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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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No momento <strong>em</strong> que entregou a renúncia, disse apenas:<br />

- Fique certo <strong>de</strong> que não brigarei mais com esse hom<strong>em</strong> (ARB/CRUPF 1447 26/08/1915).<br />

Pereira Teixeira explicou a Seabra que não queria sua renúncia, mas pediu que ele adotasse uma<br />

solução conciliatória, ao que ele respon<strong>de</strong>u: “pergunte ao Rui se ele teria corag<strong>em</strong> <strong>de</strong> abandonar<br />

o Alfredo ou o Palma. Abandonar o Antônio Muniz, nesse momento, é traí-lo. Prefiro <strong>de</strong>ixar o<br />

cargo e a política”. Na <strong>de</strong>spedida, ainda <strong>de</strong>u uma razão <strong>em</strong>ocional para sua escolha:<br />

110<br />

Antônio Muniz é como se fosse meu filho. Eu não estimo o Zeca e o Carlos [filhos <strong>de</strong> Seabra] como<br />

estimo a ele. O pai <strong>de</strong>sse hom<strong>em</strong> morreu pedindo unicamente isso, que me acompanhasse até o<br />

fim da vida. Não precisaria pedir, pois o filho nunca pensou <strong>em</strong> outra coisa. Esse hom<strong>em</strong> foi o meu<br />

partido na Bahia. Não se registra <strong>de</strong>dicação política igual. Eu terei necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar logo a<br />

Bahia e não voltar aqui para que ele possa administrar.<br />

Diga, enfim, ao Rui, que é a mim que ele aceita como governador, não é ao Muniz (ARB/CRUPF<br />

1447 26/08/1915).<br />

A última frase resume a raiz da insistência <strong>de</strong> Seabra e das resistências <strong>de</strong> Rui. De fato, o que se<br />

discutia, no fundo, era a continuida<strong>de</strong> do mando seabrista. Seabra apelou até para a esposa <strong>de</strong><br />

Rui para obter as boas graças do aliado para sua escolha (“Fale também a D. Cotinha <strong>em</strong> meu<br />

nome. Peça-lhe que intervenha e que solicite a Rui o que estou a implorar”, disse ele a Pereira<br />

Teixeira, no mesmo encontro), <strong>em</strong> vão. Quando o nome do candidato oficial foi divulgado, Rui<br />

reagiu friamente. Em agosto <strong>de</strong> 1915, <strong>em</strong> uma reunião <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados baianos <strong>em</strong> sua casa, o<br />

senador explicitou formalmente sua opinião. L<strong>em</strong>brou os motivos <strong>de</strong> sua aliança com Seabra, as<br />

contribuições que <strong>de</strong>u ao partido governista baiano e as conversas sobre a sucessão, <strong>em</strong> que<br />

Seabra insistia que sua cooperação era fundamental. Concluiu dizendo que, como sua opinião<br />

não foi levada <strong>em</strong> conta, não se consi<strong>de</strong>rava responsável pela escolha. S<strong>em</strong> romper ainda<br />

publicamente com Seabra, disse que o caso se resumiu a uma “questão doméstica”, <strong>em</strong> que os<br />

dirigentes do Partido Republicano D<strong>em</strong>ocrata já não acreditavam que valesse a pena “levar <strong>em</strong><br />

conta o aliado cuja colaboração e solidarieda<strong>de</strong> até há pouco reputavam essenciais” (OCRB,<br />

v.XLII, 1915, t.II, p.249-255).<br />

Novamente, as palavras <strong>de</strong> Rui revelam sua profunda irritação. Outros fatos ocorridos <strong>em</strong> 1915<br />

contribuíram para <strong>de</strong>ixar clara a estratégia seabrista <strong>de</strong> se manter no controle do po<strong>de</strong>r<br />

estadual. A reforma da Constituição Estadual (24 maio 1915) e a lei <strong>de</strong> organização municipal (lei<br />

1.102, <strong>de</strong> 11 ago. 1915) extinguiram a eleição para os inten<strong>de</strong>ntes municipais, que passaram a<br />

ser nomeados pelo governador. Dessa forma, Seabra tentava domar os chefes do interior,<br />

centralizando o po<strong>de</strong>r <strong>em</strong> Salvador. Sua estratégia era simples: <strong>de</strong>ixar os “coronéis” rivais<br />

lutar<strong>em</strong> entre si, para <strong>de</strong>pois apoiar o vencedor (SAMPAIO, 1998, p.140).

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