A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...
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A questão fica ainda mais intrincada quando se sabe que Seabra, através do Conselho Municipal,<br />
mandou aprovar um prêmio <strong>de</strong> c<strong>em</strong> contos <strong>de</strong> réis a Rui, por sua atuação no caso. Segundo ele,<br />
não se tratava propriamente <strong>de</strong> um pagamento, pois os serviços <strong>de</strong> Rui eram “inestimáveis”,<br />
mas apenas <strong>de</strong> “uma l<strong>em</strong>brança pelo gran<strong>de</strong> triunfo alcançado [<strong>em</strong>] favor [dos] interesses [do]<br />
município”. No acervo <strong>de</strong> Rui, entretanto, há também uma carta do próprio Júlio Brandão, <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1914, agra<strong>de</strong>cendo pelo apoio e pedindo: “não me <strong>de</strong>sampare <strong>em</strong> momento tão<br />
angustioso, vítima que sou da paixão dos homens e da perseguição dos po<strong>de</strong>rosos” (ARB/CRUPF<br />
1332-1/1 14/09/1914; ARB/CRUPF 229 05/12/1914). A solicitação <strong>de</strong> Júlio Brandão <strong>de</strong>ve ter sido<br />
atendida, pois ele acabou se tornando amigo <strong>de</strong> Rui e, anos <strong>de</strong>pois, seu sócio numa fábrica <strong>de</strong><br />
soda cáustica chamada Carbônica. São, <strong>em</strong> suma, negócios muito complicados dos bastidores da<br />
política, que merec<strong>em</strong> novas investigações.<br />
Em janeiro <strong>de</strong> 1915, tudo parecia tranqüilo entre Rui e Seabra, ao menos na superfície. O partido<br />
seabrista renovou o mandato <strong>de</strong> Rui no Senado. Por telegrama, Seabra informou a Rui que seu<br />
“prestigioso e aureolado nome (...) foi justa, brilhante e patrioticamente sufragado” com 85 mil<br />
votos. O governador tentava agradar o senador. No acervo <strong>de</strong> Rui, resta ainda hoje o cartãozinho<br />
que acompanhou uma caixa <strong>de</strong> mangas <strong>de</strong> Itaparica, mandadas por Seabra exatamente nessa<br />
época (ARB/CRUPF 1332-1/1 24/02/1915). Rui também <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u o grupo seabrista dos ataques<br />
da oposição baiana, representada pelos partidários unidos <strong>de</strong> Luís Viana, José Marcelino e<br />
Severino Vieira, que tinham promovido uma “duplicata” na Câmara estadual. Em maio, contando<br />
com a força <strong>de</strong> Pinheiro Machado, a oposição forçou uma redistribuição das vagas baianas no<br />
Congresso, “<strong>de</strong>golando” candidatos do governo estadual. Graças à ação <strong>de</strong> Rui, as sete vagas<br />
concedidas inicialmente por Pinheiro Machado transformaram-se <strong>em</strong> quatorze, que ele e Seabra<br />
tiveram que dividir entre seus respectivos “amigos” (SAMPAIO, 1998, p.128; OCRB, v.XLII, 1915,<br />
t.II, p.249-255).<br />
Apesar <strong>de</strong>ssa reaproximação, a tensão latente entre Rui como Seabra não <strong>de</strong>moraria a vir à tona.<br />
Ambos tinham vocação para chefiar, e não ser<strong>em</strong> chefiados, e só havia espaço para um cacique<br />
na política baiana. Até 1915, a habilida<strong>de</strong> política <strong>de</strong> Seabra à frente do governo estadual e a<br />
existência <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>roso inimigo comum (Pinheiro Machado), mantiveram a aliança incólume.<br />
A partir <strong>de</strong>sse ano, contudo, os probl<strong>em</strong>as começaram a <strong>em</strong>ergir.<br />
O sist<strong>em</strong>a eleitoral da Bahia na Primeira República era coalhado <strong>de</strong> vícios que favoreciam o<br />
continuísmo no po<strong>de</strong>r, mas não permitia a reeleição sucessiva do governador. Por isso, ao se<br />
aproximar o fim do seu período governamental, Seabra se <strong>de</strong>parou com o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> escolher<br />
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