A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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posteriores, com a evidência <strong>de</strong> que o terreno i<strong>de</strong>ológico se mostrava cada vez mais fértil à<br />
rebeldia, as autorida<strong>de</strong>s passaram a se preocupar ainda mais.<br />
Um ex<strong>em</strong>plo baiano: <strong>em</strong> 1918, o governador Antônio Muniz afirmou que, apesar dos probl<strong>em</strong>as<br />
financeiros do estado, não paralisaria as obras públicas <strong>de</strong> Salvador para não <strong>de</strong>s<strong>em</strong>pregar os<br />
trabalhadores, que “se veriam, <strong>de</strong> chofre, <strong>de</strong>samparados e s<strong>em</strong> pão, sob as tristes ameaças da<br />
miséria”. Não era apenas uma medida <strong>de</strong> compaixão, explicou, mas uma questão política, pois<br />
“<strong>em</strong> momentos <strong>de</strong> crises sociais como esta que atravessa o mundo, daria provas <strong>de</strong> chocante<br />
<strong>de</strong>sumanida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> imprudência política, o governo que, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> suavizar a dura existência do<br />
proletariado, fosse agravar as suas dificulda<strong>de</strong>s, retirando os meios <strong>de</strong> vida àqueles que se<br />
entregam ao trabalho” (BAHIA, 1918, p.6, grifo nosso). O discurso foi apresentado por Antônio<br />
Muniz à Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa poucos meses <strong>de</strong>pois da Revolução Russa <strong>de</strong> 1917, que mudou<br />
para s<strong>em</strong>pre a forma como as “classes conservadoras” olhavam para as “classes laboriosas”, nos<br />
alicerces do “edifício social”.<br />
Em junho <strong>de</strong> 1919, os operários baianos fizeram sacudir o edifício, com a primeira greve geral <strong>de</strong><br />
Salvador. O movimento se iniciou no sindicato dos pedreiros, esten<strong>de</strong>ndo-se, aos poucos, para<br />
outros ramos profissionais. Em poucos dias, a maior parte das fábricas e oficinas estava fechada.<br />
Trabalhadores dos serviços públicos também a<strong>de</strong>riram, e a cida<strong>de</strong> ficou s<strong>em</strong> energia e s<strong>em</strong><br />
transportes. Além da abrangência, o movimento também ficou marcado por ter adotado uma<br />
postura diferente dos protestos contra a carestia, tão conhecidos da população baiana. Li<strong>de</strong>rada<br />
pelo advogado Agripino Nazaré, a greve assumiu reivindicações relacionadas mais <strong>de</strong> perto ao<br />
mundo do trabalho, como a diminuição da jornada <strong>de</strong> trabalho, regulação da mão-<strong>de</strong>-obra<br />
infantil e f<strong>em</strong>inina, entre outras (CASTELLUCCI, 2001).<br />
O fato <strong>de</strong> a greve ter ocorrido <strong>em</strong> um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> tensão política entre seabristas e<br />
ruístas fez com que os dois grupos estivess<strong>em</strong> dispostos a firmar uma aliança com os operários,<br />
que pu<strong>de</strong>ram escolher o lado que lhes proporcionaria maiores benefícios. Optaram pelo governo<br />
do Estado que, além disso, já tinha uma relação antiga e consolidada com setores do operariado<br />
baiano. Apesar das resistências <strong>de</strong> Agripino Nazaré, que queria manter o movimento grevista<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos políticos externos, era inegável que alguns sindicatos, como o dos estivadores,<br />
tinham uma relação próxima com políticos seabristas. No caso da greve geral, qu<strong>em</strong> serviu <strong>de</strong><br />
intermediário junto aos patrões foi o próprio governador Antônio Muniz, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u as<br />
<strong>de</strong>mandas dos grevistas e não reprimiu <strong>em</strong> momento algum o movimento.<br />
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