A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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A postura do governo estadual, favorável aos operários, <strong>de</strong>sagradou, por sua vez, à Associação<br />
Comercial da Bahia, porta-voz das “classes conservadoras”. A entida<strong>de</strong> já vinha entrando <strong>em</strong><br />
conflito com o governador <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Antônio Muniz, diante da pressão social, tomou medidas<br />
<strong>de</strong> intervenção na economia para minorar a carestia dos alimentos, como a fixação <strong>de</strong> uma<br />
tabela <strong>de</strong> preços. A atuação na greve geral foi a gota d’água para as “classes conservadoras”, que<br />
passaram a se aliar á oposição ruísta. Os jornais oposicionistas falavam <strong>em</strong> soviete dos Munizes.<br />
Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser irônico que a expressão <strong>de</strong>signasse a parentela do governador Antônio Muniz e<br />
<strong>de</strong> seu primo Muniz Sodré, tão zelosos do seu “sangue azul” que, anos antes, foram chamados<br />
<strong>de</strong> “fidalgotes” por um adversário, como já se registrou.<br />
Articuladas à oposição, as próprias “classes conservadoras” lançaram um candidato ao governo<br />
da Bahia, o juiz fe<strong>de</strong>ral Paulo Martins Fontes. O candidato governista era o próprio Seabra, que<br />
voltava para tentar retomar o controle do partido, bastante fragilizado após a gestão Muniz.<br />
Além dos probl<strong>em</strong>as externos, o seabrismo sofria uma profunda crise interna. S<strong>em</strong> a habilida<strong>de</strong><br />
do chefe, Antônio Muniz não conseguiu manejar as complexida<strong>de</strong>s da política baiana, <strong>de</strong>ixando<br />
que o po<strong>de</strong>r concentrado pelo antecessor se <strong>de</strong>sagregasse a olhos vistos. Amargou perdas como<br />
a do <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Otávio Mangabeira, que se uniu a outro ex-seabrista, Ernesto Simões<br />
Filho, para comandar as oposições baianas sob as or<strong>de</strong>ns do chefe máximo <strong>de</strong> ambos: o senador<br />
Rui Barbosa (OCRB 1919 p.8).<br />
De fato, apesar do candidato oposicionista ser Paulo Fontes, a campanha eleitoral foi um duelo<br />
Rui X Seabra. Rui se engajou nessa campanha como se sua própria vida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>sse disso. Aos 71<br />
anos, com a saú<strong>de</strong> precária <strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre, saiu pelo interior da Bahia <strong>em</strong> longos percursos <strong>de</strong> tr<strong>em</strong>,<br />
<strong>de</strong> navio e até <strong>de</strong> canoa. Palestrou <strong>em</strong> Alagoinhas, Serrinha, Santo Amaro, Cachoeira, Bonfim e<br />
Feira <strong>de</strong> Santana, além <strong>de</strong> Salvador, no período <strong>de</strong> 35 dias. Com todo esse esforço, e sua<br />
popularida<strong>de</strong>, a campanha baiana ganhou visibilida<strong>de</strong> nacional. Da Europa, por cartas, seu filho<br />
mais novo, João Rui, acompanhava as “estripulias” do pai “pelos sertões da Mulata Velha”, como<br />
era chamada a Bahia. “Até parece que t<strong>em</strong> bicho-carpinteiro a fazer-lhe cócegas!”, comentou João<br />
Rui com seu correspon<strong>de</strong>nte e informante, o mordomo Antônio, que acompanhava todos os passos<br />
do patrão (OCRB 1919 v. XLVI, t.III; ARB/CRUPF 147 16/01/1920).<br />
Nessas conferências públicas, Rui voltou a <strong>de</strong>stilar o melhor da sua retórica para dizer o pior do<br />
adversário. Eram textos violentos, cheios <strong>de</strong> acusações retumbantes e pertardos irônicos contra<br />
a oligarquia “dos Antoninhos e dos Jotas”. Muitas vezes, ele recorreu a imagens chocantes <strong>de</strong><br />
doença e podridão, <strong>de</strong> lepra e pus, para caracterizar a corrupção e a violência governamental.<br />
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