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A Raposa e a Águia - Programa de Pós-Graduação em História ...

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As fontes consultadas não revelam as opiniões <strong>de</strong> Rui sobre as ações <strong>de</strong>senvolvidas no primeiro<br />

governo Seabra, como a reorganização administrativa do Estado e a reforma urbana <strong>de</strong> Salvador,<br />

hoje controversa pelas <strong>de</strong>molições e pelo espírito <strong>de</strong> controle e higiene social que a orientava.<br />

Como a maioria dos cont<strong>em</strong>porâneos <strong>de</strong> sua posição social, Rui compartilhava com Seabra do<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aproximar a Bahia e o Brasil dos mo<strong>de</strong>los civilizacionais europeus, que eram o padrão<br />

oci<strong>de</strong>ntal 22 . Ainda <strong>em</strong> 1893, <strong>em</strong> visita a Salvador, o senador baiano lamentou o “aspecto colonial<br />

<strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>, entrevada cinqüenta anos na imobilida<strong>de</strong> dos seus bairros primitivos”. Para ele,<br />

como também para Seabra, a arquitetura colonial era símbolo do “atraso” da Bahia. As fontes<br />

consultadas não registram nenhuma campanha <strong>de</strong> Rui contra as ações da “picareta civilizadora”<br />

seabrista, mesmo tendo recebido da sobrinha Amália Lopes Barbosa um apelo para que lutasse<br />

contra a <strong>de</strong>molição do mosteiro <strong>de</strong> São Bento, que estava no caminho da nova Avenida Sete <strong>de</strong><br />

Set<strong>em</strong>bro. Ao que parece, Rui não se engajou nessa luta (ARB/CRUPF 827/1 30/08/1912).<br />

Em 1914, Seabra convocou Rui para uma surpreen<strong>de</strong>nte missão: representar o município <strong>de</strong><br />

Salvador <strong>em</strong> uma questão contra a <strong>em</strong>presa Guinle & Cia, que estava <strong>de</strong>vendo certa soma aos<br />

cofres municipais, proveniente <strong>de</strong> um <strong>em</strong>préstimo externo, do qual Eduardo Guinle serviu como<br />

intermediário. Em razão <strong>de</strong>ssa dívida, o inten<strong>de</strong>nte Júlio Brandão, antigo gerente da Circular,<br />

solicitara à Justiça que <strong>de</strong>clarasse a falência dos ex-patrões. Os Guinle, por sua vez, alegavam<br />

que o montante <strong>de</strong>vido era menor do que o valor cobrado pelo município e questionavam a<br />

honestida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Júlio Brandão, acusando o inten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ter “abocanhado” uma “grossa fatia”<br />

da verba <strong>de</strong>stinada aos melhoramentos da cida<strong>de</strong> (GUINLE & C., 1914, p.13). Um dos advogados<br />

dos Guinle era Aurelino Leal, político severinista.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um episódio complexo, que merece aprofundamento <strong>em</strong> pesquisas posteriores. À<br />

primeira vista, parece que Seabra havia rompido com os Guinle, seus aliados <strong>de</strong> longa data. Isso<br />

explicaria, não somente sua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> contratar Rui Barbosa, como o fato <strong>de</strong> os Guinle ter<strong>em</strong><br />

adotado um adversário do seabrismo como advogado. Mas, as coisas po<strong>de</strong>m ser diferentes do<br />

que aparentam, pois Seabra também estava rompido com Júlio Brandão, e dizia que o dinheiro<br />

restituído não <strong>de</strong>veria ir para as mãos do inten<strong>de</strong>nte, pois os credores corriam o risco <strong>de</strong> ser<strong>em</strong><br />

“flauteados”, isto é, lesados. Estaria ele, então, protegendo os interesses dos Guinle, enquanto<br />

publicamente os combatia? (Gazeta do Povo, 12 <strong>de</strong>z. 1914).<br />

22 Segundo Norbert Elias (2000, p.23), o conceito <strong>de</strong> civilização expressa a “consciência que o Oci<strong>de</strong>nte t<strong>em</strong> <strong>de</strong> si mesmo”. O<br />

autor analisou, <strong>em</strong> seu conhecido estudo, o processo civilizador como transformador do comportamento humano. Para<br />

uma visão <strong>de</strong>ssas questões na Bahia da Primeira República, ver o trabalho <strong>de</strong> Rinaldo Leite (1996).<br />

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