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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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Às Classes Conservadoras, era um apelo para que essas “classes”, que eram as “células vivas” da<br />

socieda<strong>de</strong>, retomass<strong>em</strong> a política das mãos dos “parasitas” da politicalha. Mas, qu<strong>em</strong> eram as<br />

“classes conservadoras”, na opinião <strong>de</strong> Rui? Sua <strong>de</strong>finição abrangia, não só a lavoura, a indústria<br />

e o comercio (as “classes conservadoras” na concepção mais difundida na época), mas também<br />

o funcionalismo público, os militares e os operários, todos que produziss<strong>em</strong> algo benéfico <strong>em</strong><br />

prol da socieda<strong>de</strong>. Era uma <strong>de</strong>finição elástica, que parece ter servido mais como el<strong>em</strong>ento<br />

retórico. Ficavam excluídos das “classes conservadoras” apenas os maus políticos, apontados<br />

como os causadores <strong>de</strong> todos os males do Brasil.<br />

O segundo discurso, A Questão Social e Política no Brasil, foi voltado aos operários. Nele, Rui se<br />

ocupou, pela primeira vez, da “questão social”, <strong>de</strong>monstrando uma importante mudança <strong>em</strong> seu<br />

pensamento político, que se afastara do liberalismo individualista clássico para admitir “medidas<br />

tutelares” <strong>em</strong> relação ao operário, nos mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma “<strong>de</strong>mocracia cristã”. Seu ex<strong>em</strong>plo i<strong>de</strong>al<br />

<strong>de</strong> relação patrão-<strong>em</strong>pregado eram as vilas operárias criadas <strong>em</strong> São Paulo pelo industrial Jorge<br />

Street. A principal preocupação expressa por Rui, nos dois discursos, era <strong>de</strong> que o acirramento<br />

das tensões sociais, agravado pela intransigência dos sucessivos governos, levasse o regime<br />

brasileiro a um <strong>de</strong>sfecho s<strong>em</strong>elhante ao do kayserismo al<strong>em</strong>ão ou do czarismo russo: “a guerra<br />

ou, pior, a anarquia”, no sentido lato <strong>de</strong> dissolução da or<strong>de</strong>m.<br />

115<br />

Assim é que, senhores, já não é a anarquia uma palavra, um mal vago r<strong>em</strong>oto, exótico, dominável<br />

pela força organizada. É uma alucinação reduzida à prática. É um pesa<strong>de</strong>lo introduzido na vida<br />

real. É uma contingência iminente, um inimigo à porta e po<strong>de</strong>ria vir a ser, <strong>de</strong> um momento para<br />

outro, uma realida<strong>de</strong> atual. Tóxico sutil nas combinações <strong>de</strong>baixo das quais se propina à<br />

consciência dos humil<strong>de</strong>s, sente-se menos nas alturas, porque, nas suas tendências gerais,<br />

participa da natureza <strong>de</strong> certos gases pesados, como o óxido carbônico, que gravitam para as<br />

camadas baixas do ambiente, e rastejam com a morte pelo chão. Mas por toda parte se infiltra, <strong>em</strong><br />

toda parte se acha, e <strong>de</strong> toda parte ameaça. (OCRB, 1919, v.XLVI, t.I, p.59).<br />

Rui não era o único a se preocupar com esse “tóxico sutil”, que se espalhava preferencialmente<br />

“nas camadas baixas do ambiente”. Des<strong>de</strong> o começo da República, esses t<strong>em</strong>ores rondavam as<br />

mentes dos “próceres”, preocupados com a estabilida<strong>de</strong> social. Progressivamente, essa questão<br />

foi ganhando maior visibilida<strong>de</strong>, na medida <strong>em</strong> que greves e outros movimentos reivindicatórios<br />

passaram a fazer parte da vida das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s brasileiras. Em 1910, na plataforma eleitoral<br />

hermista, já apareciam referências ao probl<strong>em</strong>a operário, como uma questão com que o país<br />

teria que se <strong>de</strong>frontar no futuro. Apesar <strong>de</strong> minimizar o probl<strong>em</strong>a (“Não nos assoberbam ainda,<br />

felizmente, os gran<strong>de</strong>s abalos produzidos pela luta entre o braço e o capital”) e <strong>de</strong> achar que o<br />

socialismo, no Brasil, seria era “planta exótica” incapaz <strong>de</strong> brotar, o presi<strong>de</strong>nte Hermes estava<br />

atento a essa força social. Em 1912, ele organizou um congresso <strong>de</strong> trabalhadores, uma forma <strong>de</strong><br />

tentar manter um controle sobre suas reivindicações (Gazeta do Povo, 03 jan. 1910). Nos anos

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