de</strong> 1912. Mas, havia ainda outra questão. Normalmente, as intervenções fe<strong>de</strong>rais ocorriam <strong>em</strong><br />

momentos <strong>de</strong> agitação, <strong>em</strong> que se justificava a ação externa <strong>em</strong> nome da salvação pública. Era<br />

nesse ponto que entravam os sertanejos tão elogiados por Rui. Em suas conferências pelo<br />

interior do estado, ele clamou pelos brios dos homens do sertão:<br />

119<br />

Seria possível que qualquer coisa capaz <strong>de</strong> usar o nome <strong>de</strong> povo, seria possível que o mais baixo<br />

povo do mundo, quanto mais o povo brasileiro, quanto mais o povo baiano, se acomodasse a<br />

chafurdar nesse atasca<strong>de</strong>iro vilíssimo s<strong>em</strong> uma reação eficaz, s<strong>em</strong> uma reação heróica, s<strong>em</strong> uma<br />

reação <strong>de</strong> todos os seus instintos, <strong>de</strong> toda sua consciência, <strong>de</strong> toda sua energia? Seria possível que<br />

as virtu<strong>de</strong>s sertanejas, no momento <strong>em</strong> essa política abdominosa e voraz, obra do coito da hiena<br />

com o varrasco, a política do bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> Salvador e da bancarrota da Bahia, no momento <strong>em</strong><br />

que essa política espúria e <strong>de</strong>generada vai jogar todos os trunfos na última cartada pela sua<br />

eternida<strong>de</strong> no Governo do Estado que <strong>de</strong>sonrou – seria possível que a moralida<strong>de</strong>, o civismo e o<br />

pundonor <strong>de</strong>sta raça <strong>de</strong> heróis do trabalho, da modéstia e do sofrimento (...) escolhesse o cogote e<br />

<strong>de</strong>sfilasse <strong>de</strong> corrida para casa como a ovelhada a caminho do aprisco, ao latir dos cães do<br />

ovelheiro? (OCRB 1919 v. XLVI, t.III, p.44-45).<br />

Os sertanejos não eram ovelhas, como Seabra sabia muito b<strong>em</strong>. Como já se comentou, ele havia<br />

tentador exercer seu mando no interior da Bahia, on<strong>de</strong> tinha antigas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aceitação. A<br />

reforma da Constituição Estadual e a lei <strong>de</strong> nomeação <strong>de</strong> inten<strong>de</strong>ntes foram estratégias para<br />

concentrar o po<strong>de</strong>r nas mãos do governador. Essa iniciativa, no entanto, acabou <strong>de</strong>spertando a<br />

ira <strong>de</strong> muitos chefes, que não aceitavam ter que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do beneplácito do governo para<br />

exercer o po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> seus próprios municípios. Além disso, a interferência da polícia estadual a<br />

favor dos chefes governistas na gestão <strong>de</strong> Antônio Muniz (abandonando a estratégia <strong>de</strong> Seabra<br />

<strong>de</strong> esperar a briga e se aliar com o vencedor, que era o mais forte), provocou a reação <strong>de</strong> vários

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