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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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3.5Greve na capital, conflito no sertão (1919-1920 )<br />

Os últimos anos do governo Antônio Muniz foram movimentados. A Primeira Guerra Mundial<br />

agravara os probl<strong>em</strong>as financeiros do Estado. A população sofria com o aumento do custo <strong>de</strong><br />

vida, especialmente com os altos preços dos alimentos. Diversas categorias profissionais foram<br />

prejudicadas com a guerra, que aumentou o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, fomentando a insatisfação popular.<br />

Havia, além disso, uma onda mundial <strong>de</strong> mobilização dos trabalhadores, após as duas revoluções<br />

na Rússia, <strong>em</strong> 1917, e suas repercussões. Algumas cida<strong>de</strong>s brasileiras, como São Paulo, vinham<br />

sendo sacudidas por greves e outros movimentos populares. A capital da Bahia não ficaria alheia<br />

a essa atmosfera <strong>de</strong> agitação.<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 1918, os professores municipais recusaram-se a iniciar o ano letivo, <strong>em</strong> protesto<br />

pelo atraso dos salários. Contaram com o apoio da oposição, que, cada vez mais, se i<strong>de</strong>ntificava<br />

como ruísta. Em maio, o governo estadual foi acusado <strong>de</strong> <strong>em</strong>pastelar o jornal A Hora, <strong>de</strong> Artur<br />

Ferreira, um ex-seabrista que passou à oposição. O Diário da Bahia, também anti-Seabra, se<br />

ofereceu para imprimir A Hora <strong>em</strong> suas oficinas, mas a polícia interveio e, <strong>em</strong> meio à confusão,<br />

um estafeta dos telégrafos foi morto a tiros. O chofer <strong>de</strong> Simões Filho levou quatro facadas <strong>de</strong><br />

Inocêncio Sete Mortes, conhecido valentão, capoeira e guarda civil 23 . O governo resolveu proibir<br />

os meetings, a não ser quando autorizados pela polícia.<br />

No Senado, Rui Barbosa, que havia pedido licença <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, compareceu à sessão especialmente<br />

para solicitar providências contra o “regime <strong>de</strong> terror” vigente na Bahia. Foi interrompido por<br />

apartes <strong>de</strong> Seabra que agora também era senador (foi eleito para a vaga aberta com a morte <strong>de</strong><br />

José Marcelino). Seabra disse que Rui estava “iludido” por informações equivocadas e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />

a ação da polícia (DCN, 30/05/1918). Dois meses <strong>de</strong>pois, Artur Ferreira voltou ao noticiário por<br />

ter matado o tenente e <strong>de</strong>putado estadual Propício da Fontoura, quando este o confrontou<br />

sobre artigos ofensivos à sua honra. Em março <strong>de</strong> 1919, a tensão se elevou ainda mais. Um<br />

meeting da oposição na praça municipal foi dispersado a tiros. Simões Filho e Me<strong>de</strong>iros Neto<br />

ficaram feridos. Miguel Calmon e Pedro Lago escaparam correndo. Note-se que, o acirramento<br />

dos ânimos levava até os “próceres” mais aristocráticos, como Miguel Calmon, neto do marquês<br />

<strong>de</strong> Abrantes, às ruas, para os meetings. Mais uma vez, os piores danos foram sofridos por um<br />

hom<strong>em</strong> do povo, que foi baleado e morreu.<br />

23 Alguns estudos têm apontado relações <strong>de</strong> políticos seabristas, como o chefe <strong>de</strong> polícia Álvaro Cova, e o próprio J. J. Seabra<br />

com capoeiristas <strong>de</strong> Salvador. Essa relação aparece, por ex<strong>em</strong>plo, na dissertação <strong>de</strong> Josivaldo Pires <strong>de</strong> Oliveira (2004).<br />

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