A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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o sucessor. Ele não pretendia repetir a moda dos governadores anteriores e ter uma passag<strong>em</strong><br />
efêmera pelo po<strong>de</strong>r estadual. Para estabelecer um mando duradouro, precisava nomear alguém<br />
genuinamente seabrista, incapaz <strong>de</strong> uma traição. Foi a propósito <strong>de</strong>ssa difícil escolha que se <strong>de</strong>u<br />
a primeira fissura na aliança. Rui, evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, queria indicar alguém mais próximo ao seu<br />
grupo. Os el<strong>em</strong>entos hostis a Seabra aguardavam sua posição. Na Bahia, disse o <strong>de</strong>putado L<strong>em</strong>os<br />
Brito a Alfredo Rui, todos “esperam ansiosos a indicação do candidato pelo Velho”. O missivista<br />
comentou que essa era a oportunida<strong>de</strong> “para vocês experimentar<strong>em</strong> a sincerida<strong>de</strong> do Seabra”, e<br />
fez um apelo: “Salv<strong>em</strong> a Bahia!” (ARB/CRUPF 244 08/08/1915).<br />
As articulações para a sucessão governamental foram extensas e complicadas. Rui, inicialmente,<br />
sugeriu seu amigo José Joaquim da Palma, mas Seabra alegou que esse nome não era aceito pelo<br />
partido. Depois, Seabra propôs a candidatura do juiz Paulo Fontes, mas a retirou assim que Rui a<br />
aceitou, alegando que, novamente, o partido não concordava. Em meio às negociações, Seabra<br />
parece ter contado com a boa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alfredo Rui, com qu<strong>em</strong> já se relacionava <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />
amiza<strong>de</strong>. Como Mário Hermes, Alfredo Rui também se <strong>de</strong>ixou encantar pelas artes políticas <strong>de</strong><br />
Seabra, que dizia querer resolver tudo <strong>de</strong> acordo com seu pai, com qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>clarava ter uma<br />
“aliança até a morte”. Há indícios <strong>de</strong> que Seabra tenha, inclusive, dado a enten<strong>de</strong>r que o próprio<br />
Alfredo Rui po<strong>de</strong>ria ser o candidato. Na Bahia, porém, os políticos mais b<strong>em</strong> informados sabiam<br />
que Seabra tentava, a todo custo, impor o nome do <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Antônio Muniz, que<br />
encontrava resistências junto aos ruístas e também entre alguns seabristas.<br />
Nos arquivos consultados, há muitas referências a grupos que <strong>de</strong>sejavam manter a união Rui-<br />
Seabra e <strong>de</strong> outros que queriam rompê-la. Aparent<strong>em</strong>ente, Seabra se esforçava para manter a<br />
aliança com Rui e usava todos os artifícios disponíveis para isso, exceto recuar da indicação do<br />
seu candidato preferido, que era Antônio Muniz. Um interessante test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong>ssa atitu<strong>de</strong> é o<br />
<strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Joaquim Pereira Teixeira, que serviu <strong>de</strong> <strong>em</strong>issário <strong>de</strong> Rui junto a Seabra. Em carta<br />
ao senador, ele contou que chegou a Salvador ainda <strong>de</strong> madrugada e seguiu logo para o palácio<br />
do governo, on<strong>de</strong> encontrou Seabra <strong>de</strong> pijamas. De lágrimas nos olhos, o governador o recebeu<br />
perguntando: “Então, meu filho, V. v<strong>em</strong> fazer minha <strong>de</strong>posição?”. Surpreso, Pereira Teixeira<br />
explicou que vinha <strong>em</strong> missão <strong>de</strong> paz, mas Seabra lhe <strong>de</strong>u um envelope, dizendo que continha<br />
sua renúncia ao governo. Pediu que entregasse o documento a Rui, como prova <strong>de</strong> sua estima e<br />
solidarieda<strong>de</strong>. Pereira Teixeira, <strong>em</strong> seu relato posterior, comentou:<br />
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Devo, a b<strong>em</strong> da verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>clarar nunca ter visto Seabra tão comovido. Mal podia falar. Já nas<br />
conferências anteriores, referiu-se ao Rui com lágrimas nos olhos e mostrando ressentimentos <strong>de</strong><br />
que Rui não acreditasse na sincera solidarieda<strong>de</strong> que com ele mantém.